Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Olhar diverso sobre a realidade

Cresce a olhos vistos a fúria da imprensa mercantilista monopolizada contra o governo federal e setores populares de esquerda. Para esses potentados da informação, estaria em curso um terceiro turno das eleições de 2006; acreditam que ainda podem derrotar Lula, ou no mínimo, travar o seu governo.

A Rede Globo compete com a Veja e outros poderosos órgãos para ganhar o troféu ‘imprensalão’, concurso bizarro em que maior pontuação se consegue manipulando os fatos, desinformando e editorializando as notícias que divulgam. Em meio a essa ofensiva direitista, e apesar dela, a última pesquisa CNT/Sensus, divulgada no final de junho, mostra que Lula continua bem na aprovação popular.

Notícia vendida e deturpada

Escolho quatro exemplos observados no noticiário que revelam as manobras que a grande imprensa faz para ocultar o verdadeiro jogo em curso no Brasil.

a) Ao noticiar a decisão final do STJ, no dia 27 de junho, que mandou o governo federal abrir os arquivos da Guerrilha do Araguaia, a Globo e os jornalões desinformaram que ‘a Guerrilha do Araguaia foi promovida por grupos de esquerda que se opunham ao regime militar’.

Essa papagaiada foi distribuída por agências noticiosas país afora. Pena que jornalistas profissionais se prestem a um desplante desses, pois até os meninos de grupo sabem que no Araguaia foi o PCdoB que escreveu heróicas páginas da luta dos brasileiros pela liberdade.

Então, fica claro: não são só os setores militares direitistas que querem esconder a verdade sobre a guerrilha; seus aliados de sempre estão a postos, nas redações do conservadorismo empresarial que vende e deturpa notícia.

Paulada diária

b) Na campanha para enfraquecer o governo e seus aliados, tentando a toda hora degolar o presidente do Senado, Renan Calheiros, o Jornal Nacional ‘informou’, no dia seguinte à escolha do senador Leomar Quintanilha (PMDB-TO) para a presidência da Comissão de Ética do Senado (28), que o senador Leomar responde a processo no STF.

Para esse senador, não vale a presunção de inocência, o princípio constitucional de que ninguém pode ser considerado culpado até que sobrevenha condenação definitiva?

E alguém se lembra de quando foi que a Globo ‘informou’ sobre os processos a que os caciques do PSDB e do PFL/DEM respondem? Pois é, esses santos de pau oco, descarados viúvos da ditadura e do saque às riquezas nacionais que a privataria tucana patrocinou, agora são incensados diariamente nos noticiários grandes. Já para os aliados do governo, a paulada diária é certa.

Ensino profissionalizante

c) E depois de esconder por anos a fio manifestações com milhares de pessoas, no curso das lutas mais sentidas do povo brasileiro, esses que se pretendem donos da opinião pública ‘noticiaram’ no dia 28 a manifestação de 40 militantes do PSOL em frente ao Congresso, num frustrado lançamento de um movimento pela ética ao qual só faltou mesmo a vassourinha janista.

Haja empulhação! E esses companheiros, que se dizem de esquerda, nem se dão conta de que estão sendo embrulhados no pacote do reacionarismo.

d) Também em 28 de junho lançaram na telinha um grande projeto: o Teletec, curso de ensino profissionalizante, parceria que envolve a Fundação Roberto Marinho e o governo de São Paulo. Lá estava o mesmo Serra, aquele que não explicou o desastre da obra do metrô e os contratos atucanados de porteira fechada e que nem foi cobrado por essas empresas que ganham rios de dinheiro manipulando informações. E tiveram a caradura de anunciar que, de São Paulo, o tal programa logo estará atingindo o Brasil todo.

Alô, Ministério Público: será que o dinheiro dos contribuintes de São Paulo pode ser usado para bancar atividades em todo o país?

Corrupção não é de agora

E essa moda não é de hoje. Nos idos de 1963 e 1964, Carlos Lacerda e outros governadores da oposição ao presidente Jango também agiam assim, não era? Iam a Washington reunir-se com Kennedy e Lyndon Johnson, presidentes do império (EUA), tramaram o golpe de 64, fizeram encenações e assinaram convênios, como se fossem eles os verdadeiros representantes do Brasil. Magalhães Pinto, governador mineiro, inventou até um secretário de Relações Exteriores, Afonso Arinos. A excrescência que fizeram responde pelo nome de ditadura militar e durou 21 anos, massacrando liberdades democráticas, vidas e instituições!

É, mas o povo, essa brava gente brasileira que vive de seu próprio trabalho, que não fatura em cima do suor de seu ninguém, não gosta mesmo de corrupção. Corrupção é mania de gente rica, dos bem de vida, da elite espertalhona que quer se dar bem a qualquer preço. Quem paga em dia o imposto predial da casinha de vila – único bem que possui –, ou o aluguel, com dinheirinho suado, quer ver o Brasil crescer e funcionar direito, quer que continue a melhora na vida da sua classe. Ser contra a corrupção é questão de princípios, algo intrínseco às pessoas de bem, que lutam pelo bem comum, por justiça social, por um Brasil soberano e de progresso.

Campanhas contra a corrupção foram lançadas contra Vargas (1954), Juscelino (1960) e Jango (1964) pelas elites da direita. Relançá-las agora corresponde a interesses semelhantes das ações do passado: desbancar políticas populares, nacionalistas ou desenvolvimentistas. Mas esse povo brasileiro também não é cego e nem bobo e, sabendo que a corrupção não é invenção de agora, está vendo muito bem a monumental campanha, já há mais de dois anos, para enfraquecer e/ou tirar Lula do poder, e possibilitar a volta do PSDB/PFL.

Mais ainda há por mudar

Essa gente que vive de minguado rendimento do trabalho põe sentido em outros fatos, como o aumento do poder de compra dos salários e o prosseguimento da inédita política de distribuição de renda no País. Acompanham com satisfação o fato de que, no período do Lula presidente, mais de 6 mil pessoas já foram presas pela Polícia Federal, devidamente munida de ordens judiciais, em operações e mega-operações de combate à corrupção, sonegação de tributos, evasão de divisas e outros chamados crimes de colarinho branco; tudo coisa de gente fina.

Pois é, o Lula que leva comida aos casebres também tirou as algemas da Polícia Federal, que na era FHC era tolhida e não investigava ricos, empresários e políticos, os chamados ‘barões’. Também por isso a aprovação a Lula se mantém em alta, acima de 60%, conforme pesquisa dessa semana. Somados os conceitos de bom e regular, dá mais de 80%. Isso porque os ricos são mesmo franca minoria, um punhadinho. E nas classes médias, muitos setores confusos e desorientados em meio ao pesado jogo da política, bem que podiam descer do pedestal e se mirar em seus compatriotas que vivem com muito mais dificuldades nos degraus de baixo.

São esses trabalhadores menos abonados que não sonham em transformar o Brasil em sucursal dos EUA; querem um Brasil que faça por eles, e por isso garantem sustentação social e eleitoral a essas mudanças que o Brasil nunca tinha visto.

E mais ainda há por mudar, sempre pra diante, jamais em marcha a ré.

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Advogado e servidor público, com especialização em Políticas Públicas pela UFG, membro do Comitê Central do PCdoB, responsável pela Secretaria de Comunicação do PCdoB-GO e 1º suplente de vereador em Goiânia