O esforço para construir um conceito de cultura não é recente e envolve diversos campos da sabedoria (antropologia, filosofia, sociologia). Na comunicação, o termo ganhou destaque com a Teoria Crítica, precisamente com a Escola de Frankfurt e o conceito de indústria cultural. Segundo Adorno e Horkheimer, a cultura, ao se inserir na lógica de produção da estrutura capitalista, perde seu potencial emancipador, transformando as formas artísticas em meras mercadorias. Sob a perspectiva dos estudos culturais, o conceito de cultura ganha um novo sentido que, de modo geral, se expressa pala interação de variáveis como a formação social, o contexto histórico e as forças políticas, econômicas e simbólicas, sendo esta última expressa por meio do discurso e da representação. É dentro dessa perspectiva que Stuart Hall busca refletir sobre o potencial estruturante, a linguagem e as formas simbólicas que cada meio dispõe para atingir a audiência.
Cabe agora indagar como a cultura é tratada nos meios de comunicação de massa, como é a abordagem feita por tais veículos e qual o espaço que ela ocupa. Os questionamentos levantados conduzem a uma reflexão sobre jornalismo cultural e sua prática efetiva.
O jornalismo cultural, dentro da rotina produtiva dos jornais diários, padece de um desequilíbrio entre informação e reflexão. Ao privilegiar os produtos culturais, o jornalismo cultural perde sua acepção básica, de objeto de interesse público, para ser propagador da agenda cultural. Assim, observa-se um declínio da produção de matérias investigativas, da cobertura analítica e da crítica embasada. Ao assumir a função de entertainer e propagar a agenda cultural, faz-se necessária uma avaliação da prática noticiosa do jornalismo cultural contemporâneo.
Construção da ‘cidadania cultural’
Por meio de workshop [realizado na programação da Semana da Comunicação 2007, um evento acadêmico da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Fumec, entre os dias 21 e 25 de maio] com o diretor de Redação e o editor do caderno de cultura de um dos maiores jornais impressos de Minas Gerais, a rotina, as práticas e premissas do jornalismo cultural foram postas em evidência. Dentre elas cabe ressaltar as pesquisas de audiência que apontam para um crescente número de leitores dos cadernos de cultura, em maior significância, os jovens. Um fluxo que se orienta na contramão da venda dos jornais impressos, os quais, devido às novas formas de acesso a informação, têm perdido parcela considerável de assinantes. Somam-se a isso os impasses da rotina produtiva que o jornalismo cultural contemporâneo tem que enfrentar: o desequilíbrio entre informação e análise, sobretudo entre informação e formação. Embora seja notória a importância atribuída aos cadernos de cultura, é preciso examinar como é constituída a mediação entre as formas culturais (de expressão artística, lingüística e estética) e o público.
Para João Paulo Cunha, editor do caderno de Cultura do jornal Estado de Minas, o jornalismo no campo da cultura adquire uma vocação, uma certa militância de trazer conteúdos simbólicos que agreguem um conhecimento da área cultural no leitor do jornal [a título de ilustração, o artigo abordará os meios de comunicação de massa a partir do impresso, mas as reflexões aqui elaboradas valem para os demais meios]. A função de formar pressupõe dar ao leitor o embasamento para que ele possa compreender as formas culturais e elaborar suas próprias análises. Não basta aos veículos apenas anunciar os eventos culturais recentes. ‘É importante e o leitor busca, ao lado dessa cobertura mais informativa no campo da cultura, algum tipo de desenvolvimento de valores intelectuais’, analisa.
O dilema diário da rotina
Já Josemar Gimenez, diretor de Redação do jornal Estado de Minas, ressalta, dentre os desafios para fazer um jornal ‘moderno’, a necessidade de produzir um material criativo, diferente e distante da commodity. No jornalismo cultural, acumula-se ainda (sem pedantismo) a tarefa de formar um leitor consciente, inseri-lo no contexto dos fatos e aprimorar sua forma de fazer juízos. ‘A ligação entre informação e formação é algo que deve ser perseguido o tempo todo. Isso não significa fazer um jornalismo didático, pedagógico, mas nós não podemos esquecer também que existe esta responsabilidade e esta demanda por parte do leitor’, afirma João Paulo.
É nesse complexo cenário, que mistura formas simbólicas, expressões culturais e representação, que se configura a prática do jornalismo cultural. Um campo carente de fundamentações teóricas e que enfrenta os dilemas diários das rotinas produtivas.
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Estudante do 7º período de Jornalismo da Universidade Fumec, Belo Horizonte, MG