Em sua coluna de terça-feira (19/06), no jornal O Globo, Luiz Garcia escreveu que o ‘melhor momento de um repórter talvez não seja quando sabe o que vai dizer, mas quando sabe o que perguntar’. Tal afirmação é parte de um elogio que faz às reportagens investigativas dos repórteres da TV Globo no interior de Alagoas sobre o ‘caso dos bois’ e as enormes contradições do senador Renan Calheiros relativas ao caso.
No jornal eletrônico Montbläat (nº 242), Luiz Flávio Gomes cita uma excelente coluna, publicada na Folha de S. Paulo, de Elio Gaspari que expõe o seguinte:
‘Em quatro anos, foram apresentadas 646 propostas relacionadas com o crime. Delas, 626 destinavam-se a agravar penas, regimes e restrições. Só duas relacionavam-se com as delinqüências da turma do colarinho branco. Esse mesmo Congresso atravessou seis CPIs e absolveu 12 dos 19 parlamentares incriminados.’
O que essa equação de referências a jornais e formadores de opinião quer mostrar? Que se não for pelas mãos de uma sociedade mobilizada, pelos meios de comunicação ávidos em noticiar e investigar (aqui não vai nenhuma referência aos motivos de certas mídias estarem mais ávidas que outras) e pelos que se debruçam sobre o problema social colocando seus nomes em textos ‘convocadores’ ou ‘denuncistas’, não será o Congresso e suas patéticas CPIs e conselhos éticos que extirparão as falácias e virulências que assolam a política brasileira. Se a mídia não assumir o seu papel e representar a sociedade menos abastada, tudo vira pizza ou cosa nostra, ainda mais rocambolesca.
Meter os pés pelas mãos
No mesmo Montbläat é possível ler um artigo excelente de Teócrito Abritta, intitulado ‘Anatomias de Kriptonita’, denunciando, entre outras coisas, as mazelas do governo Lula no Ibama e a desistência de muita gente que veio com o título de coerente e íntegro, mas que acabou cedendo à rajada constante do vento governista.
Quando os jornais (todos os veículos de comunicação, de uma maneira geral) investigam e assumem seus devidos papéis publicando com coerência, mesmo estando errados enriquecem o debate e são desculpados pelos debatedores (sociedade), ainda que parcialmente, pois ajudam no crescimento intelectual do cidadão e formam outros opinadores, enobrecem o discurso e engrandecem a reflexão. Quando não fazem nada disso e ainda por cima usam de subterfúgios escusos para impor seus interesses ‘mercantilistas’, ainda que certos, empobrecem o debate, nublam o debate e atrofiam a reflexão.
Fiquemos, então, sempre sedentos e atentos. A mídia, como no caso do presidente do Senado, anda muito correta, mas às vezes sente uma incontrolável vontade de meter os pés pelas mãos. Cabe a nós, consumidores, a responsabilidade de dizer: ‘Hoje eu não vou te comprar.’
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Mesquita, RJ