Leia abaixo os textos de quinta-feira selecionados para a seção Entre Aspas. ************ O Estado de S. Paulo
Quinta-feira, 21 de junho de 2007
CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA
Governo manterá classificação de TV
‘O Ministério da Justiça rechaçou ontem o argumento das emissoras de televisão de que a classificação da programação é censura, em seminário que reuniu ONGs, artistas e promotores.
Nem mesmo a presença de atores consagrados como Tony Ramos, Fernanda Montenegro e Juca de Oliveira colaborou para que a platéia aceitasse os argumentos da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), que é contra a classificação. O governo demonstrou que não pretende ceder.
Tanto o ministro da Justiça, Tarso Genro, quanto o secretário de Justiça, Antônio Carlos Biscaia, repetiram que a classificação não fere direitos constitucionais. ‘Não estamos tratando de censura, mas de classificação indicativa para satisfazer as próprias finalidades da norma constitucional’, disse Genro.
‘A portaria está mantida. Uma pequena correção é possível. Mas não vamos mexer no artigo 19’, declarou Biscaia após o seminário. Em abril, o Superior Tribunal de Justiça atendeu a um pedido da Abert e suspendeu a vigência do artigo, liberando as emissoras da obrigação de exibir a programação em horários determinados pelo ministério.
O questão central do debate de ontem foi se a classificação indicando os horários de veiculação dos programas significa ou não, afinal, um tipo de censura.
NÃO À COERÇÃO
Advogados da Abert e artistas disseram que não é possível estabelecer essas restrições, sob pena de ser instalada censura. Juca de Oliveira fez uma das defesas mais enfáticas. ‘Somos favoráveis à classificação indicativa, porém não à classificação indicativa coercitiva. Se nós submetermos os princípios da classificação indicativa às obras fundamentais da criação universal, os grandes clássicos, tudo que está lá será proibido. Isso é absurdo. É censura.’
Favorável à portaria, Guilherme Canela, coordenador de Relações Acadêmicas da organização não-governamental Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi), exibiu no seminário trecho de um filme veiculado por volta das 23 horas do sábado retrasado no qual há imagens de um mascarado esfaqueando uma garota. Ele observou que esse filme passou às 21 horas no Acre, onde o fuso horário é diferente do de Brasília e de grande parte do País. A platéia aplaudiu.
Em seguida, o procurador da República no Acre Marcos Vinícius Aguiar Macedo apresentou dados sobre a suposta relação da programação televisiva com gestações precoces e doenças sexualmente transmissíveis no Estado. Segundo ele, no Acre há registro de meninas que dão à luz aos 8 anos de idade. A platéia aplaudiu.
Enquanto o seminário transcorria no ministério, o PPS protocolou uma ação direta de inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal contestando a portaria 264, que prevê a classificação.’
GOVERNO LULA
A mudança na Lei dos Grampos
‘Sempre que pessoas ligadas aos altos escalões do governo e parlamentares têm suas conversas ‘grampeadas’ pela polícia e os diálogos são vazados para a imprensa, no Executivo e no Legislativo surgem iniciativas para mudar a lei que disciplina a interceptação das comunicações telefônicas, sob a alegação de que ela é ‘permissiva’. Em janeiro de 2006, por exemplo, uma comissão nomeada pelo então ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, sugeriu a aplicação de pena de prisão a jornalistas que publicassem trechos de conversas obtidas por meio de ‘grampo’, mesmo que autorizado pela Justiça. Diante da repercussão negativa da proposta, o governo não a levou adiante.
Há dias, após o vazamento de conversas envolvendo um irmão e um compadre do presidente Lula, suspeitos de tráfico de influência, o atual ministro da Justiça, Tarso Genro, desengavetou o projeto de seu antecessor. No Congresso, também se fez algo semelhante. Depois que escutas telefônicas permitiram à Polícia Federal realizar as operações Hurricane, Navalha, Têmis e Xeque-Mate, vários parlamentares retiraram dos escaninhos da Comissão de Segurança Pública da Câmara um projeto do ex-deputado Luís Eduardo Greenhalgh que, entre outras medidas, condiciona a quebra de sigilo telefônico pela polícia a uma consulta prévia ao Ministério Público. Pela legislação em vigor, a polícia pode pedir autorização para interceptar conversas telefônicas diretamente à Justiça.
O projeto, aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça, também tipifica como crime o repasse irregular do teor de conversas ‘grampeadas’ aos órgãos de comunicação. E, para disciplinar os pedidos de prorrogação de escuta que podem ser feitos pela polícia e pelo Ministério Público, estabelece um prazo máximo para a interceptação telefônica. ‘O inquérito deve ser feito em 30 dias. Então, não há por que ter prazo maior para as escutas’, diz o deputado Francisco Tenório (PMN-AL).’Temos sempre de ter em mente que a quebra do sigilo telefônico entra na intimidade das pessoas. Não pode ocorrer a vida toda’, diz o deputado Luiz Bittencourt (PMDB-GO), que também quer mudar a legislação.
Concebida com o objetivo de aumentar a eficiência da polícia no combate ao crime organizado e sancionada em 1996 pelo presidente Fernando Henrique, a Lei 9.296 tem apenas 12 artigos e prima pela clareza e objetividade. Segundo ela, a interceptação de comunicações telefônicas tem por objetivo ajudar nas investigações e na coleta de provas, devendo ser realizada sob segredo de Justiça. O pedido pode ser feito pela polícia, na fase de investigação, e pelo Ministério Público, nas fases de investigação e de instrução processual, e o juiz tem o prazo de 24 horas para acolhê-lo ou rejeitá-lo.
Para evitar abusos, a Lei 9.296 trata a interceptação de conversas telefônicas como medida excepcional, proibindo expressamente sua utilização quando ‘o fato investigado constituir infração penal punida no máximo com pena de detenção’, quando ‘a prova puder ser obtida por outros meios disponíveis’ e quando ‘não houver indícios razoáveis da autoria ou participação em infração penal’. No pedido, ‘deve ser descrita com clareza a situação objeto da investigação, inclusive com a indicação e qualificação dos investigados, salvo impossibilidade manifesta, devidamente justificada’.
Como se vê, a Lei 9.296 proíbe pedidos de quebra de sigilo telefônico formulados em termos genéricos e sem abertura de inquérito. Pelo artigo 5º, quando a autorização do juiz não for devidamente fundamentada, inclusive ‘com a indicação dos meios a serem empregados’, a autorização para a escuta é passível de nulidade. Ao apresentar os resultados das escutas ao juiz, a polícia também tem de enviar um auto circunstanciado das operações, e as gravações que não servirem como prova deverão ser inutilizadas. A pena prevista para interceptações feitas sem autorização judicial é de dois a quatro anos de reclusão.
Na realidade, se há abusos no recurso aos ‘grampos’, por parte da polícia, isso não se deve a falhas na legislação, mas a uma eventual falta de cautela pela Justiça. Não se trata, portanto, de alterar a Lei 9.296, mas de aplicá-la de modo mais criterioso. Até as entidades da magistratura, que sempre ressaltaram a importância dessa lei, reconhecem este fato.’
TELEVISÃO
TV digital no Brasil terá sistema antipirataria
‘A TV digital não deverá permitir a gravação de filmes em alta definição de imagens. O governo voltou atrás e vai criar restrições para a reprodução de programas de televisão quando o novo sistema entrar no ar. O ministro das Comunicações, Hélio Costa, anunciou ontem que o assunto será reavaliado na próxima semana pelo Comitê de Desenvolvimento da TV Digital, formado por nove ministros. No fim de maio, o comitê havia vetado proposta das emissoras de televisão de instalar bloqueadores nos aparelhos de TV digital, que impediriam a cópia de filmes, jogos de futebol e novelas, por exemplo.
Costa, que antes se manifestou contra o bloqueador, disse ontem que mudou de idéia porque foi apresentada uma solução, permitindo que alguns programas sejam gravados apenas uma vez, evitando a possibilidade de reprodução em série e de pirataria. ‘Nós éramos contra porque achávamos que era inconstitucional, mas se tiver uma cláusula que supere isso, tudo bem’, afirmou. Mas, no caso de filmes, segundo o ministro, a empresa dona do conteúdo é que vai dizer se o programa pode ser gravado ou não.
Ele explicou que, com a tecnologia digital em alta definição, a cópia fica idêntica ao original. ‘Isso dá à pirataria a possibilidade de gravar e distribuir.’ Os programas com a tecnologia analógica continuarão permitindo a gravação, já que a qualidade é inferior. De acordo com o ministro, nos contratos de transmissão da Copa do Mundo e das Olimpíadas já está vetada a gravação.
O assunto, segundo Costa, foi retomado na terça-feira em almoço dos diretores de emissoras de televisão com ele e com a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. O ministro disse que Dilma e o ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, são favoráveis a voltar a discutir o assunto.
Costa afirmou que grandes produtores de conteúdo têm subvencionado a produção de aparelhos com bloqueadores, o que permite, por exemplo, que o preço do conversor caia cerca de 30%. Segundo o ministro, se não houver proteção pode haver dificuldades das emissoras para comprar filmes. Nos Estados Unidos, no entanto, o bloqueio foi proibido pela Justiça. Mas a legislação de direito autoral é aplicada com rigor. ‘Lá, se gravar, pega de 20 a 30 anos de cadeia’, afirmou.
Lauro Lisboa Garcia
Fernando Faro: nova fase aos 80
‘Com o histórico Ensaio, criado há quase 40 anos e ainda no ar, Fernando Faro desenvolveu uma estética peculiar, com a câmera em big close, fechando em olhos, bocas, mãos e outros pormenores dos convidados, sob iluminação de alto contraste. O entrevistador nunca aparece, nem se ouve sua voz, mas na presença dele nem é preciso atingir o grau de intimidade do programa para reconhecer na pessoa o humor, a delicadeza, a elegância e a sensibilidade como inerentes de sua personalidade. Esses traços estão presentes em detalhes da grande festa que a TV Cultura preparou em sua homenagem. A parte musical do programa, que vai ao ar hoje, das 20 às 22 horas, foi gravada anteontem à noite no Teatro Franco Zampari, com participação de amigos de longa data do produtor e diretor musical, como Paulinho da Viola, Inezita Barroso, Toquinho, Rolando Boldrin, e artistas de gerações mais recentes que ele admira, como Vanessa da Mata, Zeca Baleiro e Edvaldo Santana.
Faro, também conhecido como Baixo, completa 80 anos hoje e, além de continuar dirigindo Ensaio, tem planos de investir em programas diferentes na nova etapa que iniciou na emissora, como diretor do núcleo de música, desde a semana passada. O Ensaio especial em sua homenagem foi dirigido pelo cineasta Ricardo Elias, de Os 12 Trabalhos. Além dos números musicais e textos reflexivos do próprio Faro lidos pela apresentadora Cuca Lazzaroto, o programa conta com imagens de arquivo e uma entrevista que Faro concedeu ao jornalista Paulo Markun, o novo diretor-presidente da Fundação Padre Anchieta.
A festa começou cedo e espalhou-se pelos bastidores, em entusiasmadas conversas entre artistas, jornalistas, produtores, fotógrafos e até o prefeito Gilberto Kassab, que passou para cumprimentar Faro, mas não ficou para ver o show. Enquanto Edvaldo Santana procurava um reservado para trocar de camiseta, Paulinho da Viola aproveitava para afinar os acordes com a , baixo, canta um pouquinho mais liso’. Aí eu fiz isso e depois quando fui ouvir, achei que ele tinha razão. A partir daquele momento passei a cantar de uma maneira diferente.’
Momentos antes de entra no palco, Vanessa da Mata comentou no camarim como Faro expõe os artistas com ‘doçura’ em seu programa. Vanessa já protagonizou dois Ensaios e na próxima semana grava o terceiro. ‘Ele tem aquele jeitinho doce, vai abrindo os caminhos, e de repente você está contando pra um monte de gente coisas que nem imaginava contar para ninguém’, diz. O baixista André Rodrigues, que a acompanhou no palco ao lado do guitarrista Davi Morais, lembrou que Sandra de Sá não parou de chorar o tempo todo que gravou o Ensaio. ‘As pessoas reagem assim porque ele vai no ponto certo que emociona.’
Emoção também não faltou perto do encerramento do show, quando Paulinho da Viola, depois de contar histórias e cantar sua Dama de Espadas, recebeu a Velha-Guarda da Portela, para entoar o clássico Esta Melodia (Bubu da Portela e Jamelão). No final, com todos os convidados no palco, Boldrin quebrou mais uma vez o protocolo e puxou Jair Rodrigues da platéia para reforçar o vocal do antológico samba Foi Um Rio Que Passou em Minha Vida, também de Paulinho, como todo mundo sabe, ou deveria saber. Uma celebração e tanto.’
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Um ‘arquivo vivo’ da música brasileira
‘Como bem lembrou Rolando Boldrin na gravação do programa em homenagem a Fernando Faro, ele é ‘nosso maior arquivo vivo de música brasileira’, em seu aspecto mais humano. Em quase meio século de atividade na televisão, como produtor, roteirista e diretor, Faro tanto orientou carreiras como manteve os ouvidos sempre abertos a todas as tendências. Nascido em Aracaju, Sergipe, mudou-se para a Bahia depois que o pai morreu numa partida de futebol ao trombar com outro jogador.
Já em São Paulo, tentou a carreira de advogado, mas acabou trocando o Direito pelo Jornalismo. Em 1950, um ano depois de estrear como repórter no jornal A Noite, passou a trabalhar na Rádio Cultura. Em meados daquela década chegou à tevê desdobrando-se entre o jornalismo e a teledramaturgia. Nos anos 60, na TV Tupi, foi convidado por Cassiano Gabus Mendes a adaptar o romance O Tempo e o Vento, de Érico Veríssimo. Depois, criou programas como Móbile, Divino e Maravilhoso, que, além do Ensaio e sua versão gêmea MPB Especial, até hoje são lembrados por artistas veteranos como de fundamental importância para a música brasileira.
Fora da TV, ele também dirigiu shows que reuniam gigantes da MPB, quase todos eles presentes no acervo de mais de 450 edições do Ensaio. Dos grandes vivos, falta Roberto Carlos. ‘Não tenho acesso a Roberto, porque não sou amigo dele como sou do Chico, do Caetano, do Gil. Então, tenho uma certa dificuldade de chegar até ele. Seria um nome fantástico’, diz Faro.
De início, o novo diretor do núcleo musical da TV Cultura pretende supervisionar os programas já existentes, como Senhor Brasil e Viola, Minha Viola, comandados respectivamente por Rolando Boldrin e Inezita Barroso, e valorizar o acervo da emissora. Segundo Faro, o Ensaio, criado e dirigido por ele, é o que mais ‘sugere coisas’. ‘Muita gente não conhece Jorge Veiga, Ciro Monteiro, Henricão, Orlando Silva. Ninguém sabe como é o desenho físico deles. Vamos reprisar esses programas.’
Outro investimento previsto é nas festas do interior brasileiro, com locações que devem tornar a programação mais dinâmica. ‘Por exemplo, na minha terra em Laranjeiras, Sergipe, tem um quilombo chamado Mussuca, onde se vê de tudo, se vê samba de todos os tipos, a taieira, que é a versão feminina do cucumbi, um cortejo para São Benedito. Podemos mostrar isso’, diz.
Faro também não desiste da idéia de levar Hebe Camargo para o Ensaio. ‘É uma obsessão minha, porque quando comecei na TV Paulista em 1958, o Costa Lima, que era o rei das comunicações daqui de São Paulo com a Rádio Excelsior e a TV Paulista, me pediu para dirigir um programa musical. Aí fui pro estúdio e era com a Hebe e a irmã’, lembra. Mas a apresentadora, que também canta, vive se esquivando. ‘Ela me disse que já está com a idade avançada e que não vai agüentar mais aquele tratamento de close, meio close’, conta.’
Keila Jimenez
Globo no YouTube
‘Já que não se pode com ele, junte-se a ele. Esse parece ser o mais novo lema da Globo, que acaba de fechar, em caráter experimental, uma parceria com o site de vídeos YouTube.
Cansada de brigar para que o site tire do ar vídeos de suas produções, a emissora resolveu liberar para o YouTube trechos de suas atrações – começando por Malhação -, antes só disponibilizados no seu portal, o Globo.com.
Em troca, a Globo deve ganhar a tranqüilidade de ver no YouTube só o que ela quer.
Em maio, a emissora abriu uma ofensiva contra o site, na tentativa de proibir que o mesmo exibisse imagens de seus programas.
A confusão começou quando a rede resolveu notificar o Google, pedindo a retirada de um vídeo que mostrava a âncora do Jornal da Globo, Christiane Pelajo, maquiando-se minutos antes do início do programa.
Na época, o site abrigava mais de 10 mil vídeos com imagens da Globo, entre erros de gravações, gafes e uma imperdível imitação de Clodovil feita por Willian Bonner nos intervalos do Jornal Nacional, um dos campeões de acessos do YouTube.
Entre-linhas
A novela Sete Pecados marcou na noite de terça 33 pontos de audiência e 49% de participação do público.
Cada um dos dois patrocinadores nacionais do High School Musical, que vai ao ar na Record no domingo, desembolsou R$ 735 mil por sua cota.
O ator John Cusack é o entrevistado de hoje do Late Show with David Letterman, às 21 horas, no GNT.
O Hoje em Dia, da Record, continua atormentando as manhãs da Globo. A atração comandada por Ana Hickmann, Britto Jr. e Eduardo Guedes ficou em primeiro lugar de audiência ontem, registrando 7 pontos de média.
E por falar em Record, a emissora pretende atrapalhar a ida de Patrícia Maldonado para a Band. Nos corredores da emissora do Morumbi já é fato que ela é a mais cotada para assumir ao lado de Leão Lobo a apresentação da nova atração vespertina do canal, o Atualíssima.
A Sky lançou mais um canal adulto em seu line up. O Sex Zone – no canal 104 – está disponível para os assinantes em pay-per-view e a la carte.
Estão abertas as inscrições para a 34.ª edição do Salão de Humor de Piracicaba. A novidade do evento este ano é a categoria vanguarda, com trabalhos desenvolvidos com computador. O salão será realizado de 25 de agosto a 14 de outubro.’
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Folha de S. Paulo
Quinta-feira, 21 de junho de 2007
RENANGATE
Folha de S. Paulo
Relator-relâmpago doou R$ 1,2 milhão a campanha de ministro das Comunicações
‘O senador Wellington Salgado (PMDB-MG) assumiu a relatoria do processo contra Renan Calheiros (PMDB-AL) depois que Epitácio Cafeteira (PTB-MA) pediu licença alegando problemas de saúde, mas deixou o posto ontem mesmo.
Suplente do ministro Hélio Costa (Comunicações), o senador Wellington Salgado (MG), 49, é um expoente da ‘tropa de choque’ do PMDB que, por não se incomodar com o desgaste político, era escalado para defender o partido e o governo.
Em sessão recente do Conselho de Ética, solidário a Renan, disse: ‘Não vou fazer política no Conselho de Ética porque um dia posso ser eu sentado aqui’. Nessas horas revela seu potencial folclórico, reforçado pela figura enorme de cabelos compridos e desgrenhados.
Foi o caso de quando propôs no mês passado, durante a CPI do Apagão Aéreo, que fosse feita a reconstituição do acidente da Gol. Virou tema de chacota.
Salgado e sua família são donos da Universo (Universidade Salgado de Oliveira) e da Unitri (Centro Universitário do Triângulo). Sua família doou R$ 1,23 milhão à campanha de Hélio Costa ao Senado -metade de todo o valor. Salgado assumiu o mandato de senador em 11 de julho de 2005, quando Costa se licenciou.
Ao assumir o cargo, Salgado se afastou da presidência da Associação Salgado de Oliveira de Educação e Cultura, mantenedora da Universo e da Unitri, em Araguari e Uberlândia.
Com a Universo, ele cruzou a fronteira do Rio de Janeiro e levou seus negócios a Recife, Salvador, Goiânia, Belo Horizonte, Juiz de Fora, Brasília e Osasco, já nos anos 90. Nessa mesma época, chegou ao Triângulo Mineiro. Foi a partir daí que firmou sua amizade com Costa -amizade essa de contato diário já que o ministro mora com o senador na casa que Salgado tem em Brasília.
Aliados de Costa dizem que, para a atividade social que tem um ministro, foi conveniente aceitar a oferta de moradia de Salgado, por causa do espaço do imóvel onde ele mora.
Detentor de 50% de participação na Rede Vitoriosa de Comunicações, que é retransmissora do SBT, e sócio da rádio Hit Parade, Salgado é presidente da recém-criada Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática do Senado. Para ele não há conflito de interesses. O senador também já foi presidente da Comissão de Educação.
Nascido no Rio, é professor de educação física, graduado em pedagogia pela Universidade Federal Fluminense e doutor em educação à distância pela Universidade Nacional de Madri. Só propôs dois projetos de lei, um deles para que o Senado seja responsável pela aprovação dos indicados para compor o Conselho Nacional de Educação.
Salgado é acusado em uma ação popular de simular em 1996 um contrato de comodato com Renan Calheiros para ocupar um terreno de 5.338 m2 em Goiás. Haveria, no entanto, um documento de gaveta definindo a transação como contrato de compra e venda.’
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Pergunta sobre processo contra Renan acaba com o bom humor do presidente
‘A boa disposição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de conversar com repórteres ontem acabou assim que foi feita a primeira pergunta séria -sobre a situação do presidente do Senado, Renan Calheiros.
Quando se preparava para receber o presidente da República Dominicana, Leonel Fernandéz Reyna, no Itamaraty, Lula puxou conversa com os repórteres, dizendo: ‘Hoje o [vice] Zé Alencar e eu somos Grêmio desde criancinhas’, em referência à final da Libertadores ontem, entre o time gaúcho e o argentino Boca Juniors.
Quando um repórter falou que seu time, o Corinthians, não tinha nenhum título do torneio, Lula afirmou que para política externa bastava o presidente. ‘Nós não queremos [a Libertadores]’, falou o presidente, rindo.
O bom humor acabou quando outro repórter aproveitou e perguntou sobre a situação de Renan. Lula calou-se e virou o rosto. Não fez mais nenhum comentário. Logo depois, chegou o convidado, e os dois presidentes subiram para o almoço.’
LOBBY LEGAL
Para deixar a clandestinidade
‘EUA, UNIÃO Européia e parte da América Latina têm mecanismos reguladores das atividades de lobby. Nós, não. Vivemos de escândalo em escândalo, na promiscuidade entre público e privado, em meio a um nevoeiro que não permite distinguir as feições de quem age em favor de quem e por qual razão.
Mantemos em alguma gaveta do Congresso seis projetos que regulam o lobby no Brasil. O mais antigo deles, de 1989, é de autoria do senador Marco Maciel. De fato, não é uma tarefa simples normatizar essa atividade, que é muito complexa, envolve múltiplos interesses e cuja nebulosidade, que a encobre há anos, é bastante conveniente a um tipo de gente que queremos longe. Mas é possível.
O lobby nos EUA tem a ‘Federal Regulation of Lobbying Act of 1946’, que o regulamenta. Essa lei foi atualizada em 1995 por causa de uma grande crise ética, que envolveu alguns membros e vários funcionários do Congresso e do Executivo, entre os quais o lobista Jack Abramoff, o centro do escândalo de extensiva corrupção em Washington. Ele usou várias entidades políticas e corporativas para ganhar dinheiro, pagar viagens e outros presentes para funcionários e autoridades do governo federal. Foi apanhado, julgado e condenado a passar mais de cinco anos na cadeia. Não foi o único a pagar pelo crime.
Lá, nos EUA, além da lei federal, cada Estado e muitos municípios têm legislações próprias, que dão transparência às relações com o poder.
A jovem União Européia discutiu amplamente a atividade de lobby. Enquanto isso, adotou documentos que estabeleceram princípios gerais para a conduta dos lobistas. Em 2006, foi introduzido o ‘Green Paper on a European Transparency Initiative’, oferecendo mais transparência e regras definidas para os 15 mil lobistas, ONGs e outros grupos que pretendem influenciar os decisores da UE.
Ao mesmo tempo, o tema foi debatido em audiências públicas. Alguns de nossos vizinhos -Argentina, Chile, Colômbia, México, Peru- têm leis de lobby ou de ética pública.
O Brasil precisa colocar entre as prioridades de sua agenda a regulamentação do lobby, que deverá servir para toda a administração pública federal -Executivo, agências reguladoras, estatais, Legislativo e Judiciário-, deverá ser parâmetro a ser aplicado aos Estados, capitais e aos municípios com mais de 200 mil eleitores.
Deverá abranger os setores público e privado, o terceiro setor, os sindicatos, as associações, as confederações, as empresas, as consultorias etc.
O fundamental é que, pela regulamentação, se possa identificar quem representa quem, quais são os interesses em jogo no processo de formação das políticas públicas e se existe abuso do poder econômico. Também, o controle dos gastos diretos e indiretos envolvidos nesse trabalho.
É preciso deixar claro que não há lobby ‘do bem’ ou ‘do mal’. Existem ações iniciadas por um indivíduo ou um grupo para influenciar a opinião de um representante ou um setor do governo em prol de apoio a sua causa -que é o lobby. Existe a construção de uma estratégia de argumentação com o objetivo de defender uma causa -que é a ‘advocacy’. E existe o processo de gerenciamento de ações estratégicas com o intuito de influenciar políticas públicas -que são as relações governamentais. Todas praticadas com técnicas de relações institucionais ou relações públicas.
Já é hora de provocar esse debate com a sociedade. As questões éticas relacionadas à promiscuidade entre público e privado não são novas nem exclusivas. Devem ser enfrentadas à luz da atualidade: um mundo aberto, interligado em redes, sociedades mais informadas, mais conscientes, desejosas de participação.
Da mesma forma que o público exige das empresas uma nova atitude -transparência, uma nova maneira de fazer comunicação e estabelecer relacionamentos entre marcas, produtos, consumidores, trabalhadores, sociedade-, o mesmo desejo se repete no âmbito público em relação aos três Poderes. É exigência inescapável e presente, que se cobra, se cobrará e se espera de cada um dos Poderes em todos os níveis da República. Lobby só existe em democracias.
Ou seja, são atividades legítimas, lícitas e necessárias. Para o bem delas mesmas, dos envolvidos e dos interessados e, especialmente, do fortalecimento da nossa democracia, a regulamentação do lobby é urgente. Porque o resto é tráfico de influência, intermediação de negócios entre o setor privado e o setor público. E, pior, fere de morte nossa liberdade.
Vamos reunir rapidamente representantes de entidades, governo e personalidades para pensar juntos. E encontrar um modelo competente, legal e legítimo de relacionamento entre a sociedade, as empresas e os Poderes da República, que saia da clandestinidade para a transparência.
PAULO NASSAR, 53, jornalista, professor doutor da ECA-USP (Escola de Comunicações e Artes), é diretor-presidente da Aberje (Associação Brasileira de Comunicação Empresarial) e vice-presidente da Amerco (Associação de Comunicação Empresarial do Mercosul).’
CENSURA NA BAHIA
Justiça manda recolher revista com críticas a prefeito da capital
‘Atendendo solicitação do prefeito João Henrique Carneiro (PMDB), a juíza Silvia Lúcia Bonifácio Andrade Carvalho, da 2ª Vara Cível de Salvador, determinou ontem o recolhimento de todos os exemplares da revista ‘Metrópole’ e proibiu a rádio Metrópole FM, responsável pela publicação, de fazer qualquer alusão ‘e referências explícitas ou implícitas, depreciativas ao nome, à honra, ao caráter, à intimidade, à vida privada e à imagem’ do administrador. A revista irá recorrer.
Sob o título ‘A cidade no buraco – Salvador afunda em dívidas, lixo e bagunça’, a revista trouxe, na semana passada, em sua primeira edição, uma reportagem com críticas à prefeitura.
Um dia antes do lançamento da revista, cinco outdoors foram retirados de pontos estratégicos da cidade. Os anúncios, que reproduziam a capa da revista, revelavam a caricatura de um homem com nariz de palhaço -o desenho lembrava a fisionomia do prefeito.
Em sua ação, Carneiro disse que tem sofrido ‘constantes ataques’ da rádio Metrópole. Segundo o prefeito, as pessoas que leram a revista ou ouvem a rádio associam a sua figura à de uma ‘pessoa tola, um bufão, um palhaço e uma besta’.’
CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA
Debate sobre classificação opõe Tarso e artistas
‘Integrantes da sociedade civil, do governo e representantes da Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV) travaram ontem, no Ministério da Justiça, um acalorado debate sobre a definição de parâmetros da classificação indicativa para programas de TV.
A Abert reclama que regras da portaria n.º 264, publicada em fevereiro deste ano, no ‘Diário Oficial da União’, possibilitam censura prévia por parte do governo. Também alega que as classificações de faixa etária e horários de veiculação não se tratam de indicações, mas imposições.
Representantes do Ministério da Justiça, por outro lado, -apoiados por uma série de ONGs, entre elas a Andi (Agência de Notícias dos Direitos da Infância)- negam qualquer tipo de censura e dizem que as regras levam em conta o direito da criança e do adolescente.
‘Não existe censura, pois não é possível proibir a veiculação de nenhuma cena. O único Poder capaz de fazer isso é o Judiciário’, disse Guilherme Canela, coordenador de relações acadêmicas da Andi. ‘A portaria nasceu de um debate democrático e, de fato, não se trata de censura’, afirmou o ministro Tarso Genro.
Representantes da classe artística estiveram presentes ao debate, demonstrando apoio às TVs. Juca de Oliveira comparou a classificação indicativa aos tempos de censura da ditadura militar. ‘Não vamos permitir que isso [a censura] volte a acontecer. Nunca mais.’
Já para Tony Ramos, a portaria ‘tolhe a criatividade artística’. ‘Não posso concordar com o cerceamento da produção. Acredito na liberdade de expressão’. A atriz Fernanda Montenegro esteve presente, mas não se manifestou.
Em um dos momentos mais tensos do debate, o advogado da Abert Luís Roberto Barroso questionava o papel do Estado em classificar programas de TV. ‘Como um Estado que não tira as crianças das ruas quer ter o direito de escolher o que as crianças podem ou não podem ver’, disse. Sob aplausos dos atores e vaias do restante do público, ele emendou: ‘As ONGs que querem se ligar às idéias do Estado têm que arcar com o ônus de assumir que estão do lado contrário à liberdade de expressão’.
Canela, porém, diz que os argumentos da Abert não tratam de outras alternativas. ‘Dizemos que os programas precisam de classificação porque identificamos riscos às crianças. Qual é a alternativa que propõem as principais emissoras? É não ter classificação?’’
PARANÁ
Requião renova desconto para rádios em troca de publicidade para a Copel
‘O governador Roberto Requião (PMDB) renovou nesta semana um convênio que isenta as emissoras de rádio do Paraná de pagar o total ou parte da conta de luz.
O desconto funciona na forma de permuta generalizada e pode representar de 100% a 28% de redução da fatura de energia elétrica. Em contrapartida, a rádio se compromete a incluir inserções de propaganda institucional ou de prestação de serviço da Copel (companhia estadual de energia).
Requião renova o convênio instituído na gestão do ex-governador Álvaro Dias (hoje senador pelo PSDB) no mesmo momento em que promove uma campanha de ataques a quatro jornais e às maiores redes de TV do Estado.
Em inserções na rádio e na TV Educativa do Paraná, emissoras públicas que controla, o governo paranaense acusa os jornais e as TVs de fazer oposição a Requião por ele ter suspendido a publicidade oficial nesses veículos.
O contrato foi assinado com a Aerp (Associação das Emissoras de Radiodifusão do Paraná) e alcança 242 rádios filiadas, segundo o presidente da entidade, Cezar Telles. Com o desconto, a Copel deixa de faturar R$ 3 milhões no período de um ano, segundo cálculo da empresa.
‘Pluralidade’
‘Não perguntamos se essas rádios são contra ou a favor do governo. Elas têm absoluta liberdade de opinião, mesmo sendo beneficiadas pelo desconto’, disse Requião. ‘Somos a favor da pluralidade de opinião, e é nesse sentido que assinamos esse convênio, pelo qual a Copel diminui de forma consistente o custo da energia elétrica que muitas vezes inviabiliza a operação das pequenas emissoras, principalmente do interior’, afirmou.
Emissoras com potência de 1 kW terão desconto de 100% na fatura de energia elétrica. Para rádios com até 3 kW de potência, o desconto pode ir até 80%. Cai para 34% para emissoras com transmissores com até 10 kW. Para rádios com potência superior a 10 kW, o abatimento é limitado a 28%.
O presidente da Aerp disse que com a renovação, ‘o governo do Paraná reconhece a importância do rádio’. Telles defende o desconto como ‘fundamental para a sobrevivência de muitas emissoras’.’
TODA MÍDIA
Acompanhe
‘Foram horas e horas por TV Senado, canais e rádios de notícias, e nada para o ‘Jornal Nacional’. Alguém pedia adiamento, alguém se dizia contra. Em portais como o UOL, um enunciado genérico, ‘Conselho discute o caso Renan, acompanhe’. Por fim, adiaram. Nos blogs, o post recorrente foi a piada sobre o cabelo do relator -como se não fosse mais significativo ser ele suplente de Hélio Costa. Ao fundo da enrolação, o blog de Fernando Rodrigues avisava da manobra de José Sarney para nem acontecer a votação no Senado -e mandar a coisa para o Supremo, para as calendas.
O LADO ESCURO
De uma parte, em destaque no ‘Guardian’, ‘Distância entre ricos e pobres aumenta’, com a avaliação da OECD de que ‘a globalização reduziu o poder de barganha dos trabalhadores não-qualificados e elevou a desigualdade’ -em particular, ‘a vulnerabilidade de empregos e salários em países em desenvolvimento’. Para o secretário-geral do ‘clube de países ricos’, ‘algo está errado no processo’.
De outra parte, por agências como Reuters, o diretor da Organização Mundial do Comércio ‘avisou do lado escuro da globalização’, do seu ‘efeito no nosso tecido social’. Foi uma mensagem para os negociadores da rodada Doha.
CHÁVEZ VS. DOHA
Mas a notícia de impacto para o Brasil sobre a rodada Doha, ontem, veio num despacho da AP, reproduzido em toda parte, sob o título ‘Venezuela junta mundo em desenvolvimento contra as negociações comerciais’. Junta, por enquanto, Bolívia, Cuba e alguns países africanos. Segundo a diplomacia de Hugo Chávez, a preocupação é que os negociadores, EUA, Europa, Brasil e Índia, ‘cheguem a um acordo entre eles’, visando ‘só o interesse de alguns’.
CAPITÓLIO VS. DOHA
Também o Congresso dos EUA pressiona os quatro que negociam a rodada Doha. No ‘Washington Post’, ‘Comissão da Câmara vota para estender os controversos subsídios agrícolas’. Foi unânime.
Já o Senado dos EUA, no site do ‘Wall Street Journal’, ‘rejeitou um questionamento da tarifa de 54 centavos por galão para etanol importado’. Um republicano havia proposto não estender a tarifa, para importar ‘mais do Brasil e menos do Oriente Médio’.
DNA À VENDA
O correspondente Larry Rohter e o fotógrafo Lalo de Almeida estavam ontem mais uma vez na primeira página do ‘New York Times’, novamente com tradução no UOL e ampla repercussão on-line, agora por conta de uma reportagem de Kyowa, ‘Na Amazônia, doando sangue mas recebendo nada’.
Institutos de pesquisa de EUA e França, que coletaram sangue na região nos anos 70 e 90, estariam vendendo agora as amostras de DNA ‘por US$ 85 a dose’ -e já provocando a ‘revolta’ de tribos como karitiana, suruí e ianomâmi.
BRASIL E A EMBRAER
Bloomberg, Dow Jones, AP, Reuters, até a cubana Prensa Latina. A Embraer vendeu mais aviões ontem e amontoou mais notícias nas agências. Desta vez com o destaque, aqui e ali, de que afinal uma brasileira também comprou, a BRA. Até então, diz a Dow Jones, era ‘paradoxal’.
MYSPACE À VENDA
Deu no ‘Times’ de Rupert Murdoch e ecoou na blogosfera daqui, a começar do Blue Bus: o MySpace foi oferecido pelo mesmo Murdoch ao Yahoo, por 25% do site de buscas. Para o ‘Times’, é para entrar num mercado maior. Para outros, o MySpace vem perdendo para o Facebook.’
INTERNET
Tecnologia: Murdoch negocia entrada no Yahoo
‘O bilionário Rupert Murdoch negocia a troca do site de relacionamentos MySpace, adquirido em 2005, por 30% de participação no Yahoo, segundo o jornal ‘The Times’, do qual Murdoch é dono.’
POLÍTICA CULTURAL
Me dá um dinheiro aí!
‘ENQUANTO o nobre senador (arrrghh…) Marcelo Crivella (arrrghh…), ligado à Igreja Universal (arrrghh…), tenta passar um projeto pelo qual igrejas teriam acesso à Lei Rouanet para reformar templos, o Tribunal de Contas da União (TCU) dedica espaço, em relatório, a aspectos relativos ao uso da legislação de renúncia fiscal na área de cultura.
Não sou daqueles que, quando ouvem falar em incentivo fiscal, são acometidos por faniquitos liberais ou sentem vontade de puxar um revólver. Mas, em se tratando de destinação de recursos públicos (num país com as carências conhecidas), a questão precisa ser discutida -como, aliás, tem sido, ainda que nada, de fato, mude. Ou melhor, mudanças ocorreram nos últimos dez anos, mas no sentido de elevar a parcela de imposto que as empresas podem deixar de pagar e para reduzir ou eliminar a necessidade de que essas mesmas empresas, em contrapartida, participem do investimento cultural com dinheiro próprio.
Ou seja, aumentou-se a quantidade de recursos públicos que podem ser aplicados em cultura por meio de empresas privadas e encolheu-se a participação dos recursos dessas empresas privadas nos investimentos. Pior ainda, na Lei do Audiovisual, o Estado remunera em 32% o repasse da verba pública!
No total, no ano passado, a captação de investimento em cultura por meio das leis de incentivo atingiu quase R$ 1 bilhão. É uma soma expressiva, cuja distribuição vai ao sabor de bancos, mineradoras, petrolíferas etc., e destina-se a todo o tipo de projetos, desde aqueles que podem ser considerados relevantes aos que seriam perfeitamente sustentáveis pelo mercado, passando por um sem-número de pequenos, médios e grandes ‘apliques’. Já se tornou ocioso apontar absurdos na utilização das leis de renúncia fiscal. Eles são muitos e estão por toda a parte. Hoje, praticamente tudo se faz pedindo ‘um dinheiro aí’ de renúncia fiscal, sem que o Estado demonstre capacidade de selecionar os projetos e acompanhar as prestações de contas.
Não há dúvida de que esses recursos representam um ganho para a área e se traduzem numa dinamização cultural. Afinal, como costuma exemplificar um crítico desse sistema, se você pegar uma determinada quantia de dinheiro e todo ano atirá-la pela janela, sem nenhum critério, para os moradores de uma rua, passado o tempo certamente alguns progressos serão registrados. A questão é saber até que ponto esses ‘progressos’ devem ser fruto de um jogo sem regras ou de políticas que imprimam racionalidade à distribuição do dinheiro.
Concessões de incentivos fiscais se justificam sob alguns pressupostos. No caso da cultura, o mínimo a esperar é que a legislação fosse um fator de indução ao investimento. Ou seja, o Estado renunciaria a receitas para estimular a participação do investidor privado em cultura e a formação de um mercado capaz de, no futuro, dispensar o uso desses recursos -que se dirigiriam prioritariamente para setores e projetos nos quais a presença pública seria de fato justificável e necessária.’
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TCU põe Lei Rouanet na berlinda
‘As ressalvas que o TCU (Tribunal de Contas da União) fez à Lei Rouanet -de renúncia fiscal em benefício de projetos culturais- provocaram, ontem, reações de apoio e também de discordância entre os gestores da cultura em São Paulo e representantes da classe artística ouvidos pela Folha.
No relatório de contas da União de 2006, divulgado anteontem, o TCU aponta como ‘alarmante’ a situação da fiscalização dos recursos aplicados por meio da Lei Rouanet em projetos culturais -da ordem de R$ 971 milhões no ano passado. Segundo o tribunal, grande parte dos projetos não está sendo fiscalizada.
O tribunal critica ainda a concentração dos recursos em projetos da região Sudeste e o significativo aumento ocorrido nos últimos anos do volume de recursos investidos por empresas estatais, em detrimento da participação das privadas.
A Secretaria de Estado da Cultura avalia que o TCU tem razão ao apontar a necessidade de maior fiscalização da aplicação das verbas da lei, mas defende seu princípio. ‘A lei é ótima. É uma questão de como se a aplica. Creio que o Executivo tem sido competente em sua aplicação’, diz o secretário-adjunto de Estado da Cultura, Ronaldo Bianchi.
Distorção
Já Carlos Augusto Calil, secretário municipal de Cultura de São Paulo, afirma que ‘o espírito da Lei Rouanet foi distorcido’ e defende que ela seja ‘completamente revista’.
Para Calil, ‘há excesso de liberalidade da lei em relação às empresas’, como o fato, por modificações introduzidas no texto, de as empresas serem autorizadas a realizar seus patrocínios com 100% de dinheiro do Imposto de Renda devido, sendo dispensadas de aplicar recursos orçamentários. ‘A lei dá mais incentivo do que seria necessário’, afirma Calil.
Crítico da lei, o consultor Yacoff Sarkovas, especialista em atitudes de marca e diretor-geral da Significa e da Articultura, diz achar ‘um escândalo que o poder público só se dê conta dessa questão 20 anos depois [a lei é de 1991]’.
Sarkovas afirma que ‘quando o TCU fala em desequilíbrio regional [da aplicação dos recursos de patrocínio], está confundindo a opinião pública’, ao apontar para uma conseqüência do uso da lei, sem questionar sua essência.
‘A única forma de produzir uma distribuição mais horizontal [dos recursos], onde o peso econômico seja menos preponderante, é que ela tenha caráter público, e não transite pela decisão privada’, diz.
Calil também diz que ‘o TCU chove no molhado’, quando aponta para a concentração de patrocínios no Sudeste. ‘A renúncia fiscal é de quem paga impostos. Quem paga imposto está no Sudeste do Brasil.’
Itinerância
O dramaturgo e diretor do grupo Parlapatões, Patifes e Paspalhões, Hugo Possolo, também questiona a ressalva do TCU quanto ao desequilíbrio geográfico na distribuição dos recursos. ‘Sou beneficiário das leis de incentivo para o projeto Circo Roda Brasil, que está hoje em Curitiba, depois vai para Ponta Grossa e Belo Horizonte. A minha base é São Paulo, mas estou saindo da minha região. É preciso mapear a itinerância dos projetos, antes de falar de problemas de regionalização’, afirma.
Para o cineasta Paulo Thiago, presidente do Sicav-RJ (Sindicato Interestadual do Audiovisual), o baixo investimento privado ocorre porque o produto cultural, principalmente o cinema, tem dificuldades de se colocar no mercado.
‘Ele enfrenta concorrência grande com filmes estrangeiros, algo que não existe, por exemplo, com as TVs e o teatro’, diz o diretor, lembrando que iniciativas como os Fundos de Financiamento da Indústria Cinematográfica Nacional, administrados por bancos, e que captam recursos de empresas privadas para investir em produções, são exemplo de dinheiro ‘bom’ investido em cultura.’
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Lei autoriza doações e patrocínios
‘A Lei Rouanet foi criada pelo embaixador e doutor em ciência política Sérgio Paulo Rouanet, em 1991, quando ele ocupava a Secretaria de Cultura (pasta correspondente ao atual Ministério da Cultura) no governo Fernando Collor de Mello (1990-1992).
A lei autoriza que pessoas físicas e jurídicas destinem parte de seu Imposto de Renda devido à realização de projetos culturais previamente aprovados pela Comissão Nacional de Incentivo à Cultura -coordenada pelo MinC (Ministério da Cultura)- ou pela Agência Nacional do Cinema, no caso de filmes de longa-metragem.
É o que a lei define como mecenato. Há duas modalidades possíveis para a realização desse investimento -a doação e o patrocínio, caso em que as empresas divulgam sua marca, associando-a ao projeto patrocinado e obtendo, assim, um ‘ganho de imagem’.
A lei institui também o Fundo Nacional de Cultura, ‘dinheiro que o MinC tem à sua disposição, e que pode usar livremente para fomentar atividades culturais, sem qualquer participação por parte do mercado’, como observou o embaixador Rouanet, em entrevista à Folha, em 2002.
Uma modificação introduzida posteriormente na lei e criticada pelo TCU permitiu que, em algumas das áreas da cultura abrangidas pela lei, o patrocínio das empresas seja feito exclusivamente com o dinheiro devido ao IR, eliminando a necessidade, antes existente, de aplicação de parte de recursos orçamentários próprios.’
TELEVISÃO
TV digital deve ter bloqueio para gravação
Pressionado pelas emissoras de televisão, o governo federal deverá permitir o bloqueio da gravação de alguns programas transmitidos pela TV digital.
Após declarar que o bloqueio é inconstitucional, o ministro das Comunicações, Hélio Costa, disse ontem que ‘reavaliou’ a proposta dos radiodifusores e que é necessário algum tipo de proteção dos direitos autorais dos produtores dos programas. ‘Há um consenso de que o melhor caminho é a proteção do conteúdo’, afirmou.
As emissoras querem proibir a gravação de filmes e programas esportivos, por exemplo, para evitar que eles sejam vendidos no mercado pirata. A questão deverá ainda ser analisada pelos ministros do Comitê de Desenvolvimento da TV Digital, que se reúne na próxima semana.
A tendência é que o pedido das emissoras seja aprovado. Segundo Costa, o procedimento foi ‘acertado’ em um almoço anteontem em sua casa, do qual participaram dirigentes de redes de TV e a ministra Dilma Rousseff.
De acordo com o ministro, as emissoras reclamam que terão dificuldade de contratar filmes e programas internacionais caso a gravação não seja proibida. Nos EUA, maior produtor de filmes do mundo, a gravação de programas é permitida. ‘A diferença lá é que, se alguém gravar e reproduzir, pega 20, 30 anos de cadeia’, alegou.
Costa informou que o bloqueio de gravação pode baratear em até 30% o conversor que cada telespectador terá que comprar para receber o sinal.’
Daniel Castro
Cúpula da Globo intervém em ‘Malhação’
‘A cúpula da Globo decidiu reagir à queda de audiência de ‘Malhação’, no ar desde 1995. Nos próximos dias, deverá ser nomeado um autor consagrado para supervisionar o texto, apontado como o principal problema da novela-seriado.
Haverá também mudança na direção. Filho de Mário Lúcio Vaz, diretor-geral artístico da Globo, Roberto Vaz deixará a direção-geral de ‘Malhação’, o segundo cargo na hierarquia da novelinha _o primeiro é o de diretor de núcleo, de Ricardo Waddington, que, com o fim de ‘Pé na Jaca’, dará maior atenção à atração. Vaz, oficialmente, está saindo para cobrir licença de Amora Mautner em ‘Paraíso Tropical’. Ele será substituído a partir de segunda-feira por Carlo Milani (que estava em ‘Sítio do Picapau Amarelo’ e foi um dos diretores da minissérie ‘Amazônia’).
‘Malhação’ registra neste ano média acumulada de 26 pontos. De maio para junho, a audiência caiu três pontos, o que levou a cúpula a intervir. A novela está em queda desde 2004. Naquele ano, marcou 32 pontos. Em 2005, baixou para 31. No ano passado, foram 29. Nos bastidores da Globo, até a liberação de ‘Malhação’ para a versão brasileira do site de vídeos YouTube é vista como tentativa de incensá-la.
A Globo já reforçou a oficina de atores para o fraco elenco da novela. Falta agora acertar o texto, que a direção vê como desamarrado, sem agilidade.
TRANSVERSAL
A primeira marca da gestão de Paulo Markun na TV Cultura será a cobertura da Flip (Festa Literária Internacional de Parati), em julho. A emissora terá tendas e cobrirá o evento com quatro programas. Cinco edições do ‘Roda Viva’ serão gravadas em Paraty (RJ).
DESPACHO
Na tentativa de alavancar ‘Eterna Magia’, a Globo decidiu eliminar da novela todas as velas, paredes de pedra e roupas e cenários monocromáticos. Capítulos tensos, com pouca luz e sem comédia ou romantismo são coisa do passado.
NOVO CENÁRIO
De João Emanuel Carneiro, a novela das oito que substituirá ‘Duas Caras’ (sucessora de ‘Paraíso Tropical’) deverá ser ambientada no Centro-Oeste.
FRASE 1
De Aguinaldo Silva, autor de novelas da Globo, sobre ‘A Pedra do Reino’: ‘A microssérie fracassou porque era um projeto pessoal do diretor [Luiz Fernando Carvalho], mas tão pessoal que só interessou a ele’.
FRASE 2
Do escritor Ariano Suassuna, sobre a adaptação de seu livro pela Globo: ‘A recriação resultou numa obra extraordinariamente bela que me comoveu como autor e como pessoa, como espectador’.
EM ALTA
Não é só a Globo que aumenta suas receitas publicitárias (graças a ‘BBB’), enquanto o conjunto das TVs registra ligeiro declínio. O comercial da Rede TV!, comandado por Antonio Rosa Neto, vai bater recorde de faturamento neste mês.’
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