Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Verdades omitidas, informação manipulada

Como já era de se esperar, a mídia conservadora e políticos da mesma linha ideológica desancaram a decisão tomada pelo governo venezuelano de não renovar a concessão da Rádio Caracas Televisão (RCTV). O presidente Hugo Chávez, a quem o conservadorismo nutre ódio como há muito não se via em relação a um dirigente latino-americano, já havia anunciado, no final do ano passado, que a concessão não seria renovada.

O noticiário em torno da questão tem sido totalmente deturpado. O governo bolivariano não fechou a RCTV, que pode continuar operando como TV a cabo ou por satélite, mas simplesmente não renovou a concessão do canal, fato absolutamente normal, já que o espectro rádio-eletrônico é um bem público e não privado.

O público brasileiro não foi informado sobre episódios da mesma natureza ocorridos em outros países. Recentemente, o escritor britânico Tariq Ali assinalou que, na gestão da então primeira-ministra Margaret Thatcher, não foram renovadas concessões de canais de TV e ninguém se escandalizou por isso. Na Espanha, segundo o jornalista espanhol Pascual Serrano, o governo decidiu não outorgar a concessão de canal aberto a Onda Cero, liderado pelo empresário Luis del Olmo. O mundo também não veio abaixo por causa disso, nem o governo espanhol foi considerado autoritário na ocasião.

79 de 81 canais são privados

O jornal espanhol Diagonal contabilizou 236 fechamentos, revogações e não renovações de canais de rádio e televisão em 21 países do mundo, inclusive Estados Unidos e da União Européia. O mundo não se indignou por causa disso.

A mídia conservadora preferiu seguir as recomendações da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), a mesma entidade que, por ocasião da tentativa de golpe contra Chávez em abril de 2002, silenciou totalmente quando durante 47 horas a direita impediu a transmissão de estações de TV e rádio que não apoiavam o golpe liderado pelo empresário Pedro Carmona.

No mundo político, o senador José Sarney, um dos big-shots da mídia no Maranhão, onde representa a Rede Globo e construiu um verdadeiro monopólio da imprensa com polpudas verbas públicas, fez duras críticas ao governo Chávez, acusando-o de atentar contra a liberdade de expressão. Este político – que já presidiu o Brasil por cinco anos – e os colunistas de sempre, que confundem liberdade de expressão com liberdade de empresa, omitiram a informação de que 79 dos 81 canais de televisão em toda a Venezuela pertencem à iniciativa privada e ainda que 706 das 709 emissoras de rádio são de propriedade privadas, o mesmo acontecendo com as 118 publicações impressas.

Tentativa de desestabilizar

O proprietário da RCTV, Marcel Granier – que hoje posa de coitadinho – foi o mesmo que em abril de 2002 ordenou aos jornalistas que silenciassem em relação a Chávez e integrantes do seu governo, segundo revelou o então diretor de produção da emissora, Andrés Izarra, que se demitiu do cargo por discordar do apoio da RCTV ao golpe.

A mídia conservadora preferiu também não lembrar que a RCTV já tinha sofrido sanções em 1976, quando foi tirada do ar por três dias por veicular notícias falsas; que em 1980 ficou 36 horas fora do ar por causa de sua programação sensacionalista; que em 1981 foram 24 horas de penalidade por exibir cenas pornográficas em horário inadequado; que em 1989 foram mais 24 horas fora do ar por ferir a lei ao veicular publicidade de cigarro; e em 1991 teve um de seus programas humorísticos tirados do ar pela Corte Suprema por ridicularizar as pessoas.

A mídia conservadora latino-americana, portanto, preferiu apoiar mais uma tentativa de desestabilizar um governo democrático eleito pelo povo a informar sem manipulação.

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Jornalista, conselheiro da ABI