Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Omissão é jornalismo?

Assim como na guerra, quando, segundo o senador norte-americano Hiram Johnson, a primeira vítima é a verdade, na batalha política entre o jornal O Globo e o prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia, a maior vítima tem sido o bom jornalismo.

Em duas ocasiões (19/5 e 22/5), em chamadas na 1a página, O Globo destacou uma CPI na Câmara Municipal, baseada em uma série de matérias feitas pelo próprio jornal sobre desordem urbana no Rio.

Com um elevado senso de oportunidade, a CPI convocou líderes comunitários da Rocinha, uma das maiores favelas da cidade, para que estes apresentassem fatos que comprometeriam a administração municipal com o crescimento desordenado daquela favela.

Até aí, nenhum problema. Afinal, este é um dos papéis dos vereadores e a Rocinha tem presença constante no noticiário, tanto pela questão da sua expansão quanto por conta de episódios de violência por causa do tráfico de drogas.

Mas, ao dar destaque aos dois líderes – William de Oliveira (presidente da União Pró-Melhoramentos da Rocinha) e Carlos Costa (presidente da Associação de Moradores do Laboriaux, uma das áreas da Rocinha) –, o jornal omitiu dados importantes sobre eles.

Ignorância ou incompetência

Primeiro, O Globo não informou que, em 9 de janeiro deste ano, William de Oliveira foi condenado a sete anos de prisão, no processo nº 2003.001.123804-0, por conta do artigo 12, § 2º, III, da lei n. 6368/76, conhecida como Lei de Entorpecentes.

Na mesma lógica da omissão, deixou de informar que Carlos Costa é coordenador de Políticas de Segurança Pública do Viva Rio, uma ONG contrária à política do prefeito Cesar Maia, que tem no seu Conselho Diretor o vice-presidente das Organizações Globo, José Roberto Marinho, e os jornalistas do Globo Zuenir Ventura e Mauro Ventura.

Certamente, a divulgação destas informações daria aos leitores uma melhor condição para avaliar a isenção e a imparcialidade dos depoimentos daqueles líderes comunitários.

Se o jornal não sabia, apurou mal; se sabia, e não divulgou, praticou mau jornalismo.

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Jornalista, Rio de Janeiro, RJ