Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Para entender as causas e os porquês

Nossa vergonha. Podemos, por esse ângulo, olhar uma vez mais para a situação atual da educação brasileira.

Vergonha que se aprofunda a cada nova avaliação, seja um Enem, um Saeb, um Enade, um Pisa… As informações desmascaram e corroboram. Denunciam situações-limite e reafirmam a sensação de fracasso, a realidade do fracasso.

No domingo (20/4), Gaudêncio Torquato afirmava em artigo do Estado de S.Paulo (‘Escola pública na teia do atraso’) que…

‘…o ensino básico atravessa a maior crise de sua história. Milhares de alunos concluem a quarta série sem saber ler nem escrever, muito menos fazer contas’.

No Estado de Minas (23/04), outro artigo, ‘A urgência da educação’, de Jorge Werthein (diretor-executivo da Rede de Informação Tecnológica Latino-americana):

‘A qualidade do ensino continua precária […]. Alguém pode dizer que o Brasil já foi pior. Já. Melhorou muito nos últimos anos. Mas a atenção redobrada no item educação não pode (nem deve) ser relegada a plano secundário no cardápio das políticas públicas, tem que ser prioridade.’

Estresse e faltas

O Jornal do Commercio de Recife, ao anunciar em sua versão online que as escolas iriam realizar ato em defesa da educação pública no dia 25 de abril, acrescentava:

‘Em Pernambuco, segundo pesquisa do Fundo das Nações Unidas pela Infância, são mais de 172 mil meninos e meninas excluídos da escola.’

Na edição de abril, a revista Nova Escola, com suas matérias sempre tão otimistas, em que o professor, super-trabalhador, salvará o mundo… até a Nova Escola reconhece os graves problemas, haja vista a quantidade de professores doentes:

‘Pesquisa […] feita em 2007 com 500 professores de redes públicas das capitais revelou que mais da metade dos entrevistados sofre de estresse. […] No estado de São Paulo – a maior rede do país, com 250 mil professores –, são registradas 30 mil faltas por dia. Só em 2006 foram quase 140 mil licenças médicas, com duração média de 33 dias.’

Mobilização coletiva

Quanto mais a mídia divulgar o quadro calamitoso, melhor. Mais consciência teremos, e (é o que se espera) mais apoio daremos a quem propuser soluções inteligentes e alcançáveis.

No 7º Fórum Empresarial, realizado de 18 a 21 de abril, presentes vários políticos, entre eles o ministro da Educação Fernando Haddad, a pauta ‘Educação pública de qualidade para um Brasil melhor’ levou o senador Garibaldi Alves a sugerir em público a abertura de uma CPI sobre a educação. A idéia é boa, ao menos para aumentar nossa preocupação, jogar mais luzes sobre o tema.

A proposta, na verdade, é do ex-ministro da Educação Cristovam Buarque. E Haddad concorda com a iniciativa. Para nossa vergonha, precisamos de uma CPI do Apagão Educacional, a fim de entender as causas, saber o que se fez, o que não se fez. E pensar, de modo positivo, sem tolos otimismos, num mutirão, numa mobilização coletiva.

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Doutor em Educação pela USP e escritor; www.perisse.com.br