Leia abaixo a seleção de segunda-feira para a seção Entre Aspas.
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Folha de S. Paulo
Segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008
TELEVISÃO
Globo desfila clichês e obviedades em alta definição
‘‘O Carnaval de São Paulo virou uma coisa grande. Os carros são sempre grandes.’ Essa pérola, do comentarista da Globo Maurício Kubrusly, resume a primeira transmissão em alta definição do Carnaval paulistano. Tecnicamente (não artisticamente), a imagem digital estava impecável. Mas faltaram som e informações. Sobraram clichês, comentários irrelevantes, constatações óbvias e falso entusiasmo.
Com frases do tipo ‘O Carnaval é uma prova de que é possível falar sem palavras’, o comentarista Maurício Kubrusly ‘prova’ que existe coisa mais chata do que ver desfile pela TV: ouvir os comentaristas de Carnaval na TV. Ainda mais quando o repórter da Globo divide a função com a sambista Lecy Brandão.
Lecy passa a metade do Carnaval chamando as baianas de ‘tias’ e os sambistas por apelidos. Na outra metade, ela faz jabá para os amigos. ‘A confecção dessa roupa, que é muito bonita, foi feita [sic] pelo Fábio Santos’ é apenas um exemplo.
A superficialidade é uma barreira. Lecy disse que o Carnaval de 2008 seria um ‘divisor de águas’. Por quê? Quem sabe em 2009 ela responde.
A Globo levou uma dezena de repórteres ao sambódromo. Mas eles só apareciam nos intervalos, quase sempre inaudíveis, para informar que havia ‘uma emoção muito grande’ e ‘expectativa total’.
Renata Ceribelli e Chico Pinheiro, os âncoras, deram um show de clichês: ‘Olha aí que bonita a arquibancada’, ‘Essa energia toda’, ‘Olha que bonita a escola’, ‘Olha que imagem bonita’, ‘Olha que luxo essa fantasia’, ‘Olha que alegria’, ‘Olha aí a emoção…’, ‘Olha a beleza desse casal de mestre-sala e porta-bandeira’, ‘O sambódromo é um tapete de alegria’, repetiam.
O áudio ruim foi outra característica marcante. Havia um ‘delay’ entre o som do sambódromo, muito baixo, e o da TV. E foi um fiasco a tentativa de medir os batimentos cardíacos dos músicos. Numa das poucas vezes em que isso ocorreu, o coração do sambista saltou de 80 para 170 batimentos, do repouso para o máximo.
A GAFE
A ex-big brother Íris Stefanelli atacou como repórter da Rede TV! no sambódromo de São Paulo. Em sua primeira ‘reportagem’, ‘entrevistou’ três anônimos que tinham a dizer ‘Íris, eu te amo’. Quando encontrou uma ‘celebridade’, confundiu-a com outra. Chamou o ex-’Casa dos Artistas’ Taiguara (negro) de Caetano Zonaro (loiro), o primeiro eliminado de ‘BBB 1’. ‘É que somos bastante parecidos’, brincou Taiguara.
O TRUQUE
A Rede TV! deu um jeito de se livrar de Adriana Lessa, a pior do Carnaval em 2007. Adriana se recuperou de uma doença a tempo de trabalhar, mas a emissora a substituiu pela modelo Janainna Jacobina. Ao lado de Nelson Rubens, Janainna apenas sorria. No máximo, abria a boca para anunciar o repórter que entraria no ar.’
Cristina Fibe
Maranhense abre noite de samba na TV
‘O sambista maranhense Antonio Vieira, 87, estréia amanhã no Canal Brasil, às 18h45, no ‘Brasil da Música’, abrindo alas para os especiais de Carnaval do dia na emissora, que seguem até as 21h30.
Extraída do projeto Rumos, do Itaú Cultural, a série procura apresentar músicos diferentes, do ‘cenário independente’, a cada semana, em 50 programetes de 15 minutos.
Pouco conhecido do público para os mais de 70 anos que vem dedicando ao samba, Antonio Vieira merece o espaço, e nele fica à vontade.
Conta que ficou ‘conhecido’ em um festival no Maranhão em que levou o primeiro e o segundo lugares, com duas músicas diferentes. Dá receitas para a longevidade -’não ter vícios, não comer muita gordura e cuidar um bocadinho do corpo, como da casa’. E diverte com composições como ‘Na Cabecinha da Dora’ e ‘Cocada’. Um bom aperitivo para apresentá-lo ao tal grande público.
Depois dele, de dois documentários curtos sobre o Carnaval carioca e de outro sobre a Sapucaí, o canal traz curtas que destacam a obra dos sambistas João Nogueira, Martinho da Vila e Moreira da Silva, nessa ordem. ‘Carnaval do Passado’, às 20h35, encerra o bloco de amanhã com as marchinhas de Carnaval que fizeram sucesso nos anos 50 e 60.
BRASIL DA MÚSICA – ANTONIO VIEIRA
Quando: amanhã, às 18h45
Onde: Canal Brasil’
GOVERNO
Fernando de Barros e Silva
Matilde e o ‘companheiro cartão’
‘SÃO PAULO – Matilde Ribeiro caiu de forma humilhante e vexatória, incapaz de justificar os abusos com o cartão de crédito corporativo. Lula, desta vez, agiu rápido, o que parece suspeito. Seu gesto, de qualquer forma, não afasta o constrangimento nem atenua a gravidade do caso. Ainda resta muito para esclarecer.
O ‘erro administrativo’ que a ex-ministra admitiu, mas sem arrependimentos, em português tem outro nome. Ou os neoaloprados também inventaram a sua própria língua?
Não é trivial nem deve passar batido que esse escândalo atinja a pasta da Igualdade Racial. Mas há evidências até em demasia de que o desvio envolve outros setores do governo, inclusive e sobretudo o Planalto. Ao que parece, criou-se um meio fácil para patrocinar mordomias privadas e baratos afins com o dinheiro público. Cerca de 75% dos R$ 75,6 milhões gastos em 2007 foram sacados em espécie. Algo em torno de R$ 58,7 milhões. Usados para quê?
Já conhecíamos a Lei de Gérson -o importante é levar vantagem em tudo, certo? O PT vem consagrar a Lei de Vavá: o sujeito chega à boca do caixa, aperta os botões e intima:
– Arruma dois pau pra eu!
Consta que o irmão de Lula voltava para casa de mãos vazias. Já a máquina obedece. O ‘companheiro cartão’ tornou-se um instrumento eficaz do neopatrimonialismo petista.
E a Secretaria da Igualdade Racial, como fica? Ela era até aqui uma pasta simbólica, pouco mais que um slogan criado para afirmar um compromisso político. Slogan vazio, diga-se. Em 2007, do seu ridículo Orçamento de R$ 34 milhões, só conseguiu executar 38% (R$ 13 milhões), a maior parte com despesas burocráticas.
O assunto da pasta que foi de Matilde é muito sério, mas não o tratamento que o governo Lula lhe dispensa. Não bastou o mensalão; não bastaram os aloprados. Novamente tão à vontade no comércio com os aliados e no manejo da realpolitik, o ‘governo popular’ -ainda não satisfeito- vem agora aviltar a pasta que deveria cuidar da nossa triste herança colonial e do racismo. Símbolos morrem. Lula deveria saber disso.’
Eduardo Scolese
Saída de ministra preocupa movimento negro
‘A crise provocada pelo uso irregular do cartão corporativo do governo, que culminou com a demissão da ministra Matilde Ribeiro (Igualdade Racial), atingiu tanto o movimento negro quanto as políticas voltadas ao setor. A opinião é de especialistas e integrantes do movimento negro ouvidos pela Folha. Alguns identificam a saída de Matilde como uma vitória de uma camada da sociedade contrária a ações anti-racismo.
‘A saída da ministra é uma vitória das pessoas que não concordaram com a criação da própria secretaria. É uma vitória das pessoas contrárias às políticas de ações afirmativas para a população negra’, diz Kabengele Munanga, professor de antropologia e diretor de estudos africanos da USP.
Com a saída de Matilde (PT-SP), Martvs das Chagas (PT-MG), até então o número dois da secretaria especial, assume como ministro interino. O presidente Lula decidirá sobre efetivá-lo ou não após o Carnaval.
Por conta do uso irregular do cartão corporativo, a ministra pediu demissão anteontem.
‘O movimento sai riscado. E a gente sabe que os que concentram a renda do país, onde a maioria não é negra, influenciaram contra a secretaria e contra a ministra’, opina Edgard Moura Amaral, secretário nacional de formação dos agentes pastorais negros.
Em 2007, Matilde gastou R$ 171 mil com o cartão, incluindo gastos pessoais. Ela tentou resistir à crise até a audiência de anteontem com o presidente, mas não obteve retaguarda.
Para o professor Nelson Inocêncio, coordenador do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros da UnB (Universidade de Brasília), a demissão de Matilde traz um prejuízo conjunto.
‘Na medida que existe um descontentamento com essa secretaria, tudo serve de pretexto. É um prejuízo à secretaria, às políticas e ao movimento’, declara.’
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O Estado de S. Paulo
Segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008
TELECOMUNICAÇÕES
O Estado de S. Paulo
Afoiteza inexplicável
‘Por conta da precipitação com que tem agido e falado sobre a compra da Brasil Telecom (BrT) pela Oi (ex-Telemar), que resultará no que a imprensa vem chamando de a ‘supertele’ brasileira, o ministro das Comunicações, Hélio Costa, viu-se obrigado a retificar suas declarações, que afetaram as cotações dos papéis das duas empresas negociados na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa).
Num dia o ministro disse ter sido notificado oficialmente sobre o negócio, razão pela qual anunciou já ter pronto estudo sobre mudanças nas regras vigentes, que impedem a criação da ‘supertele’, e que iria apresentá-lo imediatamente à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). No dia seguinte, porém, teve de voltar atrás. Agindo com prudência não demonstrada pelo ministro, outras áreas do governo tomaram a decisão de aguardar a publicação, pelas empresas envolvidas no negócio, de um comunicado de fato relevante para então iniciar o procedimento que Costa queria começar o mais depressa possível.
Trata-se de um negócio que até poderia ser encarado como normal no mundo empresarial se não viesse envolto em atitudes, declarações e intenções não claramente justificadas pelo governo. A afoiteza do ministro é, talvez, o componente menos intrigante do envolvimento do governo nesse caso – Costa deve ter lá seus motivos para estar tão ansioso por ver a fusão consumada.
Não são convincentes os argumentos invocados pelo governo para justificar sua interferência nesse negócio entre duas empresas privadas. O governo tem sustentado que a formação de uma empresa de capital nacional do porte da que resultará da fusão da Oi e da BrT é necessária para enfrentar a concorrência de empresas estrangeiras, no País e no exterior. Ora, não há, que se saiba, nos planos da ‘supertele’, projetos de expansão imediata de suas atividades para outros países. Outra alegação do governo é que, no plano interno, a nova empresa aumentaria a concorrência, com benefícios para o usuário. Esse argumento foi repetido pelo ministro das Comunicações há dias.
Não é provável que isso ocorra. Estudo encomendado pelos controladores da Oi ao economista e ex-presidente da Anatel Luiz Guilherme Schymura, cujas conclusões foram publicadas pelo jornal Valor, mostra que é pequeno o risco de se aumentar a concentração de mercado com a formação da ‘supertele’. Trata-se de um ponto a favor do negócio. Quanto ao aumento da concorrência, porém, se houver, ocorrerá em segmentos específicos do mercado.
No processo de privatização do setor, o País foi dividido em três regiões, das quais coube à Oi a região I e à BrT a região II. No caso da telefonia fixa local, a fusão não mudará em nada a divisão do mercado: na área da Oi, esta detém 93% do mercado e a BrT, 0%; na área da BrT, esta tem 92% e a Oi, 0%. Também no segmento de ligações de longa distância intra-regional, na área dominada por uma empresa a outra não tem nenhuma participação, de modo que, como no caso anterior, a fusão em nada alterará o quadro. Também no segmento de ligações internacionais, a nova empresa não alterará a divisão do mercado. Em todos os casos citados, nem haverá mais concentração nem se estimulará a concorrência.
O que pode mudar é o mercado de telefonia celular móvel e o de serviços de telecomunicações para grandes empresas (transmissão de voz, imagens e textos). Na telefonia móvel, há uma acirrada disputa entre as três maiores operadoras (Vivo, TIM e Claro), cada uma das quais detém uma fatia que varia de 25% a 27,7% do mercado. A ‘supertele’ ficaria com 16,7%. Na área de transmissão de dados, a nova empresa, além de ampliar sua fatia, passaria a dispor de uma estrutura nacional de cabos de fibras óticas, o que a habilitaria a competir com a atual empresa líder, a Embratel.
Esses números não justificam o envolvimento do governo nesse negócio. Menos justificável ainda é seu desejo – refletido na desenvoltura com que vem atuando o ministro das Comunicações – de acelerar a conclusão das negociações, para só então examinar as mudanças no Plano Geral de Outorgas que validarão o negócio. Tenta-se criar um fato consumado para forçar a mudança das regras.
Tudo indica, portanto, que o interesse do governo não se deve aos motivos alegados.’
GOVERNO
Eugênia Lopes
Oposição quer investigar cartões de ministros
‘Um dia após o Estado revelar que pelo menos 10 dos 37 ministros declaram gastos com cartões corporativos em nome de assessores e subordinados, a oposição voltou a cobrar investigação. Assim que terminar o recesso parlamentar, o DEM pretende se reunir com o PSDB para definir uma estratégia conjunta para apurar o uso dos 13 mil cartões do Executivo.
Os dois partidos divergem, porém, sobre a idéia de criar uma CPI agora. Enquanto o PSDB é favorável à instalação imediata da comissão, o DEM está reticente. ‘É obrigação da oposição investigar o uso desses cartões. Mas não sei se o mais eficaz é uma CPI’, disse o líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN). O PSDB já começou a recolher assinaturas para uma CPI conjunta da Câmara e do Senado – é preciso o apoio de 171 deputados e 27 senadores.
As chances de a comissão vingar são maiores no Senado, onde o Planalto já foi derrotado na votação da CPMF. ‘O governo não vai conseguir impedir a abertura de uma CPI no Senado’, garantiu o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM). Para ele, a comissão só não será instalada se o governo concordar em divulgar todas as despesas pagas com os cartões de crédito, inclusive as do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Ex-ministro do governo Fernando Henrique Cardoso, o tucano contou que usou o cartão de crédito corporativo no período em que esteve à frente da pasta da Articulação Política. ‘Usei o cartão através de um assessor. Mas a responsabilidade dos gastos é minha’, disse Virgílio. ‘O ministro pode delegar o uso do cartão a assessores. Mas o ministro tem de ser o responsável direto pelos gastos’, concordou Agripino.
Mesmo contrário à criação da CPI, o líder do PR na Câmara, Luciano Castro (RR), defendeu a investigação. ‘É preciso apurar nesse contexto quem abusou do uso dos cartões’, disse. Na sua opinião, apenas o presidente da República e integrantes da Polícia Federal deveriam ter direito a cartões corporativos sem limite de gastos.
PRESIDÊNCIA
Sob a alegação de que as despesas presidenciais devem ser mantidas em sigilo por questão de segurança, o governo excluiu do Portal da Transparência da Controladoria-Geral da União (CGU) informações sobre gastos com alimentação das residências oficiais de Lula bancados com cartões corporativos. Relatório do portal apontou que o assessor especial José Henrique Souza gastou R$ 114,9 mil em compras de itens como vinhos e carnes no ano passado. ‘Por que não querem divulgar os gastos com cartão corporativo do presidente Lula? Ele vai comprar urânio com o cartão?’, ironizou Virgílio.
Na opinião do ex-ministro da Fazenda Mailson da Nóbrega, sócio da Tendências Consultoria Integrada, a falta de fiscalização dos cartões desmoraliza um instrumento importante para aumentar a transparência dos gastos. ‘É muito melhor do que quando trabalhei no governo. Fazíamos um adiantamento ao funcionário e depois ele prestava contas.’’
INTERNET
O Estado de S. Paulo
Google acusa a Microsoft de tentar ampliar seu monopólio
‘O Google fez ontem uma dura crítica à proposta de US$ 44,6 bilhões anunciada na sexta-feira pela Microsoft pelo controle do Yahoo. A empresa de Bill Gates é acusada de tentar expandir seu monopólio de softwares mais profundamente dentro da internet. David Drummond, um vice-presidente-sênior do Google e chefe para assuntos legais da empresa, disse no blog da empresa que a combinação de Microsoft e Yahoo pode minar a competição aberta que tem impulsionado mais de uma década de inovações na web.
‘As duas companhias operam os dois mais visitados portais na internet’, escreveu Drummond no blog http://googleblog.blogspot.com. ‘Poderia uma combinação das duas empresas tomar vantagem de um monopólio de softwares para PC para injustamente limitar a capacidade de os consumidores livremente terem acesso a e-mail, mensagens instantâneas e serviços de web dos concorrentes?’, perguntou o executivo. Drummond pediu que formuladores de política em todo o mundo desafiem a fusão.
Ao comentar o caso na sexta-feira, executivos da Microsoft disseram que o Google – e não a Microsoft – era a companhia a qual os reguladores antitruste deveriam evitar que comprasse o Yahoo, com base no domínio do Google no sistema de buscas na internet. Ontem, a Microsoft não comentou as declarações do executivo do Google.
Também ontem, uma fonte próxima à direção do Yahoo disse que empresa pode estudar uma eventual aliança com o Google como uma defesa contra a oferta da Microsoft. Segundo a fonte, a direção do Yahoo considera que a oferta feita pela gigante do software subavalia o valor da empresa.
TEMPO
Oficialmente, o Yahoo afirmou que pode precisar ‘de um bom tempo’ para definir suas opções estratégicas, incluindo manter a companhia independente, após a proposta da Microsoft para comprar a empresa. Em um texto no site da companhia, o Yahoo afirmou estar revisando a oferta não solicitada da Microsoft de pagar aos acionistas da empresa ou US$ 31 por ação ou 0,9509 de uma ação comum da Microsoft.
‘Um processo de revisão como esse é fluido e pode levar um bom tempo’, diz o texto da companhia. Em resposta à pergunta freqüente sobre se o Yahoo buscaria propostas de outras empresas, também divulgada no site, a empresa afirmou que estudaria todas as opções.
Os analistas citaram Comcast, Viacom e General Electric entre os possíveis interessados na compra da companhia. Mas os analistas dizem que, na verdade, a chance de se unir à Microsoft seria mais natural para o Yahoo.
A Microsoft disse que vinha conversando com o Yahoo há cerca de 18 meses, mas todas as suas ofertas foram rechaçadas. Por isso, decidiu fazer uma oferta pública aos acionistas da empresa.’
PUBLICIDADE
Marili Ribeiro
Carnaval antecipado na propaganda
‘O carnaval temporão, que puxou a agenda dos patrocinadores da festa este ano, por acontecer pelo menos 15 dias antes do habitual, não só acelerou o ritmo das ações de marketing, como acabou por adiantar a programação anual das agências de publicidade e dos anunciantes.
Para o consumidor, o principal resultado dessa antecipação é uma maior exposição à propaganda em um período menor de tempo. Na Rede Globo, detentora dos direitos dos desfiles carnavalescos do Rio e de São Paulo, a média de inserções diárias de comerciais carnavalescos na programação passou de 9,79, no ano passado, para 12,3 este ano. A razão é simples. Se em 2007 foram 55 dias de anúncios ligados ao carnaval, este ano serão apenas 40 dias. Além disso, na Globo, as cotas de patrocínio para o evento passaram de R$ 15,5 milhões em 2007 para R$ 16,49 milhões.
Sem mencionar qualquer número por determinação da casa, o diretor da Central Globo de Marketing, Anco Saraiva, apenas manda informar que ‘os pacotes de verão da TV Globo foram comercializados normalmente’. Ele responde com essa frase ao questionamento de que o carnaval temporão poderia frustrar os negócios este ano em função de ser mais curto, como chegou a se cogitar no mercado.
Assim como Saraiva, empresários que investem nesse período dizem não ter sentido prejuízo em função da agenda mais estreita. ‘Não gastamos mais ou menos do que no ano passado, apenas tivemos a publicidade mais concentrada’, diz Marcel Sacco, diretor de Marketing da Cervejaria Schincariol, um das cotistas da transmissão do carnaval da Globo. A outra cota foi adquirida pelo Bradesco. ‘O primeiro intervalo comercial, logo após o estouro dos fogos na passagem de ano, já foi o da mulata Globeleza/Carnaval 2008, com a assinatura dos patrocinadores’, relembra Sacco.
Se na Globo o carnaval temporão não causou alterações de seus pacotes comerciais, na Rede Bandeirantes, que além do carnaval de Salvador está transmitindo este ano a folia de Recife e Olinda, brindou seus anunciantes, que compraram cotas carnavalescas por R$ 8,5 milhões cada, com anúncios avulsos durante a programação de verão. Para o diretor-comercial da emissora, Marcelo Mainardi, foi uma forma de adequar melhor a ‘concentração de entrega em função dos 15 dias a menos na agenda deste ano’.
Nas agências de publicidade, o reflexo dessa aceleração também causa impacto. ‘Teremos um primeiro trimestre que, na certa, vai puxar os resultados do ano, já que houve a mesma exposição de mídia do que nos anos anteriores, porém num espaço de tempo bem mais curto, o que fará com que, caso a economia venha a travar em função da recessão nos EUA, o nosso ano pareça ainda mais longo’, pondera Marcos Quintela, vice-presidente de Atendimento e Operações da agência Young & Rubicam.
As considerações de Quintela encontram eco em Fernando Musa, diretor-geral da Ogilvy & Mather Brasil , para quem há uma sensação de que o verão ficou mais curto, ou, como ele mesmo brinca, ficou ‘um verão concentrado’.
Anunciantes que têm ações de marketing fortes nessa época do ano, caso das empresas voltadas para o consumo, que promovem degustações e demonstrações de produtos na orla marítima, por exemplo, foram obrigados a se organizar para distribuir suas amostras em tempo bem mais curto para aproveitar a temporada. ‘Isso exigiu maior desgaste tático e operacional das agências, porque tivemos de fazer tudo em menos tempo’, explica Musa.
A sensação de ano mais curto, na verdade, só existe pelo fato de não ter havido um hiato maior entre o Natal e o início da aulas, na opinião de Hugo Janeba, diretor de Imagem e Comunicação da Vivo. ‘O carnaval acabou se embaralhando com as ações de verão e fez nosso planejamento do ano acontecer em novembro.’’
CINEMA
Luiz Carlos Merten
Um novo caminho para Tropa de Elite
‘Para o diretor José Padilha, a seleção de Tropa de Elite para a mostra competitiva do Festival de Berlim tem um doce sabor de revanche. No Brasil, o filme foi visto por cerca de 2,5 milhões de espectadores nos cinemas e multiplicou este número por quase seis no chamado mercado ‘informal’, pois Tropa de Elite virou um fenômeno de pirataria muito antes de estrear nas salas. Tudo isso e mais a violência do filme, seu olhar sobre o Bope, Batalhão de Operações Especiais, e a criação de um personagem como o Capitão Nascimento – que, somado ao Olavo da novela Paraíso Tropical, transformou o ator Wagner Moura no homem do ano -, fez de Tropa de Elite uma obra muito polêmica por seu significado político e sociológico, mas cinema, mesmo, pouca gente se preocupou em dissecar a construção dramática e a simetria audiovisual, ou ainda a montagem de Tropa de Elite.
Para Padilha, a ida a Berlim recoloca as coisas nos eixos. Como Zagallo que, vitorioso, dizia que a torcida brasileira ia ter de agüentá-lo, o diretor de Tropa de Elite espera que agora, finalmente, seu filme seja valorizado, ou debatido, como cinema. ‘O público de Berlim não tem o envolvimento do brasileiro em relação ao assunto. Aqui, o Capitão Nascimento virou um herói, embora ele não tenha sido concebido, nem desenvolvido, desta maneira. Estou muito curioso para saber como vai ser a recepção do filme em Berlim.’ Padilha diz isto para o repórter numa conversa no jardim (ou será pátio?) de sua produtora, na Lagoa, no Rio. Wagner Moura, que mora ali perto, veio a pé.
Wagner está cheio de expectativa em relação a Berlim. Ele já foi a Cannes com Cidade Baixa, de Sérgio Machado, no qual dividia a cena com Alice Braga e Lázaro Ramos. Alice fez a festa na Croisette. Talvez tenha sido ali que ela catapultou sua carreira internacional. E Wagner? ‘Quero ver, conhecer, sou muito curioso. Pelo que me diz o Zé (Padilha), acho que o filme já está acontecendo por lá.’
José Padilha não pára de dar entrevistas por telefones para jornais alemães (e europeus, de maneira geral). O Brasil tem tradição de premiação na Berlinale – e até já ganhou o Urso de Ouro, por Central do Brasil, de Walter Salles. Três atrizes brasileiras já receberam o prêmio de interpretação: Marcélia Cartaxo, por A Hora da Estrela; Ana Beatriz Nogueira, por Vera; e Fernanda Montenegro, justamente por Central do Brasil.
A curiosidade por Tropa de Elite antecede a própria exibição do filme, que ocorre logo nos primeiros dias do festival que começa na quinta-feira. Afinal, todo mundo já sabe da reputação polêmica de Tropa de Elite no Brasil.
A própria seleção para Berlim é uma história que merece ser contada. ‘Nosso primeiro convite foi para o Panorama, uma das mostras paralelas, o que já seria bacana. Mas o Harvey Weinstein, distribuidor internacional de Tropa de Elite, queria a competição, que daria uma visibilidade maior ao filme. Ele pressionou a organização, dizendo que, se não fosse para a competição, o filme iria para o Sundance. A direção-geral decidiu-se logo e o Tropa foi um dos primeiros filmes anunciados, antes que toda a seleção fosse divulgada’, conta Padilha.
Ele está prestes a entrar no seleto grupo de diretores brasileiros com carreira internacional. Como Walter Salles e Fernando Meirelles, após outro filme-fenômeno (Cidade de Deus), Padilha já tem recebido convites para filmar nos EUA. Por mais atraente que isso possa ser, seu interesse não é ficar se repetindo, nem virar um diretor de ação. Tropa de Elite foi uma obra pensada para refletir o Brasil. Com Ônibus 174, Padilha expôs o ponto de vista do traficante. Com Tropa de Elite, o da polícia. De alguma forma, ambos os filmes formam um díptico na sua cabeça, e não importa que um seja documentário e outro, ficção. ‘Dei ao Wagner, o mesmo nome do garoto do Ônibus, Sandro. Não é uma mera coincidência’, ele destaca.
Na cabeça de Padilha, de uma forma muito clara, o Capitão Nascimento, Sandro, não é um herói, mas foi assim que a maioria do público brasileiro, carente de segurança, o recebeu. Ele também corrige uma informação que deu muito o que falar desde setembro do ano passado, quando Tropa de Elite inaugurou o Festival do Rio (e já era num grande sucesso de vendas no mercado pirata de DVDs). A tese do filme, de que a classe média financia o tráfico, provocou prós e contras na imprensa. Hoje, Padilha substitui a palavra ‘financia’ por ‘sustenta’ e nisto vai uma diferença e tanto. Decepciona-se quem gostaria de ver o diretor, às vésperas do Festival de Berlim, polemizar com seu colega brasileiro Mauro Lima, que, em Meu Nome Não é Johnny – grande êxito de público do cinema brasileiro neste começo do ano -, estaria dando uma resposta a Padilha e à sua Tropa de Elite, livrando a cara da classe média. ‘Não vi’, ele responde singelamente.
O problema, naturalmente, é complexo. A classe média, como consumidora, sustenta o tráfico, mas aposta no Capitão Nascimento para seguir dormindo em paz. Ele mata, tortura, faz o que for preciso, em nome da lei e da ordem. Não é um herói hollywoodiano, nem um personagem politicamente correto. É um personagem real, torturado intimamente (e a interpretação de Wagner Moura dá conta desta complexidade). Foi isso o que tornou Tropa de Elite atraente para os irmãos Weinstein, que já haviam distribuído Cidade de Deus nos EUA, colocando o filme de Fernando Meirelles em quatro categorias do Oscar (melhor diretor, fotografia, roteiro adaptado e montagem), um ano depois de ele ter ficado de fora da categoria de melhor filme estrangeiro, para a qual fora oficialmente indicado pelo Brasil. Tropa de Elite também concorreu à indicação pelo Brasil, mas foi preterido em função de O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias, de Cao Hamburger, que ficou entre os nove finalistas da categoria. Quem sabe Berlim e um futuro lançamento nos EUA também não colocam Tropa de Elite na rota do Oscar
Padilha lembra que a narração em off, tal como está concebida, foi um recurso que surgiu na montagem, e não com a preocupação de didatismo, mas para expressar as contradições dos protagonistas (e não apenas do Capitão Nascimento). A versão que vai para Berlim é exatamente a que foi lançada nos cinemas brasileiros. Nada foi mudado.
No Brasil, houve quem (quais críticos?) dissesse que o filme era ‘vazio’. Padilha vangloria-se de que seu filme ‘vazio’ seja tema de mais de duas dezenas de teses (que ele conheça, inclusive no exterior). Seu sonho é ver o filme no Oscar. Mas, de todas as categorias, a que mais o recompensaria seria ver Wagner Moura indicado para melhor ator.
Padilha tem destacado muito a figura e a contribuição do ator em suas entrevistas para a imprensa alemã. Quem sabe? Wagner sorri. O Capitão Nascimento e Olavo, tão diferentes, fizeram dele uma rara unanimidade nacional. O que o policial justiceiro e o empresário mau-caráter têm em comum? ‘São primos, como todos os meus personagens. Afinal, sou eu que dou vida a todos eles.’’
TELEVISÃO
Fox estréia séries
‘O canal pago Fox já anuncia a exibição da série Lipstick Jungle para este ano, como adiantou esta coluna. A atração, protagonizada por Brooke Shields, Kim Raver e Lindsay Price, mostra o cotidiano de três mulheres poderosas de Nova York e tem como roteirista Candace Bushnell, autora de Sex and the City. Por isso a série está sendo tão aguardada nos Estados Unidos e a data de estréia por lá está marcada para o dia 8. No Brasil, não há previsão de estréia.
A Fox colocará no ar ainda a série Saving Grace, com Holly Hunter no papel de uma detetive que vive a vida de forma nada saudável até que um anjo aparece para salvá-la. O papel lhe rendeu indicações para o Globo de Ouro e aos SAG Awards. Outra boa atração que chegará ao canal este ano é Journeyman, uma espécie de Life on Mars, sobre um jornalista que viaja pelo tempo para ajudar pessoas.
Além das séries americanas, a Fox deve, provavelmente, realizar uma nova temporada de Tempo Final, produção original do grupo filmada na Colômbia. Exibida em toda a América Latina, a série alcançou, em alguns episódios, uma audiência maior do que a de atrações americanas.’
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