Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Censura de omissão

Muita gente acha que censura é quando alguma coisa é proibida. Então, as pessoas pensam que coisas censuradas são aquelas que a gente sabe que existem, mas não pode ter acesso.

Mas esse tipo de censura, tenham certeza, senhoras e senhores, é a censura mais light, perto de uma outra que é muito mais cruel e desavergonhada.

Trata-se da censura de omissão, que é quando até a informação da existência de determinadas coisas ou fatos é negada aos cidadãos. Essa forma de censura é mais perversa que a censura da proibição, pois não deixa brecha para qualquer dúvida – aliás, as dúvidas não surgem porque os fatos não as determinam. Não chegam a público.

Esse tipo de censura é muito comum dentro e fora do nosso país, mas acontece que a gente não fica sabendo que as coisas e os fatos estão sendo censurados. Por isso, é essa a censura mais perigosa que existe. A censura de omissão pode ser realizada por vários motivos, mas a técnica é sempre a mesma, ou seja, não deixar os fatos virem à tona.

Status de nação soberana

Um exemplo seria aquele em que os meios de comunicação divulgam apenas o que é mais vantajoso e menos ‘perigoso’. Perigoso no sentido de formação de opiniões que possam contradizer o mundo idealmente fabricado por essa mesma mídia, esse mesmo sistema de informações.

Na maioria dos casos, a censura de omissão colabora com a propaganda de determinadas idéias em detrimento de outras. A censura de omissão pode levar desde pessoas, empresas, grupos, ou até países inteiros à guerra, à falência, à desmoralização.

Querem ver um exemplo bastante atual?

Em 19 de dezembro de 2007, os representantes dos índios norte-americanos Lakota Sioux declararam status de nação soberana em plena capital dos Estados Unidos da América, revogando assim todos os tratados anteriormente firmados entre esse povo e os governantes norte-americanos. Esses tratados foram assinados em 1853 e 1868 em Fort Laramie, Wyoming.

Um Estado dentro do Estado

Segundo declarou Russell Means, Itacan de Lakota, ‘o domínio colonial dos Estados Unidos chegou ao fim… Hoje é um dia histórico e nossos bisavós falam através de nós. Nossos bisavós fizeram tratados de boa-fé com o sagrado Canupa e com o conhecimento do Grande Espírito.’ Russel ainda completa dizendo que ‘eles nunca honraram os tratados, essa é a razão para nós estarmos aqui hoje’.

Mas muita gente deve estar perguntando: por que essa notícia é tão relevante para nós, brasileiros?

Ela não é apenas relevante para nós, brasileiros, mas para todos os povos que ainda vivem sob o jugo dos opressores, sejam esses povos oprimidos politicamente, financeiramente, pelos sistemas de informação ou pelo conjunto de tudo isso e muito mais. Quando essa notícia não chega até nós, não ficamos sabendo que um grupo, uma etnia pacífica, que vem sendo há séculos vergonhosamente explorada, quase dizimada através de uma política genocida da maior economia do mundo, praticamente funda um Estado independente dentro desse poderoso Estado.

Um ‘mau’ exemplo

Quando esse fato nos é negado incondicionalmente, achamos que as coisas são como são e não podem ser mudadas. Achamos que o mundo é assim mesmo, sempre foi e sempre será.

Esse grito de liberdade do povo Sioux só pode ser comparado aos grandes movimentos de libertação mundiais. Vejam bem, no caso dos Sioux, nenhuma princesa Isabel assinou lei alguma. Eles próprios estão se libertando e dizendo ao poderoso Tio Sam e ao mundo inteiro que basta! Talvez seja por isso que essa notícia não chegou até nós. Fico imaginando que eles poderiam ser um mau exemplo para todos aqueles que se sentem oprimidos dentro de seu próprio país.

Fica claro também que a mídia nacional também deve ter medo de um ‘basta!’.

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Lighting designer, Campinas, SP