Uma das conseqüências da injustiça na distribuição de renda é a transformação da sociedade em um sistema de castas. Temos os que têm, os que estão a serviço dos que têm, os que não têm e os que estão a serviço dos que não têm. Há, também, os que estão a serviço do país e os que estão a serviço de si mesmos – estes transitam de uma casta a outra, em busca de lucro, custe a quem (sic) custar, ou de uma mamata, ou de uma ou outra sinecura.
A concentração exagerada da renda gera poder demais a alguns, em detrimento da maioria. Entre aqueles, há os políticos, responsáveis que são pela feitura e pela execução das leis.
A polícia deve zelar pela ordem pública. Existe para garantir que as leis sejam cumpridas, podendo, em caso de necessidade, fazer uso da força.
No Brasil, a mídia e a população comumente a identificam com o Poder, no que essa afirmação contém de mais oligárquico. É a polícia a serviço dos poucos que detêm muito. É a polícia dos políticos. É a polícia da plutocracia.
Esse olhar tem sido delineado desde há muito, em razão das injustiças e dos excessos perpetrados pelas forças policiais.
Muito se diz acerca dos seus pecados. Pouco daquilo que as levam a cometê-los.
É corrente o pensamento de que muitos bandidos (sem farda) o são porque cresceram na miséria, em meio à violência que se retroalimenta. Dá-se o mesmo, acrescento, no meio policial (entre eles, os bandidos com farda).
Mais: são pessoas que se situam entre a cruz e a espada. Ainda que detenham uma parcela de poder, se originam do povo e se mantêm nessa condição. Ainda que sejam do povo, são vistas pelo próprio povo como agentes dos maus políticos (a maioria) e dos empresários gananciosos (uma parte que se confunde com o todo e tem poder demais).
Polícia nos jornais
Semana passada a polícia esteve em voga nos jornais. Assuntos que mais despertaram a atenção: envolvimento com as mais variadas máfias que se divulgam, dia após dia, Brasil afora, local e nacionalmente; e os camelôs surrados pela Guarda Civil Metropolitana de São Paulo.
Alguma novidade? Sem dúvida, nenhuma.
O jornal Extra procurou mostrar o lado de lá da miséria: fez uma série de reportagens que circundaram a notícia de que ‘a cada três dias, um policial é assassinado no Rio’, como destaca uma das matérias assinadas por Camilo Coelho e Marcos Nunes. Os repórteres deram a dimensão humana de uma tragédia que se multiplica no cotidiano, quase sempre minimizada por jornalistas que a consideram ‘normal’.
O ‘jornalista médio’ pensa exatamente como a média dos seus concidadãos, gente que considera a polícia uma mera extensão das forças dominantes do país. Dificilmente perceberá que esses mesmos policiais estão algemados com a maioria a uma situação predominante: a miséria, a má-formação, os salários baixos, as péssimas condições de trabalho, a sujeição a políticas públicas risíveis, a coação dos poderosos, a neurose coletiva, a frustração de quem se sabe sem futuro.
Eis um tema que precisa ser observado com a profundidade que o contexto exige.
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Jornalista