Em 10 de agosto de 2002, Ney José Lazzarini, reitor do Centro Universitário Univates, de Lageado (RS), firmou um acordo de intenções com o jornal O Taquaryense, de Taquari (RS), para concretizar um projeto cultural amparado na Lei de Incentivo à Cultura (LIC) com a intenção de preservar as instalações físicas do jornal, conservar todo o seu acervo e resgatar os registros de todos os acontecimentos e costumes da cidade publicados pelo impresso ao longo dos seus 120 anos de existência. Mas, diante do vasto material encontrado, ele e os entusiasmados acadêmicos da Univates redobraram o foco da proposta inicial e estenderam o programa, cujo resultado desaguou na criação do ‘Museu-Vivo de Comunicação O Taquaryense’.
O jornal, com isso, vai ser transformado em laboratório de pesquisa, sem abandonar a atividade que o caracteriza como jornal interiorano. Mais ainda. Vai entrar na história como um dos alicerces do futuro Museu Sem Fronteiras da Imprensa da Lusofonia, como observa Luis Humberto Marcos (O Taquaryense, ed. 16/04/05, p. 1), presidente do Museu Nacional de Imprensa de Portugal. A constituição do Museu da Lusofonia, diz ele, é um projeto e tem o objetivo de integrar os oito países de Língua Portuguesa através do ciberespaço (internet) com o propósito de desenvolver idéias e conhecer a história de cada país, ou região, pela imprensa. ‘A idéia foi apresentada há um ano em Florianópolis, na conferência de abertura do 2º Encontro da Rede Alcar, transformou-se em projeto, pulou para vários países, e aqui está, de forma clara, como uma semente viçosa, neste museu-vivo que é o Taquaryense.’
Fonte inestimável de pesquisa
E o Correio do Sertão, um jornal de Morro do Chapéu (a 387 km de Salvador, Bahia), pode também ser transformado em Museu-Vivo de Comunicação? Em princípio, sim. Atributos não lhe faltam. Para começar, suas características são semelhantes às do jornal O Taquaryense. Os dois periódicos têm valores convergentes – um e outro são bens representativos da vida cultural de suas cidades, consolidam a memória, difundem o conhecimento e são testemunhas do desenvolvimento de suas regiões. Ambos são empresas familiares e mantêm guardados e conservados todos os equipamentos de suas produções, como os tipos móveis, as impressoras de pedal e manual, e outros apetrechos, assim como todos os exemplares publicados desde que começaram a circular. O Correio do Sertão iniciou suas atividades em 15 de julho de 1917 e é o segundo jornal mais antigo da Bahia. O Taquaryense, em 31 de julho de 1887, é o segundo mais antigo do Rio Grande do Sul. Ambos, em plena atividade.
Portanto, transformar o Correio do Sertão em Museu-Vivo da Comunicação só depende da manifestação favorável de seus proprietários, de vontade política, ou de algum Centro Universitário da Bahia que abrace essa idéia. Os benefícios serão muitos, caso isso venha a ocorrer. O jornal não só vai romper seu espaço usual e ampliar o seu raio de ação, como vai abrir seu acervo para o contato com a história de Morro do Chapéu e da região, afora, é claro, a vantagem de se projetar no espaço acadêmico. Nada disso significa interromper suas atividades habituais. Ao contrário. A preservação e a continuidade de suas formas de produção, edição, impressão e circulação continuarão intactas, tal como acontece com o jornal do interior gaúcho. O Correio do Sertão, como uma fonte inestimável de pesquisa que é, merece também essa honraria, até para as novas gerações poderem descobrir através de suas publicações os legados artísticos, culturais e históricos de seus ancestrais.
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Jornalista, Salvador, BA