Thursday, 19 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Governador do Paraná diz que imprensa apóia censura

Leia abaixo a seleção de terça-feira para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Terça-feira, 12 de fevereiro de 2008


PARANÁ
Dimitri do Valle


Requião afirma que imprensa apóia ‘censura’


‘O governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), disse ontem que ‘parte da imprensa’ se mostrou ‘entusiasta da censura’ ao apoiar decisão judicial que o proibiu de usar a TV Educativa do Estado para atacar desafetos.


Requião discursou ontem na abertura do ano legislativo da Assembléia e iniciou sua fala citando o caso, que repercute desde o início do ano, quando o juiz federal Edgard Lippmann Júnior emitiu a ordem para que cessasse com as críticas. Para o governador, a mídia deveria defender a liberdade de expressão no lugar de se posicionar a favor da decisão judicial. ‘Não pouparei parte da imprensa no comportamento no episódio: omissa, quando não extraordinariamente entusiasta da censura’, afirmou.’


 


CARTÕES DO GOVERNO
Clóvis Rossi


O Estado desgovernado


‘SÃO PAULO – Marcos Fernandes Gonçalves (Fundação Getúlio Vargas) produziu ontem, nesta Folha, sensata avaliação do caso dos cartões de crédito corporativos, com os quais se praticaram as mais recentes maracutaias. Para quem não leu, repito a avaliação: ‘Cartão corporativo é bom, seja numa empresa ou no governo’.


Ruim, prossegue Fernandes Gonçalves, é o fato de ‘o Estado brasileiro estar fora de controle, por falta de fiscalização e informações’. Até já cansei de escrever aqui que o mundo político brasileiro e o Estado que ele construiu se tornaram entidades autônomas, que servem basicamente a seus próprios integrantes, com as (raras) exceções de praxe.


O economista da FGV lembra que, ‘anos atrás, dois executivos ingleses de uma empresa gastaram uma quantidade enorme num jantar. Foram demitidos assim que o gasto foi apontado’.


No Brasil, assim que qualquer abuso é apontado, o presidente da República pode até afastar os responsáveis, mas passa a mão na cabeça deles, afaga-os, continua tratando-os como ‘bons companheiros’ (e o duplo sentido, neste caso, justifica-se plenamente), o que só estende a sensação, por todos os escalões da administração pública, de que abusar está permitido -e até incentivado.


Caiu-se em tal grau de degenerescência que o lulopetismo já nem tenta mais protestar inocência. Ao contrário: cada vez que aparece um escândalo, limita-se a gritar ‘eu faço, mas eles também fazem’. Aliás, a frase-símbolo do atual governo é ‘o PT fez o que todo mundo faz’, pronunciada na esquisita entrevista que Lula deu em Paris, durante o escândalo do mensalão.


Mesmo que ‘todo mundo faça’, não deveria o presidente da República ser o primeiro a exigir que os ‘seus’ não o façam, em vez de, ao absolver ‘todos’, dar a senha para que continuem ‘fazendo’?’


 


Eliane Cantanhêde


O tudo dá em nada


‘BRASÍLIA – Quem levantou a bandeira da CPI da Tapioca foi a oposição – DEM à frente, como é usual-, a partir das revelações de desvios com os cartões corporativos do governo federal que, por verdadeiras, derrubaram a ministra Matilde Ribeiro.


Mas esse foi o único passo concreto dos oposicionistas, que, desde então, vêm perdendo, um a um, os lances em direção à CPI.


Enquanto DEM e PSDB ficavam na ameaça, o líder governista Romero Jucá sacou rápido e atirou primeiro, apresentando o requerimento de uma comissão só do Senado para investigar igualmente os governos FHC e Lula.


Enquanto DEM e PSDB, desnorteados, discutiam se deveriam assinar ou não, o governo avançou e já transformou a comissão do Senado em mista (senadores e deputados), diluindo o foco. E, enquanto a oposição rachava em relação ao acordo de uma CPI mista para FHC e Lula, os governistas comemoravam.


O desconforto e o racha têm dois motivos: os gastos vêm desde FHC e existem também no governo Serra em São Paulo, o que embaralha ainda mais a estratégia política de tucanos e democratas em Brasília.


Quem teme CPIs são governos de plantão, não os que acabaram há cinco anos. Mas o Planalto não ficou na defensiva, foi para o ataque.


Ele deveria estar na berlinda, mas puxou os governos FHC e Serra. A oposição pode berrar à vontade que antes só havia ‘gastos do tipo B’ e os cartões só começaram em 2001; ou que os cartões de Serra são diferentes dos de Lula, porque dirigidos para gastos bem específicos da administração. Do ponto de vista político, o efeito é quase nulo.


Tecnicamente, CPIs são para apurar ‘fatos determinados’. Politicamente, quando a onda vem, a rede pesca tudo. Quanto maior e mais disseminado for esse ‘tudo’, maiores as chances de dar em nada. Melhor para Lula, melhor para eles todos, governo e oposição.’


 


Carlos Heitor Cony


Boi de piranha


‘RIO DE JANEIRO – Alguns leitores estranharam a crônica que publiquei no último domingo (‘A farra dos lápis’).


Na unanimidade da mídia e das cartas à Redação, condenando com o vocabulário mais radical o uso e o abuso dos cartões corporativos, o meu texto poderia dar a impressão de que minimizava o escândalo. Bastaria uma leitura atenta (e inteligente) para compreender o que quis dizer.


Dei o exemplo do desmonte do morro do Castelo, aqui no Rio. Um dos empreiteiros ganhou tanto dinheiro que comprou um castelo na Espanha -e não foi molestado nem pela imprensa nem pela Justiça. O inquérito para apurar as bandalheiras resumiu-se em punir o pessoal de baixo, que gastava muito lápis nas anotações dos burros que levavam a terra do desmonte para jogar na baía.


Umas pelas outras, as CPIs costumam terminar de dois modos: ou na suculenta pizza que conhecemos, ou botando a culpa em laranjas e lobistas que atuam nos bastidores. Verdade que ninguém mais compra castelos na Espanha. Mas os paraísos fiscais estão cheios de contas cujos titulares secretos são ou foram autoridades no Brasil.


Uma CPI para apurar a farra dos cartões pode ser um boi de piranha, aquele mártir que é jogado no rio para ser devorado pelas piranhas enquanto o resto da boiada passa tranqüilamente para a outra margem do rio.


Pela complexidade do novo escândalo, que envolve milhares de pessoas e quantias que partem de R$ 1 (um copo de água mineral tomado por uma servidora) e, somadas, chegam aos milhões de reais, é certo que o ano, no Congresso e na mídia, será dedicado aos depoimentos, provas e contraprovas, alimentando as piranhas de sempre, que cumprirão o seu dever enquanto a boiada mais gorda passará mais uma vez incólume.’


 


Valdo Cruz, Adriano Ceolin, Silvio Navarro e Maria Clara Cabral


Acordo evita ‘devassa’ em contas de Lula e FHC na CPI


‘O Palácio do Planalto fechou um acordo com o PSDB na busca de uma CPI ‘controlada’ dos Cartões Corporativos. A idéia é evitar uma devassa nas contas do presidente Lula e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o que pode esfriar as investigações.


Enquanto o governo cedeu, admitindo uma comissão mista -na Câmara e Senado-, o PSDB aceitou que a investigação ocorra a partir de 1998, englobando cinco anos do governo FHC.


O acordo, fechado entre o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), e o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), quase ruiu após uma troca de telefonemas do presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), com Fernando Henrique. O ex-presidente se irritou com a ampliação do foco das investigações. No final do dia, porém, Guerra admitiu que havia sido fechado um acordo.


‘Eu acho que a CPI não deve fazer uma devassa na vida dos presidentes [Lula e FHC]. Não deve, por exemplo, chegar aos familiares, em coisas pessoais deles’ disse Sampaio.


O ministro José Múcio Monteiro (Relações Institucionais) entrou em contato no domingo com Sérgio Guerra, procurando um entendimento para a criação de uma ‘CPI civilizada’, que não tenha o único intuito de investigar os gastos presidenciais de Lula e de FHC.


Do lado tucano, o ministro ouviu não ser interesse do partido fazer uma devassa nas contas do petista, mas uma investigação profunda sobre o uso dos cartões.


Segundo a Folha apurou, o governo espera contar com os tucanos para evitar que uma investigação dos gastos de Lula e FHC cheguem a detalhes, revelando por exemplo o que é consumido no Palácio da Alvorada. O Planalto sabe, porém, que enfrentará dificuldades nessas negociações. Afinal, o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), é totalmente refratário a um entendimento com o governo.


Na cúpula tucana, a avaliação foi que Carlos Sampaio agiu precipitadamente por dois motivos: 1) não se preocupou em consultar FHC nem a direção do partido; 2) permitiu que, com a participação da Câmara, o governo controle a comissão, indicando presidente e relator.


Presidência com PMDB


Com maioria folgada na Câmara, o governo pretende deixar a presidência da CPI nas mãos de um peemedebista aliado e indicar um deputado do PT para a relatoria. A oposição não aceita e sugere o nome do senador Renato Casagrande (PSB-ES), considerado ‘independente’.


Para convencer Jucá a aceitar a CPI mista, Sampaio disse ao governista que o seu requerimento permitiria que as investigações atingissem os cinco últimos anos do governo FHC, abrangendo os cartões e as chamadas contas ‘tipo B’ (depósitos feitos nas contas dos servidores e sacados, com posterior apresentação de notas).


‘Expliquei ao senador Jucá que a justificativa do requerimento incluiria a data de criação do decreto 2809/1998, portanto atingindo o governo do presidente FHC’, disse Sampaio. ‘Ele ficou satisfeito e decidiu retirar o pedido que havia feito para uma CPI somente no Senado’, completou o tucano.


E-mail


Além da conversa no gabinete do líder do governo, Sampaio enviou um e-mail com o texto da proposta, lembrando decisão do ex-ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Paulo Brossard, que determina que ‘CPIs podem aprofundar suas investigações em relação a fatos correlatos, não especificados no requerimento de sua instalação’.


Os termos do acordo feito pelo deputado provocaram irritação. ‘Conosco, não há nada fechado. Isso é acordo da Câmara’, disse o senador Álvaro Dias (PSDB-PR). ‘Isso terá de ser discutido pelos líderes da oposição no Senado’, completou.


‘Não temos o que temer’, disse o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE).


Depois, em entrevista, o senador tucano disse que o acordo fechado teria de ser discutido pelo líder do partido no Senado, Arthur Virgílio. ‘Eu quero ouvi-lo antes de qualquer coisa’, afirmou.


Distante das divergências no Senado, o líder do PSDB na Câmara, Antonio Carlos Pannunzio (SP), já recolhia assinaturas para o requerimento de Carlos Sampaio.


‘Vamos superar qualquer mal-entendido. A CPI é positiva para a sociedade, vamos investigar’, disse Pannunzio sobre o desentendimento com o Senado.’


 


Janio de Freitas


Presidentes sem segurança


‘A CONDIÇÃO para o acordo por uma CPI mista é excessiva, ao vedar a priori que o exame dos gastos ‘eventuais’, de 1998 para cá, alcance as despesas encobertas da Presidência propriamente dita, tanto no segundo mandato de Fernando Henrique como nos anos de Lula. Não é o único problema do acordo, nos termos em que foi propalado ontem.


Proposto pelo governo, por intermédio do seu líder no Senado, Romero Jucá, o acordo é a segunda tentativa aprovada por Lula para amoldar a CPI à sua conveniência. A primeira foi a proposta de inclusão do período Fernando Henrique e o inquérito só no Senado, não por comissão mista, de senadores e deputados, pretendida pela oposição. Se a primeira fórmula sugeria a intenção de retrair o PSDB e o DEM e, em último caso, embaraçar o inquérito com a overdose de material, a segunda indica com clareza que o propósito é evitar o exame dos gastos com Lula, família e adjacências.


Não há indício, e até agora não havia suspeita, de irregularidades corrosivas nessa área. A fixação de Lula em evitar o conhecimento público dos gastos sugere a conveniência de levantá-los. E, além de não haver razão ética para deixar de fazê-lo em um exame de conjunto, não há também razão legal. Encobrir esses gastos com o argumento de ‘razões de segurança nacional’ é tão pejorativo para a segurança nacional quanto ridículo. A tendência é que o exame não seja mais do que divertido, com a desproporção entre novos guarda-roupas e as necessidades, exageros de conforto doméstico, e por aí. Se bem que os milhões em questão proponham interrogações mais numerosas.


No caso de Fernando Henrique, a par de quaisquer outros efeitos, a comicidade de gastos estaria garantida. Ninguém imaginaria que o presidente contratasse uma ‘chef’ de restaurante do Rio para a ir a Brasília, a cada semana, a fim só de fazer o cardápio semanal de Fernando Henrique. Com a remuneração do equivalente, à época, de US$ 12 mil. Foi razoável que incluísse no breve serviço algumas aulas para Fernando Henrique escolher vinhos pela coluna da esquerda, nos restaurantes em que ele escolhe e Tasso Jereissati paga. Àquela altura, do guarda-roupa a outras grã-finices a Presidência fez uma relativa orgia. Os cidadãos não têm o direito de saber dessas coisas cuja dose de leviandade é um medidor de seriedade? E se houver feitos mais graves há, também, mais razões para serem levantados e postos no conhecimento da população. A segurança nacional não entra aí.


Em nome da oposição, o acordo foi acertado com Romero Jucá pelo deputado peessedebista Carlos Sampaio, que não teve representação outorgada pelos oposicionistas. Atribuiu-se o poder de representá-los por ter formulado, na Câmara, um pedido de CPI ainda não adotado. Caso os oposicionistas superem as insatisfações com a iniciativa de Carlos Sampaio, permanecem outros problemas.


Um deles é a constante referência de Romero Jucá à investigação do uso ‘de cartões’ de crédito governamentais. Mas os gastos postos sob suspeita valeram-se também de dinheiro, com totais superiores aos dos cartões em vários setores do governo. A haver CPI, antes de tudo é preciso eliminar as armadilhas, porque o governo não está aceitando investigações por desejo de que sejam feitas, mesmo.


Outro indício de precipitação (ou pior) do acordo é o período a ser investigado. O prazo ontem referido por oposicionistas é o de ‘uso dos cartões a partir de 1998’. A entrada dos cartões em uso efetivo vem de 2001/2002, até então guardada na gaveta das conveniências a autorização de uso que o próprio governo Fernando Henrique estabelecera.


Se, porém, tudo der em nada quanto aos gastos obscuros do governo Lula, o governo Serra tem mais do que o necessário para suprir o vazio.’


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


CPI e nada


‘Na manchete do ‘Jornal Nacional’, ‘Governo e oposição fecham acordo para criação de CPI’, ponto. No ‘Jornal da Record’, ‘CPI vai investigar gastos com cartões dos governos Lula e Fernando Henrique’.


De ambos, avisou o deputado tucano e paulista que sugeriu a CPI, ‘todos os gastos serão conhecidos, mas não necessariamente checado o que foi gasto pelo presidente e sua família’. Nem de Lula nem de FHC.


Ainda à tarde, ‘Oposição racha’, na Folha Online, sobre a desinformada tropa de FHC. ‘Mas’, avisou o Globo Online de pronto, ‘o acerto deve ser mantido.’


Para Jonathan Wheatley, do ‘Financial Times’, é só ‘outro futebol político’ de governo e oposição. Aliás, ‘podem ter certeza que nada vai sair da investigação’.


O ESPECTRO DE 1929


Na manchete do site do ‘FT’, ontem ao longo do dia, os ‘novos tremores’ globais com as perdas da seguradora AIG. No site do ‘Wall Street Journal’, a avaliação da OECD de ‘enfraquecimento’ das sete maiores economias.


Na publicação de esquerda ‘Brasil de Fato’, o jornalista e historiador José Arbex Jr. escreve em análise que ‘crise estadunidense expõe a olhos nus o frágil edifício sobre o qual se construiu a chamada globalização’. No enunciado, em destaque no site, ‘O espectro de 1929 ronda os EUA’.


TALVEZ CEM ANOS


Um ‘viral’ eleitoral se espalhou ontem pelo YouTube, com uma paródia do vídeo ‘Yes, We Can’, de Barack Obama. Agora é uma suposta canção a partir dos discursos de John McCain, mas os trechos destacados trazem sua previsão de ‘mais guerras’, de ‘bombardear, bombardear o Irã’, de manter os soldados no Iraque por ‘talvez cem anos’ etc.


MCCAIN BLOGETTE


De sua parte, a campanha de John McCain também tem seus trunfos on-line. O maior até aqui é o blog de campanha de sua filha, Meghan, 23 anos.


No dizer do ‘Observer’, em perfil, ‘ela reinventou o blog político, hilariamente’. De nome Mccain Blogette, está no ar há três meses com os bastidores que ela presencia.


É um blog de fato, o diário de uma jovem loira que ouve Tupac Shakur e que, ao postar os apoios de Henry Kissinger ou Arnold Schwarzenegger, que chama ‘The Governator’, destaca os sapatos dos dois.


HAVANA VS. MIAMI


Os colunistas Fidel Castro e Andres Oppenheimer, de ‘Granma’ e ‘Miami Herald’, discordam quanto a McCain.


Para o segundo, que cita uma conversa pessoal sem gravação em que o candidato teria se declarado contra os ‘subsídios agrícolas’, ele seria ‘o melhor -ou o menos pior- para a América Latina’.


Já o primeiro, em tom de desafio, afirma que McCain mente ao dizer na biografia que viu torturadores cubanos no Vietnã. Como sempre, ele promete novas colunas sobre ‘o candidato republicano’.


EXXON, PDVSA, PETROBRAS


O ‘FT’ diz que as decisões judiciais em favor da Exxon contra Hugo Chávez, no Reino Unido e Holanda, não têm efeito fora dos dois países e o caso deve se esvaziar logo.


Ao fundo, o ‘NYT’ noticia que a ameaça à Exxon vem de outras partes, PetroChina, Petrobras. E o ‘Los Angeles Times’ rasga elogios para ‘A busca global da Petrobras pelo poder’, com reservas de Tupi à África -e aos EUA.


RAMBO


Nos portais daqui, a cobertura do festival de Berlim vinha na torcida por ‘Tropa de Elite’ até se espalhar, do iG ao G1, a crítica postada ontem no ‘Variety’, a maior referência de Hollywood. O capitão Nascimento é comparado a Rambo. A obra é descrita como ‘filme de recrutamento para criminosos fascistas’.


No blog Ilustrada no Cinema, Silvana Arantes postou que, em Berlim, o diretor afirmou em coletiva que o filme não é ‘radical de direita’. Aliás, ‘quando Scorsese faz ‘Os Bons Companheiros’, ninguém diz que ele é pró-máfia’.’


 


TECNOLOGIA
Folha de S. Paulo


Yahoo! recusa proposta da Microsoft


‘A direção do Yahoo! confirmou ontem que recusou a oferta hostil de US$ 44,6 bilhões feita pela Microsoft há duas semanas, mas deixou aberta a possibilidade de novas negociações. Segundo a empresa, a proposta da Microsoft ‘deprecia substancialmente’ o seu valor.


O Yahoo! disse, em comunicado, que ‘avalia todas as opções estratégicas’ e ‘continua comprometido em buscar iniciativas’ que elevem o valor da empresa. Uma das hipóteses em estudo é a fusão com a AOL.


A Microsoft disse que a decisão da concorrente foi ‘desapontadora’ e reafirmou um trecho que já estava na carta de seu presidente-executivo, Steve Ballmer, que anunciava a oferta há duas semanas, sinalizando que não desistiria do negócio em caso de recusa. ‘A Microsoft se reserva o direito de seguir todos os passos necessários para garantir que os acionistas do Yahoo! tenham a oportunidade de constatar o valor de nossa proposta.’


Segundo pessoas próximas às negociações, o Yahoo! quer uma oferta de pelo menos US$ 40 por ação, o que elevaria em cerca de US$ 12 bilhões o valor oferecido pela Microsoft. A proposta da Microsoft, anunciada em 1º de fevereiro, era de US$ 31 por papel da rival -62% superior ao preço das ações do Yahoo! no dia anterior. Ontem, as ações do Yahoo! subiram 2,29%, para US$ 29,87. As da Microsoft retrocederam 1,23%.


A Microsoft poderia entrar em contato direto com os acionistas do Yahoo!, aproveitando a insatisfação com os resultados da empresa -o lucro caiu nos últimos oito trimestres. Três dias antes de receber a oferta, o Yahoo! divulgou que seus ganhos caíram 23,4% no último trimestre de 2007 ante o mesmo período de 2006 e que pretende demitir 1.000 dos seus 14.300 funcionários.


O lucro em 2007, de US$ 660 milhões, foi praticamente metade do lucro do Google no último trimestre do ano passado, de US$ 1,21 bilhão -resultado considerado decepcionante.


Não é a primeira vez que o Yahoo! recusa uma proposta da Microsoft. O próprio Ballmer confirmou negociações anteriores na carta de 1º de fevereiro. Segundo o executivo, as duas companhias discutiram uma possível fusão e outras possibilidades de parceria no final de 2006 e no começo do ano passado, mas que, em fevereiro de 2007, a concorrente decidiu encerrar as negociações porque estava confiante no seu ‘potencial de alta’.


‘Um ano se passou e a situação competitiva não melhorou’, escreveu Ballmer. Por isso, segundo ele, ‘enquanto uma parceria comercial podia fazer sentido há algum tempo, a Microsoft acredita que a única alternativa agora é a combinação que estamos propondo’.


Opções


Segundo o diário londrino ‘The Times’, o Yahoo! quer negociar uma fusão com a AOL para se proteger da oferta hostil da Microsoft. ‘Tudo o que eles [Microsoft] estão tentando é levar a empresa de barbada. Eles estão tentando roubá-la, e a direção não vai deixar que isso aconteça’, disse uma fonte ligada ao Yahoo! ao jornal.


Também estariam sendo estudados acordos com a Disney e com o Google. Neste caso, o Yahoo! passaria a usar o sistema de publicidade on-line do rival. O crescente mercado de publicidade on-line, setor que é dominado pelo Google, é uma das principais razões que motivaram a oferta da Microsoft.


Microsoft e Yahoo! vêm enfrentando dificuldades para competir com o Google no setor de publicidade na internet, um dos mais lucrativos da área.


No ano passado, segundo o ‘Wall Street Journal’, o Google faturou US$ 11,7 bilhões com as vendas de publicidade, contra US$ 5,1 bilhões do Yahoo! e US$ 2,8 bilhões da Microsoft.


A companhia de Bill Gates calcula que esse mercado ‘cada vez mais dominado por um ‘player’ totalizou US$ 40 bilhões em 2007 e deve chegar a US$ 80 bilhões em 2010.


Com agências internacionais’


 


Laura Capriglione


Camping ‘nerd’ na Bienal une fissurados em computador


‘Junte 3.000 meninos e meninas (idade média 23 anos) em um pavilhão. Monte 900 barracas para que eles durmam e/ou descansem na hora que quiserem. Forneça-lhes alimentação abundante. Vai rolar uma bagunça, certo? Errado, se o local é o megaevento de tecnologia chamado Campus-Party, que começou ontem em São Paulo e reunirá até domingo uma tribo de fissurados em computação.


Os amigos Lincoln Furlan Ando, 16, Mateus Pinesi de Souza, 17, e Gabriel de Oliveira Morganti, 17, viajaram 300 km de São José do Rio Pardo até o Pavilhão da Bienal, no parque do Ibirapuera, para participar da feira. O pai do Mateus fez as vezes de motorista dos meninos, cada um levando um saco de dormir e seu próprio computador, para plugar em rede.


Cerveja, cigarro, drogas, sexo? Esqueça. Apesar das barracas e da juventude, nesse festival de ‘nerds’, ou geeks (como eles também se chamam), tudo isso é proibido. Assim mesmo, sem ambigüidade: proibido.


No andar em que as barracas azuis com o logotipo do patrocinador estão montadas em perfeito alinhamento, o pessoal da segurança está orientado: barulhos, gemidos, fumaças suspeitas, bebidas alcoólicas ou mesmo a movimentação excessiva são motivos suficientes para expulsão sumária.


No ‘Nerdstock’ da Campus-Party, a loucura rola em outras áreas. Miguel Povh, 16, estudante de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, está sentado em uma bancada em que se vêem torres de computador ‘vestidas’ de monstro, de motor de carro, transparentes e com efeitos especiais de iluminação. Grafitadas. É a turma que pratica a modalidade conhecida como ‘modding’, ou ‘personalização de gabinetes’.


Com seus 20.000 praticantes de modding, o Brasil é uma das mecas mundiais da categoria em que Miguel é uma espécie de Leonardo da Vinci. No último concurso internacional de modding artístico, ele ficou entre os cinco primeiros.


Cada participante do Campus-Party pagou R$ 100 de inscrição. Quem quis pagou outros R$ 100 para receber café da manhã, almoço e jantar todos os dias do festival. Comida boa, banheiros limpos -mais uma surpresa.


O segundo andar do Pavilhão da Bienal foi todo ocupado por bancadas em que cada participante instalava o seu micro. Ao todo, 3.000 lugares com conexões de internet.


Mas é um silêncio. Jogos, músicas, tudo o que produz ruído é escutado com fones de ouvido. O contato real é quase nulo, substituído pelo virtual.


Bruno Rodrigues, 21, conversava ontem pelo Messenger com seu vizinho de bancada. Tímido, como reconhece, ele considera mais ‘livre’ o bate-papo por computador do que ‘ao vivo’.


No andar térreo, os patrocinadores da feira disputavam a atenção dos meninos (apenas 22% do participantes são meninas). Na Virtual Sphere, por exemplo, Glauco Silveira, 19, matou 300 inimigos que ele só enxergava graças aos óculos especiais, que projetavam as imagens diretamente na retina. Ele também corria dentro de uma esfera, e os movimentos de seus passos davam o compasso da ação que se passava no óculos. ‘Barato total’, disse.


Também tinha kung fu virtual, jogos em rede, morticínios em série. Mas, quando parecia absoluto o poder da tecnologia, no fundo do salão térreo levantava-se um vozerio diferente. Cheio de garotos, o estande old fashion, movimentava-se com jogos bem reais. Lá estavam a mesa de bilhar, os campinhos de futebol de botão e pebolim, as mesas de xadrez e damas e até um kit de cata-varetas. Zero tecnologia para matar as saudades, que ninguém é virtual.’


 


TELEFONIA
Lorenna Rodrigues


Anatel consultará governo sobre lei para a fusão Oi-BrT


‘A Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) prometeu enviar ainda ontem consulta ao Ministério das Comunicações sobre a necessidade de mudanças na legislação do setor de telefonia. A consulta é o primeiro passo para permitir a fusão entre a Oi (ex-Telemar) e a Brasil Telecom (BrT).


De acordo com o deputado federal Arnaldo Jardim (PPS-SP), que se reuniu ontem com o presidente da agência, Ronaldo Sardenberg, a Anatel informou que só começará os estudos para mudanças nas leis depois de receber o aval do ministério.


A consulta da agência, por sua vez, foi feita depois de pedido protocolado na sexta-feira pela Abrafix (Associação das Empresas de Telefonia Fixa). A associação -que além de Oi e Brasil Telecom representa a Telefônica, CTBC e Sercomtel- entregou um documento pedindo a revisão do PGO (Plano Geral de Outorgas). O plano proíbe hoje que uma empresa de telefonia fixa compre uma tele que preste o mesmo serviço em outra área.


Para que Oi e BrT se fundam, portanto, é necessário que o PGO seja modificado. A Anatel não informou que pontos a Abrafix quer que sejam mudados, alegando que o pedido é sigiloso. Procurada, a Abrafix disse que não poderia detalhar o teor do documento.


A consulta da Anatel ao ministério é um trâmite formal, pois o governo se mostrou favorável à operação. A decisão para um decreto alterando o PGO, inclusive, teria sido tomada em reunião no fim de janeiro, entre o presidente Lula, o ministro Hélio Costa (Comunicações) e o presidente do BNDES, Luciano Coutinho.


De acordo com Jardim, a medida provisória enviada ao Congresso pedindo R$ 12,5 bilhões a mais para o BNDES é um sinal de que o governo quer usar o banco para financiar a operação.’


 


TV DIGITAL
Folha de S. Paulo


Conversor feito em Manaus custará R$ 300


‘A Suframa (Superintendência da Zona Franca de Manaus) e o governo do Amazonas anunciaram a fabricação em larga escala de um conversor para a TV o digital que chegará ao consumidor por R$ 299.


Produzido pela Proview Eletrônica do Brasil, ele funciona com o software Ginga, que permite a interatividade completa. Em dezembro, a Suframa disse que o aparelho custaria R$ 120 para o comércio. Mas, segundo Tseng Ling Yun, presidente da Proview, os R$ 299 vieram com sacrifício da margem de lucro.


‘Foi reduzida a margem de lucro de um produto mais básico para no futuro, com as novas gerações de conversores, retomarmos a margem de lucro.’


Ele disse que a indústria investiu US$ 3 milhões em pesquisa e serão investidos mais US$ 2 milhões em equipamentos.


Os aparelhos chegam ao mercado no dia 15 de março. A fabrica produzirá 100 mil aparelhos por mês.


O Cieam (Centro das Indústrias do Amazonas) disse que 30 indústrias de Manaus deverão produzir conversores. O mercado nacional tem 70 milhões de aparelhos analógicos que necessitarão dos conversores.’


 


TELEVISÃO
Daniel Castro


Escritor insinua censura em ‘Duas Caras’


‘Autor de ‘Duas Caras’, Aguinaldo Silva escreveu em seu blog artigo insinuando que a novela das oito teria sofrido censura para evitar eventual reclassificação, pelo Ministério da Justiça, para as 22h.


No texto, ‘Censura É Como Inveja: Uma M****!’, Silva diz que são seus leitores que têm apontado a volta da censura, ‘camuflada nas boas intenções de sempre’, uma referência à classificação indicativa. ‘Essas pessoas que falam da volta da censura [a] usam como argumento pra justificar o que dizem uma possível pasteurização de ‘Duas Caras’, escreveu.


Desde que a novela foi reclassificada para as 21h, em dezembro, ‘Duas Caras’ vem abrandando cenas de sexo. A primeira noite de amor entre Alzira (Flávia Alessandra) e Juvenal (Antônio Fagundes), por exemplo, foi comportadíssima. A máxima ousadia foi mostrá-la de sutiã. Nos bastidores, ainda corre o temor de uma reclassificação para as 22h.


José Elias Romão, diretor de classificação do Ministério da Justiça, diz que não há esse risco. ‘O ministério já afastou a possibilidade de reclassificação para as 22h’, disse. Ele reafirma que classificação ‘não tem nada a ver com censura’.


A Globo, oficialmente, informou que, ‘independentemente da questão da classificação indicativa, tem seus critérios de adequação das obras aos horários, a cargo da Central Globo de Controle de Qualidade’.


REHAB


Fábio Assunção não vai mais interpretar o vilão da próxima novela das oito da Globo, prevista para estrear em maio. Segundo a Globo, foi o ator quem pediu para deixar o elenco, para tratar de ‘problemas pessoais’. Seu substituto, par da personagem de Cláudia Raia, ainda não foi definido. Há duas semanas, Assunção foi flagrado pela Polícia Federal na companhia de um suposto traficante.


RENOVAÇÃO


A Record antecipou a renovação do contrato de Ana Hickmann, apresentadora do ‘Hoje em Dia’ e uma de suas principais estrelas. O atual contrato, que só vencia em 2010, foi prorrogado até 2012. Foi uma medida preventiva. Ana não chegou a receber propostas de outras redes. Especula-se que ela ganha R$ 300 mil por mês.


MAIS PRESSÃO


A Globo vai continuar pressionando os participantes de ‘BBB’. Na semana que vem, haverá outro paredão triplo. Nos próximos dias, quem atender ao telefone da casa terá que indicar duas pessoas para o próximo paredão. Mas não poderá contar a ninguém até domingo. Caso contrário, irá ele.


VISITA SUBLIMINAR


Acompanhada de Sasha, Xuxa visitou no final de semana o RecNov, central de estúdios da Record, no Rio. Oficialmente, ela foi ver o pai de Sasha gravar. Extraoficialmente, foi uma mensagem para a cúpula da Globo, onde está em baixa.


QUALIDADE ZERO


O áudio que antecede as transmissões de futebol da Globo vazou no sinal da TV Cultura, anteontem à tarde.’


 


Folha de S. Paulo


‘24 Horas’ terá novos episódios só em 2009


‘Com o fim da greve dos roteiristas americanos, previsto para hoje, os principais canais dos EUA anunciaram alterações em suas programações regulares. A Fox informou que a nova temporada de ‘24 Horas’ será adiada em um ano. ‘Heroes’ (NBC), cujos efeitos especiais exigem muito tempo de pré-produção, também não terá novos episódios nesta temporada; enquanto ‘Lost’ (ABC) deve ter apenas 13, em vez dos 16 inicialmente planejados.


A Fox decidiu segurar a sétima temporada de ‘24 Horas’ até janeiro de 2009, apesar de oito dos 24 episódios estarem prontos. O canal chegou a considerar dividir a série em duas partes de 12 horas, mas concluiu que a quebra na história poderia afastar espectadores.


A decisão se justifica também pelo fato de o canal ter sido um dos menos prejudicados durante os três meses de paralisação, já que reality shows como ‘American Idol’ e ‘The Moment of Truth’ lhe garantiram boa audiência. ‘House’, entre outras séries do canal, terá novos episódios ainda neste ano.


Outras decisões incluem a prorrogação de atrações para depois de maio, tradicional fim de temporada, e a volta em breve de séries como ‘Two and a Half Men’(CBS), com oito novos episódios a partir de abril, e ‘The Office’ (NBC). ‘Grey’s Anatomy’ (ABC) e ‘CSI’ (CBS) devem demorar mais.


O programa mais beneficiado com o fim da greve será a transmissão do Oscar, pela ABC, no dia 24/2, apesar de haver poucos dias para a finalização dos textos da cerimônia.


Com agências internacionais’


 


Cristina Fibe


‘Dirty Sexy Money’ extrai o pior da fama


‘Afinada com os tempos de Britney Spears, Amy Winehouse e outras incontáveis celebridades alimentadas por polêmicas, a série ‘Dirty Sexy Money’ (dinheiro sujo sexy), que estréia hoje, às 20h, no AXN, pretende retratar o que há de pior no falso mundo da fama. Apoiada em um advogado bonzinho que procura saber quem matou seu pai, a trama abre a mansão da família Darling, um ninho de cabeças mentirosas e problemáticas. O patriarca, Tripp Darling (Donald Sutherland), por algum motivo obscuro quer manter perto de si o filho de seu advogado, morto em um acidente aéreo, e que teve por 40 anos um caso com sua mulher. O protagonista, Nick George (Peter Krause), que seguiu a profissão do pai, sempre teve horror a tal família, mas acaba cedendo, em troca de US$ 10 milhões ao ano, e passa a cuidar dos negócios dos Darling. Constantemente seguida pela imprensa, a família abriga escândalos atuais, como vídeos íntimos que ameaçam cair na rede e outros. É função de Nick apagar os incêndios causados pelos filhos adultos de Tripp. Sem as sofisticadas técnicas de investigação de outras séries, a solução para o crime deve se arrastar lentamente, pano de fundo que é para o que ‘Dirty Sexy Money’ parece querer mostrar: bastidores do glamour, sem elegância alguma.


DIRTY SEXY MONEY


Quando: estréia hoje, às 20h Onde: AXN’


 


 


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O Estado de S. Paulo


Terça-feira, 12 de fevereiro de 2008


CARTÕES DO GOVERNO
Rosa Costa e Denise Madueño


Base e oposição acertam CPI mista com foco em Lula e gestão de FHC


‘Um acordo da base aliada com a oposição viabilizou ontem a criação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista para investigar o uso dos cartões corporativos. O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), desistiu da idéia de fazer a investigação apenas no Senado e endossou o requerimento do deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) por uma CPI com deputados e senadores.


Segundo Jucá, o tucano retrocedeu o período de investigação a 1998, como constava no requerimento da CPI do Senado. ‘Está suprido o que eu queria, de fazer a análise (dos cartões) de um governo para outro’, afirmou.


Sampaio sustentou, contudo, que a única modificação no requerimento foi a inclusão no texto do número e da data do decreto que criou os cartões no governo Fernando Henrique Cardoso. A CPI dos Cartões deverá ser controlada pela base aliada, com PMDB e PT ocupando a relatoria e a presidência.


‘Um acordo pressupõe que os dois lados cederam e entraram em um entendimento. Eu não cedi nada. Não mudei nada no requerimento’, afirmou Sampaio, lembrando que desde a semana passada está recolhendo assinaturas de apoio para a CPI mista. Ele rebateu as suspeitas de que o entendimento poderia significar contenção das investigações. ‘Quando se trata de uma CPI do Congresso, com deputados e senadores, não há perspectiva de acordo nas investigações.’


O tucano argumentou que, como os cartões foram instituídos em 2001, as investigações deveriam começar daí para frente. Ressaltou, contudo, que há uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de autorizar as CPIs a investigarem também ‘fatos correlatos, não especificados no requerimento de sua criação’.


‘É inevitável que chegue ao governo de Fernando Henrique. Se alguém usou mal o dinheiro público que responda por isso’, disse o deputado.


Único tucano do Senado ouvido previamente por Sampaio, o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), tem como certo que, apesar das queixas, a bancada terminará por apoiar a CPI mista. Sobre a possibilidade de a investigação atingir Fernando Henrique, informou no plenário que havia conversado com o ex-presidente e ele teria sido claro ao afirmar que sua vida pode ser investigada, ‘antes, agora ou futuramente’. Ao Estado, o próprio Fernando Henrique criticou o fato de seu governo ter sido incluído na investigação (leia na página A5).


Já o líder tucano Arthur Virgílio (AM) e o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) consideraram que Sampaio foi ‘muito apressado’. Da tribuna, Virgílio chamou de ‘tentativa mambembe’ o fato de a CPI atingir a gestão FHC. ‘Eventuais crimes alheios não absolvem os cometidos agora’, alegou. Pôs-se, em seguida, a defender ‘critérios matemáticos’ e um sistema de rodízio, para evitar que as bancadas governistas da Câmara e do Senado venham a indicar o presidente e o relator, a exemplo do que ocorreu na CPI dos Correios. Dias lamentou o que chamou de ‘acordo entre Sampaio e Jucá’.


MATILDE


O escândalo dos cartões começou em 13 de janeiro, quando o Estado revelou que essa modalidade de despesas havia batido o recorde no governo Lula, atingindo R$ 75,6 milhões em 2007, aumento de 129% em relação a 2006. A ministra da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, liderava esse tipo de gasto, a maior parte com locação de carros. A revelação fez surgirem novas suspeitas: ela fizera gastos até em free shop. Cobrada pela oposição e por Lula, Matilde se demitiu no dia 1º de fevereiro.


Um dia antes da queda de Matilde, o governo baixou um pacote – reduziu os saques a 30% do limite do cartão e vetou o uso para aluguel de carro, salvo em caso excepcional. Vieram à tona gastos dos cartões da Presidência e o governo, por meio de Jucá, coletou assinaturas para abrir uma CPI no Senado. Enquanto isso, a oposição buscava apoio para a comissão mista, que ontem acabou encampada pelo governo.’


 


Vera Rosa e Tânia Monteiro


Presidente quer seus gastos fora da internet


‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não quer que o Portal da Transparência divulgue as despesas com cartão corporativo feitas por seguranças que prestam serviços ao Planalto e a sua família. Na reunião da coordenação política do governo, realizada ontem, Lula criticou a Controladoria-Geral da União (CGU) por exibir no portal gastos de funcionários destacados para proteger seus filhos. Mais: disse que o governo não ficará acuado pela oposição nem aceitará que o foco da CPI dos Cartões seja familiar.


Sob a alegação de que é preciso preservar as instituições, Lula pediu à CGU que monte equipe para fazer uma ‘varredura’ das informações que entram no site. Afirmou não se tratar de censura, mas, sim, de cautela. ‘Não tem sigilo demais. Tem de menos’, disse o presidente. ‘Nós fizemos um Portal da Transparência e pusemos tudo lá, mas é preciso cuidado.’


Lula retornou ao Planalto ontem, depois de 11 dias de descanso no Guarujá. Durante suas férias, soube que quatro funcionários da equipe que protege sua família, em São Bernardo do Campo, gastaram R$ 224,3 mil nos últimos quatro anos (2004 a 2007) em compras com cartão corporativo, incluindo uma esteira ergométrica. Além disso, seguranças da Presidência que prestam serviços a sua filha Lurian Cordeiro Lula da Silva usaram o cartão, em Florianópolis (SC), para pagar despesas em lojas de materiais de construção, autopeças e ferragens.


O governo avalia que há riscos na divulgação desses dados sob o argumento de que tanto o presidente como sua família e funcionários do Planalto podem sofrer ações de sabotagem. Lula chegou a dizer que, se não for tomada nenhuma providência, chefes de Estado poderão evitar vir ao Brasil daqui para a frente. ‘A segurança é para o presidente, ex-presidentes e nossos convidados’, insistiu.


À noite, o presidente se reuniu com os ministros José Múcio Monteiro (Relações Institucionais), Franklin Martins (Comunicação Social) e com os líderes do governo na Câmara, Henrique Fontana (PT-RS), no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), e no Congresso, Roseana Sarney (PMDB-MA), para traçar a estratégia do Planalto na CPI.


Na prática, o governo não abre mão de controlar a comissão e quer indicar relator e presidente. A decisão de apoiar uma CPI mista, reunindo deputados e senadores, foi tomada ontem pela manhã, quando Jucá esteve no Planalto. ‘A CPI pode ser mista, na Câmara ou no Senado, que é um bunker da oposição, mas é preciso investigar suprimento de fundos também’, disse Lula, numa referência às chamadas ‘contas B’, muito usadas no governo Fernando Henrique antes da criação do cartão, em 2001.’


 


Dora Kramer


Segurança é para todos


‘Louve-se, em princípio, o fato de governo e oposição terem chegado relativamente rápido e sem traumas a um acordo para a instalação de uma CPI mista no Congresso com a finalidade de esquadrinhar os gastos da administração federal com cartões de crédito corporativos desde a gestão Fernando Henrique Cardoso.


Desconfie-se, porém, a princípio, de acertos entre governo e oposição.


A história recente dos atestados de inocência conferidos a mensaleiros e sanguessugas – para não falar das idas e vindas que resultaram também na absolvição do ex-presidente do Senado Renan Calheiros – autoriza a suspeição. Quando os parlamentares se acertam, e o fazem com relativa facilidade e rapidez, em geral quem sai perdendo é a sociedade.


Suas excelências não precisaram nem de meia hora para combinar que Senado e Câmara farão uma comissão conjunta para investigar os cartões e o sistema antecessor, as chamadas contas B.


Faltou explicitar em que termos se darão essas investigações: se serão amplas e irrestritas; se, como prega o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, deixarão de fora ‘as famílias dos presidentes Lula e FHC’; ou se, como acha imprescindível o Palácio do Planalto, excluirão as contas da Presidência da República por questões de ‘segurança nacional’.


Se for uma CPI que exclua o centro do poder, não será uma CPI para ser levada a sério. Nesta hipótese estarão governistas e oposicionistas fazendo apenas um jogo de aparências destinado a dar à opinião pública uma satisfação absolutamente insatisfatória.


Principalmente porque está em jogo não a segurança da figura dos presidentes, mas a segurança do cidadão que é dono do dinheiro obviamente abusado. Não se sabe a extensão, mas que houve e há uma farra, isso é inquestionável só pelo exame da parte visível dos gastos, exposta na internet não por liberalidade ética do governo, mas por obrigação constitucional.


O princípio da publicidade dos gastos públicos está bem claro no artigo 37 da Constituição. Governos que não seguem o preceito estão na ilegalidade. Os que seguem, limitam-se a cumprir a lei.


As coisas não são como acredita o ministro da Justiça, Tarso Genro, que pede elogios ao governo federal e insinua uma exigência de habeas-corpus preventivo pelo fato de as faturas dos cartões de crédito serem expostas no Portal da Transparência da Controladoria-Geral da República.


Não há por que tratar, como se vê aqui e ali no noticiário, com reverência essa exposição. Ao contrário: há que se estranhar a razão pela qual o governo, dispondo de todos esses dados, não tenha acionado seus mecanismos de controle interno para corrigir as distorções e chamar às falas seus autores.


Não fosse a divulgação pela imprensa, a ministra Matilde Ribeiro ainda estaria no cargo, provavelmente preparando-se para bater o próprio recorde de campeã dos gastos, e ao ministro Orlando Silva não teria ocorrido devolver R$ 31 mil aos cofres públicos.


Aliás, não se estaria falando no assunto, embora o problema estivesse ali para quem quisesse ver. O Palácio do Planalto tampouco estaria interessado em investigar irregularidades do governo anterior, a respeito das quais dá sinais agora de ter conhecimento, mas sobre as quais nunca tomou providências.


Não teria também passado pela cabeça do chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Jorge Félix, e da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, retirar os gastos da Presidência do portal sob o argumento de que feriam os preceitos da segurança presidencial.


Ora, se feriam, o que faziam lá? Será que antes de a imprensa atender à convocação do presidente Luiz Inácio da Silva, para que a sociedade ajudasse o governo a fiscalizar as contas, as faturas dos cartões de crédito, os números e os nomes estavam no portal porque houve negligência com a segurança nacional?


Não. O mais provável é que os palacianos tenham acorrido para formar uma rede de proteção em torno das despesas da Presidência exatamente com receio de que sua divulgação revelasse irregularidades capazes de atingir política, ética e administrativamente a figura do presidente.


Mais uma razão para não deixar de fora esses dados. Nem eles nem outros tantos sobre gastos secretos e saques na boca dos caixas eletrônicos. Por que sobre o presidente, ou presidentes, nada pode ser revelado? São, por acaso, monarcas absolutos?


São funcionários públicos número um. Condição que os obriga a seguirem as regras com todo o rigor e confere à sociedade – vale repetir, dona do dinheiro – o dever de cobrar deles com igual rigor não só uma conduta exemplar, mas a apresentação de provas de austeridade.


Quanto ao acerto no Congresso, uma dúvida final: se o governo atual propõe investigações sobre o presidente passado partindo do princípio de que Lula e sua família não podem ter os gastos divulgados e Fernando Henrique pode, pois já não está exposto à insegurança, o ponto principal do acordo é nulo por impossibilidade de isonomia nos procedimentos.’


 


TELECOMUNICAÇÕES
Irany Tereza e Nilson Brandão Junior


Mudança nas teles vai além de Oi/BrT


‘A mudança no setor de telecomunicações está acertada e não ficará restrita às alterações no Plano Geral de Outorgas (PGO). Essa medida permitirá a atuação de operadoras de telefonia fixa na mesma região, facilitando o processo de compra da Brasil Telecom pela Oi.


Paralelamente, o governo prepara também alterações na lei que impede operadoras de telefonia de atuarem no mercado de TV por assinatura. Essa é a forma de contemplar todas as operadoras, facilitar a criação da supertele nacional e evitar contestações no setor, informa uma fonte do governo que acompanha as negociações.


A permissão para operar no mercado de TV a cabo é um pleito antigo das empresas de telefonia. A principal resistência vinha das operadoras de TV. Recentemente, porém, acordos entre companhias dos dois setores, respeitando as regras, mas criando algumas opções de atuação conjunta, foram desenhados, antecipando as mudanças. O principal foi entre a Net (Globopar) e a América Móvil, do mexicano Carlos Slim,dona da Embratel.


Slim e os espanhóis da Telefónica são os principais competidores da telefonia no Brasil. A idéia do governo é formar um terceira grande telefônica, de controle nacional. De acordo com fontes, o plano de investimentos da nova empresa já foi delineado pelos grupos Andrade Gutierrez (Sérgio Andrade) e La Fonte (Carlos Jereissati)e apresentado ao BNDES.


O BNDES terá papel fundamental na reestruturação. Venderá – por cerca de R$ 800 milhões – parte dos 25% que detém no capital da Oi para os fundos de pensão Funcef (Caixa Econômica Federal) e Petros (Petrobrás). O BNDES ficará com 16,5% e cada um dos dois fundos, com 10%. A Previ permanecerá com cerca de 12%. No mesmo processo, o banco financiará, com R$ 1,8 bilhão, a compra das participações do Citigroup, GP Participações e Opportunity pela dupla de sócios Andrade-Jereissati.


Os sócios privados terão, junto com a Fundação Atlântico (funcionários da Telemar) 51% da nova empresa, mas os acionistas ‘estatais’ (incluídos os fundos de pensão) já formularam cláusulas, aceitas em consenso, para impor o direito de quórum qualificado em decisões importantes. Participarão, por exemplo, da definição orçamentária e poderão vetar operações de compra e venda. Além disso, terão direito de preferência na compra das ações dos dois controladores, no caso de algum deles querer sair da empresa. Será, na prática, uma empresa privada com ‘participação estratégica’ do governo.


O Plano de Outorgas é um ato aprovado por decreto presidencial. Já para mudar a Lei do Cabo – que impede que um grupo de telefonia controle uma empresa de TV a cabo -, é necessário que o Executivo envie um projeto de lei para o Congresso.’


 


Renato Cruz


Competição na telefonia fixa pode ficar mais difícil


‘A compra da Brasil Telecom (BrT) pela Oi (antiga Telemar) criaria uma empresa com 63,6% do mercado brasileiro de telefonia fixa, com mais de 90% de participação em todos os Estados do País, com exceção de São Paulo. A concentração poderia tornar ainda mais difícil a competição na telefonia.


Para Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco, essa seria uma oportunidade para a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e, principalmente, para o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) de tomarem algumas medidas para incentivar a concorrência. ‘Eles poderiam estabelecer competições para aumentar a competição, como o unbundling’, explicou Tude.


O unbundling, também chamado de desagregação de redes, é a abertura da infra-estrutura das operadoras dominantes para os concorrentes, a preços competitivos. A medida é prevista pela regulamentação das telecomunicações, mas nunca foi implementada de fato. Hoje, os preços cobrados dos competidores pelas concessionárias de telefonia fixa são muito altos e inviabilizam a desagregação.


DIREITO DO CONSUMIDOR


O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) se manifestou contrariamente à união das operadoras, no mês passado, em carta ao ministro das Comunicações, Hélio Costa. Os motivos foram dois: ‘a redução da concorrência, pela exclusão de uma prestadora de serviço de telefonia fixa, atualmente o único no setor de telecomunicações a ser prestado em regime público, com potenciais prejuízos para o consumidor; e pelos problemas e infrações aos direitos dos consumidores que operações deste porte geralmente provocam, afetando a base de clientes de ambas empresas’.


Para o instituto, no caso da aprovação da compra, devem ser tomadas medidas para garantir a competição e o respeito ao consumidor. Em outras aquisições, o Idec apontou como grande problema a alteração unilateral de contratos:


‘Ao assumir o controle de uma outra companhia, a empresa adquirente busca a uniformização dos produtos e serviços oferecidos, bem como dos preços cobrados ao consumidor final’, informou o Idec, em sua carta. ‘Com isso, muitos consumidores acabam literalmente obrigados a se desligar de planos de serviço contratados ou a aceitar reajustes não acordados, práticas abusivas vedadas pelo Código de Defesa do Consumidor, em seu artigo 51.’


MODELO DE MERCADO


O modelo original das telecomunicações, traçado para a privatização há 10 anos, previa a competição entre quatro grupos nacionais, que atuariam em todos os serviços. Esses grupos seriam liderados pelas quatro concessionárias fixas: Telefônica, Oi, BrT e Embratel. Na prática, a competição entre as três primeiras nunca foi além dos grandes clientes corporativos. Todas têm autorizações para atuar na área das outras.


A Embratel oferece uma competição bastante limitada às três concorrentes locais, com um serviço de telefonia fixa prestado em parceria com a Net, empresa de TV a cabo de que participa do controle.


Na visão de Tude, da Teleco, a compra da BrT pela Oi poderia trazer um impacto positivo na telefonia móvel. Juntas, as duas operadoras têm 16,7% do mercado de celular. ‘Elas formariam uma operadora nacional, com condição de competir com a Vivo, a TIM e a Claro’, afirmou o consultor.


A Oi e a BrT possuem 41,9% do mercado brasileiro de banda larga. ‘Elas continuariam fortes nas regiões delas, e poderiam atacar o mercado de São Paulo’, disse Tude. A Oi possui um provedor de acesso com seu nome e a BrT controla o iG.


Antes de negociar a compra da Brasil Telecom, os acionistas da Oi tentaram vender a empresa no exterior e fazer uma reestruturação societária, sem sucesso. A formação da empresa nacional foi a solução para acomodar os interesses dos acionistas que querem sair, como a GP Investimentos na Oi e o Citigroup na Brasil Telecom, e os acionistas que querem comprar, mas que não tem capital para isso.


A mudança do Plano Geral de Outorgas, um decreto presidencial, é necessária para a aquisição e politicamente delicada. A Oi fez um investimento milionário na Gamecorp, empresa que tem como sócio um dos filhos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A Embratel, da mexicana Telmex, não faz parte da Associação Brasileira de Concessionárias de Serviço Telefônico Fixo Comutado (Abrafix).’


 


Gerusa Marques


Operadoras se antecipam e pedem mudança


‘As empresas de telefonia fixa se anteciparam ao governo e apresentaram à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) um pedido de mudanças de regras para permitir a compra da Brasil Telecom (BrT) pela Oi, hoje proibida pela legislação.


Em documento enviado à Anatel pela Associação Brasileira de Concessionárias de Serviço Telefônico Fixo Comutado (Abrafix) e obtido pelo Estado, as empresas defendem a necessidade de uma mudança maior nas políticas de telecomunicações, que alcance também os setores de telefonia celular e TV por assinatura.


Sem citar nomes, a Abrafix constrói uma argumentação que pode beneficiar também outras empresas do setor, como a Telefônica e a Embratel. A associação diz que uma mudança no Plano Geral de Outorgas (PGO), que define áreas de atuação das empresas de telefonia fixa, ‘teria a função de provocar’ também alterações nas regras da telefonia celular, permitindo ‘consolidações de diferentes operadoras’.


Isso abriria caminho para que Vivo e TIM pudessem unir suas operações no Brasil, atendendo a uma reivindicação da espanhola Telefônica, que no ano passado entrou no capital da Telecom Italia, dona da TIM.


No Brasil, porém, a Telefônica foi obrigada pela Anatel a manter a operação da Vivo (da qual o grupo espanhol detém 50%, ao lado da Portugal Telecom) completamente independente da TIM. A possibilidade de permitir a fusão de Vivo e TIM já vem sendo cogitada no governo, conforme antecipou o Estado, dentro de uma discussão de mudanças maiores no setor.


O ministro das Comunicações, Hélio Costa, que apóia o negócio entre Oi e BrT, lançou há duas semanas a idéia de se promover essa reestruturação do setor para que todas as empresas de telefonia pudessem ter suas demandas atendidas. Na oportunidade, Costa disse que esse era o momento de as empresas apresentarem suas pendências.


CASUÍSMO


A iniciativa da Abrafix ajuda o governo a contornar um problema político. Como o pleito parte de uma entidade setorial – e abrange mudanças mais amplas do que a simples alteração do PGO -, o governo pode se desvincular da acusação de tomar uma medida casuística para beneficiar apenas uma ou duas empresas.


A Abrafix argumenta também que seria importante suprimir restrições à entrada das empresas de telefonia fixa no setor de televisão por assinatura. Hoje, a legislação proíbe que um grupo estrangeiro tenha mais de 49% de empresas de TV a cabo, o que impede a empresa mexicana Telmex de ampliar sua participação na Net.


A medida, que depende de mudança na Lei do Cabo, no Congresso, poderia beneficiar o grupo mexicano, que também é dono no Brasil da Embratel e da Claro. A Associação entende que eventuais mudanças PGO definirão um novo desenho para o desenvolvimento da competição no setor.


A Abrafix defende a necessidade de mudanças nas regras com o argumento de que o mercado e a realidade tecnológica de hoje são diferentes daqueles de 10 anos atrás, quando foi definido o modelo de telecomunicações. ‘A concepção que se tinha ou buscava há dez anos não pode ser comparada às condições tecnológicas e competitivas de ofertas de serviços de telecomunicações existentes hoje.’


A Anatel, segundo o deputado Arnaldo Jardim (PPS-SP), enviaria ontem ao Ministério das Comunicações um ofício contestando o interesse do governo em reformular o PGO. Jardim, que se reuniu ontem com o presidente da Anatel, Ronaldo Sardenberg, disse que a Anatel vai aguardar uma resposta do ministério sobre o assunto para depois levar o pleito da Abrafix para análise da área técnica da agência.’


 


O Estado de S. Paulo


TIM quer lançar TV paga via rede móvel


‘A TIM trabalha para oferecer TV paga com transmissão pela rede móvel, disse ontem o presidente da operadora, Mario Cesar Pereira de Araujo, que visita o Mobile World Congress, em Barcelona. A intenção é colocar o serviço no mercado tão logo a rede 3G da companhia seja lançada comercialmente, o que deve ocorrer no final do trimestre. Araujo confia que o Projeto de Lei 29/07, que dá às empresas de telefonia fixa e móvel o direito de produzir e distribuir conteúdo eletrônico, permita à TIM oferecer no curto prazo uma programação de canais.’


 


INTERNET
O Estado de S. Paulo


Microsoft reitera oferta, após recusa do Yahoo


‘A Microsoft anunciou ontem que não vai alterar sua oferta de compra do Yahoo, de US$ 31 por ação (o equivalente a US$ 44,6 bilhões em primeiro de fevereiro, dia em que a oferta foi anunciada). O comunicado da Microsoft é uma resposta à direção do Yahoo, que ontem rejeitou formalmente a proposta, alegando que ela subvaloriza a empresa.


‘É uma pena que o Yahoo não tenha aceitado nossa oferta, justa e completa, de fundir as duas empresas’, disse a Microsoft, em comunicado. ‘Estamos confiantes no fato de que continuar avançando para concluir rapidamente a transação é para nosso mútuo benefício.’


A Microsoft não descartou a possibilidade de negociar diretamente com os acionistas da empresa. ‘A resposta do Yahoo não altera em nada nossa convicção dos méritos estratégicos e financeiros da oferta. Como já dissemos, a Microsoft se reserva o direito de dar todos os passos que forem necessários para assegurar que os acionistas do Yahoo avaliem nossa oferta’, concluiu. Ontem, antes de a Microsoft se posicionar a respeito da recusa do Yahoo, analistas disseram que a oferta poderia subir para até US$ 40 por ação.


Para a companhia de Bill Gates, a combinação entre as duas empresas também ofereceria um conjunto cada vez maior de soluções e permitiria a criação de uma companhia ‘mais eficiente’. ‘Além disso, a nova empresa criaria um mercado mais competitivo ao estabelecer um necessário segundo competidor no mercado de buscas pela internet e de publicidade online’, diz o comunicado da Microsoft, fazendo uma referência direta ao Google.


DEFESA


O Yahoo, por sua vez, estuda alternativas para se defender da proposta da Microsoft. Ontem, o jornal britânico The Times informou que a empresa poderia voltar a conversar com a America Online (AOL), que faz parte do grupo Time Warner, para uma parceria. Desde que a Microsoft fez a oferta especula-se também uma eventual parceria com o grande rival Google.


Em comunicado, o Yahoo afirmou que a oferta atual da Microsoft ‘subestima substancialmente’ a companhia que possui uma marca global, audiência de quase 500 milhões de usuários e investimentos que criaram uma robusta plataforma de publicidade online.’


 


Rota traz ‘chumbo quente’ ao YouTube


‘Depois do sucesso do videoclipe Força Tática Equipe do Terror, em que as estrelas eram policiais do 21º Batalhão de Polícia Militar do Guarujá, agora é a vez de policiais da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) terem uma homenagem veiculada na internet.


Rota – chumbo quente é o nome do vídeo que circula no site YouTube. Nele, há fotos de ações, treinamentos e festividades de integrantes da Rota embaladas pela música ‘Chumbo Quente’, do Bonde do Ratão. As fotos são intercaladas com frases do tipo: ‘Se correr a Rota pega e se ficar a bala come’.


O conselho Estadual dos Direitos da Pessoas Humana (Condepe) enviou, ontem à noite, pedido à Secretaria da Segurança Pública para apurar se há a participação de policiais militares na criação e divulgação de Força Tática Equipe do Terror. A Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo vai acompanhar as investigações. A PM continua apurando o caso.


O vídeo que circulou no site YouTube durante três meses foi exibido 25.089 vezes. Nele, havia imagens do policiamento e treinamento de equipes da Força Tática do 21º Batalhão, que trabalham no Guarujá, no litoral paulista. O problema maior está na letra. Há trechos, segundo especialistas, que incitam a violência, como ‘Faca na caveira impõe o seu valor/ Se liga vacilão Força Tática chegou/ Desafiando a morte e sorrindo com a dor’.


O clipe foi retirado do site depois que o Jornal da Tarde solicitou uma entrevista com o comandante dos policiais que aparecem nas imagens. ‘A retirada logo após a PM tomar conhecimento demonstra que é grande a possibilidade de haver participação de policiais na autoria do vídeo’, disse Ariel de Castro Alves, secretário geral do Condepe. O ouvidor da Polícia do Estado, Antonio Funari Filho, informou que vai acompanhar as investigações sobre o vídeo.’


 


Bruno Paes Manso


‘Plugados’ invadem prédio da Bienal


‘Os longos cabelos do soteropolitano Felipe Assis, de 20 anos, passam do meio das costas e lembram o visual do público de festivais de rock dos anos 60, como Woodstock. Aficionado por computador, ele atualmente desenha imagens em 3D de personagens históricos da Revolução Francesa, como Robespierre e Marat, para criar um jogo voltado para estudantes.


Felipe foi um dos fanáticos por tecnologia que baixaram ontem, com CPUs e laptops embaixo do braço, na Campus Party, evento que reunirá mais de 3 mil pessoas até domingo no Pavilhão da Bienal, no Ibirapuera. No festival, ele vai literalmente acampar nas barracas montadas pela organização para participar de oficinas especializadas e aproveitar a velocidade da conexão com a internet, 625 vezes superior ao máximo que um serviço de banda larga oferece no Brasil, de 8 megabits por segundo. ‘A droga da galera hoje são os joguinhos de computador.’


Longe de agrupar programadores branquelos e com espinhas, a imagem estereotipada do ‘nerd’, o Campus Party, evento que já é realizado desde 1997 na Espanha e que tem agora sua primeira versão em São Paulo, reúne uma fauna diversificada. São artistas, desenhistas de imagens em 3D para jogos eletrônicos, músicos que só sabem tocar o teclado do computador, blogueiros-poetas, jogadores e programadores. ‘É possível encontrar de tudo, desde o fã da trilogia do Senhor dos Anéis ao DJ de música eletrônica’, disse o espanhol Augusto Torres, de 28 anos, técnico de sistema que veio de Valência para participar do encontro e conhecer São Paulo.


‘Se quem ficavam horas na frente do computador eram nerds, hoje eles são plugados. O mundo mudou’, afirma Conrado De Biazi, de 35 anos, que trabalha com planejamento e infra-estrutura de tecnologia desde 1995. Ele se define como um ‘escovador de bits’, o micreiro que perde horas para decifrar os segredos da máquina e de seus programas. Desde a internet, ampliou seus interesses. Descolado, aprende design de móveis e a tocar bateria pelo computador. ‘Antes, o micreiro vivia isolado. Hoje ele pode conhecer diversas pessoas e trocar informações.’


No primeiro dia, o Campus Party teve a participação até do tenente do Exército Pedro Procópio de Castro, do Centro de Instrução de Blindados de Santa Maria (RS), que fez uma exposição de um software simulador de carros de combate usado no treinamento de soldados. Ele dividiu o espaço com jovens como o brasiliense Pablo Emilio, de 19. Com visual parecido com o do guitarrista Lenny Kravitz, Pablo tem um blog de poesias e veio do Distrito Federal para conhecer pessoas. Já na fila de entrada, encontrou um amigo virtual de Joinville (SC). ‘Computador hoje é inclusão, interatividade. Não tem nada de nerd. Quem acha isso são os mais velhos, que ainda não entenderam esta geração.’’


 


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Sócios e namorada pela internet


‘O programador de software Gregori Macario Harbs, de 21 anos, veio de Indaial, cidade de 75 mil habitantes de Santa Catarina, para encontrar em São Paulo, na Campus Party, os novos sócios que poderão mudar o seu futuro. Ele conheceu os três, programadores, pela internet. Todos são de Belém (PA). ‘Vou me mudar para o Norte. Vamos fazer programas de gestão de pequenas e médias empresas’, conta Harbs, que já mexia com o computador do pai aos 4 anos. Com 8 anos, já montava e desmontava as máquinas. Os quatro farão a primeira reunião no evento.


O coração ajudou Harbs a tomar a decisão radical de mudar de Estado. Ele namora uma paraense há um ano e meio e agora vai viver de perto sua paixão quase virtual – os dois só se encontraram uma vez desde que o namoro começou.


‘Mesmo pela internet, foi possível manter a paixão acesa. Sou romântico. Declamo para ela poemas na webcam e também nos falamos via skype. Conseguimos nos divertir participando dos mesmos joguinhos. Mas a saudade eu só alivio mesmo com o contato cara a cara. Por isso, preciso ir lá para Belém’, afirma. A namorada, lamenta Harbs, não pôde vir para a Campus Party.’


 


LÁ FORA
Daniela Milanesi


‘FT’ elogia nova fase do Brasil, mas vê riscos externos


‘Em meio ao pessimismo nos mercados, o Brasil consegue arrancar elogios da imprensa internacional. Ontem, foi citado pelo Financial Times (FT) como um caso de relativa imunidade contra a crise global.


‘Menos de uma década atrás, o Brasil tremia ao primeiro sinal de instabilidade financeira internacional. Hoje, ao contrário, o País – assim como o restante da ala mais rica da América Latina – parece imune à turbulência’, diz artigo do FT.


Apesar da queda da Bovespa neste ano, o jornal avalia que a moeda e os títulos de renda fixa do País têm operado com estabilidade, a entrada de investimentos é forte e o setor privado está ‘mais dinâmico do que nunca’.


Como exemplo, o FT cita a estratégia da Vale para comprar a anglo-suíça Xstrata. Mesmo com todos os riscos no mercado de crédito, a mineradora está levantando US$ 50 bilhões em empréstimo sindicalizado para fazer a aquisição.


Mas o jornal alerta que o Brasil não conseguirá se descolar completamente da crise global. ‘Uma recessão ou desaceleração nos Estados Unidos afetará as exportações. Uma desaceleração na Índia e na China provavelmente levará ao enfraquecimento dos preços das matérias-primas, retraindo um mercado cuja força impulsionou o desempenho comercial poderoso do Brasil nos últimos anos’, afirma. Além disso, o País terá este ano o primeiro déficit em conta corrente desde 2002, devido à força do real.


Para conseguir se fortalecer de forma mais consistente diante da crise, o FT dá a receita: gastos mais sábios do governo, estímulos ao setor privado, aumento da produtividade, reforma fiscal e trabalhista.


‘O País pode se orgulhar de seu progresso, mais um sentimento de urgência é necessário para manter esse momento.’’


 


CINEMA
Luiz Carlos Merten


Criticada pela ‘Variety’, ‘Tropa’ é aplaudida


‘O filme Tropa de Elite estreou ontem de manhã no Festival de Cinema de Berlim e logo recebeu uma crítica do site da revista especializada Variety que o compara a Rambo, de Sylvester Stallone. O texto afirma que Tropa ‘eleva a poderosa Polícia Militar do Brasil ao heroísmo estilo Rambo’. A crítica fala ainda em uma ‘celebração da violência que flerta com um filme de recrutamento nazista’. Na sessão da tarde em Berlim, no entanto, a obra de José Padilha foi aplaudida de pé.


‘O filme foi acompanhado por grandes debates acerca da glorificação da brutalidade dos métodos policiais’, diz a Variety, que afirma que a história é um ‘retrato fiel da violência nas favelas do Rio e da corrupção galopante que a sustenta’. O Batalhão de Operações Especiais (Bope) é chamado de ‘pequena força tática enviada às favelas para matar sem pensar’.


Outras críticas sobre o filme devem sair hoje. Na sessão de imprensa após a exibição do filme, não houve aplausos nem vaias, como se o público não soubesse direito como resistir a um filme tão forte e impactante.


À tarde, na sessão oficial, impressionado com a imagem do policial que aponta seu revólver para atingir a cara do traficante a seus pés, o público ficou uns 15 segundos em rigoroso silêncio. Em seguida, rompeu num aplauso que foi crescendo, e as pessoas levantaram-se para ovacionar Tropa de Elite.


O diretor lavou a alma. Num encontro promovido pela Embaixada do Brasil com as equipes de filmes nacionais presentes na Berlinale, Padilha disse: ‘Algumas pessoas vieram comentar que os alemães ficaram impressionados. Pela reação da platéia, posso acreditar que sim’.


Wagner Moura, o Capitão Nascimento, passou a tarde dando entrevistas. ‘O que deu para sentir foi que o filme mexeu com as pessoas. É um filme que expõe nossa cara e faz pensar.’ Tropa está na corrida pelo Urso de Ouro. Uma coisa é certa: o júri viu Tropa na malfadada sessão da manhã. A expectativa é de que isso não traga prejuízos ao filme.’


 


Luiz Carlos Merten


A estranha sessão de Tropa de Elite


‘Coisas muito estranhas ocorrem com este filme, observou o diretor de fotografia de Tropa de Elite, Lula Carvalho. Depois de virar um fenômeno no mercado pirata de DVD no País, onde as pesquisas apontam que foi visto por 11,5 milhões de pessoas, o filme de José Padilha com Wagner Moura na pele do Capitão Nascimento ficou tão falado que só o New York Times lhe dedicou duas reportagens. E tudo isso antes que Tropa de Elite estreasse nos cinemas. Ontem, o filme aterrissou na Berlinale, mas se você pensa que foi tudo normal está subestimando a força do estranhamento que acompanha Tropa de Elite.


Às 9 horas da manhã (horário local) formou-se o maior pandemônio na porta do Palast, o palácio de projeções do Festival de Berlim. Alto-falantes informavam que o filme seria exibido numa cópia com legendas em alemão – normalmente, elas são em inglês – e, portanto, seria necessário pegar fones de ouvido para acompanhar a tradução simultânea. A repórter Flávia Guerra, do Caderno 2, que está em Berlim, fez o sacrifício e acompanhou a tradução. Ela queria ver como ficariam as gírias em inglês. Tomou um choque. A narradora – era uma mulher – descrevia as cenas que passavam, misturando diálogos dos atores e narração de fundo.


Foi assim que a imprensa internacional viu Tropa de Elite e você há de convir que isso altera sensivelmente a possibilidade de adesão a um filme. No final, nenhuma vaia, mas os poucos aplausos silenciaram rapidamente. Criou-se um silêncio. É positivo ou negativo para as chances de Tropa de Elite no Urso de Ouro? O silêncio, afinal, pode ter sido a expressão da perplexidade que o filme produziu. E o positivo veio em seguida. A coletiva lotou. Havia muita gente interessada em discutir Tropa de Elite. O atraso no começo da sessão e, conseqüentemente, da coletiva pode ajudar a explicar por que as pessoas foram saindo, mas no final ainda havia um bom número de interessados.


O diretor Padilha, o produtor Marcos Prado, os atores Wagner Moura e Maria Ribeiro e o diretor de fotografia Lula Carvalho sentaram-se à mesa. Padilha foi quem mais falou, e tanto ele como Wagner se expressaram em inglês fluente. Padilha é racional até o limite. Em função de toda a polêmica ocorrida com seu filme no Brasil, ele desenvolveu um discurso muito articulado. Ele sabe perfeitamente por que – e como – fez seu filme. Deixa-o claro em todas as suas intervenções.


Não houve comparações com Cidade de Deus. Em compensação, a grande questão, claro, era por que fazer um filme desses do ângulo da polícia? ‘Meu primeiro longa foi o documentário Ônibus 174, que focalizava os mesmos problemas do ângulo dos excluídos. Um ex-menino de rua seqüestrava um ônibus, o caso foi acompanhado ao vivo pela TV e terminou de forma sangrenta, com as mortes do seqüestrador e uma refém. Ao escolher contar a história do ângulo do seqüestrador, fui chamado de esquerdista, comunista. Ao contar a história de Tropa de Elite do ângulo do policial, passei a ser chamado de fascista. São simplificações que não fazem mais sentido. Constroem um muro que, aqui nesta cidade, já foi destruído. As coisas hoje em dia são muito mais complexas.’


Há uma guerra particular no Rio. Padilha queria fazer Tropa de Elite como documentário, mas desistiu de cara porque seria difícil encontrar policiais dispostos a assumir aquilo que a ficção lhe permitiu revelar no filme. ‘Nos EUA, que são um país violento e com larga tradição de armas de fogo, a polícia matou 200 pessoas num ano. Somente no Rio, foram 1.200 os mortos.’ Este é apenas um dado de uma equação assustadora. ‘A polícia comum é violenta e corrupta, mas são profissionais mal preparados e remunerados. Não estou justificando nada. Estou tentando entender, como fiz em Ônibus 174.’


Padilha bate forte no que considera a hipocrisia da Justiça brasileira. ‘Se um garoto é preso traficando, e em geral ele é pobre e não recebeu nenhum apoio da sociedade para fazer outra coisa, ele vai para cadeias e reformatórios, onde é submetido a todo tipo de violência, o que só aumenta a revolta. Se o usuário, e geralmente ele é de classe média, é autuado em flagrante, ele está cometendo um delito, mas o máximo que a Justiça autoriza ao policial é aplicar-lhe uma admoestação verbal.’


O diretor sabe que está comprando uma briga feia, mas para ele não existe outra solução para esta verdadeira guerra se não por meio da legalização das drogas. ‘É uma atividade econômica que dá muito dinheiro e, justamente por ser ilegal, dissemina uma rede de corrupção. Agora, legaliza para ver o que acontece? Vai ser que nem o cigarro. A nicotina é prejudicial à saúde, todo mundo sabe. Além de pagar altas taxas, a indústria do tabaco enfrenta hoje diversas formas de restrição. As advertências são tantas que fumar está virando uma atividade proibida.’


Mas Padilha sabe que a legalização das drogas é muito difícil porque não depende só de um país – teria de ser um movimento combinado – e não deixa de afrontar tabus familiares e até religiosos. Não há solução à vista, mas seu filme ilumina uma tragédia que está ocorrendo no País. Pelas reações de ontem na coletiva, deu para sentir que o público jovem se identificou mais com as posições de Padilha. ‘Um de meus diretores preferidos, Martin Scorsese, esteve aqui nos últimos dias. Vocês viram Os Bons Companheiros? É a história de um criminoso que mata a sangue frio e isso não impede que a gente simpatize com ele. Não me consta que Scorsese seja considerado pró-Máfia. É um pouco o que ocorre em Tropa de Elite. Não estou querendo ser a favor de um tipo de violência policial. Escolhi mostrar a tortura e a violência da polícia em primeiro plano. Podia estar lá no fundo. E o Capitão Nascimento não é um herói.’ Wagner Moura aproveitou para dizer a uma platéia internacional o que não se cansa de repetir no Brasil. ‘A segurança pública no Brasil é tão falha e as pessoas se sentem tão desprotegidas que terminam por ver neste personagem atormentado por seus excessos o herói que vai salvá-las.’ Os jovens entendem. Os mais velhos, com seu humanismo talvez mais tradicional, encaram a proposta com mais desconfiança. Tudo, agora, é com o júri.’


 


TELEVISÃO
Etienne Jacintho


Greve chega ao fim


‘Nos Estados Unidos, roteiristas e estúdios finalmente chegaram a um acordo neste fim de semana. A greve dos autores, que durou 14 semanas, deve acabar hoje, após votação sobre os novos contratos dos roteiristas com os estúdios de Hollywood. A previsão é de que amanhã os roteiristas voltem ao trabalho.


Apesar de a greve ter atingido também o cinema, a área mais prejudicada foi a televisão. As emissoras tiveram de preencher suas grades com reality shows e reprises. Atrações populares na telinha tiveram suas produções adiadas ou suas temporadas encurtadas.


24 Horas teve sua sétima temporada adiada em um ano. Já Heroes e Lost terão poucos episódios este ano. A quarta temporada de Lost possui oito episódios. No segundo ano de Heroes, somente 11 capítulos foram ao ar.


Algumas séries, como Desperate Housewives e The Office, podem voltar em cerca de seis semanas. Já as atrações que estrearam há pouco tempo, como Dirty Sexy Money, Pushing Daisies e Chuck, podem ter seus retornos comprometidos, uma vez que possuem audiência mediana e aguardam encomenda de novos episódios.’


 


 


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