A mídia impressa do fim de semana não deu muita bola aos desdobramentos da crise econômica. Quando tratavam da possibilidade de uma recessão nos Estados Unidos e de um possível efeito-dominó no resto do mundo, nossos mediadores, em geral, optaram por uma atitude otimista – o Brasil está protegido e, desta vez, tudo será diferente.
Nas colunas dos especialistas, evidentemente, as perspectivas são mais cinzentas, mas o leitor médio passa ao largo dos especialistas, abomina textos que produzam algum tipo de desassossego.
A megafraude armada pelo operador Jerôme Kerviel no mercado financeiro francês só empolgou porque o ‘gênio’ se apresentou no sábado à tarde (26/1) à polícia francesa.
Ceticismo responsável
De uma forma geral, nossa mídia continua agindo como animadora de auditórios convencida de que o ceticismo jornalístico não é bom para os negócios. Sobretudo para os negócios da própria mídia.
Como a crise é sistêmica e abarca todos os atores do processo econômico – dos gerentes de contas bancárias às agencias avaliadoras de risco –, a mídia prefere proteger-se atrás de uma atitude mais contemplativa.
Como disse Allan Greenspan, ex-presidente do BC americano, uma recessão não acontece devagarinho; quando começamos a discuti-la, já estamos nela. E o papel da mídia é discutir, discutir exaustivamente tudo o que acontece e o que pode acontecer.
Pelas dimensões, pela velocidade do processo e, sobretudo, por causa da globalização, esta crise exige muito mais atenção. Ou como escreveu no domingo (27) o economista José Scheinkman, na Folha de S.Paulo: é preciso ser cético em relação aos otimistas.