Em votação feita por eleitores (foram cem milhões de votos) com acesso à internet e a celulares, foram fixadas as novas Sete Maravilhas. A China foi a grande vencedora, com sua famosa Muralha. O Brasil ficou em terceiro lugar, com o Cristo Redentor, no Rio.
O mausoléu de Taj Mahal, na Índia, passou raspando e ficou em sétimo lugar. A Itália, com o Coliseu, ficou em sexto, atrás da cidade de Chichén Itzá, no México, e de Macchu Pichu, a cidade perdida dos incas, no Peru. A Jordânia, com Petra, um conjunto de construções esculpidas em pedra, ficou em segundo lugar.
A internet é um terreno minado. Em nenhum outro espaço da mídia é gritante a falta que faz um editor!
O extraordinário craque que foi Maradona, em análise isenta, ficaria no máximo no nível de Garrincha, Didi, Gérson, Jairzinho, Vavá, Coutinho, Romário e Zico, entre outros. Ou, para citar estrangeiros, Cruyff, Di Stefano, Puskas e Zidane, entre muitos outros. Mas a internet fez dele o melhor do mundo; melhor do que Pelé, inclusive, estrela que paira sobre todas as outras.
Acrópole ficou fora
Pois agora, deu-se algo semelhante. O cineasta suíço-canadense Bernard Weber trabalhou seis anos no projeto que definiu como ‘a primeira votação global da História’. Da lista inicial de 177 lugares, depois reduzidos a 77, foram escolhidos 21 finalistas. Ficaram de fora notórias maravilhas: a Estátua da Liberdade, nos EUA; o Castelo de Neuschwanstein, na Alemanha; a Torre Eiffel, na França; as pirâmides de Gizé, no Egito; o conjunto do Kremlin e da Praça Vermelha, na Rússia; o palácio de Alhambra, na Espanha.
Os espanhóis foram os primeiros a reagir. O jornal El Mundo afirmou em editorial que os espanhóis ficaram ‘profundamente decepcionados’ com a derrota do candidato do país, o monumental palácio muçulmano da Alhambra, na Andaluzia.
O motivo, segundo El Mundo: ‘A eleição deu-se por votos através da internet e de telefones celulares’. O Brasil, com 188 milhões de habitantes, elegeu o Cristo Redentor, derrotando, não apenas a Espanha, também a Grécia, que concorreu com a Acrópole.
Campanhas histéricas
Ainda de acordo com El Mundo, ‘é incrível que prefeituras e instituições públicas em todo o mundo tenham se prestado a participar desta farsa global’.
‘O negócio está assegurado porque o público está ávido por este tipo de espetáculos, baseado nas possibilidades de participação oferecidas pela internet e as novas tecnologias. Tudo, entretanto, é apenas espelho criado por um gênio de marketing que deve estar rindo do mundo a estas horas’, conclui o jornal.
Na França, Le Figaro questionou o número oficial de votantes: ‘Cem milhões de votantes? Certamente, não: o ‘direito’ estava limitado a um voto por endereço eletrônico, nada impedia de utilizar vários endereços por pessoa e multiplicar da mesma forma os votos por mensagens de celular para ‘rechear as urnas’ virtuais’, criticou o jornal.
Na Alemanha, o Berliner Zeitung, lamentando derrota do castelo Neuschwanstein, disse que ‘o gosto mundial poderia ser mais refinado’.
A África e a América do Norte foram as grandes derrotadas. O jornal foi duro com a campanha, criticando a mídia: ‘A pré-seleção dos monumentos foi surreal, com campanhas histéricas sendo lançadas na Jordânia, no Brasil e mesmo na Bavária.’
Como nos hospícios
Os alemães dizem ainda que a atual lista não é menos eurocêntrica do que a antiga: ‘Com exceção da Grande Muralha, da China, e do Taj Mahal, o significado de todas as maravilhas do novo mundo foi originalmente definida por arqueólogos e historiadores da arte ocidentais.’
Pode ser que o Berliner Zeitung tenha razão. Toda eleição envolve recursos que privilegiam o sensacionalismo e a insensatez. Mas jamais houve, com todos os senões, uma votação tão abrangente.
‘Após o sucesso comercial deste concurso, é certo que dentro de muito pouco tempo serão organizados outros para eleger as sete belezas naturais do mundo ou os 11 melhores jogadores de futebol da história’, diz o editorial de El Mundo.
Pois o que jornal teme, já acontece no Brasil, só que sem eleitores. Com um colégio de um voto só, aqui já foram escolhidos os cem maiores contistas, os cem maiores poetas, os cem maiores cronistas etc., em listas em que, como nos hospícios, nem todos os que são, estão, e nem todos os que estão, são.