Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Imprensa endeusa pseudo-craques

Após ‘amareladas’ vestindo a camisa da seleção brasileira tão ‘boas’ quanto suas boas atuações no Barcelona, Ronaldinho Gaúcho continua sendo reverenciado pela imprensa nacional e internacional como um jogador diferenciado, plástico; um Pelé aperfeiçoado.

O fato é que tocar a bola virando a cabeça para o lado contrário e fazer malabarismos circenses nos treinos da seleção não sustentam ninguém no posto de número um do futebol. Em suas últimas atuações pela equipe de Dunga, Ronaldinho vem sendo a apatia e ineficiência em pessoa.

Apesar de ser muito mais o que a mídia quer que os brasileiros pensem que ele é do que, de fato, um craque, a população ‘fanatizada’ endeusa o jogador do Barcelona em proporções messiânicas. Diferentemente do estilo europeu – pragmático, objetivo e organizado –, o futebol brasileiro sobrevive com um pouco de tática e a eterna esperança que um atleta especial em algum momento faça a diferença. O improviso é um traço cultural e é nesse ponto que Ronaldinho se sustenta como um ‘gênio’ – justamente pela falta de qualidade tática e técnica da seleção brasileira em geral. Uma jogada brilhante – que não tem acontecido há anos – para orgulhar o povo carente do país do futebol.

Modelo tupiniquim

Lembremos que desde 1994 a seleção brasileira vem vencendo no limite e na sorte e perdendo de forma vergonhosa. Na Copa dos Estados Unidos uma loteria de pênaltis favoreceu a nossa equipe; em 1998, uma derrota vexatória diante da anfitriã, a França, em um caso obscuro acerca do que aconteceu com Ronaldo ‘Fenômeno’; em 2002, a redenção diante da Alemanha e a esperança da ressurreição do que se costumou denominar futebol arte; e, por fim, em 2006, muita badalação sobre os ‘galácticos’ e uma derrota merecida para a França na penúltima rodada com direito a estrela ‘européia’ arrumando meião em cobrança de falta do oponente. País do futebol, não. País do futebolzinho, que há décadas não demonstra brilho algum, mas que sobrevive com o comprometimento da imprensa em manter o tubo de oxigênio ligado.

O brasileiro é tão obcecado por futebol que perdeu qualquer critério de exigência. Não é compreensível, aceitável, que multimilionários jogadores de futebol – em sua maioria, de origem humilde – não utilizem um veículo de comunicação e seu prestígio nacional e internacional para enviar uma mensagem de alento ou incentivo à indignação no que concerne às graves questões sociais, econômicas e políticas existentes no Brasil.

O povo está tão mergulhado no entretenimento futebolístico que não compreende que, há muito tempo, o divertimento se tornou uma obsessão perigosa. As grandes estrelas, ao invés de servirem de exemplo, principalmente para a juventude brasileira, são flagradas em festas regadas a álcool – como no caso do atleta Adriano, que foi amplamente noticiado pela mídia. Afinal, é o modelo tupiniquim de vida: festa, futebol, cerveja e feriado.

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Jornalista