Thursday, 19 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Mídia é fera que despedaça
pessoas, diz Tony Blair


Leia abaixo os textos de quarta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Quarta-feira, 13 de junho de 2007


INGLATERRA
Folha de S. Paulo


Blair compara mídia a feras que ‘despedaçam pessoas’


‘O premiê do Reino Unido, Tony Blair, atacou ontem a mídia de seu país, em um discurso que fez para jornalistas da agência Reuters, em Londres. Segundo Blair, que deixará seu cargo em duas semanas, os meios de comunicação britânicos comportam-se como ‘bestas selvagens’, que ‘fazem pessoas e reputações em pedaços’.


Mas Blair não culpou inteiramente os jornalistas por esse comportamento; segundo o premiê, ele é provocado pela competição imposta pelos sites e os canais de notícias 24 horas. ‘O medo de perder algo significa que a mídia hoje, mais do que nunca, caça em bando.’


Para o primeiro-ministro, os jornalistas são cada vez mais ‘conduzidos pelo impacto’. Isso, disse, está fazendo cair o padrão do noticiário e ‘prestando um desserviço ao público’. Em conseqüência, prosseguiu, a ‘autoconfiança do país’ é prejudicada, o que ‘reduz nossa capacidade de tomar decisões’.


Relação complicada


Tony Blair sempre teve uma relação complicada com a imprensa, e ela piorou depois que o Reino Unido apoiou a invasão do Iraque, em 2003. Em seus dez anos no poder, completados em maio passado, o premiê se aproximou do empresário Rupert Murdoch, proprietário da News Corporation, que tem entre suas marcas o tablóide britânico ‘Sun’ e que costuma impor um jornalismo partidarizado aos seus meios.


Blair também formou uma equipe de assessores para a prática do ‘spin’ -a introdução no noticiário de versões favoráveis ao premiê. O mais famoso deles foi seu ex-diretor de Comunicações Alastair Campbell, que renunciou em 2003 depois da controvérsia em que o governo foi acusado de exagerar um dossiê sobre supostas armas de destruição em massa desenvolvidas pelo regime de Saddam Hussein.


No discurso de ontem, Blair não citou o Iraque, mas admitiu ter contribuído para o fato de a cobertura política da imprensa britânica ter, segundo ele, ‘piorado a olhos vistos’ nos últimos dez anos: ‘Nós demos uma atenção incomum (…) ao cortejo e ao assédio à mídia’.


O premiê, no entanto, disse que tal atitude deveu-se à ‘hostilidade’ da imprensa ao seu Partido Trabalhista quando este ainda estava na oposição, até 1997. O premiê criticou ainda o que vê como uma tendência de alguns veículos de não diferenciar notícias de opiniões. Ele apontou o jornal ‘Independent’ como exemplo.


No discurso, Blair sugeriu que o sistema de regulação da imprensa britânica seja alterado, uma vez que nem todos os veículos de comunicação se enquadram mais nas categorias de jornais ou emissoras de TV. Atualmente, no Reino Unido, a TV e o rádio têm seu órgão regulamentador, o Ofcom, e os jornais são regulados pela Comissão de Reclamações da Imprensa. Ambos são independentes do governo.


Reação


Para a oposição, foi a conduta do premiê que provocou a deterioração da relação entre os políticos e a imprensa no Reino Unido. ‘Uma análise mais justa indicaria a própria cultura de ‘dourar a pílula’ do premiê’ como responsável por essa deterioração, disse o parlamentar Don Foster, do Partido Liberal Democrata.


Simon Kelner, editor-chefe do ‘Independent’, disse que o ataque de Blair ao jornal foi um atestado da posição antiguerra que o veículo adotou desde a invasão do Iraque. ‘Ele estava errado, e nós certos’, afirmou Kelner, que considerou a crítica feita por Tony Blair um tipo de ‘medalha de honra’.


Em editorial intitulado ‘Sermão correto, pregador errado’, o jornal de esquerda ‘The Guardian’ disse que Blair estava certo ao apontar ‘algumas das piores características do jornalismo britânico hoje’, mas que ele se esqueceu de citar pontos positivos como a BCC, ‘a melhor organização jornalística do mundo’. O jornal também rejeitou ‘qualquer tentativa de colocar a imprensa sob um regulamento’.


Com agências internacionais, o ‘New York Times’ e o ‘Independent’’


INTERNET
Editorial


Crimes na rede


‘É CORRETA a preocupação do Congresso de criar uma legislação que permita combater melhor os delitos cometidos através da internet. O substitutivo do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) -prestes a entrar em audiência pública- que tipifica crimes virtuais até que melhorou, após ter sido despojado de alguns desatinos. Permanece, porém, uma peça inadequada, com erros conceituais e exigências desproporcionais.


Entre os itens oportunamente descartados destaca-se o cadastramento obrigatório dos usuários de internet. Num país com cerca de 30 milhões de pessoas que acessam a rede, seria inexeqüível confirmar a autenticidade dos dados cadastrais de todos, como o projeto previa.


Lamentavelmente, porém, nem todas as impropriedades foram retiradas. O substitutivo ainda exige que os provedores atuem como policiais, monitorando os passos digitais de seus clientes e denunciando às autoridades movimentações suspeitas. Determina, também, que guardem os registros das conexões realizadas por seus equipamentos pelo prazo de três anos. Tais medidas quase certamente acarretariam aumento de custos, a ser repassado para o usuário.


No plano conceitual, o texto comete o equívoco de equiparar dados eletrônicos, que podem incluir fluxos de informações efêmeras como conversações telefônicas, à noção jurídica de coisa. As implicações dessa pequena ‘revolução’ sobre o Direito ainda não estão de todo claras.


É o caso mesmo de perguntar se os parlamentares não estão colocando o carro na frente dos bois. Antes de elaborar uma legislação penal para a internet talvez fosse mais lógico e mais produtivo definir os marcos regulatórios do setor.


Não há muita dúvida de que a importante tarefa de fixar os delitos cibernéticos ficaria bem mais fácil depois que as regras relativas à responsabilidade de empresas e usuários já estivessem claramente estabelecidas e testadas pela prática jurídica. Pelo menos foi assim que fizeram os países desenvolvidos.’


PUBLICIDADE
Ruy Castro


Brinde ao sofisma


‘No mundo encantado dos comerciais vigiados pelo Conar (Conselho de Auto-Regulamentação Publicitária), beber cerveja é uma das grandes experiências ao alcance do homem. É a garantia de uma eterna ‘joie de vivre’, de viver cercado de amigos (mas apenas dos que tomam a mesma marca) e de ter acesso a mulheres fabulosas em praias idem, mesmo que de estúdio.


Segundo a auto-regulamentação cometida, digo, praticada pelo Conar, beber cerveja é pouco mais do que beber Crush ou Grapette. Ou seja, não é ‘álcool’. O fato de médicos e psiquiatras garantirem que duas latas de 350 mililitros de cerveja equivalem em conteúdo alcoólico a uma dose padrão de 50 mililitros de vodca ou uísque não comove os auto-regulamentadores. Um publicitário paulista já decretou que ‘não tem nada a ver’.


O Conar, para mostrar que se preocupa com a saúde da população, afirma que, nos anúncios de cerveja, de algum tempo para cá, os modelos têm de ‘aparentar mais de 25 anos’ e ‘foram banidos os bonecos e bichinhos, elementos do universo infantil’. Quer dizer que, até o Conar entrar no caso, o que levou anos, milhões de crianças brasileiras ficaram expostas de propósito a essa propaganda subliminar?


A proposta da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) de tirar do ar os comerciais de cerveja entre 8h e 20h é tímida. Deveria se estender até às 24h. Mesmo assim, tem contra si as cervejeiras, as agências de propaganda, as TVs, o Zeca Pagodinho, os desinformados sobre alcoolismo e o Conar. Este último, em nome de um sofisma em legalês, acusa a medida de inconstitucional e diz que o fórum para resolver o caso é o Congresso.


Onde os brindes (com champanhe) já estão sendo preparados, no caso de vitória dos barões da cerveja sobre a responsabilidade social.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Estudantes e partidos


‘Na home do G1, ‘em carta, ocupantes da USP negam vínculo com partidos’. Era resposta ao governador e à manchete de ‘O Estado de S. Paulo’ de domingo, ‘partidos de extrema esquerda controlam ocupação’. Na carta, falam em ‘incapacidade de alguns setores de conceber outras formas de organização que não as tradicionais’ e acusam a ‘mídia’ de buscar ‘esvaziar, deslegitimar’ sua ação. E usam argumento curioso:


– Se os partidos encabeçassem, teríamos pautas únicas e negociáveis. E temos pautas confusas.


A questão não é a única a mobilizar a ocupação, cujo blog destaca o Encontro Nacional de Estudantes, ‘na reitoria ocupada’, sábado. O site Vermelho, do PC do B que se opôs à ocupação, já previa ontem nova vitória no Congresso da UNE, ‘faltando menos de um mês’.


UMA MULHER


O ‘JN’ segue no ar com sua teledramaturgia de grampo. Ontem foi a conversa do irmão de Lula ‘com uma mulher ainda não-identificada’, mas que cobra, ‘Vavá, tu vai falar com ele quando?’. E ele enrola.


BUSH LIGOU


Em meio aos capítulos do grampo de Vavá, George W. Bush ‘falou com Lula pelo telefone por 20 minutos’, noticiam BBC Brasil e outros.


O americano afirmou ser ‘favorável a que o G8 inclua de maneira mais efetiva’ o G5. E avaliou que ‘algumas concessões adicionais, de todas as partes, já seriam suficientes’ para fechar Doha.


NEODIPLOMACIA


No ‘Wall Street Journal’, ‘Bush corteja América Latina com plano para empréstimos bancários’. O secretário do Tesouro, que vem em julho, separou para o tal programa até US$ 150 milhões, ‘para ajudar banco que empreste para pequenas empresas’.


É resposta, avalia o ‘WSJ’, ao ‘populismo anticapitalista em alta na América Latina’.


‘BESTA-FERA’


Em manchete ontem no site do ‘Guardian’, ‘Blair ataca a mídia ‘feroz’. O primeiro-ministro, em um de seus últimos discursos no cargo, para a redação da Reuters, questionou a mídia como ‘besta-fera fazendo pessoas e reputações em pedaços’. Citou como modelo da mistura de opinião e notícia, sinal da suposta crise na mídia, o ‘Independent’. Que respondeu com ironia, na submanchete de seu site, ‘Ataque de Blair é ‘uma medalha de honra’. Mas não poucos, a começar de um artigo no ‘Guardian’, tomaram a sério os argumentos -que alertam sobretudo para a fragmentação da mídia.


MAIS E MAIS PF


Enquanto Lula reclama do delegado de Campo Grande, ontem no ‘Jornal da Record’ e demais, a Polícia Federal avança mais pela cobertura.


No site de tecnologia IDG Now, do UOL, a manchete de ontem era o podcast de uma entrevista gravada com um delegado da PF que ‘combate o crime on-line’. E que, em dois anos, ‘já prendeu 600’.


FLICKR AQUI


Na Folha Online e ao longo do dia na cobertura global de tecnologia, o anúncio de que o Flickr, site para compartilhar fotos, espécie de YouTube de imagens fixas, decidiu sair em outras línguas, inclusive para o Brasil, onde já contabiliza 335 mil visitantes mensais.


A idéia do site, criado no Canadá e hoje do Yahoo, seria dobrar seus números no país.


UM BILHÃO E SUBINDO


Em sites de tecnologia tipo ComputerWorld e Slashdot, de edição compartilhada, a atenção se voltou ontem para relatório da consultoria Forrester, prevendo que em 2008 o total de computadores pessoais vai atingir um bilhão.


A explicação, como destacaram os citados, as agências e blogs sem fim, eles que deram antes a notícia, seriam os Brics, Brasil, Rússia, Índia e China. Até 2015, eles devem acrescer 775 milhões de computadores à conta mundial.’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Até Silvio Santos diminui anúncios no SBT


‘Na contramão de todas as redes de televisão do país, o SBT registrou queda nas vendas de anúncios em 2006. Balanço contábil publicado na última sexta-feira revela que até as empresas do Grupo Silvio Santos reduziram os gastos com publicidade na emissora.


Prejudicado pela concorrência da Record, pela queda de audiência e por uma crise em seu departamento comercial, o SBT vendeu 4,8% menos em 2006 do que em 2005, sem considerar a inflação. A receita líquida com publicidade somou R$ 641,6 milhões (R$ 673,6 milhões em 2005). O faturamento bruto foi de R$ 673,5 milhões, contra R$ 6,3 bilhões da Globo (também publicado em balanço) e R$ 1 bilhão da Record (valor declarado, não publicado).


O SBT registrou queda de vendas não apenas para ‘terceiros’ (os anunciantes em geral) mas também para as ‘partes relacionadas’. Em 2006, Liderança, Banco Panamericano e Baú deram à emissora uma receita de R$ 49,2 milhões, R$ 8 milhões a menos do que em 2005. Apesar da queda nas receitas, o SBT teve lucro de R$ 10,6 milhões, contra R$ 58 milhões em 2005 _uma redução de mais de 80%.


Em 2006, o SBT ainda era vice-líder de audiência na média do dia. Só em março de 2007 foi ultrapassado pela Record. A vantagem da Record se dá principalmente no horário nobre (o de maior faturamento). O SBT ainda é vice de manhã e à tarde.


PAREDÃO 1 No capítulo de ‘Paraíso Tropical’ do dia 29, Jáder (Chico Diaz) irá convidar a desiludida, desempregada e endividada Joana (Fernanda Machado) para trabalhar como prostituta. A moça, inicialmente, recusará.


PAREDÃO 2 A abordagem a Joana servirá de ‘gancho’ para mostrar que existe um passado comum entre o cafetão e Neli (Beth Goulart). A mãe da moça reconhecerá Jáder e ficará nervosa.


TUDO A VER Tema de longa ‘reportagem’ do vespertino ‘A Casa É Sua’ (Rede TV!), anteontem: ‘Amores Famosos que Foram Interrompidos pela Morte’. Com imagens de romances ‘quentíssimos’, como o dos atores Daniela Perez (assassinada em 1992) e Raul Gazolla.


PACOTE O ministro Hélio Costa (Comunicações) abriu no ‘Diário Oficial’ da União de ontem processos de consulta pública para nove novas retransmissoras de TV no país.


TRANSIÇÃO Os acionistas da Net e da Vivax aprovaram anteontem o processo de fusão das duas operadoras. No próximo dia 18, será anunciado o processo de transição dos assinantes da Vivax, que trocarão a programação da Neo Brasil (alinhada à TVA) pela da Net.


RESSALVA O estudo da PTS, publicado ontem nesta coluna, que projeta a Net/Vivax detentora de 51% dos assinantes de TV paga em 2012 não considera o impacto da aquisição da TVA pela Telefônica, ainda pendente.’


CRÔNICA
Marcelo Coelho


Votecristo.com.br


‘SER RABUGENTO é um espécie de deformação profissional entre os críticos e os cronistas. Gostaria de evitar, mas não prometo nada, porque o assunto de hoje tem forte potencial ‘resmungogênico’.


Falo dessa votação das Novas Sete Maravilhas do Mundo, que mobiliza uma formidável multidão de internautas: em maio, já eram 45 milhões de eleitores. O Brasil está na parada.


O Cristo Redentor é um dos finalistas da competição, com chances de suplantar a Muralha da China, Macchu Picchu e o Taj Mahal.


Fico naturalmente surpreso. Cristo Redentor? Pensava que o nosso candidato era o Maracanã. Em todo caso, os apelos e mobilizações da torcida verde-amarela crescem na reta final. Quem quiser dar uma força pode acessar o site www.new7wonders.com. Ou o www.votecristo.com.br, todinho em português. O resultado será conhecido em cerimônia em Lisboa, em 7 de julho (07/07/07, como já terá percebido o bom entendedor). Além de votar, contribuindo para que o afluxo de turistas internacionais ao Rio cresça de modo significativo (mesmo após o Pan), você pode engajar-se mais seriamente no projeto.


Há uma ‘canção oficial’ da promoção, a ser baixada no computador, camisetas promocionais e distintivos para enganchar na camiseta. A coleção completa dos distintivos, com imagens dos 21 concorrentes, está à venda por US$ 99,95.


Corra, porque só existem 7.777 exemplares autênticos.


A conta, dirão os mais céticos, é de mentiroso. Mas a iniciativa, que conta com o apoio da Unesco, parece ter boas intenções, ou pelo menos 50% de boas intenções: metade do lucro obtido irá para fundos de preservação do patrimônio histórico internacional.


Quem está ganhando? O site deixou de divulgar o ranking, com a alegação de que a massa de votos tem sido enorme nos últimos dias, acarretando flutuações súbitas no cômputo geral. Prefiro acreditar que eles estão mantendo o suspense para que não se esvazie a cerimônia da premiação; há ingressos à venda para assisti-la ao vivo.


O Cristo Redentor não é um azarão: há escolhas menos justificáveis, a meu ver, como a Ópera de Sydney, e talvez menos conhecidas, como o Templo Kiyomizu de Kyoto. Pelos critérios oficiais, o que se deve premiar é o valor de cada construção, não a paisagem que a rodeia. Mas nós, brasileiros, somos muitos, e temos mais a ganhar: a Torre Eiffel, o Coliseu ou a Estátua da Liberdade não precisam da lista para receber mais visitantes.


‘O seu voto conta!’, proclama o site. ‘Participe na evolução da história mundial…’ Lendo frases do tipo, lembro a frase do empresário circense P.T. Barnum, segundo a qual nasce um otário a cada minuto. Mas a questão aqui não é a de ser otário: ninguém está sendo enganado (espero) nesse concurso. Talvez, desculpem-me os entusiastas do projeto, o que me irrite seja o seu componente de babaquice.


O termo é pesado, mas não encontro equivalente para um tipo de atitude que se alastra em toda parte. Antigamente, dizia-se ‘eram coisa de americano’: animadoras de torcida, chapéus palheta com as cores da bandeira em convenções do Partido Republicano, adesivos do tipo ‘Eu participei da Festa do Amendoim de Tuscaloosa’, a parada oficial da Disneylândia…


Um mundo em que o comercialismo deslavado parecia não ter medo de ser feliz, e em que todo banqueiro cantava ao ir para o trabalho como se fosse um anãozinho da Branca de Neve. ‘Shrek’, aliás, representou um saudável antídoto de ironia a esse espírito de conto de fadas que, sem dúvida, associávamos à mentalidade americana.


Mas essa atitude ‘construtiva’, essa militância na inocuidade, toma conta de tudo: frases edificantes e conclamações em cor-de-rosa estão presentes nas palestras com PowerPoint, nas contas de luz, no ‘obrigado por ligar’ dos serviços de atendimento eletrônico, nos Dias Mundiais Disso ou Daquilo, nos abraços coletivos em defesa do amor e do planeta; a babaquice triunfa, de George W. Bush a Galvão Bueno, de Davos à favela da Rocinha.


Mas seria injusto falar só de babaquice. Nessas promoções interativas de internet, existe sem dúvida uma vontade autêntica de participar de alguma coisa. Apesar das patriotadas que contém, um movimento como o das sete maravilhas traz a ilusão, ou a esperança, de que todos nós sejamos de fato cidadãos do mundo. A vontade é autêntica; pena que o resto não.’


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O Estado de S. Paulo


Quarta-feira, 13 de junho de 2007


JORNALISMO & VIOLÊNCIA
O Estado de S. Paulo


ANJ discute cobertura de segurança pública


‘Diretores, editores, colunistas e repórteres dos principais jornais do Brasil se reuniram ontem no auditório do Estado para discutir cobertura de segurança pública. Promovido pela Associação Nacional de Jornais (ANJ), o encontro abordou de discussões éticas presentes no dia-a-dia dos veículos, como noticiar ou não seqüestros, até dificuldades presentes em grandes coberturas, como a do caso João Hélio, no Rio, do furto do Banco Central, em Fortaleza, e dos ataques do Primeiro Comando da Capital (PCC), em São Paulo.


Jornalistas também levantaram riscos que ameaçam as equipes de reportagem em áreas de conflito entre polícia e traficantes e debateram questões éticas e jurídicas com o diretor do Master em Jornalismo, Carlos Alberto Di Franco, e o jurista Manuel Alceu Affonso Ferreira. Por videoconferência, a jornalista americana Barbara Walsh, vencedora do Prêmio Pulitzer, falou sobre o que os jornais podem fazer para reduzir a criminalidade e respondeu a perguntas.


Para Marcelo Rech, diretor do Comitê Editorial da ANJ e da redação do jornal Zero Hora, o debate foi importante pois, pela primeira vez, editores de grandes veículos se juntaram para trocar experiências e discutir maneiras de ajudar a estancar a violência.


‘Jornais são ponta de lança na identificação de tendências e, como na política e na economia, vamos ter de avançar na qualificação da cobertura’, disse. ‘O problema da violência ficou muito grande para ser tratado crime a crime. É preciso ter uma cobertura de alta densidade também na segurança.’’


DOW JONES À VENDA
O Estado de S. Paulo


Murdoch recebe as regras da Dow Jones


‘A família Bancroft, controladora do grupo Dow Jones – que edita o Wall Street Journal -, enviou ao magnata Rupert Murdoch uma carta na qual estabelece de que forma ela quer que a independência editorial do jornal seja mantida se o empresário comprar o grupo. Segundo o jornal britânico The Guardian, membros da família passaram o fim de semana ordenando seus pensamentos sobre de que forma salvaguardar a integridade do jornal na eventualidade de Murdoch ter sucesso na oferta de US$ 5 bilhões pela Dow Jones.


Na semana passada, Murdoch se reuniu com os Bancroft pela primeira vez. Por enquanto, não foram programadas novas discussões, mas acredita-se que Murdoch queira voltar à mesa de negociações.


Segundo o Guardian, é compreensível que os Bancroft não tenham pressa em começar as negociações em torno do preço de uma aquisição antes que as salvaguardas da sua independência editorial sejam asseguradas. Murdoch, por sua vez, tem repetidas vezes procurado garantir aos proprietários do Wall Street Journal que está comprometido com a manutenção da independência editorial do jornal e já propôs um conselho editorial autônomo no mesmo estilo daquele que ele criou no Times e no Sunday Times.


Os Bancroft, que controlam cerca de dois terços dos direitos de voto na Dow Jones, estão ansiosos para garantir que qualquer solução seja verdadeiramente aplicada e querem também a segurança de que a equipe editorial do jornal terá voz ativa no conselho. Eles estão preocupados que a estrutura do Times não impeça Murdoch de interferir no assuntos editoriais do jornal, segundo fontes citadas no próprio Wall Street Journal.


As preocupações da família encontraram eco entre os funcionários da Dow Jones. O sindicato que os representa resolveu buscar alternativas à oferta de Murdoch e afirmou já contar com o apoio do bilionário americano Ron Burke. O sindicato também recorreu ao bilionário Warren Buffett.


Brian Tierney, o proprietário do Philadelphia Inquirer, também disse que talvez participe de um consórcio se a Dow Jones se abrir a um processo de leilão oficial.’


INTERNET
O Estado de S. Paulo


MP pode pedir retirada de páginas do Orkut


‘Procuradores-gerais de Justiça de todo o País aprovaram convênio com a empresa americana Google Inc. para combater crimes cometidos no site de relacionamentos Orkut. O Ministério Público poderá vasculhar e até pedir a retirada de páginas do ar, sem determinação judicial.’


MERCADO EDITORIAL
Jotabê Medeiros


O livro mais caro


‘A editora está inativa, os telefones da empresa são ‘para contato’, o endereço é fictício, a idéia parece mais adequada a um programa pedagógico. Mas, ainda assim, o projeto Livro-Agenda Cultural Brasileira recebeu sinal verde da Comissão Nacional de Incentivo à Cultura (CNIC) para captar R$ 8.323.170,00, por meio de renúncia fiscal (tinha requisitado R$ 9.223.820,00, quase duas vezes mais do que foi destinado para a lei de incentivo do município de São Paulo no ano de 2006, R$ 5.980.280,51).


O projeto, que é o mais caro da área de Humanidades – Edição de Livros do Ministério da Cultura, até agora não captou nada para se realizar. Seus proponentes, os produtores Elio Maccaferri e Denei Lima e o artista gráfico Luiz Gouveia, não cometeram qualquer irregularidade, mas chama a atenção a desproporção de critérios utilizados para habilitar um projeto dessa natureza a utilizar um volume tão grande de recursos públicos.


Primeiro, porque o alcance do projeto – caso os produtores tivessem realmente condições de levá-lo adiante – é primordialmente didático e social (trata-se de uma agenda ilustrada, com uma versão online), e as colaborações previstas dependem inteiramente do volume de recursos que poderiam ser levantados.


‘A agenda é muito linda, feita em papel reciclável. E é muito cara, tem todo o custo de distribuição’, explicou Elio Maccaferri, que planejava distribuir 1,5 milhão de exemplares do produto nas escolas estaduais de São Paulo – segundo ele, há até uma carta de intenção da Secretaria de Estado da Cultura (teria sido assinada pelo ex-secretário Gabriel Chalita, na gestão Geraldo Alckmin) demonstrando interesse no projeto.


A empresa Decoli Publicações e Marketing, que apresentou o projeto ao MinC, ‘depende desse projeto para se tornar operacional’, segundo afirmou o produtor. ‘Ela está stand by (em espera)’, afirmou Maccaferri. O telefone que consta do projeto aprovado no MinC para conseguir o aval de captação é de uma incorporadora imobiliária, onde os dois produtores trabalharam anteriormente.


‘Eu desenvolvi a proposta pedagógica. É um projeto também de natureza cultural porque, a cada dia do ano, a agenda faz referência a um fato histórico, a um artista plástico, os grandes eventos culturais. É um ícone, ocuparia um espaço que ninguém ocupou’, defende o produtor.


Segundo Marco Acco, secretário de Incentivo e Fomento à Cultura do Ministério da Cultura, a empresa teve o projeto aprovado porque preencheu todos os requisitos técnicos. ‘Todas as situações jurídicas e legais estão em ordem’, disse. Ele também não acha disparatado, inicialmente, o valor do projeto. Diz que todas as tiragens de livros propostos ao MinC são ‘diminutas’, entre 2 e 4 mil exemplares, e que o País tem 100 milhões de leitores, o que referenda vôos maiores.


O Ministério da Cultura informou que a Comissão Nacional de Incentivo à Cultura (CNIC) foi mudada recentemente. E que os conselheiros, especialmente na área de Humanidades, por conta de ‘fragilidades’ na avaliação de projetos, foram trocados. Segundo o secretário Marco Acco, de agora em diante será ‘muito difícil’ que um caso como esse tenha aprovação do Ministério.


‘Eu não aprovaria esse projeto por uma razão protocolar: a empresa que propôs não tem nenhuma atuação na área cultural. Não tem tradição no mercado, não publicou obras que demonstram competência editorial’, diz Marino Lobello, que integra há 9 meses a nova CNIC na área de Humanidades. ‘Mas, de qualquer modo, nós não podemos avaliar algo dizendo apenas: ‘Ah, mas isso não é cultura’. A gente não pode fazer isso, seria entrar numa discussão do conceito filosófico de cultura.’’


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Livro-agenda obriga o MinC a mudar


‘O livro-agenda de R$ 8,3 milhões (cuja captação de recursos ainda não se efetivou) incorpora-se aos mais ruidosos casos da política cultural federal dos últimos anos. Os exemplos são o patrocínio de quantia quase igual à da turnê do canadense Cirque du Soleil (cerca de R$ 8 milhões), revelada pelo Estado em 24 de abril de 2006; a utilização da Lei Rouanet para cobrir despesas de turnês e gravação de CDs e DVDs por recordistas de vendas de discos no País, também revelada pelo jornal; além de casos mais remotos, como os financiamentos aos filmes O Guarani, de Norma Bengell, e Chatô, o Rei do Brasil, de Guilherme Fontes.


Para Marco Acco, secretário de Incentivo e Fomento à Cultura do MinC, de todos esses, o caso Fontes foi o mais exemplar, pois forçou o setor de Audiovisual do Ministério da Cultura a criar uma série de inovações na área de exame e aprovação de projetos, criando tetos específicos para cineastas experientes e iniciantes. Guilherme Fontes jamais tinha feito um filme, e hoje, por decisão judicial, se vê obrigado a ressarcir cerca de R$ 30 milhões aos cofres públicos.


‘Tenho certeza de que teremos agora de adotar inovações dessa natureza, que já começamos a instituir’, ele diz, citando o caso da criação do Cadastro Geral de Proponentes Culturais. Por meio desse sistema, são dispostos publicamente dados dos produtores e empresas culturais que apresentam projetos.


Acco diz que a orientação agora, no MinC, é criar mecanismos para que a estrutura da pasta, reduzida, tenha condições de acompanhar a condução de um processo. ‘No caso desse livro, ajudaria se pudéssemos conduzir de forma mais precavida, com autorização por etapas, examinando provas do livro, por exemplo. Seria um modo mais conveniente. Mas, naquela época (2005), a comissão entendeu que deveria aprová-lo.’


Acco cita o pensador político italiano Norberto Bobbio para analisar a questão. ‘Bobbio dizia que os maus meios subvertem os fins mais sublimes. Às vezes a gente só pensa na boa finalidade de algo e não se preocupa com os meios’, disse. Para que os ‘fins mais sublimes’ não sejam corrompidos, o secretário anunciou novas determinações às equipes de avaliação de projetos. Por exemplo: agora, os conselheiros indicam, já na aprovação, os projetos que poderão apresentar algum tipo de problema na execução. Isso otimiza os esforços de acompanhamento.


Ele considera que um processo de reforma da lei deveria incorporar todas essas novas questões e aumentar a capacidade de fiscalização do incentivo cultural. ‘Um passo importante será na ativação do Sistema Nacional de Cultura, que fará com que o acompanhamento seja feito também por Estados e prefeituras’, diz.


O novo modelo de fiscalização possibilitaria um salto no sistema de informações do MinC. Exemplo citado por Acco: se um centro cultural do interior do País usa verba pública para uma obra e comunica que 95% da execução já foi feita, o ministério demoraria muito para enviar alguém para checar isso. Com a participação da prefeitura local, essa informação chegaria mais rápido e com acuidade. ‘É um outro modelo que vai ajudar a diminuir as brechas dessa lei que cumpre papel relevante, e por isso temos de zelar por ela’, afirma.


As posições do secretário tornam-se polêmicas quando ele trata da questão dos institutos culturais, objeto de mudanças na legislação no ano passado – os institutos estavam usando verba da Lei Rouanet até para pagar despesas de manutenção de seus prédios. Ele é partidário da idéia que os institutos possam utilizar até 100% do benefício fiscal. ‘Defendo radicalmente que, numa política pública, uma empresa privada possa ser agente de realocação de recursos incentivados’, diz Acco. ‘Se um instituto apresenta um projeto de edital, com regras públicas, me parece que é meritório. Se a gente pactuar, estamos fazendo política pública. Aí, não interessa se é o MinC ou uma empresa. É um agente a mais. Não queremos burocratizar ou virar uma supermáquina burocrática.’’


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Calil torna-se ‘carrasco’ da Lei Mendonça em São Paulo


‘De um lado, problemas com vazamentos na ‘torneira’ do incentivo cultural. É o caso da Lei Rouanet. De outro, total indisposição para com o mecanismo. É o caso da Prefeitura de São Paulo.


Desde que assumiu a Secretaria Municipal de Cultura, Carlos Augusto Calil tornou-se o carrasco daquela que já foi a mais copiada lei de incentivo à cultura do País, a Lei Mendonça. Calil não esconde que não gosta das leis – mas também não dispõe de nenhum mecanismo que as substituam. De R$ 36 milhões investidos em 2003, ano mais fértil da legislação, o valor destinado pela Prefeitura para o apoio incentivado a projetos caiu para R$ 8.669.623,73 em 2004 e R$ 4.789.047,55 no ano passado (2005 não teve nem sequer dotação).


Calil justifica sua posição com os antiexemplos da Lei Rouanet: ‘Em contraponto à crescente limitação de recursos orçamentários, consagrou-se uma enorme liberalidade com o uso do dinheiro público pela iniciativa privada’, diz. Ele enumera os ‘incontáveis’ exemplos de distorções: ‘Empresas que se valiam da renúncia fiscal para financiar seus próprios institutos culturais; shows em hotéis de luxo com ingressos a preços proibitivos, pagos com incentivo; filmes realizados com recursos públicos municipais, mas rodados em outros Estados.’


Um rápido exame nas propostas à Lei Mendonça, no site da Prefeitura, mostra que a palavra mais utilizada nas planilhas é ‘indeferido’. Segundo Calil, desde que assumiu, sua preocupação tem sido barrar ‘projetos irrelevantes’ para a cidade. O secretário diz que vai passar a contar com um novo sistema, o Fundo de Especial de Promoção de Atividades Culturais (Fepac), que deverá tornar-se um braço do incentivo fiscal, reunindo os editais de fomentos e apoio a atividades artísticas.’


TELEVISÃO
Keila Jimenez


Tom para menores


‘Tom Cavalcante terá de pegar leve em suas piadas. Tudo porque o humorista comandará em agosto uma atração na Record, aos domingos e com classificação livre. Tom, que atualmente apresenta o Show do Tom aos sábados, às 23 horas – horário para programas inadequados para menores de 18 anos -, vai reformular os roteiros de sua atração para não ter problemas com a classificação indicativa.


O novo programa, que deve ir ao ar aos domingos, no fim da tarde, na verdade não terá nada de novo. Apesar de a Record ter anunciado na renovação de contrato que o humorista ganharia uma nova atração, tudo não passará de uma mudança de horário. O Show do Tom continuará o mesmo, com suas incansáveis imitações.


A idéia inicial do humorista de ter também um seriado no estilo do extinto Família Trapo está morta e enterrada. Tom, que resolveu de uns tempos para cá cuidar também da produção do seu programa, acredita não ter tempo para encarar outra atração. No novo contrato, renovado há três semanas, consta apenas a obrigação de uma atração semanal na Record.


entre-linhas


Marcelinho Carioca não é mais comentarista esportivo da Band. A demissão ocorreu após uma discussão entre ele e Antônio Roque Citadini, do Corinthians, no ar, durante o Jogo Aberto. O jogador saiu de cena no meio da atração e a Band achou melhor que ele não voltasse mais.


Bebel, a personagem de Camila Pitanga em Paraíso Tropical, foi um sucesso na Parada Gay de São Paulo. Ela inspirou roupas colantes, saltos e batom violeta constituíram figurino básico para a festa.


Estava agendado para ontem à noite a exibição de um comercial ao vivo na TV americana. A volta aos velhos tempos, e que soa como inovação nessa era tecnológica, iria ao ar pela NBC, durante o Tonight Show, em formato de esquete.


A MTV Brasil vai estrear em agosto a versão nacional do programa Pimp My Ride, que transforma carangas em máquinas tunadas. O sucesso da atração é a promoção Pimp My Fox, que já recebeu 255 mil cadastros.


Na contagem regressiva para os Jogos Pan-Americanos Rio 2007, a ESPN Brasil estréia hoje, às 20 horas, o Jornal do Pan.


Por falar em Pan, hoje o evento é tema de todos os telejornais da TV Globo.


A estréia de Márcia Goldschimidt na Band deixou a emissora em terceiro lugar, ao lado do SBT, na segunda-feira. Exibido das 16h30 às 18h, o programa teve 3,5 pontos de audiência.’


Leila Reis


Paraíso vai bem e Gilberto Braga ri por último e melhor


‘Muito se admiram com a velocidade dos acontecimentos em Paraíso Tropical, principal novela da Globo. O ritmo foi determinado mais pela necessidade do que pela técnica, uma vez que, a princípio, não vinha registrando a audiência esperada. Até agora Gilberto Braga não entendeu o que aconteceu, mas o fato é a aceleração fez a novela deslanchar, batendo às portas dos 50 pontos de média no Ibope. Mesmo enlouquecido com a montagem dos 20 e poucos capítulos que faltam para fechar a novela, Gilberto concedeu esta entrevista exclusiva, por email, ao Caderno 2. Nela, o autor diz que Paraíso Tropical representa do Brasil porque mostra ‘o real, com uma boa dose de glamourização, porque ninguém é de ferro’.


No seu ranking pessoal, em que posição você coloca Paraíso Tropical? Por quê?


Está no ar, neste momento, o capítulo 84. Nós estamos escrevendo por volta do 108. Ainda é cedo para eu ter uma idéia do lugar que Paraíso vai ocupar. Só mesmo no final vou ter uma idéia.


Foi difícil superar as inevitáveis comparações a Manoel Carlos por causa da ambientação carioca, bossa nova, etc.?


Não, eu já esperava por isso. É uma pena a Globo ter feito esta ordem (colar uma novela na outra), bem que eles tentaram fazer de outra maneira, mas não houve jeito. De qualquer forma, eu acho que o clima do Manoel Carlos é diferente do meu. O que é igual é o Cristo Redentor, fazer o quê?


Os diálogos são o forte da novela. Como você consegue construir tanta conversa boa em todos os núcleos para colocar no ar todo dia?


Ricardo Linhares e eu fazemos a história, revisão, etc. Mas nós temos cinco escritores de primeira linha: Ângela Carneiro, Sérgio Marques, Maria Helena Nascimento, Nelson Nadotti e o incrivelmente bom estreante João Ximenes Braga. Assim, como nenhum deles tem de escrever cenas demais e podem caprichar.


Qual o personagem que te dá mais trabalho e qual o que flui melhor no seu computador?


A maior dificuldade em toda novela, ao menos para mim, é sempre o casal principal. Estou gostando bastante dos dois, mas é difícil. O que flui melhor no meu texto é o Belisário. Ele é um personagem parecido com vários que eu já fiz e ao mesmo tempo é novo. Adorei no capítulo de sábado quando ele disse: existe coisa mais pobre do que a palavra praxe?


Não adianta dizer que todos são iguais, como fazem os pais. Mas qual é seu personagem predileto?


Cássio. É um tipo de homem que eu acho bacana. Sem contar com a ótima interpretação do Marcelo Anthony.


Você já descobriu por que a novela demorou a decolar no ibope?


Não descobri. Já cansei de tentar entender. Eu achava boa desde o começo e olha que não sou fanático por novela.


Record, SBT e Bandeirantes estão fazendo novela. Qual a avaliação que você faz do trabalho das concorrentes?


Eu só consigo escrever e ver a minha, não tenho mais tempo pra nada. Às vezes, na hora do jantar, vejo um pouco da novela do Marcílio (Moraes, autor de Vidas Opostas, da Record) e me parece bastante boa.


Passaram-se quase 20 desde Vale Tudo. Se fosse escrever um enredo que retratasse o Brasil de hoje, qual título você daria?


O que está no ar: Paraíso Tropical.


Que Brasil você quer representar na televisão?


O real, com uma boa dose de glamourização, porque ninguém é de ferro. Como a novela que está no ar.’


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