Leia abaixo a seleção de terça-feira para a seção Entre Aspas.
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Folha de S. Paulo
Terça-feira, 29 de janeiro de 2008
FOTOGRAFIA
Fotos de Capa são descobertas no México
‘Uma série de negativos inéditos do fotógrafo de guerra Robert Capa, feitas na Guerra Civil Espanhola, foi descoberta no México. Na edição de anteontem, o jornal ‘New York Times’ publicou uma foto da ‘mala mexicana’, forma usada por especialistas para se referir à valise com os negativos.
Foram ainda encontradas imagens atribuídas aos fotógrafos David Seymour e Gerda Taro, companheira de Capa, morto em 1954, que acreditava ter perdido a mala durante a invasão nazista na Europa.
Achados pelos herdeiros do general mexicano Francisco Javier Aguilar González, os negativos foram levados ao Centro Internacional de Fotografia de Nova York, fundado pelo irmão de Capa, Cornell.
‘Este é o Santo Grall do trabalho de Capa’, disse Brian Wallis, chefe-curador do centro.’
JANGO
A morte de Jango
‘RIO DE JANEIRO – Simone Iglesias, repórter da Folha em Porto Alegre, entrevistou na prisão de segurança máxima de Charqueadas o ex-agente uruguaio Mário Neira Barreiro. Ele revelou detalhes sobre a morte de João Goulart. Anteriormente, fez o mesmo a João Vicente, filho de Jango, que já entrou na Justiça pedindo a reabertura do caso, uma vez que acredita no assassinato de seu pai. E, entre numerosas provas, transcreve as declarações do ex-agente do Serviço Secreto do Uruguai.
Em pesquisa para o livro ‘O Beijo da Morte’ (Objetiva, 2003), Anna Lee e eu entrevistamos durante 14 horas o mesmíssimo Mário, que nos disse a mesmíssima coisa que mais tarde diria a Simone Iglesias e a João Vicente: Jango morreu devido a uma troca de medicamentos proposital, dentro do plano de eliminá-lo antes que tentasse voltar ao Brasil.
Nosso trabalho não podia ser conclusivo. Levantamos as hipóteses surgidas sobre a morte, em apenas nove meses, dos três líderes (JK, Jango e Lacerda) que haviam formado a Frente Ampla, tentando dar um basta à ditadura militar instalada em 1964. Foram mortes anunciadas em 1975, num ofício confidencial do coronel Manuel Contreras, chefe do Dina, serviço secreto do Chile, ao general João Figueiredo, então chefe do SNI.
Pedimos a Mário Barreiro uma prova de sua participação na morte de Jango, ele garantiu que tinha dez horas de gravação, as fitas estavam com outro preso, precisávamos da autorização de um tal Papagaio, preso também em segurança máxima. Depois de muita pressão, mandaram que buscássemos as fitas num endereço que não existia.
Embora muita coisa do relato de Barreiro seja fantasiosa, seu depoimento deve ser levado em conta pelas autoridades do atual governo.’
REQUIÃO
Dimitri do Valle
Assembléia apura se Requião usa jornal como propaganda
‘A Comissão de Comunicação da Assembléia Legislativa do Paraná investiga se a Secretaria de Comunicação Social do Estado controla o conteúdo publicado em um jornal oficial, editado com recursos públicos, para fazer propaganda do governo de Roberto Requião (PMDB).
Segundo parlamentares, faltam transparência e informações sobre os custos da publicação, que divulga obras realizadas pelo atual governo -ao menos 600 mil exemplares do ‘Notícias do Paraná’ estariam sendo enviados pelo correio. Ontem o presidente da comissão, deputado Marcelo Rangel (PPS), ingressou no Tribunal de Justiça com ação pedindo a busca e apreensão do jornal.
O parlamentar diz que o informativo, que começou a ser distribuído há duas semanas, fere a Lei de Imprensa por não ter expediente informando o diretor responsável e a localização da sede e da gráfica.
Segundo Rangel, a publicação chega às cidades do Estado por meio da lista de endereços de consumidores da Copel, estatal de energia, método que ele classifica de irregular.
A denúncia sobre uso de recursos públicos para fazer propaganda de feitos do governo veio na seqüência do caso envolvendo o uso político da TV Educativa do Estado. A Justiça Federal proibiu há quase três semanas Requião de ocupar espaço na emissora estatal para atacar seus desafetos políticos.
Após uma série de protestos, que incluíram o corte de áudio da emissora e acusações de censura ao juiz Edgard Lippmann Júnior, Requião foi multado em R$ 50 mil por ter desrespeitado a ordem judicial.
Em sua defesa, o governador diz que só tem a emissora estatal para informar suas realizações e rebater as acusações lançadas por seus adversários.
O ‘Notícias do Paraná’ é impresso pelo Departamento de Imprensa Oficial do Estado. Em nota, o governo diz ter o direito de informar suas realizações, mas não informa a tiragem nem o custo do jornal. A nota diz que o custo de impressão é menor do que o cobrado pelas gráficas privadas. ‘Eu estranho que a Imprensa Oficial conclua que os custos da impressão sejam menores, apesar de não existir uma tomada de preços’, disse o deputado.
A comissão enviou ontem um pedido de informações sobre a publicação à Secretaria de Comunicação Social. Entre as solicitações de esclarecimento está incluído uma pergunta específica sobre o pedido de autorização emitido pela secretaria para imprimir o informativo.
Os parlamentares querem informações sobre a apresentação dos fotolitos e a verdadeira tiragem do jornal, que pode chegar a 600 mil exemplares.’
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Governo nega ter praticado irregularidades
‘O governador Roberto Requião (PMDB), por meio de sua assessoria, e a direção do Departamento de Imprensa Oficial do Paraná negaram irregularidades no processo de impressão e distribuição do ‘Notícias do Paraná’.
Segundo a assessoria do governador, o jornal foi criado para prestar contas dos atos da atual administração, pois o governo tem o ‘direito legítimo’ de se comunicar com a população. O ‘Notícias do Paraná’ não tem periodicidade e se preocupa em não fazer um ‘jornalismo chapa-branca’, mas em produzir ‘jornalismo público’.
Em nota, a Imprensa Oficial diz que a produção do informativo ‘cumpre todos os procedimentos e determinações legais’. Assinada por seu diretor-presidente, Eviton Henrique Machado, e pelo diretor-administrativo Geraldo Seratiuk, o comunicado diz que todos os procedimentos estão sendo fiscalizados por inspetores do Tribunal de Contas do Estado.
A licitação para a edição e impressão do jornal foi dispensada com base na Lei Estadual de Licitações, já que a Secretaria de Comunicação Social contratou a própria Imprensa Oficial do Estado.
A nota informa que os custos do jornal serão pagos pela Secretaria de Comunicação Social por meio do orçamento de publicidade do governo deste ano aprovado pela Assembléia Legislativa, cujo valor é de R$ 38 milhões.’
TODA MÍDIA
O submarino
‘Da AP, no maior destaque das buscas de Brasil, às agências de China e Irã, ecoa a viagem dos ministros de Defesa e Assuntos Estratégicos à França, para um acordo de transferência de tecnologia que viabilizaria o primeiro submarino nuclear da América Latina. O acordo é especulado há semanas, nos sites do setor. No ‘Christian Science Monitor’, analista do Jane’s explicou que a busca de um submarino nuclear visa ‘em parte’ defender ‘as novas reservas’ de petróleo.
NEO-ESTATISMO
No texto ‘Estatismo bate capitalismo’, a Bloomberg afirma que ‘estatais como Gazprom e Petrobras estão vencendo a luta por investidores’, pois ‘seus governos apertam Exxon, BP e Shell’ pelas reservas
NEOPROTECIONISMO
Desde Davos, o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair deu entrevista ao ‘Wall Street Journal’ para pedir aos presidenciáveis americanos que não se prendam a ‘políticas protecionistas’, no que o jornal apontou como recado aos democratas Hillary Clinton e Barack Obama.
SOBERANIA
Editorial do ‘FT’ e mapa do ‘WSJ’ pressionam para conter os fundos soberanos, que se disseminam do Chile à Rússia
‘NÃO SOMOS RACISTAS’
Semanas atrás, o ‘JN’ deu que em São Paulo ‘pesquisadores traçarão mapa genético dos rostos brasileiros’. O objetivo é ‘ajudar a identificar criminosos’.
Agora, o ‘Fantástico’ deu que no Rio Grande do Sul ‘pesquisadores vão estudar cérebros de jovens envolvidos em crimes’ para responder à pergunta ‘será que os atos são cometidos por mentes que nascem doentias?’. São ‘jovens da antiga Febem’.
‘CÍRCULOS NO CANAVIAL’
Na luta por audiência, a Record deu por notícia no domingo ‘marcas no canavial’, em Riolândia. ‘Seria uma invasão extraterrestre?’ A longa reportagem foi também a Roswell e Varginha.
Deve ter estimulado a audiência, já que ontem, no telejornal ‘Hoje’, a Globo viajou a Riolândia, interior de São Paulo, dizendo que ‘para ufólogos as marcas são de um OVNI’ etc.
O MINISTRO E O BISPO
O ‘Jornal da Record’ deu como ‘o ministro da Saúde critica uma decisão da Igreja Católica’, que ‘ameaçou fiéis de excomunhão’ se aceitarem pílula distribuída em Olinda. E o ‘JN’ deu como ‘arcebispo diz que igreja está cumprindo seu dever de defender a vida’ -e ‘discordou do ministro’.
LIVROS, LIVROS
BBC, ‘Guardian’ e outros noticiaram ontem a pesquisa Nielsen que apontou, pelo mundo todo, os livros como produtos mais comprados via internet. E os internautas sul-coreanos são os que compram mais, proporcionalmente, mas os brasileiros não ficam muito longe, em quinto lugar.’
INTERNET
Número de pessoas que compram pela web sobe 40%
‘O número de pessoas que fizeram compras pela Internet aumentou 40% em todo o mundo nos últimos dois anos, segundo uma pesquisa da Nielsen Co divulgada ontem e realizada em 48 países em outubro e novembro do ano passado. De acordo com o levantamento, mais de 875 milhões de pessoas recorreram à Web para comprar.
A conveniência de fazer compras online e de comparar preços está estimulando a ampliação do uso do serviços de vendas pela Internet, segundo o levantamento Nielsen Global Online Survey. A pesquisa mostra que pelo menos 85% dos usuários mundiais da rede fizeram compras online.
A principal categoria de produtos vendidos pela Internet foi de livros, segundo a Nielsen, seguida de roupas, acessórios e calçados. Na seqüência estão os vídeos, games e DVDs.’
TELEVISÃO
TV digital atinge só 10 mil na Grande SP
‘Apesar do alarde, a TV digital teve um início pífio na Grande São Paulo. Passados quase dois meses desde o início das transmissões, emissoras e fabricantes de equipamentos estimam em apenas 10 mil o número de domicílios adeptos da nova tecnologia na metrópole.
O resultado frustrou emissoras, mas não a indústria de televisores. Os fabricantes colocaram poucas caixas receptoras (set-top box) à venda nas lojas. O fabricante mais ousado teria oferecido no máximo 3.500 aparelhos. Além disso, quase todas as caixas foram importadas, o que elevou o custo ao consumidor para mais de R$ 800. O preço é apontado como o principal fator do desempenho ‘traço’ de audiência.
Segundo um fabricante, houve boa procura por set-top boxes até o Natal, principalmente em lojas próximas à avenida Paulista. Os primeiros compradores foram os que têm dificuldade de recepção de sinal aberto e os de alto poder aquisitivo.
Fabricantes e radiodifusores esperam uma alavancagem da TV digital a partir de março. Com a abertura de novos mercados (como Rio de Janeiro), as indústrias já começam a investir na montagem de set-top boxes no país. Mas ainda há dúvidas se as novas caixas já terão o middleware Ginga, desenvolvido por universidades brasileiras. Fabricantes estão inseguros quanto à isenção de royalties. Ou seja, a TV digital pode continuar capenga.
BOLADA A Globo TV Sports, braço da Globo para a venda de futebol brasileiro exterior, acaba de fechar duas parcerias inéditas, com uma empresa da Europa e outra dos EUA. Com o acerto, 82 jogos dos campeonatos Paulista e Brasileiro deste ano serão distribuídos para internet e celular em 52 países. As transmissões, nos finais de semana, serão em inglês e em línguas locais, visando o fanático por futebol globalizado.
HIGH TECH A Rede TV! está batendo bumbo por ser a primeira rede a transmitir em alta definição. No final de semana, logo após um apresentador festejar esse feito, falhou o sinal da emissora. Em seguida, entraram imagens de um jogo do Campeonato Paulista com qualidade inferior à de vídeo na internet.
21 HORAS O secretário nacional de Justiça, Romeu Tuma Jr., negou em caráter definitivo pedido da Globo para que reconsiderasse a reclassificação de ‘Duas Caras’ das 20h para as 21h, por causa da exibição, neste mês, de cenas com ‘assassinato e de vítima em estado de agonia’.
ESPIONAGEM O ‘Domingo Espetacular’ (Record) ‘furou’ o ‘Fantástico’. Deu antes uma reportagem sobre aneurisma cerebral, que matou Luiz Carlos Tourinho.
ESPETADA O mesmo ‘Domingo Espetacular’ juntou numa só reportagem sobre a morte do ator Heath Ledger, supostamente por overdose de remédios, a cantora Amy Winehouse, o cantor Kurt Cobain e o ator Fábio Assunção, ‘da Rede Globo’.’
Bruna Bittencourt
Documentário conta história da ‘Elle’
‘Uma das mais renomadas revistas femininas, a ‘Elle’ francesa tem sua trajetória contada em ‘Histoires d’Elle’ (histórias da ‘Elle’), documentário exibido hoje pelo Eurochannel.
O programa recupera 60 anos de arquivos da publicação -páginas e mais páginas de editoriais de moda, decoração, beleza, personalidades e reportagens-, acompanhados por depoimentos que parecem extraídos de cartas de leitoras e que reconstroem as angústias e conquistas da mulher a partir da década de 50, abordando temas como revolução sexual, aborto, divórcio e Aids.
Não faltam belas francesas que estamparam as capas e as páginas da ‘Elle’, como Brigitte Bardot e Catherine Deneuve, em inúmeras aparições ao longo dos anos; a cantora Françoise Hardy; as contemporâneas Isabelle Adjani e Eva Green, entre outras.
Estilistas respeitados como Jean Paul Gaultier, Christian Lacroix, Karl Lagerfeld e Sonia Rykiel aparecem no vídeo dando seus depoimentos sobre a importância da publicação.
Com um belo material nas mãos, ‘Histoires d’Elle’ se perde com desnecessários esquetes -a atriz Emanuelle Béart protagoniza uma delas-, que conduzem o documentário, e acaba por deixar em segundo plano o DNA da revista -a moda-, assim como a curiosidade sobre seus bastidores.
HISTOIRES D’ELLE
Quando: hoje, às 20h
Onde: Eurochannel’
ARTE
‘Um jantar na Fiesp resolveria o Masp’
‘Quando Lygia Clark morreu, em 1988, Paulo Herkenhoff, na época curador do MAM-RJ (Museu de Arte Moderna do Rio), teve 12 horas para conseguir uma Kombi e levar tudo que pôde da casa dela para o museu. Lá ele se debruçou por dois anos sobre o espólio da artista, reuniu suas obras, mandou restaurá-las e pôs em ordem suas memórias.
Essa visão da arte como algo a ser resgatado, em um país em permanente crise institucional nessa área, sempre marcou a trajetória de Herkenhoff. Ele é um dos principais críticos de arte e curadores do Brasil -esteve à frente da mais marcante Bienal de São Paulo recente, a 24ª edição da mostra, dedicada à antropofagia, em 1998, que recebeu rasgados elogios da crítica internacional, e foi curador-adjunto do Departamento de Pintura e Escultura do MoMA, em Nova York. Um dos curadores da exposição ‘Brasil: desFocos (O Olho de Fora)’, em cartaz no Paço das Artes, em São Paulo, Herkenhoff recebeu a Folha para uma conversa de duas horas.
Ele ataca a direção do Masp, ‘impermeável’, e diminui o problema financeiro do museu, que poderia ser resolvido ‘num jantar na Fiesp’. O curador ainda classifica a atual direção do Departamento de Museus e Centro Culturais do Ministério da Cultura como ‘stalinista’ e acusa o órgão de censura em diversas ocasiões. Também critica a legislação fiscal brasileira e o Ministério Público em relação ao patrimônio cultural.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista.
FOLHA – Você acha que 2007 foi um ano negro para as artes no Brasil, com o furto recente das telas do Masp e o anúncio da Bienal vazia? Existe uma crise institucional aí?
PAULO HERKENHOFF – Eu acho que tem duas questões. A gente não pode misturar Masp com Bienal. Eu acho que hoje o Masp tem uma situação absolutamente esquizofrênica. Entre outras coisas -e não estou falando da coleção, que isso seria chover no molhado-, é o mais importante museu privado do país. Isso quer dizer que o Masp surgiu como uma demonstração de possibilidade da burguesia brasileira. Agora, será que essa possibilidade dependia do grande burguês Assis Chateaubriand? Não existe mais essa burguesia? Essa burguesia só é capaz de destruir? Nos anos 50 alguns construíam; recentemente alguns destroem. É o caso do incêndio do MAM, no Rio, em 78, e o caso da Bienal. Temos uma sociedade civil totalmente contrária a essa administração, entendendo que não pode continuar assim. Houve equívocos, que não são aceitáveis, e, ao mesmo tempo, vemos uma direção absolutamente impermeável. É isso, não é? Me dá uma sensação de um Getúlio Vargas em sua torre.
A minha pergunta é a seguinte: onde está o nó? O nó para mim não é dinheiro. Se o Masp deve R$ 5 milhões, é pouquíssimo. Se o Masp deve R$ 14 milhões, para uma cidade como São Paulo, é pouquíssimo. Se o Masp devesse R$ 30 milhões, numa cidade como São Paulo, seria pouquíssimo. Quer dizer, num jantar a Fiesp resolveria o Masp. Existem seguramente em São Paulo 200 empresários, 300 empresas, que podem dar R$ 1 milhão pela Lei Rouanet ou por uma lei especial que se faça para resolver essa situação. É muito simples.
FOLHA – O furto das telas então foi o ápice dessa crise?
HERKENHOFF – Não precisaria o roubo de São Paulo. Quando roubaram no Rio o único Salvador Dalí, um dos quatro Matisses, um dos três Monets e um dos cinco Picassos em museu público no Brasil [as telas foram roubadas do Museu Chácara do Céu, no Rio de Janeiro, em 2006], não se discutiu direito, o Rio de Janeiro não discutiu. Só se resolve quando roubam? No Rio, a diretora do MAM durante o incêndio virou diretora do Museu Nacional de Belas Artes. Resultado: o museu viveu o tempo todo à beira de um incêndio. E o Ministério Público? Eu estou convocando, como cidadão, o Ministério Público a se preparar tecnicamente para superar a capacidade de articulação da opinião pública de alguns diretores de museus para encobrir sua ineficiência.
FOLHA – A solução para o Masp então estaria fora do Masp? Como resolver o problema de segurança?
HERKENHOFF – Para mim está fora do Masp. Está fora dessa diretoria. Segurança é uma questão permanentemente inacabada. Não existe segurança pronta. Não depende de dinheiro, depende de um plano. Não existe um projeto de segurança num museu do porte do Masp feito da noite para o dia. Existe um paliativo, mas o problema ainda não está resolvido. O acervo está em risco. A questão para mim é a seguinte: se existiu uma, duas tentativas de roubo ao museu antes, já era para ter pedido reforço policial. Precisou roubar para pedir reforço policial?’
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‘Área de museu do MinC é stalinista’
‘Para Paulo Herkenhoff, Ministério da Cultura não está aparelhado tecnicamente e, em alguns casos, exerceu censura
Curador defende que lei sobre heranças mude; ‘se o artista morre, tem que ir uma parte de suas obras para museus públicos’
A seguir, a continuação da entrevista com o curador e crítico de arte Paulo Herkenhoff. FOLHA – O MinC poderia ajudar no caso do Masp?
HERKENHOFF – Ajudar como? Um diretor de museu do Iphan ganha R$ 1.500 por mês. O MinC não está aparelhado tecnicamente para melhorar o Masp. Eu não vejo como ajudar. O que o ministério vai fazer? Dar dinheiro como está dando para seus museus federais?
Acho que o museu tem a rara oportunidade de ser um museu da sociedade civil, sabe? Imagine se o museu, de alguma maneira, tivesse um convênio com a Fiesp, de gestão? Ou com o sistema de organizações sociais, que é tão bom.
FOLHA – E a proposta que o Masp fez ao poder público, oferecendo uma vaga no conselho gestor em troca de dinheiro?
HERKENHOFF – O que o Ministério da Cultura vai dizer? Sabe quem dirige os museus no Ministério da Cultura? A origem dessa pessoa [José do Nascimento Junior]? É um stalinista. Tinha uma pessoa que mandava os e-mails da diretora do Museu Imperial para ele em Brasília, à revelia dela, sem que ela soubesse. Isso é censura. É isso que se quer? Quer dizer, o Ministério da Cultura não está aparelhado para opinar. Quem é que fica nesse ministério na área de museus? Acho que o Gil está fazendo um trabalho ótimo nas outras áreas, mas na área de museus, me desculpe.
Eu não vejo aí uma posição ética. Cancelaram uma exposição do Xico Stockinger porque não gostavam do curador. Isso para mim tem um nome: censura.
Foi um dos motivos por que eu saí. Esse ministério é o quê?
E Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso para os museus federais foram a mesma pessoa. O Museu Nacional de Belas Artes (MNBA) é um órgão federal, mas o ministério então deu R$ 15 milhões para a Pinacoteca, que é um órgão estadual. Deu zero para o MNBA, que era uma instituição de sua responsabilidade.
FOLHA – Como você recebeu a notícia de uma ‘Bienal do vazio’?
PAULO HERKENHOFF – Evidentemente o vazio é uma questão importante do século 20. O vazio está em Heidegger, na arte da Lygia Clark nos anos 50, da Mira Schendel nos anos 60. O vazio está na incompletude que move o desejo… Mas na situação concreta da Bienal de São Paulo é uma solução de economia de tempo institucional, porque, realmente, me parece extraordinário que a instituição tenha demorado um ano para escolher seu curador, a ponto de inviabilizar sua presença. Isso para mim é um dado real, concreto, que precisava de uma resposta. Evidentemente que as duas opções seriam: ou adiar a próxima Bienal por um ano, para que o nosso curador [Ivo Mesquita] tivesse mais tempo ou fazer algo que não comprometesse a Bienal em sua condição de evento artístico, porque eu acho que é uma solução significativa expor o vazio como o melhor espaço para discutir o futuro da instituição. Imagino que haja algumas frustrações. As pessoas vinham se preparando com mais antecedência para o período da Bienal. O mercado sempre tem boas vendas durante esse período. Mas eu vejo como um processo que vai ser produtivo.
FOLHA – Isso então não compromete a Bienal?
HERKENHOFF – O fato de não ter uma exposição para mim não é um comprometimento, pelo contrário. Para mim é uma demonstração de que a instituição está se pensando e nisso acho que a instituição se torna o termômetro das grandes exposições atuais. Eu não sei se eu gostaria de fazer uma exposição grande hoje, se isso me desafia. E a Bienal precisa, de fato, se pensar. Será que ela deve ser bienal? Não deveria ser trienal?
Talvez o que o modelo esteja indicando é que dois anos é muito pouco tempo para organizar um evento do porte da Bienal de São Paulo.
FOLHA – Mas a Bienal sempre ocorreu dessa forma.
HERKENHOFF – Sim, mas foi sempre feito bem? Será que não tinha uma mecânica cega que permitia que se realizasse, que eram as representações nacionais? A Bienal sempre foi aberta porque chegava o dia de abrir. Então, quer as obras tivessem chegado ou não, sempre abriu porque estava na hora de abrir. Mas a minha pergunta é se não havia um mecanismo de suas representações nacionais que enchia o prédio e permitia isso. Eu acho que o modelo constituído pela Lisette [Lagnado, curadora da 27ª Bienal, em 2006], que é um modelo que eu também queria, a extinção das representações nacionais, dá à Bienal a oportunidade de construir um discurso mais firme, mais articulado, num edifício extraordinário. Isso faz a Bienal hoje a mais importante exposição do mundo.
FOLHA – Mais do que a Bienal de Veneza?
HERKENHOFF – Mais do que Veneza, sem dúvida. Veneza sobrevive do seu status e também do charme da cidade. Afinal todo mundo gosta de ir de dois em dois anos a Veneza. É um grande prazer. Mas Veneza não tem o poder de articulação que tem a Bienal de São Paulo. Das três grandes exposições, eu sempre disse que a Bienal de São Paulo era a única grande exposição do mundo que tinha uma cidade por trás. Os principais formadores de opinião estão em São Paulo, apesar de muitos terem cabeças muito modernistas, nem sempre voltadas para a arte contemporânea. Mas São Paulo é o grande modelo para o futuro.
FOLHA – Comente um pouco suas dificuldades na preparação da 24ª Bienal, sobre a antropofagia, que foi uma edição da mostra elogiada em plano internacional.
HERKENHOFF – Naquela Bienal, houve um conjunto de fatores positivos, que foram mais fortes que os negativos de uma Bienal. Temos de destacar as figuras de Júlio Landmann [ex-presidente da Fundação Bienal], Adriano Pedrosa [curador-adjunto da 24ª Bienal], Evelyn Ioschpe [responsável pelo projeto educativo] e Paulo Mendes da Rocha [que planejou o espaço expositivo]. Depois, havia uma conjuntura econômica muito favorável. O dólar estava em paridade com o real e tudo isso foi muito positivo. Nós teríamos, finalmente, uma Bienal pensada a partir do Brasil. A Bienal foi sempre lugar de atualização do Brasil com o mundo. Naquele momento, a idéia era a seguinte: dizer ao mundo que nós temos uma tradição, servir o biscoito fino, como falava Oswald de Andrade. Eu acho que o sucesso dela também aconteceu porque não houve nenhum pacote.
Não houve nenhuma exposição que veio fechada. Cada obra foi batalhada, negociada. Eram obras de 110 museus.
FOLHA – Há um grande interesse por arte latino-americana hoje no mundo e obras importantes têm saído do Brasil. Como você avalia a política de aquisições das instituições nacionais?
HERKENHOFF – Sem uma mudança na legislação fiscal relativa a obras de arte, as instituições vão continuar paupérrimas. Hoje os críticos dizem que os museus não compram. O que é isso? Se o artista morre, tem que ir uma parte de suas obras para museus públicos. É assim em todos os países. É necessária uma reforma urgente dessa questão no Brasil. A Lei Rouanet hoje é uma espécie de colesterol da cultura porque criou uma série de mecanismos que estão borrando o perfil de um museu. Você opera com um relógio acelerado, submetido ao diretor de um banco.
Museu é uma instituição que coleta obras de arte, que cataloga, que registra, que conserva, que estuda, que expõe. Se de repente você não tem o acervo, mas tem a exposição, isso não é museu. Se você tem o acervo e não expõe, isso não é museu. Se você tem acervo, exposição, mas não tem pesquisa, que é uma parte fundamental de museu, não é museu. Museu é um lugar de construção de pensamento, história e crítica. Acho que daqui a alguns anos nós vamos precisar viajar para ver arte brasileira.
FOLHA – Você acha que essa valorização de brasileiros no exterior não está muito centrada em Hélio Oiticica e Lygia Clark? Volpi, por exemplo, não tem o mesmo reconhecimento.
HERKENHOFF – Acho que há um incômodo muito grande em São Paulo com o sucesso do Hélio e da Lygia. Eles têm valor porque eles são extraordinários. Não quer dizer que os outros também não tenham direito a isso. Mira Schendel vai ter uma exposição no MoMA. O Volpi chegará lá. Existe Volpi na coleção Cisneros por indicação minha. São de primeiríssima linha. O Reina Sofía, de Madri, adquiriu Volpi. Agora, o Volpi tem um problema semelhante ao Guignard, uma leitura reducionista que se faz no hemisfério Norte desses dois artistas, que tendem a ser considerados artistas ingênuos.’
PAULO COELHO
‘Devem estar contentes com o aumento das vendas’
‘O escritor Paulo Coelho assumiu publicamente no dia 20, na Alemanha, que juntou trechos de edições piratas de seus livros e os disponibilizou no blog ‘Pirate Coelho’. Por e-mail, ele falou à coluna.
FOLHA – O sr. lê versões piratas de outros autores?
PAULO COELHO – Não. Detesto ler em tela de computador. E imprimir um texto termina custando mais caro que um livro.
FOLHA – E outras mídias? Baixa músicas?
COELHO – Eventualmente baixo filmes.
FOLHA – Se o sr. fosse um escritor iniciante, desconhecido, indicaria os links piratas de seus livros para os leitores?
COELHO – Neste caso seria irrelevante. O escritor iniciante deve fazer questão de deixar sua obra na web, porque ser lido é o que importa. E fazer questão de assinar um contrato com a editora que limite o direito da mesma ao formato de livro.
FOLHA – O que seus editores acharam da sua atitude?
COELHO – Não sei se vão gostar, mas, pelo menos, devem estar contentes com o aumento das vendas. Com relação à língua portuguesa, eu tenho o direito a fazer isso, porque a edição não cobre a plataforma de internet. Mas, com relação as outras línguas, estou impedido -já que as traduções pertencem às editoras. Portanto, tudo que eu fiz foi coletar aproximadamente 395 edições ‘piratas’, e colocá-las em uma mesma página.
FOLHA – Em quanto aumentaram as vendas [Antes de assumir a autoria do blog o escritor já vinha disponibilizando trechos na net]?
COELHO – Depende do país, mas podemos dizer que em geral aumentou uns 10%. Por quê? Porque ninguém gosta de ler livro na tela de computador. As pessoas fazem o download do arquivo, lêem algumas páginas, e, se o tema é interessante, vão à livraria comprar o livro. É mais prático e mais efetivo.
FOLHA – Algum escritor entrou em contato com o sr.?
COELHO – Escritores não, jornalistas do mundo inteiro. E a grande maioria dos sites de P2P (especializados em pirataria) reproduziram os meus comentários na Alemanha.
FOLHA – Teme críticas?
COELHO – Estou sendo coerente -se existem lugares onde não podemos encontrar livrarias, essa é uma das maneiras de ter acesso a livros.’
CINEMA
Sócios criam distribuidora de filmes sob demanda pela rede
‘Os empresários Marco Aurélio Marcondes (ex-Europa Filmes) e Fabio Lima (Rain Network) anunciaram a criação de uma empresa que distribuirá filmes de acordo com a demanda do público.
O site na internet da Moviemobz, a partir do qual o espectador poderá tentar agendar uma sessão de cinema do filme de sua escolha, entrará no ar ‘no segundo trimestre’, dizem os sócios, com um portfólio estimado de, no mínimo, 200 títulos.
No mês que vem, o site começa a ser testado. Com acesso gratuito, terá ferramentas para criar comunidades, que serão chamadas de cineclubes e reunirão espectadores de gostos afins.
As sessões poderão ser agendadas somente em horários específicos, em cinemas equipados com a tecnologia de exibição digital da Rain. Atualmente, há 149 salas com esse perfil no país.
O valor do ingresso irá variar de acordo com o tamanho da sala, sua arrecadação média e o número de espectadores previamente confirmados para a sessão.
‘O preço nunca será maior do que o valor da inteira naquele cinema’, afirma Lima.
‘Achamos que o cinema ‘on demand’ (a pedido) criará tendência de diminuição do preço do ingresso, ocupando lugares e tempo hoje ociosos nas salas’, diz Marcondes, para quem essa fórmula é uma resposta à mudança de hábito do consumidor de cinema, proporcionada pelas novas tecnologias de reprodução de vídeo.
O exibidor Adhemar Oliveira (Espaço Unibanco, Unibanco Arteplex), que possui salas com a tecnologia Rain em seus complexos, avalia que ‘novos formatos podem ajudar a diminuir o preço do ingresso, mas já há uma tendência, frente à concorrência dos novos meios’.
Oliveira diz que irá aderir ao projeto, desde que ele seja rentável. ‘Adoro idéias novas, as que dão dinheiro adoro duas vezes’, diz.’
Sérgio Rizzo
Coen viram favoritos ao Oscar
‘‘Onde os Fracos não Têm Vez’, de Joel e Ethan Coen, abriu vantagem sobre ‘Sangue Negro’, de Paul Thomas Anderson, e começa a semana como a aposta mais segura ao Oscar de melhor filme, a ser entregue dia 24, caso a cerimônia não seja adiada em virtude da greve de roteiristas dos EUA, deflagrada em 5 de novembro.
Sábado, os irmãos Coen deixaram o jantar de premiação do Directors Guild of América (DGA), o sindicato dos diretores, com o prêmio mais importante, o de melhor direção em longa de ficção para cinema, disputado com Anderson, Tony Gilroy (‘Conduta de Risco’), Julian Schnabel (‘O Escafandro e a Borboleta’) e Sean Penn (‘Na Natureza Selvagem’).
O 12º longa da dupla (sem contar o episódio de ‘Paris, Te Amo’) obteve, no domingo, os prêmios de melhor elenco e de ator coadjuvante (Javier Bardem) em cinema na festa do Screen Actors Guild (SAG), o sindicato dos atores. Na categoria principal, concorriam ‘Na Natureza Selvagem’, ‘Hairspray: Em Busca da Fama’, ‘O Gângster’ e ‘Os Indomáveis’.
Embora Joel e Ethan dividam as funções criativas desde o início da carreira, imposições sindicais os levaram a optar, nos créditos dos dez primeiros filmes, por Joel como diretor, Ethan como produtor e ambos como roteiristas (além do pseudônimo Roderick Jaynes quando os dois fazem a montagem).
A partir de ‘Matadores de Velhinhas’ (2004), o DGA os reconheceu como dupla de diretores. Assim, apenas Joel havia disputado antes o prêmio do sindicato, por ‘Fargo’ (1996), que lhe valeu indicação ao Oscar. Desde 1949, houve só seis ocasiões em que não coincidiram as escolhas do DGA e da Academia na categoria direção.
Além de manter o leme de ‘Onde os Fracos…’ apontado para o Oscar, a festa do SAG -realizada graças a um acordo com o Writers Guild of América (WGA), o sindicato dos roteiristas, que esvaziou o Globo de Ouro, no último dia 13, com ameaça de piquetes e boicote solidário dos atores- consolidou o favoritismo de Daniel-Day Lewis (‘Sangue Negro’), Bardem e Julie Christie (‘Longe Dela’) na disputa da Academia. Apenas a categoria de coadjuvante feminina parece em aberto, com a premiação da veterana Ruby Dee (‘O Gângster’) pelo sindicato.
Os prêmios de TV do SAG celebraram a última temporada de ‘Família Soprano’ – melhor elenco, ator (James Gandolfini) e atriz (Edie Falco) em série dramática- e a segunda, interrompida pela greve, de ‘30 Rock’, que levou os prêmios de ator (Alec Baldwin) e atriz (Tina Fey) em série de humor, mas perdeu o de elenco nessa categoria para ‘The Office’.
Fey, também roteirista, agradeceu o apoio dos atores à greve do WGA, cujo presidente, Patric Verrone, foi apresentado durante a cerimônia pelo do SAG, Alan Rosenberg. Christie fez referência ao movimento.
Homenagem
Além de encerrar o clipe em homenagem a atores mortos nos últimos 12 meses, Heath Ledger foi lembrado por Day-Lewis, que disse ter se emocionado com suas atuações em ‘A Última Ceia’ (2001) e ‘O Segredo de Brokeback Mountain’ (2005), dedicando a ele o seu prêmio. O suspense, agora, está em saber se haverá ou não cerimônia do Oscar para que ele repita a gentileza.’
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O Estado de S. Paulo
Terça-feira, 29 de janeiro de 2008
PRÊMIO
Revista do ‘Estado’ é premiada
‘Pelo segundo ano consecutivo, a revista Estadão Investimentos, produzida pela Agência Estado, recebeu o Prêmio Imprensa de Educação ao Investidor. Neste ano, a reportagem premiada foi ‘Abra o olho’, da jornalista Ana Paula Ragazzi, publicada na edição de agosto de 2007.
Organizado pelo Comitê Consultivo de Educação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o prêmio é dado por nove entidades do mercado financeiro (Abrasca, Anbid, Apimec, Andima, BM&F, Bovespa, CVM, Ibri e INI) a três categorias diferentes – jornais nacionais, jornais locais e revista.
Com circulação bimestral, a revista Estadão Investimentos trata de finanças pessoais. Ana Paula acompanha o dia-a-dia do mercado de capitais. Na reportagem vencedora, alertou o pequeno investidor para os riscos das ofertas públicas iniciais (IPOs, na sigla em inglês).
Os jornalistas Vicente Nunes (Correio Braziliense) e Oswaldo Scaliotti (O Povo, do Ceará) foram os vencedores nas categorias jornal nacional e jornal local, respectivamente. Os premiados receberão uma bolsa de estudos no MBA ‘Derivativos e Informações Econômico-Financeiras’ ministrado pela FIA.’
TELEVISÃO
TV digital mais perto do Rio
‘Sete emissoras de televisão do Rio de Janeiro recebem hoje do ministro das Comunicações, Hélio Costa, os canais para a operação da TV digital na capital fluminense. As primeiras transmissões comerciais no novo sistema, no Rio, irão ao ar até julho deste ano. A cerimônia para a assinatura do termo de consignação dos canais está marcada para as 15 horas, no Centro Cultural dos Correios.
As emissoras liberadas para operar o novo sistema no Rio são a TV Ômega Ltda (Rede TV), TV Globo, SBT, Rede Record, TV Bandeirantes, TV Corcovado e TV Brasil (Radiobrás). A previsão do Ministério das Comunicações é de que outras quatro cidades – Belo Horizonte, Brasília, Fortaleza e Salvador – também tenham TV digital até meados do ano.
Em dezembro do ano passado, Hélio Costa assinou o ato de distribuição dos canais para as emissoras que operam na cidade de Belo Horizonte. Pelas regras, as emissoras têm até seis meses para entrar em operação depois de receberem os canais digitais.
A TV digital foi inaugurada no Brasil em dezembro, na cidade de São Paulo. A expectativa é de que a nova tecnologia chegue às demais capitais dos Estados em 2009. Em seguida, a TV digital será levada às grandes e médias cidades.
Em junho de 2016, todo o Brasil deverá ter acesso à TV digital, já que o sistema analógico será desativado. Até lá, as emissoras terão de fazer a transmissão simultânea dos dois sistemas. O País tem cerca de 65 milhões de televisores e a TV aberta chega a 90% dos domicílios.
O Brasil opera com o padrão japonês de TV digital, escolhido pelo governo em 2006, ao qual foram incorporadas algumas tecnologias brasileiras. O sistema digital permite a recepção de imagens cristalinas, com som estéreo. Para receber as imagens em alta definição, o telespectador terá de comprar um televisor digital.
Há também a possibilidade de usar um conversor de sinais digitais para analógicos, que custa bem mais barato que o televisor. A qualidade da imagem, neste caso, não é de alta definição, mas apresenta melhora significativa em relação ao sinal analógico, podendo ser comparada à de um DVD.
Para trocar seus equipamentos e suas redes de transmissão analógicos por digitais, as emissoras contam com uma linha de crédito de R$ 1 bilhão do BNDES. Além disso, o governo decidiu conceder incentivos fiscais para a importação de equipamentos de TV digital que não são fabricados no Brasil.
Na semana passada, a Câmara de Comércio Exterior (Camex), vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, decidiu zerar a alíquota do Imposto de Importação (II) para três produtos de TV digital que são usados pelas emissoras: antenas, transmissores e equipamentos de monitoração da qualidade dos sinais.
As empresas pediram a isenção para 47 produtos e, segundo a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), desde o ano passado, 80% dos pedidos das empresas já foram atendidos. Além da isenção de II, cuja alíquota média é de 12% para esse tipo de produto, os governos federal e estaduais decidiram conceder isenção de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS).’
Etienne Jacintho
Estréias na Warner
‘O Warner Channel deve trazer em breve ao País o ator Lee Pace, protagonista da série Pushing Daisies, que vai estrear em maio. A série faz parte do pacote de atrações que o canal adquiriu no fim do ano passado para tentar aquecer sua grade de programação, que andava repleta de séries canceladas.
Boa parte das novas aquisições – como Californication e The Big Bang Theory, entre outras – já estreou no início do ano, mas o canal queria deixar uma série forte para impulsionar seu mid-season. E essa atração especial é justamente Pushing Daisies, que abusa da fantasia e conta com um visual bem ao estilo do filme O Fabuloso Destino de Amélie Poulain.
Lee Pace, em entrevista recente ao Estado, comentou que já se divertiu muito no Brasil. Então, provavelmente, ele não cancelará sua vinda, como fez a atriz Maura Tierney, de E.R., que tinha viagem ao Brasil marcada para setembro do ano passado, mas não apareceu.
Outra série que a Warner vai estrear em seu mid-season é Terminator: Sarah Connor’s Chronicles, com a história da heroína da saga do Exterminador do Futuro. A atração deve entrar no ar em junho.’
GREVE DOS ROTEIRISTAS
E os perdedores são…
‘The Guardian – À medida que as greves atingem a temporada norte-americana de premiações, que teve na semana passada a divulgação dos indicados ao Oscar, membros da indústria do entretenimento e de serviços devem estar à busca de aconselhamento divino: ‘Senhor’, devem estar pedindo, ‘por favor nos diga se a cerimônia da Academia vai realmente acontecer no dia 24 do mês que vem’. Afinal, há muito em jogo.
O recente cancelamento da cerimônia do Globo de Ouro demonstrou a força da greve dos roteiristas, que já entra na sua 12ª semana. Estrelas se recusaram a passar pelos grevistas em direção ao tapete vermelho, executivos de canais de televisão estão raspando seus acervos para tapar buracos na programação e demissões em massa estão se espalhando rapidamente por toda a indústria. Mesmo que o sindicato dos roteiristas volte a negociar, como se espera, resta a dúvida: será que eles vão permitir a realização do Oscar, seja chegando a um acordo, seja apenas como uma concessão à indústria? Os chefes da Academia afirmam que já têm um plano B caso a greve persista, mas uma coisa é clara: um cancelamento custará a Los Angeles e à indústria uma quantia que, segundo estimativas conservadoras, pode passar dos US$ 400 milhões. E quem serão os infelizes perdedores?
ESTÚDIOS: Cerca de ¼ da venda de ingressos de um filme indicado ao Oscar ocorre no que os executivos chamam de ‘corredor do Oscar?, período entre a divulgação dos indicados e a noite de premiação. ‘Se as pessoas souberem que o Oscar não vai acontecer e o americano médio resolver não assistir aos filmes, muitas produções irão sofrer.’
CANAIS DE TV: Acredita-se que a NBC perdeu cerca de US$ 60 milhões em contratos de publicidade por conta do cancelamento do Globo de Ouro. Para a ABC, que transmite o Oscar, a perda deve ser ainda maior – 30 segundos de anúncio custam cerca de US$ 1,5 milhão. Além disso, sem Oscar, os estúdios devem gastar menos em publicidade de seus filmes, o que prejudica também outras emissoras.
ATORES: Especialistas em relações públicas acreditam que, para os atores mais conhecidos, como Johhny Depp, Cate Blanchett ou Keira Knightley, o prejuízo não será grande. Além disso, apenas a indicação ao Oscar já atrai uma onda de propostas importantes, efeito multiplicado em caso de vitória. No entanto, para atores menos conhecidos, como Marion Cottilard, que concorre por Piaf, o efeito é maior: sem a atenção de 40 milhões de espectadores no dia da entrega dos prêmios, ela continuará pouco conhecida, deixando de atrair agentes de Hollywood e suas propostas tentadoras.
LOJAS DE GRIFE: Parte da diversão do Oscar está nos vestidos e jóias das estrelas. Analista do mercado de moda, Marshall Cohen estima que, para as grandes grifes e lojas, ter uma estrela usando seus modelos equivale a um investimento de US$ 1 milhão em publicidade.
FESTAS: Celebrações prévias e as realizadas após a cerimônia podem custar de US$ 50 mil (pequenos encontros em homenagem a atores e atrizes, com a presença dos amigos mais próximos) até US$ 800 mil (grandes e procuradas festas oferecidas por marcas com Vanity Fair). ‘Não vai haver tantas festas este ano de qualquer forma: muitos estúdios e agências já demitiram funcionários e as pessoas não estão em clima de celebração’, diz Danielle Pelland, dona da Brilliant Events.
FLORICULTURAS: Cerca de uma semana antes da cerimônia, floristas ficam bastante ocupados preparando buquês. Segundo George Woods, da Woods Exquisite Flowers, os floristas de Los Angeles devem perder cerca de 30% da renda esperada na semana anterior ao Oscar. ‘É uma semana importante, há muitas festas e eventos sociais ligados à premiação’, diz. ‘Tudo que acontece por conta do Oscar tem um impacto grande no nosso segmento. Agentes, empresários, produtores, executivos e amigos gostam de mandar flores antes e depois da cerimônia.’
FOTÓGRAFOS: Se você excluir as aparições na televisão e em filmes da equação por um instante, a maioria das pessoas seria incapaz de distinguir uma estrela de outra se não fosse pela avalanche de fotos de celebridades que invadem a internet, as revistas e os jornais. O Oscar é uma grande noite: e uma boa foto pode ser vendida por centenas de milhares de dólares.
LIMUSINES: ‘Contamos com a temporada de premiações para começar bem o ano, nossa renda está bastante concentrada nestes dois meses’, diz Craig Friedemann, diretor da Music Express. Para ele, empresas que têm diversificado sua atuação, trabalhando na indústria musical, por exemplo, serão menos afetadas. Ainda assim, a perda será considerável.
SEGURANÇAS: O nível de segurança em torno do Oscar é tal que o presidente George W. Bush poderia passear sem incidentes pela Hollywood Boulevard, acompanhado do Papa. Policiais fardados ou à paisana, esquadrão antibombas, guarda-costas e o FBI estão envolvidos no esquema. ‘Você precisa cuidar de todos os envolvidos desde dias antes da cerimônia até o momento em que você os coloca em suas limusines e os manda para casa’, diz Dennis Bridwell, consultor sênior da Galland, cujos clientes incluem alguns dos mais bem pagos atores e atrizes de Hollywood.
CABELEIREIROS E MAQUIADORES: ‘Os dois fins de semana mais importantes do ano para nós são o do Globo de Ouro e o do Oscar’, diz Madeline Leonard, da Cloutier Agency. ‘O cancelamento torna-se um problema porque essas são datas reservadas, em que abrimos mãos de outros clientes para receber as estrelas. Além disso, não se trata só delas: cuidamos das esposas, maridos, familiares e assim por diante’.
PUBLICISTAS: Mesmo que a cerimônia não aconteça, é provável que muitos artistas mantenham suas campanhas de marketing em torno do Oscar. No entanto, alguns atores podem querer ficar do lado dos grevistas, se desvinculando do prêmio e dispensando seus publicistas – estima-se que, ao todo, a perda seja de US$ 300 mil.
OUTRAS PERDAS: Jack Kyser, economista da Los Angeles Economic Development Corp, diz que o cancelamento do Oscar custará às autoridades e à indústria de serviços da cidade cerca de US$ 130 milhões. Ele fala, por exemplo, no impacto na comunidade latina, cujos membros trabalham como manobristas e garçons, por exemplo. Produtores de carros ecologicamente corretos também sofrerão com a ausência de atores querendo fazer bonito na chegada ao Kodak Theatre. Já a Home James, empresa que leva pessoas que beberam demais para casa, espera perder pelo menos US$ 10 mil. TRADUÇÃO DE JOÃO LUIZ SAMPAIO
NA PONTA DO LÁPIS (EM US$)
80 milhões perderiam os estúdios
120 milhões perderiam as redes de TV
10 milhões perderiam os atores
50 milhões perderiam as lojas de grifes
6 milhões perderiam organizadores de festas
1 milhão perderiam os floristas
8 milhões perderiam os fotógrafos
700 mil perderiam motoristas de limosine
3 milhões perderiam agentes de segurança
2 milhões perderiam cabeleireiros e maquiadores
130 milhões seria custo total de outros segmentos’
FOTOGRAFIA
A mala perdida de Robert Capa
‘Para o pequeno grupo de especialistas em fotografia ciente de sua existência, ela era simplesmente ‘a mala mexicana’. E, no panteão dos tesouros culturais modernos perdidos, o objeto possuía a mesma aura mítica dos primeiros manuscritos de Hemingway, que sumiram de uma estação de trem em 1922. A mala – na verdade, um conjunto de três frágeis valises de papelão – continha milhares de negativos de fotos que Robert Capa, um dos pioneiros da fotografia da guerra moderna, fez durante a Guerra Civil Espanhola antes de fugir para os Estados Unidos em 1939, deixando para trás o conteúdo de sua câmara escura em Paris.
Capa supôs que o trabalho fora perdido na invasão nazista – e continuou pensando assim até 1954, quando morreu no Vietnã. Em 1995, no entanto, começou a circular a notícia de que os negativos haviam de algum modo sobrevivido, depois de fazer uma viagem digna de um romance de John le Carré: de Paris a Marselha e então para a Cidade do México, nas mãos de um general e diplomata mexicano que servira sob Pancho Villa.
E foi lá que eles permaneceram escondidos por mais de meio século, até o mês passado – quando fizeram mais uma viagem, provavelmente a última, até o Centro Internacional de Fotografia em Manhattan, fundado pelo irmão de Robert Capa, Cornell. Depois de anos de negociações discretas e intermitentes sobre o lar adequado dos negativos, sua posse legal foi transferida recentemente para o patrimônio de Capa por descendentes do general, entre eles um cineasta mexicano que viu o material pela primeira vez nos anos 90 e logo percebeu a importância histórica do que sua família tinha em mãos.
‘Este é realmente o Santo Graal da obra de Capa’, disse Brian Wallis, principal curador do centro. Ele acrescentou que, além dos negativos de Capa, as caixas rasgadas e empoeiradas também continham imagens da Guerra Civil Espanhola registradas por Gerda Taro, parceira de Robert Capa profissionalmente e, num período, pessoalmente, e por David Seymour, conhecido como Chim, que mais tarde fundou com Capa a influente agência fotográfica Magnum.
A descoberta sacudiu o mundo da fotografia, já que, entre outras coisas, espera-se que os negativos esclareçam de uma vez por todas uma questão que assombra o legado de Capa: se aquela que é possivelmente sua foto mais famosa – e uma das mais famosas fotografias de guerra de todos os tempos – foi encenada. Conhecida como ‘O Soldado Caindo’, ela mostra um miliciano espanhol republicano cambaleando para trás no instante em que uma bala aparentemente atinge seu peito ou sua cabeça numa colina perto de Córdoba em 1936. Quando foi publicada pela primeira vez, na revista francesa Vu, a foto causou comoção e ajudou a mobilizar o apoio à causa republicana.
Embora Richard Whelan, biógrafo de Capa, tenha apresentado argumentos convincentes sobre a autenticidade da cena, dúvidas persistiram. Um dos motivos é que Capa e Taro não se preocupavam com a imparcialidade jornalística durante a guerra – eles eram comunistas partidários da causa legalista – e eram conhecidos por fotografar quadros encenados, uma prática comum na época. Nunca foi encontrado um negativo da foto – reproduzida a partir de uma antiga impressão. A descoberta de um negativo, especialmente na seqüência original mostrando todas as imagens registradas antes e depois da cena, poderia pôr fim ao debate.
Mas a descoberta é saudada como um grande acontecimento não só por razões forenses. Trata-se da fase inicial do trabalho de um fotógrafo que, num século definido pelo confronto bélico, teve papel central na definição de como a guerra era vista, aproximando mais que nunca seus horrores e o público – ‘Se suas fotos não são boas o bastante, você não está perto o bastante’ era seu mantra – mas, no processo, tornando-a mais cinematográfica e irreal (não surpreende que Capa, mais tarde, tenha trabalhado em Hollywood, aproximando-se de diretores como Howard Hawks e namorando Ingrid Bergman).
Capa praticamente inventou a imagem do fotógrafo de guerra itinerante, com um cigarro no canto da boca e câmeras penduradas sobre a roupa. Sua intrepidez impressionava até os soldados que ele fotografava. Entre uma batalha e outra, ele se encontrava com Hemingway e Steinbeck, bebia demais e parecia enfrentar a vida em grande estilo. William Saroyan escreveu que via Capa como ‘um jogador de pôquer que tirava fotos nas horas vagas’.
De um jeito warholiano que parece apenas aumentar seu fascínio contemporâneo, Capa, nascido na Hungria com o nome de Endre Friedmann, também inventou a si mesmo. Ele e Taro, que o conheceu em Paris, criaram a persona de Robert Capa, apresentando-o como ‘um famoso fotógrafo americano’, para ajudá-los a conseguir trabalho. O fotógrafo então incorporou a ficção e a transformou em realidade (Taro, uma alemã cujo nome verdadeiro era Gerta Pohorylle, morreu em 1937 na Espanha num acidente com um tanque quando tirava fotos).
Os curadores do Centro Internacional de Fotografia, que iniciou um esforço de meses de duração para conservar e catalogar o trabalho recém-descoberto, dizem que a história completa de como os negativos – cerca de 3.500 – chegaram até o México pode nunca ser conhecida.
Em 1995, Jerald R. Green, um professor do Queens College, parte da City University de Nova York, recebeu uma carta de um cineasta da Cidade do México que acabara de ver uma mostra de fotógrafos da Guerra Civil Espanhola patrocinada pela faculdade. Ele contou que havia recebido recentemente um arquivo de negativos em nitrato que pertencera à sua tia, que por sua vez o herdara do pai, o general Francisco Aguilar Gonzalez. No fim dos anos 30, o general servira como diplomata em Marselha, onde o governo mexicano, simpatizante da causa republicana, começara a ajudar refugiados antifascistas da Espanha a imigrar para o México.
Pelo que os especialistas conseguiram deduzir de arquivos e de pesquisas do biógrafo Whelan (morto no ano passado), Capa, instalado em Nova York e temendo pela destruição de sua obra, aparentemente pediu que o gerente de sua câmara escura, um amigo e fotógrafo húngaro chamado Imre Weisz e conhecido como Cziki, salvasse seus negativos em 1939 ou 1940.
Acredita-se que Weisz levou as valises para Marselha, mas foi preso e enviado a um campo de concentração em Argel. Em algum momento, os negativos acabaram nas mãos de Aguilar Gonzalez, que os levou para o México, onde morreu em 1967. Não está claro se o general sabia quem havia tirado as fotos ou o que elas mostravam; mas, se ele sabia, aparentemente nunca tentou entrar em contato com Capa ou Weisz – que por coincidência viveu o resto da vida na Cidade do México, onde se casou com a pintora surrealista Leonora Carrington (Weisz morreu recentemente, nonagenário; Whelan o entrevistou para sua biografia de Capa escrita em 1985, mas não trouxe à tona nenhuma informação sobre os negativos perdidos).
‘Em retrospectiva, realmente parece estranho não ter havido maiores esforços para localizar essas coisas’, disse Wallis. ‘Mas acredito que eles simplesmente desistiram. (Os negativos) foram perdidos na guerra, como muitas outras coisas.’ Quando o Centro Internacional de Fotografia soube da possível existência do material, entrou em contato com o cineasta mexicano e pediu sua devolução. Mas cartas e telefonemas não renderam nenhum acordo, contou Phillip S. Block, vice-diretor do Centro para programas, acrescentando que, no início, ele e seus colegas nem sequer tinham certeza de que as afirmações do cineasta eram verdadeiras, pois ninguém havia visto os negativos (afirmando que a devolução do material foi uma decisão coletiva da família Aguilar Gonzalez, o cineasta pediu para não ser identificado neste artigo e não quis ser entrevistado).
Encontros com o cineasta foram marcados, mas ele não apareceu. ‘E então a comunicação foi totalmente cortada, sabe-se lá por quê’, disse Block. De tempos em tempos, foram feitas tentativas de retomar o contato, sem sucesso. Mas quando o Centro começou a organizar novas mostras da fotografia de guerra de Capa e Taro – em setembro -, decidiu tentar de novo, esperando que imagens dos negativos antigos pudessem integrar as exposições. ‘Ele nunca pediu dinheiro’, afirmou Wallis, referindo-se ao cineasta.
‘Aparentemente, ele apenas queria ter certeza de que os negativos iriam para o lugar certo.’ Frustrado, o Centro recorreu à ajuda de uma curadora e acadêmica, Trisha Ziff, que havia morado muitos anos na Cidade do México. Depois de trabalhar durante semanas só para localizar o recluso cineasta, ela iniciou discussões sobre os negativos que durariam quase um ano. ‘Não é que ele não quisesse entregá-los’, afirmou Ziff, em entrevista por telefone de Los Angeles, onde conclui um documentário sobre a célebre imagem de Che Guevara baseada numa foto de Alberto Korda.
‘A meu ver, o problema era que ninguém, antes de mim, havia pensado nesse assunto delicado com a profundidade necessária’, disse ela. O cineasta temia, entre outras coisas, que os mexicanos condenassem a entrega dos negativos para os Estados Unidos, por considerá-los parte da profunda ligação histórica de seu país com a Guerra Civil Espanhola. ‘Era preciso respeitar e honrar o dilema em que ele se encontrava’, disse Ziff.
No fim, a estudiosa convenceu o cineasta a abrir mão do material – ‘Acho que posso ser descrita como obstinada’, disse ela – e obteve do Centro de Fotografia a promessa de permitir que ele usasse imagens de Capa para um planejado documentário sobre a preservação dos negativos, sua jornada até o México e o papel de sua família no salvamento. ‘Vejo-o com bastante freqüência’, contou Ziff. ‘Acredito que agora ele está em paz com o assunto.’ TRADUÇÃO DE ALEXANDRE MOSCHELLA’
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