A liberdade de expressão é uma conquista da democracia brasileira, mas não é incondicional. O artigo 20 da lei 8081/90 prevê pena de dois a cinco anos para aqueles que praticam, induzem ou incitam, pela mídia ou outros meios, a discriminação ou preconceito de raça, cor, religião, etnia ou procedência nacional. A Constituição Federal repudia o anti-semitismo (consagrado pelo dicionário Aurélio como movimento contra os judeus), a xenofobia, a negrofobia e a islamobofia, entre outros. Liberdade de expressão e liberdade de imprensa são direitos garantidos numa democracia. Mas ambos têm deveres e responsabilidades.
A mídia reconstrói eventos, seleciona o cardápio do que acontece no mundo e interpreta os acontecimentos. Seu papel é, acima de tudo, o de informar, mostrando os vários ângulos de cada questão, e o de contextualizar os acontecimentos para que as pessoas cheguem às suas próprias conclusões.
Bons jornalistas aprendem a produzir relatos transparentes, isentos. Seguem os códigos de ética e responsabilidade social dos jornais. O mesmo deveriam fazer os colaboradores que ocupam espaço na imprensa. No entanto, há quem use as colunas dos jornais, como ocorreu recentemente no Diário Catarinense (24/5/04), para fazer a apologia do ódio ao outro e pregar a intolerância, instrumentalizando o conflito entre israelenses e palestinos para propagandear o anti-semitismo.
A autora de dois artigos publicados no DC escreveu inúmeros dados historicamente errados (propositadamente?), ofendeu os sobreviventes do Holocausto e culpou os judeus pela crise do Oriente Médio e por atos do governo israelense. O caso chocou a comunidade judaica do país.
O anti-semitismo é uma solução fácil, hipócrita e desonesta que inventa culpados ao invés de propor soluções. Uma patologia que aproxima extremistas de esquerda e de direita que buscam bodes expiatórios para seus próprios fracassos. O anti-semitismo desrespeita as diferenças entre os seres humanos e envergonha judeus e não-judeus que acreditam no humanismo e na paz.
Criticar o radicalismo do primeiro-ministro Ariel Sharon e o uso da força pelo exército de Israel contra os palestinos é direito de qualquer um e não significa anti-semitismo. Mas são anti-semitas aqueles que isentam de culpa o terrorismo muçulmano que aniquila populações civis e as usa como escudo; que fazem vista grossa ao apoio das ditaduras árabes aos extremistas dos grupos Hamas e Jihad; que preferem ignorar que Yasser Arafat desvia o dinheiro que recebe da União Européia para compensar as famílias de jovens suicidas; e que seu grupo, al-Fatah, intimida, tortura e confisca os bens da população cristã na região. São anti-semitas os que se recusam a examinar os dois lados da questão.
Por tudo isso é importante que os que ocupam o espaço na imprensa tenham serenidade e responsabilidade ao interpretar os eventos. Agindo com ética e transparência estaremos dando nossa contribuição para a paz aqui, entre brasileiros de todos os credos, e à paz no Oriente Médio.
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Doutora em Comunicação pela Universidade da Florida e professora de jornalismo da UFSC.