Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Ponto de encontro

Em 1968 eu lanchava com Luis Gleiser, hoje diretor de televisão e ainda um ótimo amigo. Nenhum de nós havia chegado ainda aos 20 anos. No ‘Ponto de Encontro’, casa de chá da moda no Rio, disse a ele que meu maior desejo era um dia trabalhar no Jornal do Brasil. Lembro bem do que falei: ‘Topo começar até como contínuo’.

A razão pela qual um garoto de classe média, estudando na PUC, queria entrar no JB por qualquer porta não era o dinheiro. Era a chance de participar do que o havia despertado para o jornalismo: a capacidade de um jornal de ser combativo, de exprimir as inquietações que ele mesmo estava sentindo. De falar por ele. Ou o jornalismo é isso ou não serve para nada. O jornal era comandado por um nome que o jovem só conhecia de ler no expediente: Alberto Dines.

O desejo, por caprichosa ironia, levou 35 anos para acontecer. Do modelo de integridade que habitava os sonhos da adolescência, restava pouco mais que a magia das duas letras pronunciadas juntas. Mas estava ali, aos sábados, a mesma janela para o combate, a independência, a coragem de falar pelos outros, que haviam inspirado no garoto o orgulho pela sua profissão. Aos sábados, pelo menos, estava presente a âncora que ligava o JB aos dias em que ele era capaz de fazer um estudante se apaixonar pela idéia de se tornar jornalista.

O ‘Ponto de Encontro’, na rua Barata Ribeiro, já não existe. Em algum outro lugar deve haver um adolescente dizendo ao amigo que seu grande projeto é participar da trajetória de um jornal que está falando o que ele gostaria de falar. Fico imaginando quem o estará inspirando a fazer isso.