Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Um Maranhão de dúvidas

Foi tenebrosa a notícia, quando a nadadora Joanna Maranhão revelou que sofreu abuso sexual por parte de seu técnico quando tinha apenas nove anos. Imediatamente, começaram a surgir reportagens não só sobre o caso, como também sobre a confiança dos pais de atletas nos técnicos de seus filhos (que não raro começam a carreira cedo).

É complicado. Um assunto desses requer muita sensibilidade e cautela por parte da imprensa na hora de o tratar em público. Um alarmismo sem necessidade é passo certo para a paranóia. O caso de Joanna é exceção, minoria ou corriqueiro? É preciso uma boa apuração para que o público não pense que isso ocorre a torto e a direito e assim os pais ganharem mais um motivo para não dormir à noite.

No entanto, a mãe da nadadora botou a imprensa em xeque de uma maneira ainda mais complicada: revelou o nome do técnico que abusou de Joanna. E aí? Publica-se ou não a informação? A imprensa não tem como apurar (ao menos, ainda) se a denúncia procede ou não.

Porque uma coisa é certa: acabou a carreira da pessoa citada pela mãe de Joanna, que ainda sofrerá olhares e desconfianças para o resto da vida. Como dizem os princípios do direito, todos são inocentes até que se prove o contrário – é o que o técnico citado tentará fazer. Mas o fato de já ter sido divulgado em massa que ele pode ter cometido um dos maiores pecados universais da contemporaneidade (abuso sexual de crianças) não tem volta.

Ponto final?

Lembram do caso da Escola Base (que deveria ser lembrado sempre nas redações)? Na ocasião, um casal que era dono de uma escola infantil foi acusado de abusar sexualmente dos alunos. O circo da mídia foi criado, a escola faliu, os acusados foram publicamente condenados e… nunca houve provas. E nem a maior das erratas vai apagar a suspeita na reputação dos dois, fora os prejuízos emocionais.

E se for provado que o técnico mencionado foi falsamente acusado? Provavelmente, a mãe de Joanna poderá ser processada. Mas e a imprensa, que espalhou a informação de uma fonte, prejudicando um cidadão? Vai retificar a informação na mesma intensidade (primeiras páginas, várias reportagens etc.)? Se o fizer, vai adiantar?

Volto à pergunta: a imprensa deveria divulgar o nome? Se não o fizesse, seria sonegar informação ou não? Suicídios não são noticiados pelo fato de não causarem publicidade que ‘incentive’ novos atos do tipo – é um dos poucos acordos universais que a imprensa cumpre. No caso do técnico de Joanna, ou da Escola Base, não deveria existir o mesmo cuidado? A não ser, claro, que já estivesse devidamente comprovada a culpa.

A intenção da mãe de Joanna era pôr um ponto final no assunto. Só se for pra ela porque para o técnico e para a imprensa, a história – e os questionamentos – estão apenas começando.

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Jornalista, Rio de Janeiro, RJ