‘É exclusivo?’ Essa é a pergunta feita com maior freqüência por repórteres aos assessores de imprensa no dia-a-dia do jornalismo nacional. O tom da pergunta indica que a ‘exclusividade’ concedida por um assessor ao repórter deixa na boca do último o sabor de um furo.
Reconsideremos os papéis dessa relação. Ao assessor cabe sugerir pautas, informar os repórteres, divulgar seus clientes, ajudar os repórteres de forma ágil e eficiente. Ao repórter cabe investigar, trabalhar um número variado fontes (não apenas assessores), pensando sempre no serviço ao leitor. Cabe perguntar e abordar os mais variados assuntos, em todas as editorias, de forma responsável e tendo como foco principal a comunicação social, a informação.
Quando o repórter insiste na pergunta que abre este texto confessa que seu olhar (ou talvez o olhar de seu editor) está mais focado na concorrência do que em seu leitor.
A postura cada vez mais comum instala entre o assessor e o jornalista uma espécie de balcão de negócios. Ao pedido do jornalista, normalmente se seguem solicitações do assessor: espaço privilegiado e citação do nome do cliente. O balcão de negócios se acomoda sobre bases deselegantes, nas quais assessor e repórter saem de seus papéis de origem e perdem no médio prazo.
Sem confundir interesses
Como à primeira vista o resultado da negociação é satisfatório (jornalista com um ‘furo’, cliente do assessor com visibilidade), no breve passar do tempo a deselegante relação torna-se coleguismo. Nada mais nefasto para o jornalismo de verdade. Da redação, negociam-se exclusivas; do escritório, agendam-se entrevistas. A investigação é colocada na gaveta ao lado da vontade de ver o cliente realmente conhecido e divulgado. O cliente passa a esperar cada vez menos do assessor; ao assessor sobra uma atuação cada vez mais burocrática; e o jornalista se sente cada vez menos repórter.
O respeito ao assessor passa pelo reconhecimento, por parte dos repórteres, de seu papel no contexto da comunicação contemporânea. Respeitada a função do assessor, os repórteres podem exigir que seus papéis também sejam respeitados na busca de informação, especialmente nos momentos de ‘crise’ dos clientes.
Na lógica do balcão, a mesma mão que entregou o furo cala a boca do repórter com estratégias de guerra e com mise-en-scène de coletivas de imprensa. Já não são raros os depoimentos de repórteres que se sentem desrespeitados nessas ocasiões.
Retomar os papéis originais sem confundir interesses pode garantir que os profissionais de redação e de assessoria se respeitem e façam, cada um de seu lugar, seu melhor trabalho para atender seus próprios objetivos – que são diversos e somente às vezes coincidem.
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Assessora de imprensa, São Paulo, SP