Leia abaixo a seleção de sexta-feira para a seção Entre Aspas.
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Folha de S. Paulo
Sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008
CARTÕES DO GOVERNO
Gastos corporativos
‘A REVELAÇÃO de gastos extravagantes de ministros e outras autoridades federais tornou explícito um padrão de conduta que permanecia ao abrigo de vigilância. Nesse patrimonialismo do dia-a-dia, paga-se a conta de um free shop, alugam-se carros nas férias, abriga-se a família num hotel -tudo sacado dos contribuintes- com a naturalidade e o automatismo de quem não deve satisfação.
Esse hábito arcaico começa a ser atacado por três razões básicas. Uma é a própria disseminação dos cartões de crédito corporativos na administração federal; outra é a louvável decisão do governo Lula de explicitar essas despesas na internet -tal nível de transparência não se repete, por exemplo, no caso do governo paulista. O terceiro e decisivo fator é a cobrança feita pela imprensa e por organizações civis com base nos dados públicos.
Está certa, portanto, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, quando defende as vantagens do uso de cartões de crédito para a prestação de contas de despesas emergenciais e com viagens. O sistema, cujo controle é automático, é muito superior ao modelo das chamadas contas B, pelo qual se coloca um montante à disposição do funcionário, que pode gastá-lo emitindo cheques.
Mas, se o governo estivesse mesmo convencido do trunfo do cartão de crédito com a fatura publicada na internet, deveria obrigar todos os ministros e servidores graduados a usá-los, fechando a brecha dos saques em dinheiro permitidos com o cartão. O montante para retirada foi de fato limitado a 30% do valor gasto -contudo, estranhamente, agora se recomenda aos ministros que deixem de utilizar os cartões. Em outro ato que contraria o princípio da prestação de contas, despesas da Presidência foram retiradas da internet.
O valor irrisório da maioria dos gastos revelados denota que não está em tela, nesse caso, um grande escândalo com dinheiro público. O caráter pitoresco e até anedótico de alguns flagrantes não deixa, porém, de comprometer a conduta das autoridades, de quem se exige rigor exemplar no trato de recursos que lhes são confiados pelos cidadãos.
Uma ‘CPI da Tapioca’, investigação que se limitasse a tomar os dados públicos e cobrar explicação dos autores da despesa, teria pouco a acrescentar em relação ao trabalho que imprensa, ONGs e alguns órgãos de controle vêm realizando. Já uma CPI que concentrasse seus esforços em desvendar a parcela do gasto corporativo federal que permanece na penumbra -em 2007, 75% das despesas com cartão foram saques em dinheiro vivo; quase R$ 100 milhões fluíram pelas contas B- teria um serviço relevante a prestar.’
Fernando de Barros e Silva
Drácula
‘SÃO PAULO – É provável que o leitor, como eu, não saiba grande coisa a respeito dos procedimentos que cercam a segurança dos chefes de Estado. Talvez por isso, como eu, tenha alguma dificuldade de entender por que a divulgação dos gastos com cartão corporativo para comprar o que Lula consome à mesa poria em risco a sua integridade.
As ‘razões de Estado’ alegadas pelos ministros Franklin Martins e Dilma Rousseff para justificar a retirada dos gastos presidenciais do Portal da Transparência são uma espécie de confissão involuntária. Eles falam a verdade sem dizê-la.
Não é a segurança física do presidente nem, muito menos, o próprio país que estariam sob ameaça se as cifras da comilança oficial viessem a público regularmente. É o mandato de Lula que não resistiria. Só isso.
Parece radical? Talvez. Mas não acredito que essa seja uma vulnerabilidade só dos petistas ou deste governo. O poder sempre é como conde Drácula: se alimenta na noite e não resiste à luz do dia. A democracia -o pior regime já criado, excetuados os demais- opera meio às cegas, como uma lanterna numa floresta negra. Vislumbramos faixas trêmulas de luz no breu sem saber nada do que está ao nosso lado.
Do pouco que podemos ver, os exemplos flagrantes de descontrole com os cartões são mais do que suficientes para revoltar as pessoas. Mas a reação furiosa também sugere que a classe média até pode invejar o caviar corporativo na boca de um tucano da USP, mas não tolera a picanha no prato do petista operário. O PT sabe e usa como álibi.
O primeiro risco da pressão moralizante é desencadear um retrocesso na pouca transparência obtida com os cartões e o portal, em nome das ‘razões de Estado’ e da demonização da ‘arma’ do crime.
Mas não só. Dilma e Franklin correram para blindar Lula porque perceberam logo o teor explosivo do assunto. Os R$ 1.400 de uma mesa de sinuca podem provocar estrago muito maior do que os bilhões de reais que o governo torra em juros.’
Fábio Zanini
Radiobrás diz que servidor comprou lona para estúdio
‘O presidente da Radiobrás, José Roberto Garcez, disse ontem que o gasto de R$ 36 feito por um servidor da empresa em março de 2006 com cartão corporativo na loja PB Colchões, em Brasília, refere-se à compra de cinco metros de lona para um estúdio móvel montado no sambódromo da capital federal.
‘A lona era necessária para o funcionamento do estúdio e a transmissão do carnaval’, diz Garcez. Ontem a Folha revelou que os saques com cartões da Radiobrás tiveram aumento sensível após o lançamento da TV Brasil, em outubro de 2007.
A média diária de gastos com cartões saltou de R$ 74,89, antes da criação da emissora, para R$ 174,75. Todo o dinheiro foi sacado por oito funcionários.
O dinheiro seria usado para viagens de jornalistas e equipe de apoio. Garcez disse que nem todo dinheiro sacado foi usado. Dos R$ 35.625 retirados, apenas R$ 19.217,06 teriam sido utilizados -o restante teria sido devolvido para o caixa da empresa.’
Catia Seabra e José Aberto Bombig
Transparência com cartão é menor em SP que na União
‘No ano passado, o governo de São Paulo destinou R$ 108.384.268,26 a gastos efetuados por uma espécie de cartão de débito: o cartão de pagamento de despesas. Esse sistema de adiantamento atende a 47 diferentes classificações de despesas, da diária de pessoal a gêneros alimentícios. Mas, diferentemente do governo federal -que lançou um portal para registro dos gastos – o Estado não oferece um sistema aberto com essa descrição.
Os dados são lançados no Sigeo (Sistema de Informações Gerenciais da Execução Orçamentária), a qual somente as bancadas de deputados na Assembléia Legislativa têm acesso. Ainda assim, o Sigeo não descreve, necessariamente, o objeto da compra realizada com o cartão de débito.
No dia 28 de julho do ano passado, por exemplo, foram gastos R$ 597 na Spicy, uma loja de acessórios para casa. No sistema, o ramo de atividade está classificado com ‘a definir’. O item: ‘despesas miúdas e de pronto pagamento’. Os R$ 977 gastos no dia 4 de abril na Presentes Mickey também recebem a mesma qualificação.
Ainda segundo o Sigeo, a Secretaria de Segurança gastou R$ 6.500,00 numa churrascaria no dia 11 de maio.
Mas, segundo o levantamento feito pela liderança do PT a pedido da Folha, o Sigeo não esclarece o motivo do gasto.
A exemplo do governo federal, o Sigeo também não apresenta descrição de grande volume dos gastos realizados através de saque. Segundo os dados do Sigeo, 44,58% dos gastos -R$ 48,3 milhões- foram realizados graças a saques.
Pelas regras fixadas pelo Estado, é permitido o saque integral do dinheiro creditado nos cartões, por exemplo, em caso de pagamento de diárias, verbas de representação e despesas com transportes.
O sistema lista o nome de autores de grandes saques, funcionários encarregados de distribuir o dinheiro aos demais servidores. Mas não relata a que serviço se referiam.
Na esfera federal, os saques representam 75,26% dos R$ 78 milhões gastos com cartão corporativo. O serviço também não é descrito. Mas o interessado pode conhecer, pela internet, o beneficiário do saque.
Para ter acesso aos registros do Sigeo, o interessado deve ir à biblioteca da Assembléia Legislativa de SP. Além dos dados lançados no Sigeo, o governo apresenta prestações ao Tribunal de Contas do Estado (TCE).
Cada compra representa um processo no TCE, ao qual o governo deve apresentar notas para comprovação de gastos.
O secretário da Fazenda, Mauro Ricardo Costa, lembra que qualquer um pode fazer um requerimento de informações. No site da secretaria de Fazenda, a prestação de contas -referente a novembro- não tem detalhes sobre os gastos.
Em São Paulo, existem 42.315 cartões de pagamento de despesa. Mas num modelo bem diferente do governo federal. No Estado, não são fornecidos cartões para ocupantes do primeiro escalão.
No governo federal, são cartões de crédito passíveis de uso para qualquer tipo de compra.
No Estado, são cartões de débito fornecidos a servidores encarregados de compras específicas. Um cartão para combustível só pode ser usado para esse fim. Não funciona em outro estabelecimento.
Para os produtos sujeitos à lei de licitações, há um limite de gastos de R$ 8 mil.
Como nem todos estabelecimentos aceitam cartão, foi fixado um teto para saques segundo a natureza de despesa.
Por exemplo, num cartão previsto para compra de gênero alimentício, a permissão é de 20% em saques.
As despesas miúdas consumiram R$ 30,5 milhões ano passado, dos quais cerca de R$ 20 milhões endereçados a escolas. Todo mês, o governo credita um volume de recursos nos cartões. A prestação de contas é mensal. ‘Isso não tem nada a ver com cartão corporativo’, afirmou Mauro Ricardo.
Líder do PT na Assembléia Legislativa, Simão Pedro afirma que ‘não há indícios para um pedido de CPI’. Mas que investigará os gastos do Estado.’
TODA MÍDIA
Um tombo e outro
‘Foi ‘um tombo histórico’, postou Ricardo Feltrin na home do UOL. A noite de anteontem ‘jamais será esquecida pela Globo’. ‘Caminhos do Coração’, da Record, ‘venceu do começo ao fim’, pela primeira vez. A notícia foi das ‘+ lidas’ ontem na Folha Online. Ontem também, no jornal, Janio de Freitas informou que Ricardo Salinas, da TV Azteca, que esteve com Lula na abertura da Record News, estuda comprar 30% da Record. Seria ‘um reforço para a ambição da Record’, também de Lula, ‘de confrontar a Globo’.
A PERIGO
O ‘New York Times’ deu a longa reportagem ‘Uma indústria sob risco por lucro e publicidade em queda’. Foi sobre a imprensa, inclusive ‘NYT’. Destacou demissões do ‘Chicago Sun-Times’ ao ‘USA Today’ e que jornais como ‘Boston Globe’ e ‘Los Angeles Times’ perderam até 40% da circulação. Agora fazem menos reportagens ‘no exterior’. Em suma, 2007 foi ‘um divisor de águas’.
Já na Fox News Rupert Murdoch festejou a publicidade da transmissão do Super Bowl por sua Fox. Também seu MySpace. Sobre seu ‘Wall Street Journal’, foi reticente.
MCCAIN DE UM LADO
Ao vivo por sites e canais, Mitt Romney desistiu. John McCain é dado como virtual candidato republicano. E já surgem críticas à cobertura preferencial que recebe. Sites de mídia miram Bill Kristol, o novo colunista do ‘NYT’ que assessora McCain e não abre o jogo nos textos em seu favor. Também a ‘Time’, que deu capa de exaltação e até postou que não foi ‘objetiva’, de fato.
OBAMA DE OUTRO
Sobre cobertura engajada, vale também para Barack Obama. Fala-se em torcida Obama/McCain . Outra vez, colunistas do ‘NYT’ são alvo. No esforço para mostrar que ele é viável, ao contrário do que diz Bill Clinton, Nicholas Kristoff e outros escrevem até sobre os ‘Evangélicos que um liberal pode amar’. O grupo todo teria mudado muito, nos EUA, e estaria mais aberto.
‘SIM, NÓS PODEMOS’
Johansson canta por Obama
Chegou à blogosfera brasileira o vídeo com celebridades da cultura pop dos EUA, em favor de Obama. É ‘Yes, We Can’ e já foi visto por três ou quatro milhões no YouTube. Criação do rapper will.i.am, do Black Eyed Peas, virou ‘hit’. Cantando em eco um discurso de Obama, por sua vez inspirado num sindicalista em greve de fome em 72, surgem Kareem Abdul Jabbar, o ex-jogador de basquete, Scarlett Johansson, a atriz de cinema, e vários músicos.
Sua campanha on-line já é vista como novo paradigma.
3 X TUPI
Tupi é ainda maior, avisou nos sites de ‘WSJ’, ‘Financial Times’ e Bloomberg, desde Londres, o grupo BG, que tem parte da concessão, ao lado da Petrobras. De imediato, suas ações saltam, bem como as da estatal. A Reuters sublinhou, da coletiva, que o grupo não vai vender os seus 25%. Que está no campo ‘para ficar’.
CHINA ‘AMEAÇA’
O blog do ‘Washington Post’ acionou colaboradores para responder se a China, em compras no mundo, ‘ameaça seu país’. Até o cubano Carlos Alberto Montaner ironizou, apontando o ‘medo absurdo’ que os americanos têm da China. Mas Míriam Leitão postou que sim e atacou até a presença chinesa na África.
FAMÍLIAS FELIZES
Desde Maceió, a ‘Economist’ deu a longa reportagem ‘Happy families’, sobre como ‘um esquema antipobreza da América Latina ganha adeptos no mundo inteiro’. O Bolsa Família, ‘o maior do gênero, modelado em parte num esquema similar do México’, avança por Nova York, Egito. Ouvindo Aloizio Mercadante, a revista defende o programa até das acusações ‘injustas’ de ser eleiçoeiro.’
TELEFONIA
Oferta da Oi para comprar BrT pode chegar a R$ 5,2 bilhões
‘A Telemar Participações se dispôs a pagar até R$ 5,2 bilhões pelo controle acionário da Brasil Telecom (BrT). A informação foi dada pela própria empresa, em comunicado ao mercado.
Até agora, a cifra conhecida era de R$ 4,8 bilhões. Segundo o comunicado, as negociações se dão numa faixa de R$ 4,5 bilhões a R$ 5,2 bilhões e convergem para o valor médio, o que corresponde a R$ 4,85 bilhões.
Segundo o comunicado, as negociações entre os acionistas controladores da BrT (fundos de pensão e Citigroup) e os do grupo Oi/Telemar continuam avançando, mas não estão concluídas. ‘No momento, não há certeza quanto ao valor final do negócio de aquisição do controle, caso as negociações cheguem a bom termo’, afirma o texto da empresa.
Ela reafirma que o negócio envolve a compra do controle acionário da BrT pela Telemar Participações e não a fusão das duas teles, o que significa que as empresas podem seguir com estruturas independentes, mas sob o mesmo controle.
As negociações entre as duas empresas começaram em 2006 e vieram à tona quando a Telemar tentou, sem sucesso, fazer uma reestruturação societária de pulverização do controle, na qual todas as ações preferenciais seriam convertidas em ações ordinárias (com direito a voto). As reuniões entre as partes se intensificaram a partir do final de dezembro. O prejuízo do Citigroup com a crise financeira nos EUA teria acelerado as conversas.
O controle acionário da BrT pertence à Solpart Participações, que seria adquirida pela Telemar Participações. A Telemar, por sua vez, também teria uma reestruturação societária: os grupos La Fonte e Andrade Gutierrez Telecomunicações aumentariam sua participação atual (de 10,275% cada um) e assumiriam o controle acionário da holding, junto com o fundo de pensão Atlântico, dos funcionários do grupo Oi/ Telemar, que tem 9%.
Na reestruturação, alguns acionistas sairiam da Telemar -GP Investimentos, Opportunity e, possivelmente, as seguradoras Brasil Veículos e Brasilcap – e o BNDES reduziria sua participação de 25% para 15% em prol dos fundos de pensão Previ (Banco do Brasil), Petros (Petrobras) e Funcef (Caixa Econômica Federal).
O ministro das Comunicações, Hélio Costa, chegou a anunciar que os acionistas das duas teles tinham chegado a um entendimento e que o Planalto encaminharia, na quarta-feira passada, um ofício à Anatel recomendando a mudança do Plano Geral de Outorgas da telefonia fixa, para permitir a compra da BrT pela Oi. A legislação atual não permite que um mesmo grupo detenha duas concessões de telefonia fixa.
Mas o governo recuou e preferiu aguardar um comunicado oficial dos acionistas à Anatel, antes de propor a mudança nas normas.
Segundo a Folha noticiou anteontem, o partido Democratas anunciou que vai contestar na Justiça e no Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) a compra da BrT pela Oi baseado em parecer jurídico que considera a considera ilegal por aumentar a concentração no mercado de telefonia fixa.’
TELEVISÃO
Mutantes desbancam time na TV
‘Como se não bastasse penar em campo, o Corinthians perdeu anteontem à noite seu status de sólida atração de TV. Os mutantes da novela ‘Caminhos do Coração’, da Rede Record, relegaram a partida com o Barueri, exibida pela Globo, para a segunda posição em audiência, segundo os números do Ibope.
Se na média a novela, que se estendeu das 22h21 às 23h18, superou a partida por 22 pontos a 20, em alguns momentos a vantagem da emissora paulista chegou a 12,3 pontos, na contagem minuto a minuto. A transmissão do jogo teve início às 21h45 e terminou às 23h45.
Só quando o capítulo com as aventuras de Marcelo (Leonardo Vieira), Maria (Bianca Rinaldi) e a trupe de mutantes genéticos envoltos em uma trama misteriosa terminou é que a audiência da Globo subiu de 17,3 para 20,1. Já os números da Record foram de 21,7 para 14,9. ‘Caminhos do Coração’ vem crescendo, não é uma novidade. E o interesse só deve aumentar com a introdução de personagens como o dinossauro e o minotauro’, comemorou o gerente nacional de comunicações da Record, Ricardo Frota.
‘A quarta-feira [dia em que a Globo tradicionalmente transmite jogos] é um bom dia para a novela em termos de Ibope’, completou Frota, ao insinuar que o futebol se torna um ponto vulnerável na programação da Globo.
Procurados pela reportagem, executivos da Globo não se pronunciaram sobre o revés. Marcelo Campos Pinto, executivo da Globo Esportes, alegou estar ‘de férias’. Já Luiz Fernando Lima, diretor de esportes da emissora carioca, não respondeu às mensagens deixadas em seu celular. Globo e Record disputam os direitos de competições esportivas. Além de ter garantido a Olimpíada-2012, a Record tentou os direitos da F-1 e do Paulista e Brasileiro de futebol, hoje com a Globo.
Segundo a Folha apurou, dirigentes corintianos classificam o episódio como isolado, causado pelo feriadão de Carnaval, quando muitas pessoas deixam de ver TV. No Parque São Jorge circulou ainda a tese de que os números do Ibope poderiam ter sido manipulados para minar o poder de negociação do Corinthians em relação a suas partidas na Série B.
Colaborou EDUARDO ARRUDA, da Reportagem Local’
Daniel Castro
Cai a audiência do Carnaval na Grande SP
‘As transmissões dos desfiles das escolas de samba de São Paulo e Rio de Janeiro pela Globo registraram queda de 11% no Ibope neste ano.
Na média, os desfiles ao vivo, compactos e apurações, apresentados entre sexta-feira e anteontem, marcaram 13,3 pontos na Grande São Paulo, contra 15 no ano passado.
O número de televisores ligados foi ligeiramente maior do que em 2007 (33% a 32,1%). Isso quer dizer que o Carnaval da Globo perdeu audiência para outras emissoras _e não porque o telespectador deixou de ver TV. Neste ano, de cada cem televisores ligados, 40 estavam na Globo. Em 2007, eram 48.
A queda foi puxada pelos desfiles do Rio, que deram menos audiência do que os de São Paulo, exibidos quase duas horas mais tarde e em dias de menor ibope (sexta e sábado).
A média de domingo e segunda (dias dos desfiles cariocas) foi de 12,6 pontos, quase três a menos do que em 2007. Já o desfile de São Paulo na sexta foi mais de um ponto superior ao de 2007. Foi o único dia em que houve aumento de audiência.
Os compactos do Rio caíram de 14,8 para 14,4 pontos. A apuração de SP, incluindo compacto da campeã, caiu de 22,1 para 19 e a do Rio, de 20,3 para 16,3.
Apesar da retração, o Carnaval continua sendo uma ótima audiência para a Globo. Durante a madrugada, rende quase o dobro dos demais dias e o triplo da concorrente mais próxima.
FULL HDTV 1 As transmissões do Carnaval na Globo não foram totalmente em alta definição. Quem já tem televisor de tela horizontal e recepção digital percebeu tarjas nas laterais da tela do aparelho.
FULL HDTV 2 As tarjas foram inseridas pela emissora porque as imagens foram geradas por câmeras convencionais (standard), menos horizontais. A Globo diz que todos os desfiles foram captados por câmeras de alta definição, mas que repórteres usavam câmeras convencionais.
ALÔ, BAND A Globo evitou o quanto pôde. Até que, na Quarta-Feira de Cinzas, deixou ‘vazar’ imagens de Recife em que foliões acenavam com ‘mãos’ de papel com o símbolo da Band, ‘brinde’ da emissora concorrente.
CINZAS 1 A novela ‘Caminhos do Coração’ atingiu anteontem, durante Barueri x Corinthians na Globo, média de 22 pontos, contra 20 da Globo no horário (22h21/ 23h18). Foi a primeira vez que um capítulo de novela da Record bateu a Globo. No intervalo do jogo, chegou a abrir 12 pontos de vantagem.
CINZAS 2 Na média de todo o jogo, o Corinthians foi líder no Ibope, com 21 pontos, contra 20 da Record. Já o amistoso da seleção rendeu 28 pontos.
NOVELA Desde outubro, a Record ensaia o anúncio oficial da aquisição dos direitos de ‘Ídolos’, apresentado pelo SBT em 2006 e 2007. Esperava-se que isso finalmente ocorresse na semana passada, nos EUA. Que nada.’
CINEMA
Gosto de sangue
‘A cena se passa no início dos anos 80. Duas típicas velhinhas inglesas assistem a uma produção local de ‘Sweeney Todd’, musical de Stephen Sondheim. Na peça, um barbeiro, depois de ser preso injustamente, apartado de mulher e filha e deportado, volta a Londres com a intenção de realizar uma vingança ampla, geral e irrestrita.
E tome de cortar gogós com suas navalhas afiadas no palco. Um show de horrores. Num determinado momento, em que o sangue que jorra é especialmente abundante, uma das senhoras se vira para a outra e, sem perder a fleuma britânica, questiona (é possível imaginar, aqui, um leve suspiro): ‘Mas será que isso tudo é realmente necessário?’.
‘Era’, responde o diretor Tim Burton, que lança agora a obra de Sondheim adaptada para o cinema -e afirma ter testemunhado o diálogo acima.
‘Já vi outras produções que tentaram ser mais politicamente corretas, e não funcionaram’, afirmou o cineasta no final do ano passado, na capital inglesa, durante a apresentação do filme para a imprensa internacional.
A obra de Sondheim se casa perfeitamente com o repertório algo fabuloso, algo macabro, de Burton, responsável, entre outros, por ‘Edward Mãos de Tesoura’ e pela mais recente versão de ‘A Fantástica Fábrica de Chocolate’.
Carnificina
Segundo o diretor, os golpes de navalha e o sangue que jorra servem como ‘catarse’ para a platéia. E, afinal, a quantidade de sangue é proporcional ao tamanho da vingança aspirada por Todd: na sua mira está não só o juiz inescrupuloso que, apaixonado por sua mulher, o mandou para a cadeia, mas os ricos de Londres, os pobres, os simples transeuntes, tudo, todos, o mundo inteiro.
Na cena do filme em que, segundo Sondheim, o cineasta consegue criar um momento, para ele, ‘surpreendente’, o barbeiro canta com navalhas nas mãos, dançando e dando rodopios pelas ruas da Londres do século 19, ao prometer simpaticamente cortar o pescoço de todos que passam, da cidade inteira. O personagem é interpretado por Johnny Depp, constante parceiro de Burton.
É fácil se identificar com essa vontade de vingança contra o mundo. Para Alan Rickman, ótimo ator inglês que interpreta o juiz causador da desgraça de Todd, ‘o filme é bastante sombrio’, o que casa com o estado das coisas. ‘Vivemos numa época terrível’, diz ele.
Essa cumplicidade da platéia, das pessoas em geral, com o assassino, esse prazer com a vingança e o esguichar do sangue já está de certa forma contido na própria trama. A barbearia de Todd funciona no segundo andar da casa de Mrs. Lovett, quituteira interpretada por Helena Bonham Carter (mulher de Burton). Ela mói os corpos que sobram da carnificina de seu parceiro para criar um bolinho recheado que faz um tremendo sucesso com a freguesia em geral.
Quanto maior o prazer de Todd em enfiar uma lâmina cortante na jugular alheia, maior o prazer dos clientes de Mrs. Lovett com esse seu novo e intrigante bolinho.
O diretor disse estar satisfeito com essa sua fábula ‘dark’ de assassinatos em série e canibalismo. ‘Esse personagem é um dos meus favoritos’, diz.
Edward piorado
Johnny Depp, sentado ao lado de Burton durante a entrevista, o define como um Sweeney Todd ‘punk rock’.
Questionado sobre a relação do barbeiro com Edward Mãos de Tesoura (depois de voltar do exílio, ao se reapropriar de suas antigas navalhas, Todd diz: ‘Finalmente, meu braço está completo’), o cineasta afirma que era ‘muito mais otimista’ com o mundo quando filmou ‘Edward’, também interpretado por Depp, no final dos anos 80.
‘Edward só ficou bravo uma vez. Esse cara aí está sempre bravo. É como se o Edward Mãos de Tesoura tivesse passado por uma grave depressão’, diz ele.
Na fábula sombria de Burton, a Londres retratada na maior parte do filme surge quase em preto-e-branco; ruas, roupas e personagens parecem sujos; e os momentos mais ‘coloridos’ estão num passado sem volta ou no delírio dos personagens.
Trata-se de um cenário inusitado onde um personagem possa, de repente, cantar. Os atores principais, Depp e Bonham Carter, reconhecem não ter experiência no gênero. Sondheim, de toda forma, é elegante o bastante na entrevista para dizer que prefere atores que saibam cantar a cantores que consigam interpretar.
Edward Sanders, o adolescente que interpreta um órfão adotado por Mrs. Lovett, é talvez o melhor cantor do elenco. Sobre o contraste entre a trama e o gênero musical, ele diz: ‘Acho que a música torna o filme ainda mais assustador’.’
Silvana Arantes
Scorsese cria ‘intriga’ entre os Stones
‘‘Shine a Light’, o filme de Martin Scorsese com os Rolling Stones que abriu ontem o 58º Festival de Berlim, tem qualidades para agradar mesmo quem não é fã do cineasta norte-americano ou da banda inglesa -se existir alguém assim.
Em torno do show que os Stones fizeram no Beacon Theatre em Nova York, em 2006 -peça principal do filme-, Scorsese acrescentou elementos de suspense, de história, de humor e até de intriga -principalmente na rivalidade entre os guitarristas Keith Richards e Ronnie Woods.
O filme começa com a imagem em preto-e-branco de Scorsese no Beacon Theatre e de Jagger num escritório, em Londres, paralelamente. Enquanto o diretor estuda onde posicionar as câmeras, Jagger diz, vendo a maquete do teatro: ‘Parece uma casa de bonecas’.
Com seus 2.400 lugares, o Beacon Theatre é pequeno demais para uma banda habituada a platéias de milhões.
As ‘desavenças’ entre os Stones e Scorsese sobre o local e a ordem do show ocupam a primeira parte do filme, que logo depois se torna colorido.
‘Tudo o que eu peço é para saber quais serão as duas primeiras músicas’, implora Scorsese, aflito com a possibilidade de não estar com a câmera apontada para o guitarrista correto no primeiro acorde.
Os Stones resistem a seguir um plano rígido, afinal, ‘isso aqui é rock’n’roll’, como argumenta Richards.
Entrevistas que os músicos deram a TVs de diversos países desde 1964 são intercaladas ao show, promovido pela Clinton Foundation. Por isso é um simpático ex-presidente Bill Clinton quem apresenta a banda à platéia. ‘Hoje, estou abrindo para os Rolling Stones’, diz Clinton, que havia sido recebido nos bastidores, garantindo um dos momentos mais divertidos do filme.
Quando a produção diz que os músicos deverão estar no palco pontualmente às 17h45 para cumprimentar o casal Clinton (e agregados), Woods e o baterista Charlie Watts simplesmente riem da mesura. ‘Vou dizer: ‘Hey, Clinton, I’m Bushed’, diverte-se Richards.
Na escolha dos trechos de arquivo que entrecortam o filme, Scorsese mostrou habilidade para fazer sutis comentários. Por exemplo, à longevidade dos Stones. Numa entrevista dos anos 1970, um repórter pergunta a Richards se ele está se sentindo em forma para o tipo de show dos Stones e tenta obter uma data para o fim das turnês. Em ‘Shine a Light’, esse duelo verbal é intercalado ao momento em que Jagger deixa o microfone para Richards. Quando termina de cantar, ele pergunta à platéia: ‘Vocês sentiram (a vibração), não foi?’.
De Jagger, Scorsese pinça a frase dita na juventude de que ‘facilmente’ se enxerga cantando aos 60 anos de idade.
Fãs
Além do filme propriamente, as presenças de Scorsese e dos Stones ontem em Berlim causaram enorme frisson. Fãs fizeram fila na rua (gelada) apenas para vê-los passar.
Jornalistas se acotovelaram para a entrevista coletiva com uma hora de antecedência.
Jagger contou que propôs a Scorsese que ele filmasse o show de Copacabana, no Rio de Janeiro, porque achou que seria ótimo ter o registro ‘daquele grande show na praia, para passar em Imax [formato de tela gigante], mas Scorsese preferiu algo mais íntimo’.
O diretor explicou que sua escolha por um teatro pequeno foi porque ele gostaria de ‘não apenas filmar os Stones, mas mostrar a máquina armada para filmar os Stones’.
De fato, o ‘por trás das câmeras’ é mostrado no longa-metragem, a ponto de Scorsese aparecer no final, ordenando o movimento da câmera -para o céu, onde uma lua digitalizada se transforma na boca com a língua escancarada que é marca da banda.
Scorsese diz que um de seus objetivos foi fazer o espectador chegar o mais perto possível da experiência do show ao vivo.
Jagger e Scorsese afirmaram-se orgulhosos do fato de que, ‘pela primeira vez, um documentário irá abrir este festival’. A sessão oficial para convidados, à noite, ocorreu depois da projeção para a imprensa e da coletiva.
Praticamente obrigado a falar pelos companheiros de banca, Watts confessou que odeia se ver na tela. Jagger disse que não enxerga diferença entre interpretar no cinema e se apresentar num palco. ‘É tudo performance.’
‘Shine a Light’ foi exibido fora de competição. Talvez porque, com Stones e Scorsese juntos, seja difícil competir.’
Presidente do júri, Costa-Gavras elogia o cinema brasileiro atual
‘Presidente do júri do 58º Festival de Berlim, o cineasta grego radicado na França Constantin Costa-Gavras evita a palavra ‘julgamento’ para se referir à disputa entre filmes, ‘porque há algo de tribunal nela’, conforme afirmou ontem, em encontro com a imprensa.
‘Há filmes que amamos e filmes que amamos menos. Há filmes que nos tocam e filmes que nos tocam menos. É muito mais uma relação de amor do que de julgamento’, disse.
Quando a Folha perguntou a Costa-Gavras que tipo de filmes merecem o seu amor, ele respondeu: ‘Os bons. É claro que é mais difícil ter bons filmes com Stallone e Schwarzenegger, mas isso também é uma questão de gosto’.
E acrescentou um comentário sobre a cinematografia brasileira. ‘Desde o cinema novo, há muito bons filmes brasileiros. Entre os atuais, também. Na França, sentimos muito não ter a oportunidade de ver mais filmes vindos do Brasil.’’
Folha de S. Paulo
‘Vanity Fair’ cancela sua tradicional festa
‘A revista ‘Vanity Fair’ cancelou ontem sua tradicional festa do Oscar em razão da greve dos roteiristas nos Estados Unidos. Segundo a publicação, a decisão foi tomada em solidariedade aos companheiros do sindicato da categoria. ‘Não acho apropriado fingir que nada aconteceu’, disse ontem o editor da ‘Vanity Fair’, Graydon Carter.
Para algumas estrelas, a chegada à festa da revista é um segundo tapete vermelho. Muitas mulheres mudam até de vestido entre a cerimônia do Oscar e a festa da ‘Vanity Fair’.’
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O Estado de S. Paulo
Sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008
CARTÕES DO GOVERNO
Obrigado, ministros, pela tapioca
‘O tamanho do governo é um número abstrato para a maioria dos brasileiros, como o é o número dos pobres do Brasil ou quanto custa uma estrada entre Santa Rita do Passa Quatro e Santo Antonio do Monte.
Como percepção política, estatísticas são secundárias, pois não fulanizam o problema. Vemos muitos números, gráficos e tabelas que dizem muitas coisas. Impressionam-nos, mas pouco nos sensibilizam – 500 mil homicídios no Brasil em dez anos ou US$ 140 bilhões em reservas podem amedrontar-nos ou nos encher de orgulho, mas pouco nos mobilizam.
A morte do menino João Hélio, arrastado por sete quilômetros preso a um carro, mobilizou a Nação e os governantes. Fulanizada, a notícia é diferente. Cada um de nós se identifica com ela.
O número de funcionários públicos é excessivo. Sai na imprensa uma vez por semana. Relacionar o tamanho do funcionalismo com o que pagamos em impostos? Cansa e não o fazemos porque temos interesses mais prioritários. Como o desconto é no contracheque, a cada picada a dor diminui. A indignação é rápida e em março, quando descobrimos quanto mais teremos de pagar, além do já descontado. Passa logo.
Ex-ministra Matilde e ministro Orlando, os senhores notaram como a maior parte das pessoas não prestou maior atenção aos gastos com hotéis cinco-estrelas ou com passagens aéreas? Os senhores e seus colegas de Ministério notaram que o que mais indignou as pessoas foram os 400 e poucos caraminguás gastos no free shop e os R$ 8 e pico gastos na tapioquinha?
Pois é, as pessoas sentem o tamanho do problema quando se identificam com ele. Quando uma autoridade gasta o dinheiro delas numa coisa tão simples, as pessoas pensam: gastar o meu dinheiro suado, durante quatro meses por ano, para uma comprinha dessas? Gastar o meu dinheiro nessa besteira? Esse pessoal não presta, mesmo!
Não fiquem tristes nem ofendidos, ministros: é assim que as pessoas pensam.
As pessoas estão furiosas com os senhores não pelos números enormes da corrupção, que de tão grandes são inimagináveis. É pelo tapa na cara de coisas que todos pensamos que os senhores podiam pagar do próprio bolso. Pelo menos isso!
Quando se gasta o dinheiro dos outros em nosso benefício, queremos sempre a melhor qualidade e o preço não importa. A frase não é minha. É do professor Milton Friedman, Prêmio Nobel de Economia. Completo eu: e quando se pode tirar o dinheiro no caixa eletrônico praticamente sem limite e sem sentir, então, vira uma festa. Razão, aliás, por que empresas privadas não facultam esse privilégio aos seus funcionários. Os acionistas estão de olho e não querem seus lucros comidos e bebidos em restaurantes ou cuspidos indiscriminadamente por caixas eletrônicos.
O bom é o cartão, que, efetivamente, dá mais transparência – é sempre bom lembrar que, nestes tempos de internet, tudo o que fica registrado eletronicamente em algum lugar, algum dia, alguém descobre. Agora sabemos.
Para o Brasil, isso é uma grande novidade. Para os habitantes de Brasília que liam os anúncios de licitações, a novidade é pouca. Apenas se sabe o nome dos bois. Nos anúncios de licitação, que eu lia, diligentemente, sabia-se só que tal ou qual órgão ia comprar 400 quilos de camarões graúdos. Não se sabia quem iria comê-los. Os camarões sempre me chamavam a atenção: 400 quilos de carne da vaca eram muitos quilos de poucas vacas, mas 400 quilos de camarões eram de muitos camarões.
Os gastos com os cartões não são o problema. O problema é que o governo cresce cada vez mais e mais funcionários passam a ter direito a gastar o nosso dinheiro em benefício deles, e nada podemos fazer.
No tempo dos militares, houve o escândalo das mordomias. Era o mesmo escândalo, no atacado. Os mimos de que as autoridades se apropriavam eram provisões para festas e churrascos em suas casas funcionais (ou seja, nossas).
Hoje é no varejo: o ministro compra tapioca porque confundiu os cartões. Será que algum dia ele fez a confusão contrária? Ou seja, pagou uma conta de hotel cinco-estrelas com o cartão dele, em vez do cartão do governo, porque os cartões eram parecidos? O leitor sabe a resposta.
Meu caro leitor, se alguém lhe der um cartão sem limites a ser pago por alguém que você não conhece, da tapioquinha ao hotel cinco-estrelas o passo é curto. Se vice-versa, o passo é menor ainda.
Durante o governo Sarney, um político nomeado para um cargo público, que tinha direito a uma residência funcional, foi visitar 35 casas ‘do governo’, para escolher. Todas dilapidadas e inservíveis. Quando os bens não são de ninguém, ou são da ‘viúva’ – que é como a maior parte das pessoas que têm direitos ilimitados com o nosso dinheiro vêem tais recursos -, não importa o que aconteça. A conta não é deles.
Uma vez perguntei a um então presidente da IBM porque a sala de refeições da presidência de uma empresa tão rica era tão espartana: ‘É porque quem almoça aqui, no fim, é que paga a conta’, respondeu. Quem chegava a comer naquela sala sabia que o preço do almoço vinha embutido no preço final do computador.
Assim, obrigado, ex-ministra Matilde e ministro Orlando. Com esses gastos a senhora e o senhor fizeram muito mais pelo nosso bem do que nos seus mandatos no Ministérios.
P. S. – Pena que, agora, algum burocrata zeloso tenha resolvido que não mais saberemos quanto e o que se come no Palácio da Alvorada. A desculpa da segurança é sempre ótima. Espremi a minha cabeça e mobilizei toda a minha paranóia para descobrir como a segurança nacional ou a pessoal do presidente seriam afetadas por sabermos o cardápio do Alvorada. Se souber, leitor, por favor, me diga. Eu não consegui descobrir.
Alexandre Barros, cientista político, é pró-reitor do Centro Universitário Unieuro (Brasília)
E-mail: alex@eaw.com.br’
ARTE
Picassos são roubados na Suíça
‘A polícia suíça revelou ontem que dois quadros do artista espanhol Pablo Picasso foram roubados, na quarta-feira, de um centro cultural da cidade de Pfäffikon, no norte do país. Os ladrões estão foragidos.
As obras roubadas são as pinturas a óleo Tête de Cheval (Cabeça de Cavalo), de 1962, e Verre et Pichet (Copo e Jarra), de 1944, avaliadas em milhões de euros. Elas haviam sido emprestadas para a exposição pelo Museu Sprengel de Hannover, na Alemanha.
Em comunicado, a polícia informou que ainda não identificou o horário em que os ladrões ‘misteriosamente’ entraram no centro cultural.
Segundo as autoridades, os ladrões saíram do edifício pouco após o fechamento do centro cultural, por volta das 19 horas, o que ativou o alarme. Dois seguranças perceberam então que as obras haviam sido roubadas e chamaram a polícia.
Não é a primeira vez que quadros de Picasso são roubadas na Suíça. O roubo mais espetacular ocorreu em 1994, quando um suíço e quatro italianos levaram sete quadros, que depois foram recuperados. Os ladrões acabaram presos e condenados a penas de 4 a 5 anos de prisão.’
TELEFONIA
Oi deve pagar entre R$ 4,5 bi e R$ 5,2 bi pela Brasil Telecom
‘O Grupo Oi divulgou ontem comunicado ao mercado informando que as negociações em curso prevêem a compra do controle da Brasil Telecom (BrT), e não uma fusão entre as duas operadoras. Esta semana, o partido DEM defendeu que a união das duas operadoras seria uma ‘ilegalidade’ e informou que pretende recorrer à Justiça contra o negócio. O grupo também confirma que o negócio será em torno de R$ 4,85 bilhões.
O comunicado explica que as negociações para a reestruturação do controle acionário da TmarPart (controladora da Oi) e para a aquisição do controle acionário da BrT ‘continuam avançando’, mas não foram concluídas. A Oi informa ainda que os valores relativos à compra do controle da BrT podem vir a ser ajustados e convergem para ‘se fixarem no centro da faixa de R$ 4,5 bilhões a R$ 5,2 bilhões’ para a compra do controle. O comunicado enfatiza que ‘não há certeza quanto ao valor final do negócio’ caso ‘as negociações cheguem a bom termo’.
Na prática, haverá duas operações em paralelo. Os grupos La Fonte, do empresário Carlos Jereissati, e Andrade Gutierrez, de Sergio Andrade, consolidarão o controle que têm na TmarPart, comprando fatias dos outros sócios, entre eles a GP Participações, Citigroup e Opportunity. Para isso, deverão desembolsar R$ 2,5 bilhões, 60% dos quais financiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
No desenho final da TmarPart, La Fonte, Andrade Gutierrez e Fundação Atlântico (fundo de pensão dos funcionários da Oi) ficariam com 51% do negócio e BNDES, Previ, Petros e Funcef (fundos de pensão de Banco do Brasil, Petrobrás e Caixa Econômica Federal) com os 49% restantes.
Depois disso, a Oi compraria o controle da BrT e poderia ainda desembolsar algo perto de R$ 3,7 bilhões para pagar direitos e ações de minoritários. A Oi tem um caixa ao redor de R$ 6,5 bilhões e capacidade para levantar financiamentos no mercado, porque trabalha pouco alavancada. Na prática, a BrT passaria a ser uma controlada da Oi e, indiretamente, da TmarPart.
CLARO
Ontem, o presidente da operadora de telefonia celular Claro, João Cox, disse que fusões e aquisições são movimentos naturais de mercado, mas que é preciso respeitar as leis e preservar ‘o princípio da neutralidade do capitalismo’. O executivo não quis comentar a eventual mudança na legislação para permitir a compra da BrT pela Oi. Disse apenas que a questão compete à Anatel e ao Ministério das Comunicações. ‘Respeitadas as leis, é um movimento de mercado’, comentou.
COLABOROU MICHELLY TEIXEIRA’
CINEMA
O mundo jovem visto com leveza
‘Já tem muita gente chamando Juno de A Pequena Miss Sunshine da vez. A comparação faz sentido. São ambos filmes relativamente pequenos, parecem ter entrado no Oscar pelas portas do fundo, discretamente, e fazem o papel de azarões em uma competição acirrada.
Juno tem os ingredientes de autêntico outsider. É mais que um modelo de cinema independente que, nos Estados Unidos, já não é mais tão independente assim, tendo se transformado em gênero, quase uma alternativa dos estúdios para abocanhar a fatia de público que lhes escapa. Mas, essa exceção à regra de fato foi produzida com US$ 2,5 milhões, quantia modesta até para alguns filmes brasileiros.
A estranheza não pára aí. A história foi escrita por uma certa Diablo Cody, pseudônimo de Brooke Busey, que passou parte da vida se exercitando no métier de strip-teaser. Suas aventuras pessoais eram descritas em um site, que se tornou dos mais visitados nos EUA. Pelo jeito, Brooke tomou gosto pela palavra e passou a escrever roteiros. Juno é resultado dessa mudança de atividade da ex-stripper. E, bem, a julgar pelos diálogos do filme, o roteiro parece ser a sua peça forte, o que é ponto para Diablo, quer dizer, Brooke.
Mas quem dá vida a esses diálogos também tem todo o mérito e responsabilidade no bom resultado da história. Ellen Page faz a personagem-título, uma garota ágil, engraçada, de resposta pronta e idéias originais. Juno é uma metralhadora verbal ambulante e o que diz merece atenção.
Qual é a história? A garota transa com o namorado e fica grávida. Acha, com toda a razão, que não tem maturidade para criar um filho. O que fazer com ele? A solução parece insólita e passa pela escolha de um casal para adoção. O resto, é melhor deixar para o espectador descobrir.
Não que haja grandes surpresas na trama. Juno não é filme de reviravoltas mirabolantes, de ação, de personagens que promovem rupturas em suas vidas ou nas dos outros. Não. O diretor Jason Reitman (de Obrigado por Fumar) prefere retratar personagens que poderiam ser qualquer um de nós, com nossas angústias e alegrias. Mesmo o ponto central, que desencadeia toda a série de ações e reações que conduzem a história, nada tem de fora do comum – ou quer coisa mais ordinária, hoje em dia, que uma adolescente que, de uma hora para outra, aparece grávida, e de outro adolescente, ainda por cima?
Reitman trabalha nessa história em que ninguém é muito fora do normal, a não ser, talvez, na disposição de não dramatizar excessivamente as coisas. E esse é o aspecto talvez mais simpático. Nenhum dos envolvidos, a começar pela personagem principal, acha que está vivendo um dramalhão mexicano por causa dessa gravidez não planejada. Tenta-se ajeitar as coisas com um mínimo de sofrimento para os envolvidos – e isso é tudo.
De certa forma, Reitman, a partir do texto de Brooke Busey, assume essa pegada jovem e desdramatizada. Conta muito com Ellen Page para conseguir o resultado que deseja. A garota é cheia de vida, esperta, irreverente. Não deixa que os outros passem a ela um drama que não está sentindo. Toca a vida. Ri e chora quando precisa, mas sabe que a vida segue. Em termos familiares, Juno mostra que tem sorte, pois tanto o pai como a madrasta (J.K. Simmons e Allison Janey) parecem bem resolvidos.
O fato é que nos envolvemos com a história de Juno muito por causa do seu frescor. Tem a ver com o texto (provavelmente), com a forma como a atriz encarna, e encara, seu personagem, e tem a ver, também e talvez sobretudo, com a maneira como Reitman conduz a direção. Não que Juno seja ‘autoral’, no sentido mais antigo e estrito do termo. E talvez no sentido mais banal, que exige malabarismos técnicos para que o cara seja notado e uma pretensa assinatura reconhecida. Reitman deixa para lá essa preocupação egóica e filma de maneira simples. Discreta.
Em virtude dessa discrição deixa a história aflorar e os atores fazerem seu trabalho. Não existem desníveis no elenco. Se Ellen Page é um brilho à parte, todos os outros estão pelo menos ok. E, desse conjunto afinado, emerge uma melodia à qual não estamos mais tão acostumados – uma América de gente que toca seu cotidiano da maneira que pode e tem de se virar quando pinta uma intercorrência como essa. É claro que, no conteúdo, você vê surgir o elenco de debates contemporâneos – a gravidez precoce, o aborto, a adoção, os problemas familiares. Mas, sobretudo, paira sobre o conjunto um senso de humor bastante saudável. Esse tom é a ‘verdade’ do filme.
É leve, mesmo que mexa com uma das grandes angústias dos pais, a tentativa de adivinhar o que se passa na cabeça dos filhos. Nesse sentido, o personagem do pai de Juno é exemplar. Não que ele tenha uma percepção extra-sensorial que o coloque acima dos outros. Simplesmente é mais relaxado, no sentido positivo do termo. Sabe que é impossível saber exatamente o que se passa na intimidade de uma adolescente. Mas pode muito bem amar e apoiar a filha, ainda que não concorde por inteiro com o que ela andou aprontando na vida. A palavra é tolerância e, por isso, Juno não é apenas um filme sobre jovens. É, ele mesmo, um filme jovem.
Serviço
Juno (EUA-Canadá-Hungria, 2007, 92 min.) – Comédia dramática. Dir. Jason Reitman. 10 anos. Cotação: Bom’
Luiz Carlos Merten
Berlim abre espaço para o rock e os Stones
‘Havia gente brigando por um lugar junto ao cordão de isolamento, na entrada do Hotel Hyatt, só para ver a chegada dos Rolling Stones para a coletiva de Shine a Light, o documentário de Martin Scorsese que inaugurou ontem o 58º Festival de Berlim. A Berlinale é famosa como o evento de cinema que, em todo o mundo, mais valoriza o recorte político dos filmes. Para o presidente do júri deste ano, Costa-Gavras, estrela do cinema político por volta de 1970, isso se deve à própria cidade que, durante décadas, foi palco das tensões da guerra fria. Muitos filmes políticos serão apresentados na Berlinale de 2008, mas o festival também está celebrando a música – o rock sobre Berlim.
Madonna, Patti Smith, Neil Young, todos são convidados muito especiais do 58º festival. É possível que Madonna, estreando na direção com Filth and Wisdom, provoque outro evento midiático como o de ontem, mas dificilmente conseguirá superá-lo. Shine a Light documenta o show que os Rolling Stones fizeram no Beacon Theatre, de Nova York, no outono de 2006, para a Fundação Bill Clinton. O próprio ex-presidente dos EUA aparece nas primeiras cenas, que são muito divertidas. Um problema de trânsito fez com que a mãe de Clinton, Dorothy, se atrasasse. O concerto foi segurado por alguns minutos. Keith Richards, ao ser apresentado a Dorothy Clinton, é um modelo de ironia – ‘Hi Dorothy, que bom que você chegou.’
Shine a Light é basicamente o show filmado. Os Stones cantam velhas e novas músicas. Scorsese admitiu que o grande estresse da produção foi que ele recebeu a lista das músicas apenas uma hora antes do início da filmagem. ‘Fez parte da excitação da filmagem’, ele definiu. Mike Jagger não se esquece do grande concerto dos Stones no Rio. Ao perceber a magnitude do que ia ocorrer, ele chegou a pedir a Scorsese que corresse para o Rio para filmar o concerto. Scorsese não se interessou. Queria algo mais intimista. O concerto de Nova York estava mais dentro de seus planos, ou intenções.
Nas cenas iniciais, no quarto de hotel, Mick Jagger cantarola – ‘Quero champanhe/quando estou com sede.’ Mais tarde, Champagne and Refresh será o mais eletrizante dos números, um diálogo de guitarras no palco que inclui a participação de Buddy Guy. Você nunca viu nada parecido. Não é a performance ao vivo, mas Scorsese diz que usou muitas câmeras e montou, mais do que as cenas e os planos, os frames, justamente para tentar captar esse mistério que é um show ao vivo.
Scorsese contou uma coisa interessante. Havia terminado de montar Os Infiltrados e estava tão confuso em relação ao filme que havia feito – e que lhe deu o Oscar, vale lembrar -, que embarcou no projeto de Shine a Light justamente para se desembaraçar de The Departed. Mais de um crítico aqui na Berlinale achou o trabalho de Scorsese anônimo. Qualquer outro diretor de videoclipes teria feito um filme desses. Não é verdade. Solicitado a comparar Scorsese com Jean-Luc Godard, que o dirigiu em One Plus One, documentando a criação da canção Sympathy for the Devil, Mick Jagger disse que ambos são grandes diretores, mas de estilos diferentes. Os dois filmes, de qualquer maneira, trabalham o tempo. Uma canção nasce diante dos olhos e ouvidos do público no filme de Godard. Uma profusão de canções atesta a vitalidade dos Stones em Shine a Light.
Não é um show dos Stones, é um filme de Martin Scorsese, disse Keith Richards. As escolhas de montagem do diretor confirmam a autoria. Scorsese pinçou trechos de velhas entrevistas que Mick Jagger deu ao longo de sua carreira. Numa das primeiras, havia dois anos na estrada, ele diz que seria legal se a banda se mantivesse por mais um ano. Na verdade, são mais de 40 anos, quatro décadas que viram a transformação do mundo, do comportamento, da música. Em 1972, outro entrevistador observa que Mick Jagger gasta muita energia no palco. E ele pergunta ao astro se ele se imagina, dentro de 30 anos, se apresentando daquele jeito. ‘Absolutely’, diz Jagger. Com certeza.
É um pouco o tema de Scorsese em Shine a Light. Seu filme, que celebra a longevidade de Mike Jagger, de Keith Richards, Ron Wood e Charlie Watts, não deixa de ser um questionamento sobre a permanência da arte, a que o próprio Scorsese faz, como diretor de cinema. No começo dos anos 70, ele já fizera um grande filme/concerto, The Big Waltz, com The Band. Vieram, nos anos 2000, depois outros documentários sobre música – Feel Like Going Home, sobre a história do blues, e No Direction Home, sobre Bob Dylan. ‘A música faz parte da minha vida e do meu cinema’, justifica-se Scorsese.
Celebração dos Rolling Stones, Shine a Light também permite que brilhem Christina Aguillera, Buddy Guy e o jovem Jack White, num número sensacional, do White Stripes. E há o fator Clinton. Bill, Hilary e a mãe dele, Dorothy, percorrem o filme neste ano que não deixa de ser de eleições nos EUA. No fim, um letreiro destaca a importância da Bill Clinton Foundation por seu apoio à pesquisa e ao conhecimento, à luta contra a pobreza e a aids. Não é só uma história de amor entre Scorsese e os Rolling Stones, também de Clinton e dos Stones. O ex-presidente lembra que, em 2001, em Los Angeles, os Stones já haviam feito outro show em apoio à luta de sua fundação pela pesquisa ambiental (e pelo clima). Ou seja, rock e política – política, como Berlim gosta.’
Franthiesco Ballerini
Onde os atores são deuses e têm até templo
‘Se você acha que atores como Fernanda Montenegro e Antonio Fagundes são venerados aqui no Brasil, não imagina como funciona a relação dos artistas com o sistema e fãs na Índia. Por lá, a palavra astro nem é usada para veteranos como eles. Na verdade, eles são deuses. ‘Temos poucas grandes estrelas do cinema. Isso porque eles são adorados como deuses e deuses não podem ser descartados, ou seja, são venerados até o fim da vida’, conta Kishore Namit Kapoor, professor de uma das mais importantes escolas de atuação da Índia, que leva seu nome.
Alguns desses deuses poderão ser vistos no Brasil até o dia 17, na 2ª Mostra de Cinema de Bollywood, numa parceria da Academia Internacional de Cinema com a Cinemateca Brasileira, onde serão exibidos os filmes (Largo Senador Raul Cardoso, 207, 3512-6111). Estão no evento obras do maior astro indiano do momento, Shah Rukh Khan (Dilwale Dulhania Le Jayenge), ao lado da ‘deusa’ Kajol e longas do veterano Amitabh Bachchan (Sholay; Jhoom Barabar Jhoom), uma espécie de Al Pacino indiano. ‘Há templos para alguns desses atores no sul da Índia, ou seja, eles são venerados literalmente. Por isso, nunca estrelas como eles interpretam um vilão, porque isso seria inaceitável para o público’, diz Kapoor. ‘Eu amo o Shah Rukh Khan, ele é perfeito. Mas meus pais ficaram preocupados quando decidi ser ator porque é quase impossível chegar ao topo como ele por aqui’, comenta o estudante de atuação Tapan Prabhakan.
Tamanha adoração não significa que esses astros sejam bons atores. ‘Não são estrelas por talento ou beleza, mas pelo carisma’, comenta Kapoor. Isso pode ser comprovado vendo alguns desses filmes da mostra. Para entender por que a atuação indiana é tão melodramática e artificial (bem mais que nos dramalhões do México, acredite), o Estado foi conferir as aulas do Kishore Namit Kapoor Acting Institute.
Com turmas pequenas – de 30 alunos por semestre – , há diversos tipos de aula, duas delas obrigatórias para todos: de dança e luta. ‘Dançar é crucial para qualquer ator por aqui. A gente dança até quando está brava. Para atores homens, lutar é imprescindível para o começo da carreira’, comenta a aluna Kanak Khanna.
Embora apenas aprendizes, os alunos parecem profissionais de luta e dança nas aulas. Já quando a questão é atuar, eles fazem caras e bocas risíveis para os padrões ocidentais. Nos filmes de Bollywood, nunca há choros de verdade, apenas a conhecida ‘lágrima de glicerina’ (produto usado para estimular as glândulas lacrimais). ‘O rosto é o centro da atuação aqui, ampliado mil vezes na tela, então ele precisa fazer expressões fortes’, justifica Kapoor. ‘E durante um século, o público indiano pouco se importou com a qualidade da atuação, porque não havia outra forma de entretenimento que não fosse o cinema. Shows e concertos estão chegando só agora por aqui.’
Uma das razões para essa representação forçada é que os professores das próprias escolas repassam para as novas gerações essa forma de atuar. Este talvez seja o último aspecto que entrará na atual transição do cinema indiano, já que o público local não aceita facilmente a forma de representar habitual do Ocidente – que procura trazer emoções reais dos personagens, buscando na memória pessoal experiências semelhantes. Há uma outra razão para a má interpretação. ‘A maioria dos atores ainda recebe os roteiros 15 minutos antes de rodar o filme porque a filmagem tinha de ser resolvida quase no mesmo dia’, conta Aryaman Sapru, ex-ator e atual professor do instituto.
Achou tudo muito estranho? Então ouça isso. ‘Adorar os astros aqui é como torcer para um time de futebol no Brasil. Há rivalidades entre quem ama Shah Rukh Khan e aquele que adora Aamir Khan, por exemplo. Se o filme do meu astro vai mal, chamo todos meus conhecidos para ir ao cinema ou comprar o DVD, para bater meu ‘oponente’, conta Kapoor. Para ter um astro como esses num filme não custa menos do que US$ 7 milhões. Pode ser uma ninharia nos padrões de Hollywood, mas é uma fortuna na Índia. Pelo menos por enquanto.
O repórter viajou a convite da organização do festival’
TELEVISÃO
BBB tem ibope fraco Paredões triplos não salvam atração
‘A cada edição do Big Brother, a Globo tenta inovar a fórmula para segurar a audiência. Neste 8º ano, a surpresa foi o tal paredão triplo. Mas nem mesmo essa estratégia fez o clima esquentar entre o público. Apesar de ter recebido 29 milhões de votos, o primeiro paredão triplo, realizado no dia 29 de janeiro, obteve 39 pontos de média de audiência. A eliminação anterior, no dia 22, alcançou 40 pontos e 18 milhões de votos.
A emissora tentou mais uma vez experimentar o paredão triplo na última terça-feira de carnaval. Foram 20 milhões de votos e 39 pontos de média.
O número de votos, porém, não reflete na audiência do reality show. Na edição passada do BBB, a disputa entre Alan e a popular Íris atingiu 21 milhões de votos com audiência de 39 pontos.
O BBB já chegou a render, em suas primeiras edições, 50 pontos de audiência nos dias de eliminação. Ultimamente, o fenômeno só ocorreu na vitória de Diego, no BBB7. O público cansou de ver os mesmos personagens no confinamento ou o BBB também foi atingido pela diluição de audiência vista nas novelas. Seja como for, a Globo ainda sai ganhando com os patrocinadores.’
Diego Zanchetta
TV Câmara vai ampliar programação em 70%
‘No ano em que a maior parte dos 55 vereadores tentará a reeleição, a TV Câmara vai ampliar a programação em pouco mais de 70%, de 7 para 12 horas diárias, e terá verba 36% superior à de 2007. Também quer reformular o conteúdo, destacando a ‘atuação’ dos vereadores em lugar dos debates em plenário. Especialistas temem que o canal adquira um ‘caráter panfletário’ em ano eleitoral. ‘Espero que o clientelismo que vigora na Casa há mais de uma década não contamine o canal’, disse Marco Antonio Carvalho Teixeira, cientista político da Fundação Getúlio Vargas.
Iniciada em dezembro, a licitação para a contratação de uma nova empresa ou fundação que administrará o canal será concluída em março, quando termina o aditamento de contrato feito em dezembro com a Fundação Padre Anchieta, atual concessionária do serviço. A verba destinada ao canal saltou de R$ 10,3 milhões no ano passado para R$ 13,9 milhões em 2008, mas o aumento pode ser ainda maior.
Existe a hipótese de o contrato atual, de R$ 640 mil mensais, ter reajuste de 40% a 50% com remanejamentos no orçamento da Câmara para o ano, de R$ 287 milhões. ‘Não temos preços definidos. Provavelmente a vencedora será uma fundação sem fins lucrativos’, disse ontem o primeiro-secretário da Câmara, Antonio Donato (PT). ‘A Padre Anchieta não quis renovar o contrato. Então fizemos um aditamento de três meses previsto em lei antes de definir o novo.’ A assessoria da Fundação, porém, informou estar em negociação com a Câmara para manter o serviço.
A programação ampliada deve ter início em abril, informou Donato. No novo contrato, também haverá a possibilidade de o Legislativo comprar um espaço diário de 60 minutos em canal aberto. ‘A TV Câmara tem a função de aproximar a população dos debates legislativos. Não existe nenhum cunho eleitoral na ampliação e reformulação da grade de programação só porque estamos em ano de eleições’, argumentou Donato.
O diretor do canal, Fernando Lancha, pretende ampliar a equipe de 30 para até 45 profissionais, com a contratação de estudantes de Jornalismo para estágios. ‘A idéia é mostrar cada vez mais trabalhos dos vereadores que têm impacto direto na vida da população e menos discussões de plenário’, disse. ‘Outro objetivo da reformulação é mostrar a posição dos parlamentares sobre temas polêmicos, com a participação de representantes da sociedade nos programas.’
Assim como o colega da FGV, o professor da Fundação Escola Sociologia e Política Rui Tavares também disse temer que a TV Câmara se transforme em palanque eletrônico. ‘Mas, no geral, acho muito bom que o canal do Legislativo tenha programação mais extensa, com debates com a sociedade civil.’
Líder de governo, José Police Neto (PSDB) disse que a ampliação da programação terá caráter educativo. ‘Quanto mais tempo para a TV Câmara, melhor para a população’, completou. Dos 55 vereadores, apenas Soninha (PPS), pré-candidata à Prefeitura, declarou que não tentará um novo mandato.’
CARNAVAL
A rebelião das celebridades. Ora!
‘Fugi para o interior para me colocar em sossego. No que cheguei a Araraquara, li a notícia de que uma humilde escola de samba da periferia, do segundo grupo, a Acadêmicos de Vila Selmi-Dei, tinha como tema O Menino Que Vendia Palavras, meu livro infantil do ano passado. Fui sondado para saber se eu iria para a avenida com eles. Disse que iria, não acreditaram. Só na hora em que cheguei ao sambódromo viram que era verdade. Somos julgados inatingíveis, inacessíveis, nosso mundo acaba ficando distante, fora da realidade. Brinquei: um acadêmico na Acadêmicos. A escola não teve verba da prefeitura até o último instante. Quando saiu um dinheirinho, eles já tinham soltado cheques voadores para todo lado, correram atrás. Escola pequena, tem cem componentes. Um único carro, alegórico e abre-alas ao mesmo tempo, produto da criatividade, da força da imaginação. Sem dinheiro, improvisaram, usaram a base de um andaime de metal forrado com um tecido em que se via estampado o zero, homenagem a um livro meu, subi e me vi cercado por um monte de máquinas de escrever, símbolos de meu ofício e saímos.
Empurrado pela garra e pelo coração da escola, senti-me na Marquês de Sapucaí. No que entramos no sambódromo – uma pista de 350 metros -, caiu um temporal violento. Ao chegarmos à apoteose, a água parou. Momento indescritível de poesia e participação nestes meus 70 anos de vida. A frase do presidente Chicão me tocou: ‘Nem que eu tivesse colocado dez mulheres nuas em cima deste carro teria feito tanto sucesso. Nosso carro parecia uma montanha no sambódromo.’ Coisas simples podem nos arrebatar, elas possuem sua grandeza.
Ao acordar em São Paulo, na quarta-feira, vi que era dia de cinzas. Na mesma hora me veio uma imagem do passado. As pessoas voltando da igreja com uma cruz de cinzas na testa. Não uma, nem duas, dezenas de pessoas, católicos que se prezavam e não tivessem cometido o pecado de participar da folia satânica iam ‘tomar cinzas’, para redimir os próprios pecados e pedir pela redenção dos outros, os condenados. Esses condenados encontrávamos pelo caminho voltando das ‘orgias’, na quais perdiam a alma. Isso nos excitava enormemente. Os condenados não pareciam acabados, tristes nem deprimidos. Ao contrário, vinham cantando um pierrô apaixonado, Maria escandalosa, fui às touradas de Madri, para ver Ceci (e o que Ceci, de O Guarani, fazia em Madri?)
Criança ainda, percebi que no mundo havia paradoxos e contradições. O inexplicável se fazia presente. Adulto, assumi que o inexplicável faz parte da existência. Confesso que nunca me senti melhor, mais aliviado por receber aquela cruz de cinzas na testa. Até me envergonhava, mas não podia retirá-la, devia esperar que ela se fosse por conta própria, assim como não se pode cortar a fita do Bonfim, é preciso esperar que ela se desfaça e atenda aos nossos pedidos. Com as cinzas havia o pedido pela salvação dos outros, mas o que eu sempre pedia era: bom Deus, faça com que eu um dia possa ir a um baile de carnaval, possa dançar, possa sair com essas mulheres lindas, possa me perder, me entregar ao Demônio.
Assim como por anos pedi a um Deus qualquer, que me possibilitasse ir à Marquês de Sapucaí, o que acabou acontecendo e foi uma noite memorável, gloriosa, até fui em quem beijou a bandeira da Liga das Escolas de Samba, para dar início ao desfile. Nesta Quarta-Feira de Cinzas saí cedinho, cheguei à igreja da Praça Benedito Calixto, queria ver se ainda veria gente com a testa marcada pela cruz. Não encontrei nada. As pessoas estava tomando ônibus, voltando ao trabalho, na padaria tomavam café como faziam todos os dias, o jornaleiro me entregou os jornais. Será que não há mais cinzas para nos salvar?
Pelos jornais soube da vitória da Vai-Vai com um tema moderno, Acorda Brasil. Nada mais atual, necessário. Curioso que seja São Paulo a dar esse pulo ao futuro, aqui sempre disseram que não há samba, não há carnaval. Enquanto isso, lá no Rio continuam a homenagear a Carmen Miranda. Quando soube que o tema era baseado em Antonio Ermírio de Morais, dei um pulo de alegria, espirrei lança-perfume no ar. Um desperdício, sei, mas… Circunspecto, sóbrio, severo e irritado com a imoralidade política que assola o País, indignado com a corrupção e a dissolução dos costumes, Antonio Ermírio foi o responsável pelo levantamento do povo nas arquibancadas. Sacudir a arquibancada tudo bem, dirá o Antônio Ermírio, mas eu quero é sacudir o País. Fiquei imaginando a sessão da Academia Paulista de Letras desta semana. Antonio Ermírio, o acadêmico, deve ser homenageado. É o mínimo que se espera. Afinal, ele sacudiu a avenida. Para inveja de muitos, quem sabe a restrição de alguns. Levarei alguns confetes no bolso, se alguém se manifestar, jogarei.
Acabou-se tudo, quem comeu arregalou-se, mas tenho duas observações. Fiquei feliz com a escola Unidos de Vila Maria, apesar do terceiro lugar. Desfile impecável. Merecia um empate com a campeã. Dizem que o problema esteve com a porta-bandeira, ela, com 45 quilos, foi prejudicada por um vestido que pesava 39 quilos. O peso não importa, gente! Vejam como as formigas carregam coisas com um peso absurdo em relação ao seu tamanho. Acompanho a trajetória da Vila Maria e o exuberante talento do carnavalesco Vagner, que, pouco tempo atrás, tirou água da pedra com o tema Via Dutra. Naquele ano, por ter escrito o único livro sobre a história da Via Dutra, fui convidado a desfilar na avenida em cima de um carro alegórico. Foi um êxtase, experiência incomparável.
A outra observação é sobre celebridades. Parece que houve uma rebelião, decidiram cobrar cachês para participar dos camarotes, sentem-se ‘usadas’, transformadas em garotos e garotas-propaganda. O que as celebridades querem? Vão aos camarotes, têm mordomias, privilégios, motoristas, massagistas, cabeleireiros, DJs, Sonrisal e Eno, posam para mil fotos, recheiam as páginas de todas as revistas que se alimentam de famosos, vêem suas fotos espalhadas pelo Brasil. Sabem que estão num regime de troca nessa feira das vaidades. Não estivessem no camarote, onde as celebridades, as meias-bocas celebridades, os um décimo de famosos (como os do Big Brother, esse antro da estupidez humana), estariam para serem fotografadas, se exibirem como pavões reais? Na arquibancada? No meio do povão? Na feira livre? Andando na rua? Ora, uma mão lava a outra, minha gente! Vão lá, comam seus salgadinhos, empadas, coxinhas, croquetes, salsichas empanadas, bebam seu vinho e cerveja e champanhe e até sidra, e se dêem por contentes. Ingratos!’
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