Na semana passada a Editora Abril entrou com quatro, cinco ou seis processos contra mim. Vou saber direito esta semana, quando chegarem as intimações.
A razão dos processos é uma série que estou escrevendo e publicando na internet sobre o jornalismo da revista Veja. A série pode ser lida aqui ou aqui.
Quando comecei a escrever a série tinha consciência dos riscos envolvidos, não apenas o de ser alvo de campanhas difamatórias para intimidar (como Veja de fato tentou fazer, através de seus blogs) ou de ações judiciais em bloco para me sufocar financeiramente e consumir meu tempo na preparação da defesa.
Faz parte do jogo.
Resolvi correr o risco porque, nos últimos tempos, Veja passou a praticar o jornalismo mais escabroso que conheci em muitas décadas de profissão de jornalista. Não se fale das campanhas contra o governo. Quem tem poder de Estado – como políticos, presidentes, governadores – que se defendam. A questão é que, escudada no poder conferido por essa campanha, a revista passou a invadir outras áreas, a espalhar infâmias contra toda sorte de pessoas – jornalistas, artistas, intelectuais –, até mergulhar de forma suspeita em grandes disputas comerciais.
Difamação e intolerância
A série procura analisar e informar sobre essas transformações que ocorreram no jornalismo da Veja. Desde ataques a cursos apostilados de editoras concorrentes da Abril, até ações visando beneficiar publicitários e banqueiros de negócios envolvidos em disputas empresariais.
Por que resolvi me meter em assunto tão espinhoso, dispondo apenas da internet para enfrentar uma empresa do poderio da Abril e uma publicação com o alcance da revista Veja? Porque alguém tinha que começar.
O jornalismo é um dos poderes fundamentais da República. É o poder que permite o controle sobre abusos dos demais poderes. Para cumprir seu papel exige clareza, discernimento, responsabilidade social, respeito aos direitos individuais. É um trabalho tão importante quanto o do educador. Se uma grande publicação se pauta pelos ataques difamatórios, pela intolerância, pela manipulação de informações, além de comprometer o discernimento da opinião pública, acaba contaminando o país.
Causa relevante
E aí se entra na questão da democracia. Uma mídia independente e crítica é fundamental para estabelecer limites às ações dos governantes. Mas quando começa a enveredar pelo caminho das disputas empresariais, dos assassinatos de reputação, torna-se uma ameaça. E quem nos protege dessa ameaça?
Nos últimos anos, Veja sofreu inúmeras condenações por crimes de injúria e difamação. Mas os valores eram irrisórios perto do faturamento da revista. Acabou passando à sua direção a sensação de poder absoluto para atacar quem quisesse.
Com o advento da internet, esse poder absoluto pode ser questionado.
Agora, a Abril abre uma boa quantidade de ações contra mim. A intenção óbvia é tentar me sufocar financeiramente, já que não tenho a estrutura do departamento jurídico da Abril.
Não importa, A causa é relevante. Convido-os a ler a série para entender as razões que me levaram a esse enfrentamento.
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Jornalista