Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Globalização impulsiona agências regionais

Em meio à tão propalada globalização em diversas esferas de nossas vidas cotidianas, há meios de comunicação que estão se voltando cada vez mais para o nosso continente. As notícias sobre a América Latina presentes nos grandes meios de comunicação são, diversas vezes, realizadas por agências de notícias internacionais que, além de terem seus interesses fincados em outras localidades, não possuem muito conhecimento sobre a realidade que envolve os países abaixo da fronteira sul dos EUA.

A partir do processo de globalização que vem afetando o continente, algumas pessoas e organizações não se sentem suficientemente representadas na mídia. Os grandes meios de comunicação brasileiros, devido a compromissos ideológicos e econômicos, divulgam mais notícias sobre países hegemônicos e distantes do que a respeito de nossos vizinhos. A globalização faz com que a população da América Latina cultive valores e pensamentos produzidos em uma realidade distante dos nossos países.

Um veículo de comunicação mais alternativo e que se situa à margem dessa situação entrou no ar em 1999. Trata-se da Adital, uma agência de notícias voltada apenas para a América Latina e Caribe. Primeiramente, a divisão ‘geográfica’ entre essas regiões, realizada pela própria agência, já evidencia uma falta de delimitação correta ou explícita a respeito de que países integram a América Latina. O Mar do Caribe também atinge países como Colômbia e Venezuela, este último sempre figurando nos noticiários relacionado à região da América Latina.

Monopólio de informação

O nome ‘Adital’ significa Agência de Informação Frei Tito para a América Latina. Frei Tito suicidou-se na França, em 1974, país onde buscara asilo,vítima da ditadura militar. A sede da agência é em Fortaleza (CE) e ela já ganhou prêmios, como em 2005, quando foi selecionada pela Unesco – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – como uma das três melhores agências de notícias entre as 20 melhores iniciativas de comunicação da região.

Iniciativas como esta só existem porque há uma demanda por notícias mais relacionadas à nossa região, algo que a globalização acabou deixando de lado. Essa integração ideológica e cultural, também produzida através do conteúdo da agência, não deixa de ser uma vertente da globalização em um âmbito de impacto mais regional.

Agências como a Adital também quebram o monopólio de informação presente nos veículos de comunicação, característica que se espalhou pelo continente. O Brasil, com a Rede Globo, é um exemplo claro, assim como a Televisa e a TV Azteca, no México. Mesmo que seja transmitida mais de uma versão sobre o mesmo assunto, é evidente o posicionamento ideológico das grandes redes interessadas na manutenção de seus poderes sobre a sociedade.

‘Esquerda’ e ‘direita’

Sociólogos, teólogos, professores universitários e jornalistas são alguns dos profissionais que integram a equipe da agência. Ela também recebe notícias de ONGs, organizações populares, centros universitários e igrejas. Além disso, o site possui uma coluna fixa com canais específicos que abordam temas que não figuram diariamente nos demais veículos, como direitos humanos, meio ambiente, mídia, questão agrária e movimentos sociais.

Pelo fato de publicar em seus artigos opiniões opostas às da grande mídia, o site pode ser tachado como sendo ‘de esquerda’, porém por que não aceitar, ou pelo menos conviver, com opiniões de correntes ideológicas que não sejam as propagadas pelos EUA? Se vivemos em uma democracia, pelo menos na teoria, é natural que existam mídias mais ‘de esquerda’ e outras mais alinhadas ‘à direita’, apesar das mutações que esses conceitos sofreram com o decorrer do tempo.

Pensamentos divergentes

A globalização em curso no planeta promove verdades únicas e contribui para a uniformização do pensamento, a ponto de se considerar estranho alguém concordar com o fechamento da RCTV na Venezuela. O histórico que rege decisões como esta é abolido, em parte, por interesses que colocam o domínio de outras grandes empresas em jogo e, por outro lado, pela ânsia de absorver mais e mais informações disponíveis de diversas localidades do planeta.

Veículos como a Adital representam um avanço em certos aspectos. A vida e a realidade de nossos vizinhos podem nos influenciar diretamente, algo que a globalização acaba encobrindo. Prova disso é a recente onda de nacionalizações realizada por Evo Morales na Bolívia e, há alguns anos, a orquestração de golpes de Estado com a implantação de ditaduras para combater um ‘perigo vermelho’ que rondaria a região. Além disso, é muito difícil encontrar opiniões divergentes nos grandes veículos de comunicação. Mesmo com formas diferentes, o conteúdo expresso em notícias ou artigos é bastante semelhante.

Que opinião estará mais correta? A de uma agência que ainda não é tão conhecida ou aquela divulgada por uma grande rede de televisão ou de jornal? Isso, cada pessoa é que vai decidir e formular uma visão a respeito de determinado assunto, levando em conta as variáveis que julgar necessário. Entretanto, para isso ocorrer, é fundamental entrar em contato com pensamentos divergentes, algo que a globalização que figura na grande mídia não proporcionou à América Latina.

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Estudante do 5º semestre de Jornalismo da UniFiamFaam, São Paulo, SP