Leia abaixo os textos de quarta-feira selecionados para a seção Entre Aspas. ************ Folha de S. Paulo
Quarta-feira, 30 de maio de 2007
GOVERNO LULA
Lula decide gastar R$ 350 mi por ano com televisão pública
‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu que a rede nacional pública de TV custará R$ 350 milhões por ano.
Haverá um conselho que fiscalizará a diretoria. O conselho terá de 15 a 20 integrantes, a grande maioria de personalidades ‘independentes’, nas palavras de um auxiliar presidencial, com mandato de três anos.
O governo deverá indicar poucos integrantes desse conselho -estuda ainda o número. O Planalto também indicará a diretoria da rede pública de TV.
O governo chegou ao valor anual de R$ 350 milhões após se informar a respeito do custo de operações das redes de TV do país: essa cifra é o que a Rede Bandeirantes gastaria anualmente. Estima-se que uma operação como a da Rede Globo custaria R$ 5,5 bilhões.
A primeira previsão de gasto com o projeto, divulgada pelo ministro Hélio Costa (Comunicações), era de R$ 250 milhões para os primeiros quatro anos.
Decidiu-se que a rede pública, chamada nas discussões internas do governo de ‘TV Brasil’, terá quatro horas diárias de programação de produtores independentes e outras quatro horas de programação local.
O governo prepara agora as medidas legais que pretende apresentar a entidades da sociedade e ao Congresso no prazo de cerca de 60 dias. Nos conceitos, deverão constar claramente que a direção terá autonomia de gestão, subordinada a avaliação do conselho.
Há dificuldades legais para que parte do dinheiro do Fust (Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações) seja destinada à TV pública. Está mantida, porém, a intenção de encontrar mecanismos que garantam renda fixa para a TV a fim de que o governo de plantão não diminua seu orçamento.
Uma fórmula em estudo é a possibilidade de estabelecer legalmente um modelo que permita a votação de um orçamento plurianual para a TV pública, com obrigação de ser cumprido à risca. Há ainda discussão para encontrar fundos públicos que já existem e que possam contribuir para o orçamento da rede.
A intenção do governo é votar no início do segundo semestre, em agosto, as medidas que viabilizem a TV. Já há data para o projeto ir ao ar: 2 de dezembro, início da transmissão do sinal da TV digital aberta no país.
O governo federal proporá parcerias aos Estados com TVs oficiais, como no caso da TV Cultura (SP). O BNDES deve financiar a modernização de equipamentos da rede, cujo embrião será a união jurídica da Radiobrás e da TVE.’
TODA MÍDIA
Navalha no pé
‘Gilmar Mendes, do STF, mandou soltar Zuleido e outros tantos. Mas foi só depois dos telejornais.
Até então, na manchete de Folha Online e demais, ‘STJ afasta o número 2 da Polícia Federal por suposta ligação com fraudes e vazamentos’. É que, ‘segundo investigações da PF’, ele teria ‘suposto envolvimento com uma quadrilha que fraudava licitações na Bahia’ -e teria avisado um ex-superintendente da PF no Ceará que ele era investigado na Operação Octopus, da própria PF e que deu origem à Operação Navalha. Sobraram trocadilhos tipo ‘navalha no pé’, na Band.
Dias atrás, Bob Fernandes postou no Terra que os ‘vazamentos’ em série eram ‘sintoma da sucessão na PF’, servindo ‘ora a um, ora a outro candidato’.
RENAN E A REVISTA
Na manchete do site da revista ‘Veja’ ao longo do dia, ‘Após ‘defesa’, a situação de Renan fica pior’. O senador ‘não esclareceu suspeitas em torno da ligação com lobista’ -e ‘o corregedor do Senado, Romeu Tuma (DEM-SP), afirmou que as explicações não encerravam o assunto’.
O site abriu o acesso a sua reportagem original, com o link ‘Renan Calheiros, um senador no bolso de lobista’.
ABRAÇOS DE LULA
No Blog dos Blogs, em submanchete no portal iG, Helena Chagas postou que Lula e Renan Calheiros, em almoço ontem, ‘conversaram efusivamente’ e o presidente ‘abraçou Renan de novo’.
BEIJA-MÃO PETISTA
Após o beija-mão de Ideli Salvati e outros, Lauro Jardim postou na Veja On-line, sob o título ‘Amigo é para essas coisas’, que o blog de José Dirceu deu ‘apoio a Renan’.
Ele louvou ‘os documentos e o tom humilde, emocionado do discurso’ e atacou, outra vez, a mídia sem ‘limites’.
DIRCEU VS. MAIA
Dirceu e o prefeito do Rio, Cesar Maia, este em seu ‘ex-blog’, disputavam ontem o presidente do Senado, discutindo quem estaria ‘por trás’ das agruras de Renan.
Segundo Josias de Souza, ‘em privado’ ele ‘acusa o PT’ e ‘o DEM, cujo líder Agripino Maia estaria interessado num terceiro turno’ para o Senado.
‘DEPUTY OF THE DEPUTY OF…’
Na manchete do site do ‘Wall Street Journal’, ontem, a escolha de Robert Zoellick por George W. Bush para comandar o Banco Mundial, frustrando as demandas de Brasil e outros. De todo modo, no destaque do ‘WSJ’, ele ‘ajudou a lançar a Rodada Doha’ e ‘construiu uma forte reputação com muitos países em desenvolvimento como principal negociador comercial dos EUA’.
Em especial, com o Brasil. Ele mudou muito, desde que disse na campanha de 2002 que ‘ou o Brasil aceita a Alca ou terá de comerciar com a Antártida’. Foi aí que Lula o chamou de ‘sub do sub do sub’ -o que ele ouviu, como relatou a Clóvis Rossi, como ‘deputy of the deputy of the deputy’. Agora, é o futuro presidente do Banco Mundial.
‘PALMAS’
O destaque do Brasil ao longo do dia, nos principais sites de busca de notícias, tipo Google News, Yahoo News e Inform.com, foi a notícia de que o governo vai subsidiar, afinal, controle de natalidade -em pleno ‘Brasil católico’.
Mais curiosa foi a reação do blog de Guilherme Fiúza, de oposição há tempos mas ultimamente, como ontem, também crítico da oposição: ‘Palmas para o governo Lula. Parabéns ao governo Lula.’
MULTILATINAS
Em segundo destaque, nos mesmos sites de busca, o anúncio de que a JBS/Friboi vai comprar a americana Swift por US$ 1,4 bilhões.
Foi tema de dois textos no site do ‘WSJ’, o primeiro com a notícia e o segundo com o título ‘Swift é meramente a mais recente das aquisições externas do Brasil’. Explicou com a queda do dólar e com os recursos levantados pelas empresas. E arriscou que ‘o processo não acaba tão cedo’.
O COLUNISTA E A EMBRAER
Ontem, segundo Fátima Bernardes, ‘uma cerimônia lembrou as vítimas do acidente do avião da Gol com um Legacy’ após oito meses. E ontem o colunista Joe Sharkey -que viajava no Legacy e defende os pilotos americanos- escreveu no ‘New York Times’ sobre a Embraer, até mencionou a Gol, mas nada do indiciamento dos pilotos, dias atrás. A notícia saiu no ‘NYT’, mas em texto da AP. De Sharkey contra a PF, os controladores etc., só no blog.
Em tempo, sobre a Embraer ele noticiou como estariam ‘ganhando ritmo’ as encomendas de seus jatos, nos EUA.’
PUBLICIDADE ESTATAL
Governo do MA defende Lago em anúncios
‘O governo do Maranhão pagou R$ 342,5 mil para publicar ontem em três jornais de circulação nacional -Folha, ‘O Globo’ e ‘Correio Braziliense’- uma nota na qual se propõe a esclarecer as acusações da Polícia Federal contra o governador Jackson Lago (PDT).
O secretário de Comunicação, Zeca Pinheiros, defende o uso de dinheiro público na defesa de Lago alegando que ele está sendo citado como governador de Estado, e não por um problema pessoal dele.
A Procuradoria Geral do Estado, diz o secretário, foi consultada sobre a legalidade da publicação.
A nota tem o logotipo do governo do Maranhão e um texto no qual é descrita ‘a versão dos fatos, amplificada na mídia nacional’. Nessa versão, depois contestada na nota, Lago aparece como acusado de ter recebido propina por intermédio de dois sobrinhos numa viagem a Brasília e alvo de um pedido de prisão da Procuradoria.
A nota diz que não foi pedida a prisão de Lago e que não há no inquérito testemunho que confirme o pagamento de propina. Diz que a acusação foi feita com base em deduções.
Ainda afirma que Lago não estava ‘clandestinamente’ em Brasília quando houve o suposto pagamento de propina, pois ele teve audiência com Lula.’
VENEZUELA
Chávez ameaça TV e ataca estudantes
‘Enfrentando o quarto dia seguido de protestos em várias partes do país contra o fim das transmissões da RCTV, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, fez ontem ameaças à emissora Globovisión, a única abertamente crítica ao seu governo, e desqualificou as marchas dos estudantes universitários.
‘Quero advertir o povo venezuelano (…) sobre as ações de rua que estão tentando incentivar. [Alerto] alguns meios de comunicação que estão brincando, como sempre, com a desestabilização’, disse Chávez, em discurso durante ato público transmitido em rede nacional de rádio e TV.
Sobre a rede de TV Globovisión, tradicional opositora a Chávez, o presidente voltou a acusá-la de incentivar seu assassinato e ameaçou: ‘Meçam até onde querem chegar. Tomem calmantes e ajam nos conformes, porque, caso contrário, eu mesmo os colocarei [nos conformes]’.
‘Se vão continuar chamando à desobediência e incitando o magnicídio’, disse Chávez, deverão ‘assumir as conseqüências’. O presidente venezuelano qualificou os meios de comunicação oposicionistas de ‘inimigos da pátria’ e ‘apátridas’ e exortou o governo a vigiá-los ‘minuto a minuto’.
Apesar de a Globovisión ser a única emissora crítica a Chávez atualmente no ar, grande parte dos jornais e das rádios do país não está alinhada com o governo venezuelano.
Chávez ainda desqualificou os protestos de universitários dos últimos dois dias ao afirmar que ‘não representam a maioria desse setor’. Disse ainda que estão sendo ‘manipulados’ pelos interesses ‘obscuros’ da oposição. ‘Faço um chamado às mães e aos pais (…) Os que os estão usando estão procurando mortos [para estimular ações contra o governo]’, afirmou.
Em discurso recheado de referências ao frustrado golpe que sofreu em 2002, disse que, se for necessário ‘lançar outro 13 de abril’, ele mesmo o comandaria, em alusão ao dia em que voltou ao poder.
‘Irmão que está nos morros de Caracas, que está lá no Petare, alerta o povo, lá em Catia, no 23 de Enero, alerte o povo em todo o país (…) Se tivermos que lançar outro 13 de abril, eu comandarei o 13 de abril’, disse, mencionando vários bairros pobres da capital venezuelana onde concentra grande apoio.
Assembléia
Em tom ainda mais duro do que Chávez, deputados governistas fizeram várias acusações contra os manifestantes em discursos na Assembléia. Luis Tascón disse que ‘há um golpe de Estado em andamento’ com apoio da Globovisión e exortou os militantes chavistas a expulsarem os estudantes das ruas.
‘A rua é nossa. Retomemos a rua, que a rua é do povo, e não da oligarquia’, discursou. Em outra grande manifestação ontem, estudantes vestidos de vermelho da Universidade Bolivariana da Venezuela, criada por Chávez, marcharam até o Palácio Miraflores para dar apoio ao governo.
A RCTV, que não teve sua concessão renovada, deixou de transmitir às 23h59 de domingo e foi substituída pela estatal Tves.’
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Ato une jovens de escolas públicas e privadas
‘Pelo segundo dia consecutivo, milhares de estudantes universitários marcharam ontem pelas ruas de Caracas para protestar contra o fim das transmissões da emissora RCTV. Ontem, o objetivo foi entregar um documento na sede da OEA (Organizações dos Estados Americanos) acusando o governo Hugo Chávez de não assegurar o direito de protestar.
‘O governo deveria refletir antes de usar a polícia contra nós’, disse à Folha Stalin González, presidente da Federação dos Centros Universitários da Universidade Central da Venezuela (UCV). A UCV, universidade pública federal, é a maior do país, com aproximadamente 60 mil estudantes.
O dirigente teve o respaldo de uma multidão de estudantes universitários de instituições públicas e privadas de Caracas. A maioria identificava sua origem pintando as siglas nos braços. A marcha saiu da praça Brion e percorreu cerca de dois quilômetros até a sede a OEA. Em seguida, voltou ao local de origem. Situada no limite das regiões da capital identificadas com o chavismo (oeste) e a oposição (leste), a praça Brion está substituindo a praça Altamira (localizada em bairro de classe média alta) como símbolo de protestos contra Chávez.
Ontem, confrontos com policiais e chavistas deixaram cerca de dez estudantes feridos (foram 20 na véspera). Houve 97 protestos nos últimos quatro dias.
Estreante em manifestações, a estudante de economia Adriana Rubio, 17, disse que a motivação dos protestos não se resume ao fim da emissora. ‘Agora, fecharam a RCTV. Se não nos defendermos, depois serão outros canais, depois a universidade, e isso não podemos permitir.’
‘O fechamento é um capricho do presidente. Estamos cansados dos últimos oito anos, das ameaças, de tirarem o emprego de nossos pais; e agora a RCTV’, disse Lourdes Palmas, 20, estudante de contabilidade. Ao descobrir que o repórter era do Brasil, perguntou: ‘O Lula não falou nada?’.
A maioria dos gritos era em favor da RCTV, mas havia coros pedindo o fim do governo Chávez (‘este governo vai cair’) e contra o magnata Gustavo Cisneros, cuja emissora Venevisión vem dando pouca cobertura aos protestos.
Para Marino Alvarado, ex-líder estudantil e dirigente da ONG de direitos humanos Provea, pela primeira vez na história da Venezuela existem protestos coordenados entre universitários de instituições públicas e privadas.
‘O governo não esperava essa reação do movimento estudantil’, disse Alvarado à Folha. ‘E, infelizmente, está buscando desqualificar os protestos, tentando identificá-los com planos terroristas da oposição.’’
Pedro Dias Leite, Kennedy Alencar, Letícia Sander e Iuri Dantas
Para Lula, RCTV é ‘problema da Venezuela’
‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva evitou se manifestar publicamente sobre a não-renovação da concessão da RCTV.
Indagado sobre o assunto ontem, rebateu: ‘O que o Brasil tem a ver com a concessão da Venezuela para uma TV? É um problema da legislação venezuelana, do governo venezuelano. Da mesma forma que eu não quero que eles dêem palpite nas coisas que eu fizer aqui, eu não quero [falar dos assuntos deles]’.
Lula fez o comentário ao deixar o Itamaraty, depois de almoço com o secretário-geral do Partido Comunista do Vietnã, Nong Duc Manh.
À noite, em evento da Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão), depois de ouvir críticas à decisão de Hugo Chávez, o presidente fez uma defesa da liberdade de imprensa.
‘Se muitas vezes, depois de uma saraivada de más notícias, eu acho ruim, muito pior seria se não existisse democracia neste país para a imprensa dizer o que bem entende, na hora em que bem entende, e ser julgada pelo único julgador, os ouvintes, os telespectadores e os leitores’, disse, sem citar a Venezuela.
Antes, o presidente da Abert, Daniel Pimentel Slaviero, havia classificado o fechamento da RCTV como ‘um grave atentado à liberdade’ e dito que, apesar de o Brasil ser muito diferente da Venezuela, ‘precisamos ficar vigilantes’.
O ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, também evitou criticar a Venezuela, mas disse que jamais o governo brasileiro deixaria de renovar uma concessão por causa de críticas. ‘Evidente que não [tiraria do ar]. Crítica ao governo faz bem ao país e ao governo. Imprensa não existe para aplaudir. Mas, se passa do ponto, o controle externo é a sociedade, não o governo’, afirmou.
Embora tenha evitado se manifestar publicamente sobre a decisão de Chávez, o presidente considerou um erro político o fechamento da RCTV pelo colega, segundo apurou a Folha.
Lula avalia que Chávez deveria ser menos radical, mas não pretende criticá-lo publicamente para evitar intromissão num assunto venezuelano.
Na avaliação de integrantes da cúpula do governo, se Chávez tivesse fechado a RCTV na época da tentativa de golpe frustrada contra ele, em abril de 2002, teria justificativa política. Agora, parece retaliação.
O PT assinou no domingo um manifesto de apoio à decisão de Chávez de não renovar a concessão da RCTV. O documento também contém o apoio do MST e da Central de Movimentos Populares. O texto chama a RCTV de ‘TV Globo de lá’. Afirma que só uma ‘minoria opositora’ é contrária à medida, mas ‘faz alarde proporcional a seu poder financeiro’.’
Clóvis Rossi
Dirigente da UE faz crítica contundente
‘O presidente da Comissão Européia, o português José Manuel Durão Barroso, criticou ontem duramente a decisão do presidente Hugo Chávez de cassar a concessão do canal RCTV, considerando-a ‘um passo atrás’ que caracteriza o que batizou de ‘semidemocracia’.
A crítica foi feita durante conversa entre Durão Barroso e um grupo de jornalistas brasileiros e portugueses para divulgar o projeto de parceria estratégica entre a União Européia e o Brasil.
O presidente da Comissão disse que a Europa repudia recorrer a ‘semidemocracias ou, em alguns casos, à ditadura’, como resposta ao fato de que ‘o capitalismo ultraliberal não deu os resultados esperados’. Nesse contexto, classificou de ‘completamente decepcionante’ a decisão do governo venezuelano. ‘Quando se reduz o pluralismo da comunicação social, é um passo atrás, é um passo no mau caminho, e põe em questão a institucionalidade’, disparou.
Afirmou ainda que a Venezuela se trata de ‘uma sociedade extremamente sofisticada, no bom sentido, com uma vida cultural intensa e muito plural’. Por isso mesmo, lamentou o que chamou de ‘decisão arbitrária’ e ainda cobrou que ‘os democratas não fiquem conformados com uma notícia como essa’.
Durão Barroso só citou nominalmente a Venezuela entre os ‘regimes populistas, para não chamar de outra coisa’ na América Latina. ‘Esperemos que não surjam outros casos’, limitou-se a desejar o presidente da Comissão.
O português é a autoridade mais graduada a criticar, até agora, a cassação da RCTV. Antes, o Parlamento Europeu também votara uma moção de condenação, mas por apenas 43 votos entre 784 deputados, que Chávez ironizou.’
MEMÓRIA / MURILO FELISBERTO
Murilo, som e luz
‘ÀS 22H , num sábado, na Redação da Folha, não havia quase mais ninguém. Chega a notícia de que minha mãe tinha morrido. Naqueles tempos sem celular, quem é que poderia encontrar um repórter solteiro e com fama de boêmio? – O Murilo. O Murilo sabe da vida dessa reportada toda.
Localizaram o Murilo e, em menos de uma hora, ele me achou na casa de um tio da minha namorada. Eu saí às pressas para arranjar um jeito de ir para o interior. Murilo ficou lá mais um tempinho.
Os ventos sopraram para outro lado, aquele meu namoro veio ao fim e, algum tempo depois, Murilo estava casando com a moça que conhecera naquela noite triste (para mim). (Quando adolescente, Murilo, que era mineiro de Lavras, passou um tempo em Areado, também MG, onde sua tia -médica- clinicava. Ali andou peruando uma moreninha, mas os ventos sopraram de novo e quem casou com essa mineirinha fui eu…) Murilo Agostini Felisberto morreu no dia 11, em São Paulo, aos 68 anos. Ele mexeu com o jornalismo no Brasil.
Murilo e eu começamos nesta mesma Folha, no fim dos 50, quando o Brasil, embalado por Juscelino, vivia tempos de otimismo, muita novidade e ‘bossa-nova’. Isso afetou também o jornalismo. Coincidiu a chegada na Folha, nessa mesma época, de uma caipirada que, após ‘aprender’ na casa, acabou indo para a frente na profissão: Sérgio Pompeu veio a ser redator-chefe da ‘Veja’, Woyle Guimarães, diretor da Central Globo de Jornalismo, Sérgio de Souza, editor de texto da ‘Realidade’, José Carlos Marão, diretor da ‘Quatro Rodas’, Flávio Barros, diretor na editora Globo, Washington Novais, chefe do ‘Globo Repórter’, Aloísio Biondi, diretor de vários jornais, com Joelmir Betting correndo por fora e fazendo a modernização do jornalismo econômico com o extermínio do economês, além de uns outros que preferiram ir ganhar a vida em campo diferente: Neil Ferreira na publicidade, Maurício de Sousa nos quadrinhos, Renato Mazzei como embaixador. Mais uns tantos que agora esqueci. A Redação da Folha sempre foi nervosa, efervescente, mas aquela foi de fato uma fase assinalada. Murilo era uma referência no meio da turma.
Andava com um maço de revistas americanas embaixo do braço, sabia de cor as ‘as leis do jornalismo’ (a maioria vinda dos EUA, mas naquele momento foram importantes para nós) e, dizia-se, também o expediente de qualquer jornal ou revista (que valesse a pena) do Brasil e do exterior. Além de ter sempre à mão o restaurante para a gente ir comer e conversar sem garçom chato por perto. Nos anos 50, o jornalismo nosso era atrasadão. Os títulos, padronizados, burocráticos; o texto, repetitivo e maltratado; a ‘mancha’ (espaço da página usado para informação), quadrada, sempre igual, ‘fechada na oficina’, como se dizia. Murilo ajudou a implodir isso, primeiro na Folha, depois nas empresas do ‘Estadão’, no ‘Jornal do Brasil’, na editora Abril.
Toda Redação tem a turma dos ‘exibidos’ (os que aparecem para o público) e o pessoal da criação, da edição. Murilo era dos que apareciam pouco. Mesmo no tempo curtíssimo em que foi repórter, publicava raramente. Com excesso de autocrítica, não ficava satisfeito com o que fazia, jogava fora, sofria… Mas, quando entregava o texto, era coisa fina. Designado uma vez para cobrir o Dia da Aeromoça (num tempo em que aviões eram luxo, saíam e chegavam na hora, e as comissárias eram ‘um avião’ de beleza eterna), enquanto os outros jornais saíram com títulos como ‘Comemora-se amanhã o Dia da Aeromoça’, o texto do Murilo tinha na cabeça: ‘Problema da aeromoça é que ela vai ser aerovelha…’.
Hoje isso parece uma firula; na época, era pura subversão. Sendo artista plástico (desenhava com facilidade incrível, até em guardanapo), gostando de música (tocava piano) e curtidor de som (a exigência na escolha da aparelhagem de som era quase uma excentricidade), via o jornal, a revista, a página em branco com um potencial artístico de tal forma que ficaram famosas pela beleza algumas das páginas e das capas que ajudou a fazer no ‘JT’.
Robson Alves, diretor de arte da DPZ, agência onde Murilo trabalhou muito tempo, em seus intervalos jornalísticos, diz que a principal qualidade dele, para compor e dirigir equipes tão complicadas quanto as de reportagem ou de publicitários, era ‘combinar pessoas’, juntar talentos, apesar de eventuais diferenças, para fazer um trabalho. Murilo Felisberto era jornalista e artista. Deixa uma filha, Carlota, e um neto, Antônio. E um aperto no peito de um velho repórter.
JOSÉ HAMILTON RIBEIRO é repórter especial do programa ‘Globo Rural’. Foi ganhador sete vezes do Prêmio Esso de Jornalismo e é autor de ‘O Gosto da Guerra’, entre outros livros.’
RÁDIO & AVIAÇÃO
Rádio pirata provoca apagão de 6 minutos no tráfego aéreo de SP
‘A interferência de rádios piratas provocou ontem um ‘apagão’ no sistema de comunicação do setor de controle de tráfego aéreo de São Paulo e o conseqüente fechamento para decolagens de dois dos principais aeroportos do país: Congonhas (na zona sul de SP) e Cumbica (Guarulhos, Grande SP).
Zunidos, pregações evangélicas e uma música de Fábio Jr. sobrepunham-se às falas de controladores de vôos e dos pilotos das aeronaves.
O fechamento durou seis minutos, das 9h50 às 9h56, quando o controle de aproximação de aeronaves registrou interferências em quatro das seis freqüências de comunicação em operação naquele momento.
O controle de São Paulo tem sob sua responsabilidade o maior tráfego aéreo da América Latina, com mais de 500 mil pousos e decolagens por ano (números de 2006), ou quase duas operações por minuto.
Segundo o chefe do Serviço Regional de Proteção de Vôo em São Paulo, coronel-aviador Carlos Minelli de Sá, esse foi o segundo caso de ‘apagão’ desde a última sexta-feira.
Desde o ano passado, o número de interferências nas comunicações do centro de controle aéreo de São Paulo pelas rádios piratas cresceu 434,4%, saltando de 32 registros, em janeiro de 2006, para 171 neste mês (até as 11h de ontem). A média passou de uma para seis interferências por dia.
Segundo Sá, numa situação como essa as operações devem ser suspensas, por segurança. ‘Seria uma tremenda irresponsabilidade a gente continuar forçando operações nessa situação. O que a gente vai fazer? A gente vai restringindo as operações à medida em que isso for necessário, até interditar completamente o aeroporto’, disse o coronel-aviador.
O agravamento da situação em São Paulo levou o comandante da Aeronáutica, Juniti Saito, a pedir providências ao ministro da Comunicação, Hélio Costa, em maio.
A Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) não esclareceu quais medidas foram adotadas -se foram- para aumentar a fiscalização após o pedido de Saito. A agência informou apenas que sua fiscalização atua constantemente ‘dentro de um planejamento’, que pode ser adaptado.
Ainda segundo a Anatel, sempre que há comunicação de casos em que há risco ao transporte aéreo, equipes se deslocam de imediato. Em Congonhas, segundo a agência, há uma equipe desde anteontem tentando identificar e localizar as emissoras responsáveis.
Um dos delegados da Polícia Federal em São Paulo responsáveis pelo combate às rádios piratas, Fábio Henrique Maiurino, informou que a polícia trabalha no apoio à Anatel.
De acordo com ele, cerca de 150 emissoras clandestinas foram fechadas no ano passado em São Paulo e na Grande São Paulo. ‘Muitas delas são reincidentes’, afirmou.
Maiurino afirmou que o responsável por uma rádio que interferir na comunicação do controle aéreo pode ser condenada de dois a cinco anos de prisão por colocar em risco a vida de pessoas.’
TELEVISÃO
Diretor ilumina novela para salvar cargo
‘Diretor-geral de ‘Eterna Magia’, Ulysses Cruz só será mantido no cargo porque concordou em fazer uma série de mudanças na atual novela das seis da Globo, que vem marcando 27 pontos no Ibope da Grande São Paulo, abaixo da expectativa da cúpula da emissora (que quer pelo menos 30 pontos).
Na última quinta, Mário Lúcio Vaz, diretor-geral artístico da Globo, pediu a cabeça de Cruz a Carlos Manga, diretor de núcleo de ‘Eterna Magia’. Superior imediato ao diretor da novela, Manga se recusou a demiti-lo, mas pediu a ele que se afastasse. A história chegou aos ouvidos de atores influentes, como Irene Ravache e Cássia Kiss _que se opuseram ao afastamento de Cruz.
Manga ponderou com Mário Lúcio Vaz que tirar um diretor-geral, no início dos trabalhos (a novela estreou há duas semanas), iria acarretar mais problemas do que trazer soluções.
Cruz, então, se comprometeu com Manga e com Vaz a fazer a novela mais iluminada, com interpretações mais realistas e a abandonar a linha teatral que imprimiu na direção e nos atores até agora.
Como as gravações de ‘Eterna Magia’ estão adiantadas, as mudanças só aparecerão definitivamente daqui a duas semanas, mas algumas cenas, consideradas soturnas e escuras demais pela direção da Globo, serão refeitas já.
A Globo não se manifestou até a conclusão desta edição.
MÁSCARA 1
A Globo adotou elementos de ‘guerrilha’ para evitar avanço da Record, que anteontem estreou a hispânica ‘Zorro’ na faixa das 18h. Exibiu ‘Eterna Magia’ sem abertura e com apenas dois intervalos _o normal são três. A novela da Globo deu 26 pontos; a da Record, 9.
MÁSCARA 2
O Ministério da Justiça acatou pedido da Record e liberou para antes das 20h os capítulos de ‘Zorro’ de amanhã e sexta, originalmente classificados para maiores de 12 anos.
TRAIÇÃO
Antonio Calloni vai interpretar o delegado Fleury, famoso na época da ditadura militar, em episódio do ‘Linha Direta -Justiça’ sobre o cabo Anselmo, militar que se infiltrou em organizações de esquerda.
VITAMINA DE JACA
A Globo está fazendo malabarismos para levantar ‘Pé na Jaca’. Anteontem, exibiu apenas um intervalo em toda a novela, que marcou 32 pontos.
CLASSUDA 1
Era um ‘galo’ o caroço na testa de Glória Maria, visível no último ‘Fantástico’. ‘Bati a cabeça na porta do armário’, conta a jornalista. ‘Mas não fiz nada para disfarçar. Não usei maquiagem nem mudei o cabelo.’
CLASSUDA 2
A próxima viagem de Glória Maria será uma aventura pelo rio Amazonas, da nascente, no Peru, até a foz. Ela acompanhará uma expedição que irá durar três semanas. Mas não se ausentará do ‘Fantástico’. Viajará toda segunda-feira para a floresta e retornará aos sábados para o Rio de Janeiro.’
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‘Reality show’ holandês busca receptor de rins
‘Um canal de TV holandês leva ao ar nesta sexta ‘The Big Donor Show’ (o grande show do doador), ‘reality show’ em que uma mulher em estado terminal escolherá um dentre três pacientes para receber seus rins. No país, partidos políticos tentaram impedir a veiculação do programa, mas a emissora argumentou que a atração -criada pela Endemol, a mesma de ‘Big Brother’- chama atenção para a falta de doadores. O público ajudará a doadora a escolher o receptor por meio de mensagens SMS.’
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O Estado de S. Paulo
Quarta-feira, 30 de maio de 2007
VENEZUELA
Chávez muda de canal e agora ameaça investir contra Globovisión
‘O presidente venezuelano, Hugo Chávez, ameaçou ontem investir contra a Globovisión, a TV mais combativa de oposição a seu governo depois que a Rádio Caracas Televisão (RCTV) saiu do ar por uma decisão oficial no domingo. ‘Inimigos do povo’, disse o presidente referindo-se à emissora. ‘Recomendo que vocês meçam muito bem até onde querem chegar, porque se continuarem a incitar ao assassinato do presidente, terei de freá-los’, completou, estendendo a ameaça ‘a todas as rádios que estiverem manipulando ou acirrando sentimentos’.
A recusa do governo em renovar a licença para a RCTV transmitir pelo canal 2 tem sido muito criticada por outros países e organizações internacionais. ‘Pedimos ao governo da Venezuela que cumpra seus compromissos sob a Declaração Universal de Direitos Humanos e a Carta Democrática Interamericana e reverta as políticas que limitam a liberdade de expressão’, disse ontem um porta-voz do Departamento de Estado americano.
Há três dias, manifestações pró e contra a decisão tomaram as ruas de Caracas e estão se espalhando por todo o país (ler ao lado). Segundo Chávez, as TVs, rádios e jornais estariam fazendo dos protestos em apoio à RCTV um ‘show’ para desestabilizá-lo. ‘Não podemos menosprezar o adversário’, disse ele em rede nacional, em seu primeiro pronunciamento público desde o fechamento da RCTV. ‘Alerto ao povo que está em marcha um novo golpe.’
Pouco depois, a Câmara Venezuelana de Radiodifusão denunciou que a Conatel, órgão que administra a freqüência radioelétrica, ainda não concluiu o processo de renovação das concessões de 151 das 156 rádios AM, que também venceram no dia 27. ‘Na prática, a falta de decisão sobre as concessões funciona como outra ameaça cujo objetivo é estimular a auto-censura’, disse ao Estado Andrés Canizáles, do Laboratório de Investigações em Comunicações da Universidade Católica Andrés Bello, lembrando que entre estas rádios há uma do grupo da RCTV.
A Globovisión não tem alcance nacional como a RCTV, mas é transmitida em Caracas e imediações. Na segunda-feira,o ministro das Comunicações, Willian Lara, pediu à procuradoria que investigue a emissora por incitar ao assassinato de Chávez durante o programa Alô Cidadão (e a americana CNN por empreender uma campanha para desacreditar a Venezuela). No caso em questão, após uma entrevista com o diretor da RCTV, Marcel Granier, entrou no ar uma cena que mostrava a tentativa de assassinato contra o papa João Paulo II, em 1981, com a música Isto não termina aqui, do cantor panamenho Rubén Blades, ao fundo. Segundo Lara, especialistas em semiótica consultados pelo governo disseram que a imagem estimularia de forma subliminar os venezuelanos a cometer um atentado contra o presidente.
O diretor da Globovisión, Alberto Ravell, qualificou as acusações de ‘ridículas’, mas na sede da TV elas causaram indignação e nervosismo. ‘Sabíamos que o fechamento da RCTV era só o início e a Globovisión seria a próxima a entrar na mira do governo, mas não imaginávamos que fariam isso tão rápido’, disse ao Estado Sheina Chanj, repórter e uma das âncoras do Alô Cidadão. ‘O presidente quer a imprensa com cabresto.’
A licença da Globovisión vence em 2011, mas, segundo especialistas, o governo conseguiria tirá-la do ar usando outros mecanismos legais. ‘Chávez poderia alegar que a emissora descumpriu a Lei de Responsabilidade Social na Rádio e Televisão, de 2005, incitando à violência e atentando contra a ordem pública’, disse Canizáles.
A RCTV tinha a maior audiência do país (cerca de 40%). O governo se recusou a renovar sua licença acusando seus diretores de ser golpistas e não cumprir compromissos fiscais e legais.
Em Brasília, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou-se a comentar o que chamou de assunto interno venezuelano. Mas, após ouvir duras críticas do presidente da Abert, Daniel Pimentel Slavieiro, à não renovação da licença da RCTV, Lula fez uma veemente defesa da liberdade de expressão no Brasil – sem citar a Venezuela: ‘Se depois de uma saraivada de más notícias eu acho ruim, muito pior seria se não existisse democracia neste país para a imprensa dizer o que bem entende.’ COM TÂNIA MONTEIRO, DE BRASÍLIA’
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Oposição a governo une estudantes, mas alunos chavistas saem em seu apoio
‘Milhares de estudantes venezuelanos saíram ontem às ruas, pelo terceiro dia consecutivo, para protestar contra o fechamento da RCTV, numa ação como não se via fazia oito anos. ‘É a primeira vez que vemos estudantes de instituições públicas e privadas unidos desde 1999, quando os atos de oposição ao presidente passaram a ser dirigidos principalmente por partidos e classes empresariais’, disse ao Estado o cientista político Oscar Reyes, da Universidade Católica Andrés Bello. Os protestos ocorreram em Caracas, San Cristóbal, Mérida, Valencia e outras cidades. Segundo a TV Globovisión, mais de cem manifestantes foram detidos em várias partes do país. Na capital, os estudantes entregaram na sede da Organização dos Estados Americanos um documento denunciando o autoritarismo e as ameaças à liberdade de expressão. À tarde, alguns deles voltaram a entrar em choque com a polícia. Na véspera, quatro estudantes foram feridos a tiros nos choques. ‘Não estamos aqui só pela RCTV, mas porque sabemos que este é só o começo de um ciclo de ataques à liberdade de expressão que sem dúvida chegará à universidade’, disse ao Estado Zuleica Gonsálvez, de 21 anos, da Universidade Simón Bolívar.
Os estudantes chavistas também marcaram posição. Uma manifestação que acabou diante do Palácio de Miraflores celebrou o nascimento da Televisão Venezuelana Social, criada pelo governo para substituir a RCTV. O ato foi integrado principalmente por alunos da estatal Universidade Bolivariana e das ‘missões’ educacionais do governo.
Na Assembléia Nacional, onde os partidos governistas ocupam todas as cadeiras, alguns deputados surpreenderam e criticaram o fechamento da RCTV. ‘O pluralismo não pode ser só um discurso para nós (chavistas)’, disse o deputado Ismael García. ‘O caso da RCTV foi o primeiro a dividir os chavistas, e não só os políticos, mas a base de apoio do presidente. Muitos que votaram em Chávez se divertiam com novelas e programas da emissora’, diz Reyes.’
TV DIGITAL
TV digital estréia sem interatividade
‘A TV digital corre o risco começar a operar no Brasil, em dezembro, sem a principal novidade em relação à TV comum: a interatividade. Diferentemente da TV analógica, a digital permite acessar a internet e consultar e-mails. Mas o governo tem dúvida sobre a oferta dos novos serviços, por causa do preço.
Uma TV com muitos recursos de interatividade exigiria a produção de aparelhos conversores de analógico para digital complexos e caros. Se for produzido um conversor muito simples, o consumidor acabará gastando mais para trocar de aparelho pouco tempo depois.
Esse foi um ponto sobre o qual os ministros que fazem parte do Comitê de Desenvolvimento da TV Digital não chegaram a um acordo, segundo fonte que participa das discussões. Eles se reuniram na segunda-feira à noite e aprovaram as principais normas técnicas que deverão constar do Sistema Brasileiro de TV Digital.
A idéia é permitir um mínimo de interatividade, como usar o conversor para algumas funções de internet, como acesso a serviços de governo, entre eles os dados da Previdência e a conta do FGTS. Não há, porém, nenhuma decisão sobre o assunto.
Entre as normas aprovadas está a que permitirá ao telespectador gravar programas. O ministro de Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, que integra o comitê, informou ontem que os ministros vetaram a instalação de um bloqueador nos conversores, que impediria a gravação de vídeos. ‘Se é TV aberta, poderá ser gravada por quem receber. Essa é a posição do governo’, disse Rezende, após participar do lançamento da Frente Parlamentar da Tecnologia da Informação.
Segundo ele, é impossível controlar que pela TV digital ou pela internet se baixem arquivos e copiem vídeos para uso pessoal. ‘As pessoas não têm o direito de comercializar nem de reproduzir’, esclareceu.
O ministro das Comunicações, Hélio Costa, que também integra o comitê, já havia se manifestado contra o bloqueador. Ele defende que o controle da pirataria seja feito com base na legislação de direitos autorais. ‘Quem fizer pirataria tem que responder perante a Justiça’, afirmou Costa.
As normas aprovadas devem ser seguidas pelas produtoras de conteúdo e pelos fabricantes de televisores e conversores. Esses aparelhos vão permitir a melhora significativa da imagem, entre outras vantagens. Deficientes auditivos poderão acionar um ícone eletrônico que traduzirá os programas para a Língua Brasileira de Sinais (Libras).’
INTERNET
‘Estado’ fará jornal na versão brasileira do Second Life
‘O jornal O Estado de S.Paulo lança em junho uma publicação no Second Life Brasil, que é a versão em português do ambiente virtual em terceira dimensão que se tornou um fenômeno de popularidade na internet. Com a iniciativa, o Estado torna-se o primeiro jornal brasileiro a produzir e editar um jornal nesse universo virtual.
Batizada de MetaNews, a publicação terá seu conteúdo produzido por avatares contratados pelos jornal. Os avatares são versões de pessoas reais que habitam o universo virtual idealizado pelo programa Second Life.
A estréia do Estado no Second Life, onde várias companhias do mundo real estão criando suas instalações virtuais, é o resultado de uma parceria com a Kaizen Games, responsável pelo Second Life Brasil, sob licença da criadora do programa, a empresa norte-americana Linden Lab.
‘Além de focarmos no rejuvenescimento da marca, estamos levando o Estado para novos patamares tecnológicos’, diz Antônio Hércules Jr., diretor de Marketing e Mercado Leitor do jornal. ‘A idéia não é estar com a marca lá pura e simplesmente. Vamos produzir conteúdo exclusivo com todo o expertise que temos’, diz.
O jornal contará com a colaboração de todos os residentes do Second Life Brasil que queiram enviar matérias, fotos e vídeos. O MetaNews dará destaque para programação cultural, notícias factuais, prestação de serviço e ainda terá o Zap – Classificados on line do Estadão -, com empregos, imóveis e outros anúncios disponíveis no Second Life Brasil.
Para o diretor de Marketing do Second Life Brasil, Emiliano de Castro, o ingresso do jornal O Estado de S. Paulo é um marco. ‘Quando um ícone da imprensa brasileira resolve atuar dentro desse universo virtual, ele traz a garantia de que, ao lado da agilidade e inovação, teremos também a credibilidade e seriedade de um veículo com mais de 100 anos de história.’’
TELEVISÃO
Babá eletrônica
‘Pesquisa divulgada recentemente pelo canal pago Nickelodeon revelou hábitos das crianças diante da televisão e serviu como base para a criação do novo programa Nickers, que estréia na segunda-feira.
O estudo mostra que 94% das crianças acham um programa atraente quando ele tem aventura; e 88% delas gostam quando o programa oferece atrações musicais. Música e aventura são a base de Nickers.
Realizada em parceria com o Instituto Multifocus, a pesquisa ouviu 309 crianças de 8 a 15 anos das classes A e B de São Paulo e Rio. Os dados revelam que as crianças e os jovens passam, em média, mais de três horas por dia em frente da televisão, mas a freqüência é maior durante a semana (78%), ante 72% no sábado e 62% no domingo.
O Cartoon Network também divulgou ontem pesquisa sobre hábitos infantis, mas com foco mais centrado em consumo. Feito pelo departamento de pesquisa da própria Turner, o estudo revelou que a TV é tema de conversa entre 30% dos meninos e 18% das meninas.
Personagens de desenhos animados são bastante admirados por 47% dos meninos ouvidos e 18% das meninas.
entre-linhas
Não é só nas novelas de época que Walcyr Carrasco tem preocupação com seu texto. Em Sete Pecados, próxima novela das 7, ele exige que todos os atores falem exatamente o que escreve.
Muitas vezes a cena tem de ser regravada para mudanças simples. E ninguém reclama. Dizem nos bastidores que quem mudar o texto corre o risco de ficar uma semana sem falar uma só palavra.
O Economia & Negócios, de Fátima Turci na Rede Mulher, passa a contar com uma dica semanal do chef de cozinha Erick Jacquin, do Restaurante La Brasserie. Nada de culinária. O foco é negócio puro: como definir o cardápio, contato com fornecedores, importância da limpeza, seleção de funcionários, o que pedir num jantar de negócios, etc. Estréia hoje, às 21h30.
Sem Caroline Bittencourt, Álvaro Garnero muda da RedeTV! para a Record, onde comandará uma série pouco pretensiosa: os 50 lugares que você precisa conhecer antes de morrer. A estréia está prevista para o dia 23.
Zorro, a novela que estreou anteontem na Record, rendeu 10 pontos de média, ante 8 do SBT no horário e 26 de Eterna Magia, na Globo.
Márcia Peltier volta às câmeras via internet. Há duas semanas, comanda o programa De Salto Alto, via WTN (Web Television Network). Em cena, cultura e comportamento.’
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