Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A linha dos indecisos

É razoável afirmar que quando a imprensa, massivamente, induz a uma visão negativa, como se pode notar no noticiário sobre o atual governo – seja por causa dos escândalos sucessivos, seja por causa de abusos nos gastos oficiais ou pela questão tributária –, a linha dos indecisos, aqueles que aparecem nas pesquisas considerando tudo muito regular, pode indicar uma aprovação envergonhada dos pesquisados.

 

Se esse elemento fosse levado em conta como expressão favorável ao governo e ao presidente, os números da popularidade de Lula seriam ainda mais positivos.

 

Como ele mesmo gosta de repetir, ‘nunca neste país’ houve presidente tão popular. Mas não basta ser popular. É preciso que o governo seja efetivamente uma força de transformação social.

 

Os números confortáveis da economia não são suficientes para que se faça essa afirmação. E o noticiário político, preso a picuinhas e declarações, não permite avaliar as razões desses altos índices de aprovação. E a popularidade de Lula é um fato comprovado.

 

No entanto, resta entender a surpresa da imprensa.

 

Mudança sensível

 

As causas dessa maciça aprovação, que já dá sinais de penetrar também na classe média, talvez pudessem ser encontradas nas palavras do diretor do Instituto Sensus: talvez Lula tenha conseguido colocar em pé o governo social-democrata que os social-democratas não foram capazes de consolidar, por injunções da política, ou por causa das condições adversas da economia mundial na década passada.

 

Ou seja: se a imprensa juntar os pauzinhos, corre o risco de chegar à conclusão de que Lula pode, afinal, estar fazendo um bom governo, como parece acreditar a maioria da população. O ‘risco’, nessa hipótese, é o risco da unanimidade, e se relaciona com a aproximação entre Aécio Neves e o PT. Ao contrário de José Serra, que sempre comparece ao noticiário para fazer reparos à ação do governo petista, Aécio Neves tem evitado se apresentar como oposicionista.

 

Ainda não está claro no noticiário, mas a resistente popularidade de Lula parece estar mudando a configuração das forças políticas no Brasil.