A mídia vive uma crise de personalidade seriíssima, profunda e que deixa marcas em todos nós. A falta de direcionamento dos veículos de comunicação influi diretamente no perfil do leitor, do telespectador, enfim, daquele que procura informação ou entretenimento. Dois ramos completamente ligados, por mais que alguns digam o contrário. Coitados dos intelectualóides que ainda não compreenderam este elo, que ainda não perceberam a importância da televisão como ferramenta de transformação social.
O caso é que os programas de televisão e os veículos de informação impressos caminham de mãos dadas, no que tange ao potencial de persuasão popular. Mas, o que acontece quando estas duas irmãs perdem o foco? Observei por esses dias dois fatos curiosos, os quais me fizeram acreditar que contamos com um grande filão da mídia totalmente cego e correndo a esmo.
Enquanto o Diário de S.Paulo estampa em sua primeira página (28/5/2007) o casamento da cantora Vanessa Camargo, como se fosse o que há de mais relevante a ser informado no jornal, a Rede Globo, por sua vez, exibe no episódio de A Grande Família (dia 24 de maio de 2007) com a Bebel, personagem vivida por Guta Stresser, com uma revista CartaCapital na mão. O que faria a Bebel lendo a CartaCapital? Será que a personagem vai mudar de estilo? Sem preconceito, mas a Bebel não tem o perfil de uma leitora desta revista – ela é a cara da Contigo, Nova e afins.
Banalizar a informação
A mídia está cega, pois não sabe em que ponto atacar, e acaba subestimando a capacidade do receptor. Está correndo a esmo porque se afoba na ânsia de produzir o máximo de informações no menor espaço de tempo, alimentando, cada vez mais, a pressa característica da sociedade pós-moderna. Vejam que estas são apenas duas provas da cegueira, que fica mais evidente quando olhamos para o cenário nacional. As pessoas não assumem um posicionamento firme perante as situações.
Na política, acompanhamos a total ausência de ideologia partidária. Os jovens, não sabem mais opinar, nem lutar por seus direitos. Onde estarão as lideranças estudantis, que já fizeram tanta diferença por aqui e ainda fazem nos países vizinhos? Posso citar o exemplo do Chile, onde, em meados de 2006, estudantes secundaristas se amotinaram nos colégios para exigir um ensino de melhor qualidade. Agora o que se vê no Brasil são estudantes da USP iniciarem um movimento por uma causa justa, em prol do bem comum, e serem sufocados por funcionários em busca de aumento salarial, em benefício próprio.
O povo é o reflexo do que vê, do que recebe como verdade. Por isso, precisamos de reais formadores de opinião, e não de formadores das opiniões ‘reais’. Para construirmos uma sociedade mais sensata e sensível. Chega de banalizar a informação com o único objetivo de formar um público banana.
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Jornalista, São Caetano do Sul, SP