Leia abaixo a seleção de domingo para a seção Entre Aspas. ************
Domingo, 2 de março de 2008
MÍDIA & PROPAGANDA
Cristiane Barbieri
Novas mídias mudam grandes agências
‘Na fogueira das vaidades do mundo da propaganda, dividir quartos, hospedar-se num hotel relativamente simples e passar o fim de semana ensolarado num auditório ouvindo gurus e economistas seria impensável, até poucos anos atrás. Pois foi exatamente o que aconteceu com um grupo de 210 dos mais renomados publicitários do país, na semana passada.
Na 1ª Convenção Executiva do grupo ABC, presidentes e criativos de 12 agências ficaram de quinta-feira a domingo ouvindo palestras. Entre elas, do empresário Beto Sicupira, do ex-ministro e acionista da Sadia Luiz Fernando Furlan e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Na pauta, nada de campanhas criativas e engraçadinhas, prêmios e genialidades da raça, mas, sim, orçamento, macroeconomia, gestão de pessoas e empreendedorismo. ‘Estamos nos atualizando para acompanhar o mundo’, diz Nizan Guanaes, presidente do grupo ABC.
Isso porque a realidade à qual os publicitários estavam acostumados mudou. Saíram de cena verbas polpudas, gastas principalmente numa gigantesca campanha de TV, e entrou no ar a pulverização da comunicação. ‘O consumidor se pulverizou, e as verbas se pulverizaram atrás dele.’
Com as novas tecnologias, a propaganda passou a abranger áreas como ‘advergames’ (anúncios em jogos eletrônicos), marketing viral (boatos na internet), as de guerrilha (ações de impacto), promocional, de ações no ponto-de-venda, entre dezenas de opções.
Apesar de dizerem que oferecem e estão habituadas a todas essas alternativas, as agências tentam descobrir maneiras de garantir para si fatias maiores das verbas agora picotadas.
‘Mais do que canibalização, está havendo uma complementaridade entre as diferentes formas de comunicação’, diz Fabio Fernandes, sócio da F/Nazca Saatchi&Saatchi. ‘Nenhuma delas está morrendo, mas se unindo umas às outras e multiplicando negócios.’
Para aproveitar a tendência, Fernandes e três sócios criaram, na semana passada, a holding Qu4tro. Sob ela, estarão empresas de promoções, eventos, marketing direto, ‘buzz marketing’, ‘mobile marketing’, conteúdo e novas mídias.
A primeira do grupo é a 360º BTL, que faturou R$ 25 milhões no ano passado com eventos, promoções e incentivo. A expectativa é a de que sejam feitas mais duas ou três aquisições neste ano.
‘Amplificamos nossos horizontes para outras disciplinas’, diz Fernandes, que admite que estava perdendo negócios por não atuar mais fortemente em outras áreas.
Para abrir o leque de ofertas, Fernandes teve de flexibilizar o contrato de exclusividade que tinha com o grupo britânico Saatchi&Saatchi. Assim, a Qu4tro abrigará negócios que não forem de interesse da Saatchi, apesar de, no mundo, a agência ter coligadas em áreas de fora da mídia tradicional.
‘Futuramente a Saatchi poderá fazer aquisições conosco’, diz Fernandes.
Ter agências de diferentes áreas coligadas ou abrigá-las sob a mesma companhia, aliás, é uma das principais discussões sobre os rumos futuros do setor. O grupo Interpublic, um dos gigantes no mundo, adotou modelos diferentes nas agências que abriga.
Na Giovanni+Draftfcb, por exemplo, a estratégia foi juntar todas as áreas sob o mesmo teto, literalmente. Cerca de 350 funcionários de áreas completamente distintas passaram a conviver e foram treinados exaustivamente para entender o que os agora novos colegas de trabalho fazem. Objetivo: otimizar a oferta de serviços e gerar negócios.
Entre outras iniciativas, foi implantado o Projeto Evolução, reunião mensal na qual funcionários de determinadas áreas explicam para os de outras o que fazem e como operam. ‘Nesse tipo de atendimento, não há conflitos de áreas, não há sócios diferentes, e a recomendação do serviço para o cliente é isenta’, afirma Aurélio Lopes, presidente da Giovanni+Draftfcb.
Segundo ele, ao reunir serviços e facilitar sua oferta, a agência conseguiu aumentar a relação financeira com os clientes em torno de 25%. Num dos casos, por exemplo, foi criada uma propaganda para o Habib’s que tinha uma campanha para eleição do melhor quibe em filmes feitos para televisão, urnas e material de ponto-de-venda e ações pela internet.
‘Por sete anos nossas empresas trabalharam como coligadas’, diz Lopes. ‘Eram duas empresas diferentes, com visões diferentes, e os resultados não eram os mesmos.’
O método de trabalho, entretanto, está longe de ser unanimidade. ‘Não é possível entender de parto de onça e atracação de navio’, diz Guanaes. ‘Respeito quem adota, mas não acredito em comunicação 360º. Cada um tem sua especialidade e é o que os grandes grupos do mundo estão fazendo.’
Numa área que muda com velocidade, a discussão deve ir longe, dizem os especialistas. Os publicitários acreditam, no entanto, que os dois formatos conviverão entre si, como opções múltiplas à comunicação também cada vez mais variada.’
MÍDIA & POLÍTICA
Ferreira Gullar
O dono do pedaço
‘SE HÁ UM cara que me faz resmungar é o Lula. Veja bem, não acho que ele esteja se saindo mal como presidente, já que, além de sua inegável sagacidade, ele dá sorte como poucos, e isso é também uma qualidade. Embora não seja propriamente supersticioso, acho que há pessoas que dão sorte, enquanto outras dão azar. Por exemplo, Schumacher sempre dava sorte nas corridas, ao contrário do nosso simpático Barrichello, que quase nunca conta com ela. Claro que, além dela, o cara tem que ter outras qualidades, mas se o carro quebra pouco antes da linha de chegada…
Já o carro do Lula não quebra e, quando parece que vai parar, vem outro carro, bate-lhe na traseira e o motor pega de novo. Ou eu estou fantasiando? Não é verdade que a economia mundial vinha mal até 2002 e, ao começar 2003, logo após Lula tomar posse, iniciou-se um ciclo de crescimento que dura até hoje? E agora, quando parecia que a escassez de chuva ia provocar um apagão energético igual ao que desgastara o governo de FHC, ela se intensificou e encheu os reservatórios. O apagão já era. Melhor assim.
Como já disse, não sou supersticioso, embora a repetição de certos fatos às vezes me leve a crer que existe um espírito mau querendo me sacanear. Por exemplo, não há uma tarde de sábado ou domingo que não seja infernizada pelo disparo do alarme de algum carro em frente à minha janela. É azar? É acaso? Não sei.
Conheço um cara que diz que quem briga com ele se dá mal.
– Como assim?
– Explicar, não sei, mas todo cara que encrenca comigo morre. Não sou eu quem acaba com ele. Morre por conta própria. Na empresa em que eu trabalhava, tinha um diretor que não largava do meu pé, até que me demitiram. Pior para ele, morreu naquele desastre da Gol. E semana passada, outro desafeto meu foi parar no São João Batista, vítima de um enfarte fulminante. Por isso te aconselho, não briga comigo.
– E eu sou maluco?
Desse cara, não se pode dizer que dá sorte e, sim, que dá azar… para os outros. Lula também, ainda que seu santo forte não mande os inimigos para o cemitério; manda os amigos para a geladeira, se por alguma razão ameacem comprometê-lo. Foi o que ocorreu com a ex-ministra Matilde Ribeiro, que usou mal os cartões corporativos. Ao dar posse a seu substituto, cobriu-a de elogios para não perder o apoio da militância negra e acusou a imprensa de triturá-la. A culpa foi da imprensa, não dele.
O respeito à ética e ao bem público importa menos que seu interesse político. Entre o PDT de Lupi e o Conselho de Ética, fica com Lupi, fazendo-se de mudo, ele que fala pelos cotovelos. Lula, às vezes, me lembra o rei Ubu, de Jarry, e, às vezes, o Macunaíma, de Mário de Andrade, que nasceu na Amazônia, mas poderia ter nascido em Pernambuco.
E é por essas e outras que resmungo. E não é para resmungar? Se de um lado demite a ministra, porque ela pisou nos cartões, não aceita de jeito nenhum que se investiguem os gastos feitos, com o uso desses mesmos cartões, no âmbito da Presidência da República. E, com a mesma ligeireza com que defende a ex-ministra, alega que a revelação das despesas presidenciais pode levar a um atentado terrorista, igual ao de Timor Leste. Alguém ouviu falar que haja, no Brasil, grupos terroristas dispostos a assassinar Lula?
Até onde se sabe, se algum partido brasileiro esteve envolvido com guerrilha terrorista, foi o PT de Lula, com as Farc. Não obstante, não hesitou em lançar mão de argumento tão descabido para impedir que se quebre o sigilo dos gastos presidenciais. Por quê? Ninguém está pedindo que se revelem os esquemas de segurança que protegem o presidente e sua família, mas que se examinem as despesas correntes, que têm crescido a cada ano.
Dono do pedaço, sente-se num à vontade sem limites. Mal tínhamos nos refeito de suas referências ao terrorismo e já ele declarava seu integral apoio à tentativa da Igreja Universal do Reino de Deus contra jornais e jornalistas. Já são 63 ações judiciais simultâneas, impetradas por membros da Iurd, em diferentes cidades e Estados para inviabilizar a defesa dos acusados e sob a alegação de que as informações divulgadas os sujeitam a agressões e discriminações. As informações são de que a Iurd possui 40 estações de rádio, 23 emissoras de televisão e mais 19 empresas, registradas em nome de integrantes seus, o que ela não desmente. E não causa surpresa que não o faça. Surpresa causaria o presidente da República tomar o partido de quem pretende calar a imprensa. Mas também não causa.’
MÍDIA / ORIENTE MÉDIO
Robert Fisk
O estranho caso da biografia inventada
‘Eu o recebi em Beirute num embrulho simples, um envelope pardo contendo uma pequena brochura em árabe, acompanhada de um bilhete de uma amiga egípcia. ‘Robert!’, dizia. ‘Você realmente escreveu isto?’
A capa trazia uma foto do ditador iraquiano Saddam Hussein sendo julgado em Bagdá, o lado esquerdo de sua cabeça em cores, o direito desbotado, vestindo um paletó esporte preto, mas sem gravata, segurando um Corão na mão direita. ‘Saddam Hussein’, dizia a capa em grandes letras. ‘Do nascimento ao martírio.’ E depois vinha o nome do autor -em um belo tipo caligráfico dourado, no canto superior direito. ‘Por Robert Fisk.’
Então lá estavam, 272 páginas de brochura sobre a vida e os tempos do Hitler de Bagdá -e vendendo bem na capital egípcia. ‘Todos suspeitamos de um homem muito conhecido aqui’, ela acrescentava. ‘Chama-se Magdi Chukri.’
É desnecessário dizer que notei um ou dois problemas nesse livro. Ele adotava uma visão muito condescendente com a brutalidade de Saddam, não parecia se importar muito com os civis mortos a gás em Halabja -e era cheio de passagens enfeitadas, do tipo que eu detesto. ‘Depois da rejeição americana do relatório de armas iraquianas à ONU’, escreveu ‘Robert Fisk’, ‘o rufar dos tambores de guerra tornou-se uma cacofonia’.
Pois eu não escrevi esse livro. Não se tratava de plágio -uma prática comum no Cairo, e por isso faço questão de que todos os meus verdadeiros livros sejam publicados legalmente em árabe no Líbano. Não, não era plágio. Era fraude.
E era claramente o momento para o detetive Fisk investigar ‘O Mistério do Falsário Egípcio’. Elementar, meu caro leitor, por isso embarquei no vôo ME304, da Middle East Airlines, de Beirute para minha capital menos favorita, o burocrático, congestionado, falido, maravilhoso, bárbaro, irredutível, espetacular Cairo.
Eu havia chamado um amigo jornalista egípcio, Saef Nasrawi, para ser meu Dr. Watson, e, a poucos metros da porta do Marriott Gezira Hotel, encontramos nosso fiel motorista, Yasser Hassan. ‘Não esqueça de colocar meu sobrenome no seu jornal’, ele anunciou.
Ele disparou para o que todos esperávamos que fosse o escritório da editora. ‘Ibda’, chamava-se a empresa, supostamente, e a telefonista egípcia havia rastreado o nome até um endereço no Cairo Antigo.
Casa da criatividade
O nº 953 da Corniche el-Nil era um prédio alto residencial no qual Saef e eu não poderíamos entrar sem a autorização de uma senhora coberta de preto, cujo filho brincava na rua empoeirada.
Ela escutou enquanto chamávamos escada acima. Sim, disse uma voz de mulher, podíamos pegar o elevador. Na parede havia uma placa: ‘Ibda, a casa da criatividade para jornalismo, publicação e distribuição’. A parte da ‘criatividade’ era bem real.
Mas a polida mulher de véu no 11º andar era de uma total ignorância. ‘Nunca publicamos esse livro’, disse, e ligou para sua chefe, que estava na Feira do Livro do Cairo. Esta telefonou para nosso celular e insistiu -com veracidade- que ‘Saddam Hussein’ não era obra sua.
Saef e Yasser discutiram nosso problema. Os detalhes editoriais na capa do livro estavam claramente errados. Mas o frontispício anunciava que o livro tinha sido registrado no governo egípcio para circulação -em outras palavras, sua venda tinha sido autorizada pela censura oficial.
Então, decidi que nosso próximo destino seria uma visita ao Dar al-Kutb -a ‘Casa dos Livros’, do Ministério da Cultura. O fraudador, o tal Magdi Chukri, teria sido tão esperto a ponto de legalizar seu livro, produzido ilegalmente, no não-tão-legalista governo do presidente Hosni Mubarak? Chegamos ao Ministério da Cultura, um árido prédio stalinista ao lado do qual encontramos a ‘Casa dos Livros’.
No primeiro andar havia um empório de livros -hesito em chamá-lo de escritório-, um vasto átrio de volumes e manuscritos. Eles se empilhavam metros acima das mesas e das prateleiras e -ao que parecia- a quilômetros do chão.
Centenas, não, milhares de livros estavam amontoados em fileiras dickensianas, do piso ao teto: novelas eróticas, ficção árabe, tratados de jurisprudência islâmica e manuais de física.
Duas mulheres de véu e dois homens de barba estavam sentados junto de uma mesa no meio dessa floresta de literatura, um deles -sempre há um milagre no Cairo- na frente de um computador sujo, amarelo-desbotado.
Mesquita subterrânea
Perguntei se meu volume favorito tinha sido aprovado para venda pelo governo egípcio. ‘De Robert Fisk?’, o homem perguntou. ‘Ele mesmo!’, gritei. ‘Sim, foi registrado aqui em 30 de maio de 2007.’ ‘Há o nome do homem que quis registrá-lo?’ ‘Não, só o endereço: rua Hassan Ramadan, 13, em Dokki.’
Segundos depois o detetive Fisk descia a escada correndo, com seu fiel Dr. Saef Watson nos calcanhares. ‘Para Dokki!’, pedimos ao deliciado Yasser. Agora, sem dúvida, estávamos na pista do Impostor do Cairo. Pelo menos havia uma chance de confrontar o sr. Magdi.
O problema -nós três percebemos- é que o nome Magdi Chukri é quase tão comum no Cairo quanto John Smith no Reino Unido. Deve haver centenas de milhares de Magdi Chukris no Egito -um dos quais é um ex-ministro das Relações Exteriores, um homem de grande probidade que jamais forjaria um livro, e provavelmente por isso o autor escolheu esse nome.
Viramos à esquerda em um beco de odor terrível -a rua Hassan Ramadan- e paramos diante do nº 13. Era uma mesquita subterrânea. Não apenas era subterrânea como, quando Saef e eu tentamos entrar no prédio, as orações chorosas de um funeral se ergueram do porão.
Um ‘bo’ab’ prestativo -todos os edifícios egípcios têm porteiro- apareceu e insistiu em que nenhum editor vivia no prédio inclinado, de tijolos de barro, que ficava atrás da mesquita. ‘Eu conheço todo mundo’, ele disse, apontando para os varais cheios de roupa. ‘Esses são os Wassis, esses são os Salman…’
Nessa altura, uma senhora idosa de óculos surgiu de uma escada. Não, ela disse a Saef, não havia editores aqui. ‘Mas houve um simpático senhor Magdi Chukri.’
‘Magdi Chukri?!’ ‘Sim, mas se mudou um ano atrás [antes de registrar seu falso endereço no governo, elaborou o cérebro informático do detetive-inspetor] e hoje trabalha na filial da livraria Mgboulli, ali na esquina.’
Nem Holmes nem Watson jamais se moveram tão depressa. Saef, Yasser e eu saímos gritando pelo lado errado da rua Hassan Ramadan, deixando os condutores de burros com os olhos apertados de ódio porque nossos gritos os afastavam da rua. Só uma coisa importava agora. O nº 45 da rua Al-Batal Ahmed Abdul-Aziz, a livraria Mgboulli local.
E lá estava ela, com a vitrine lotada de brochuras, sem o ‘G’ e o ‘U’ do nome, caídos há muito tempo.
‘Eu não escrevi este livro’
Um egípcio magro, fumando um cigarro, de paletó de smoking amarelo com lapelas de veludo preto, bloqueava a entrada. ‘Quero comprar um livro’, eu disse suavemente, com o sorriso conquistador -temo- de um policial à paisana invadindo meu rosto.
Lá dentro havia dois homens musculosos, balconistas como nunca se viram. Perguntei sobre um livro muito conhecido, a vida de Saddam Hussein. ‘De Robert Fisk?’ ‘Ah, sim, esse mesmo!’
Acompanhei um dos fortões escada acima até a seção de ‘biografia de Saddam Hussein’. Nesse momento ele voltou correndo para baixo e pegou o livro de uma pilha secreta sob o balcão. ‘Trinta libras egípcias’, ele disse. Eu paguei. Sim, paguei o equivalente a 2,86 [cerca de R$ 9,50] por um livro com meu nome na capa, o qual não escrevi.
O homem de paletó amarelo -agora ele se apresentou como ‘Mahmoud’- me perguntou por que eu queria comprar aquele livro especialmente. ‘Porque ele tem meu nome na capa’, eu disse. ‘E aqui está meu cartão de visita. Eu não escrevi esse livro.’ ‘Mahmoud’ e os dois musculosos caíram na gargalhada. Saef também. E eu também. Pois era um momento cômico.
‘Mahmoud’ conhecia ‘Magdi Chukri’?, perguntei. ‘Sim, ele é meu amigo. Mas nos deixou há algum tempo e hoje mora na Cidade 6 de Outubro. Este é o telefone dele.’ Liguei. Não atendeu. Havia outro número. Uma mulher atendeu, se recusou a dar seu nome ou endereço e desligou. ‘Mahmoud’ encolheu os ombros. ‘Quantos exemplares deste livro você já vendeu?’
‘Mahmoud’ deu uma tragada no cigarro. ‘Pelo menos uns cem até agora.’ ‘Então você me deve 3 mil libras egípcias!’ Eu estava gostando dessa parte. ‘Mas não, sr. Robert, não lhe devemos esse dinheiro’, disse ‘Mahmoud’ com um sorriso fingido. ‘Porque o senhor acaba de me dizer que não escreveu o livro. Como podemos lhe pagar por um livro que não escreveu?’
Por que eu gostava de ‘Mahmoud’? Por que estava gostando daquele momento? Seria possível encontrar o sr. Chukri na Cidade 6 de Outubro, caçá-lo rua a rua? Saef inclinou-se sobre meu ombro.
‘Sr. Robert, cerca de 9 milhões de pessoas vivem na Cidade 6 de Outubro.’ Entendi a mensagem. Agarrando meu segundo exemplar da biografia de Saddam Hussein por Robert Fisk -Yasser adorou recebê-lo de presente- , deixei a Mgboulli e voltei para o Marriott. Naquela noite, fiquei sentado no balcão do hotel e olhei além dos minaretes escurecidos e as águas pretas do Nilo para as luzes tremulantes da Cidade 6 de Outubro.
Lá longe, no escuro, ‘Magdi Chukri’ devia estar trabalhando em outro livro histórico. Qual será seu título?, me perguntei. E que nome de autor enfeitará sua capa dourada?
A íntegra deste texto saiu no ‘Independent’. Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves .
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Fisk vive no Oriente Médio desde 1976
‘O britânico Robert Fisk é correspondente internacional no Oriente Médio desde 1976. Trabalhou para o ‘Times’ até 1998, quando foi para o ‘Independent’, onde está até hoje. Cobriu, entre outros combates, a guerra civil do Líbano, iniciada em 1975, a invasão soviética ao Afeganistão, em 1979, a guerra Irã-Iraque (1980-1988) e as duas invasões norte-americanas ao Iraque, em 1991 e 2003.
É defensor da criação de um Estado palestino e opositor da política internacional dos EUA.’
MEMÓRIA / WILLIAM BUCKLEY
Elio Gaspari
William Buckley foi a direita vitoriosa
‘Morreu na quarta-feira um dos maiores jornalistas do século passado. Aos 82 anos, foi-se embora William Buckley Jr. Sem ele, o pensamento conservador americano não teria sido o que foi. Era de direita, reacionário mesmo. Seu primeiro livro foi uma denúncia do ateísmo coletivista dos professores de Yale. Daí em diante, Buckley sempre esteve no lado ‘errado’ da moda cultural. Ia contra os movimentos dos negros e marchava a favor das guerras. Foi um apóstolo quando a palavra ‘conservador’ era quase um insulto, certamente um sinal de primitivismo intelectual.
Buckley fundou a ‘National Review’, escreveu 40 livros e triunfou em 1980, com a chegada de Ronald Reagan à Casa Branca. Filho de um milionário do petróleo e católico fervoroso, tinha convicções, estilo, humor e erudição.
Em 1971, ele escreveu um artigo condenando a tortura da ditadura brasileira (à qual dava uma ponta de simpatia). Mereceu do então ministro da Educação brasileiro um dos maiores insultos de sua vida. Em carta ao presidente Medici, Jarbas Passarinho escreveu o seguinte: ‘Bem sei que esse senhor Buckley deve estar a serviço das esquerdas’.
Pobre Buckley, era um campeão da direita, mas não era antropófago.’
TELEVISÃO
Daniel Castro
Atriz faz ‘universidade’ para viver Maysa em minissérie da Globo
‘Escolhida entre dezenas para interpretar a cantora e compositora Maysa (1936-1977), a atriz gaúcha Larissa Maciel, 30, mergulhou há 20 dias em um processo que a Globo está chamando de ‘universidade Maysa’. Só sai de lá em 10 de julho, quando começam as gravações da próxima minissérie da rede, prevista para estrear em 6 de janeiro de 2009, com nove capítulos escritos por Manoel Carlos e dirigidos por Jayme Monjardim, 52, único filho da musa da ‘música de fossa’.
‘Larissa passa de oito a dez horas por dia na ‘universidade’ Maysa, fazendo trabalho de corpo, de voz e psicológico. Ela assiste a filmes, vídeos, tem aulas de violão e canto. À medida que vai evoluindo, faz novos trabalhos’, conta Monjardim, dono de um acervo gigantesco (de fotos e reportagens às mais íntimas páginas de diários) sobre Maysa, que ele mesmo catalogou ao longo de dez anos.
A idéia é que Larissa, após se ‘diplomar’, fale, cante, respire e segure o cigarro como Maysa fazia. Parecida ela já é.
Monjardim, no entanto, diz que não está preocupado em recriar Maysa, mas em capturar a ‘alma de uma pessoa que estava à frente de seu tempo’. O diretor afirma que os vários meses de preparação para as gravações podem parecer muito para TV, mas não são. ‘Se eu não fosse parente da Maysa, esse tempo seria excepcional. Mas para mim não é tanto.’
O diretor conta que precisou amadurecer para realizar o projeto. ‘Eu me preparei durante anos para esse trabalho. Há dez anos, não conseguiria fazê-lo. Na hora de dirigir, vou saber separar o diretor do filho, mas sou humano, as emoções podem aflorar’, afirma. Para Monjardim, será ‘novidade’ dirigir atores que o interpretarão. ‘Não pensei nisso ainda.’
A minissérie é um projeto antigo, revela: ‘Meu primeiro filme e programa de TV [na Band] foram sobre Maysa. Descobri que queria ser diretor fazendo homenagem a ela’.
A SÓSIA DO BRASIL
Durante anos, a atriz Fernanda de Freitas, 28, foi chamada de ‘a sósia da Deborah Secco’. Seu mais novo trabalho, um especial sobre a banda Mamonas Assassinas que a Globo exibe no final de março, poderá lhe render o apelido de ‘sósia de Valéria Zopello’, a namorada do vocalista Dinho, que ela interpretará. ‘A gente é bem parecida, tem a mesma estatura. Só foi estranho fazer uma personagem que existe e está viva’, diz. Ela assume que era fã dos Mamonas: ‘Tenho CD até hoje’.
DUBLÊ
Muita gente que viu um anúncio da L’Oréal durante as transmissões do Oscar, domingo passado, pensou que a apresentadora Angélica foi dublada por uma outra mulher. Não foi. A voz é da própria Angélica, que teve, sim, que dublar a si mesma, por uma exigência da indústria de cosméticos.
VIAGEM
O diretor Ignácio Coqueiro embarcará para a Itália para levantar locações para as gravações de ‘Vendetta’, substituta de ‘Caminhos do Coração’, na Record. As primeiras seqüências da trama se passam em Palermo. Lá, a mulher e as filhas de um mafioso morrem em atentado.
Pergunta indiscreta
FOLHA – Em um teste de conhecimentos gerais, um ‘brother’ disse que Boa Vista é a capital do Acre. Na semana passada, uma ‘sister’ se complicou toda tentando conjugar o verbo trazer. Existe um limite de Q.I. para poder participar de ‘Big Brother Brasil’? Qual?
J.B. DE OLIVEIRA, O BONINHO (diretor-geral de ‘BBB’)- Tem sim. Um participante tem que ter pelo menos o Tico e o Teco. Ou seja, nada muito difícil. Até porque, estando preso na casa, ele não precisa saber onde fica Boa Vista. E, como não pode pedir nada, o verbo trazer é insignificante.’
Laura Mattos
Ator se destaca como gay de minissérie
‘Desta vez, não é uma senhora gorda do interior, com as pernas cheias de varizes, que está sentada à frente da televisão.
É um telespectador ‘mais jovem, sofisticado e antenado’ que prestigia Guilherme Weber, o homossexual Benny na minissérie ‘Queridos Amigos’ (Globo), de Maria Adelaide Amaral. Premiado no teatro, o ator está em seu segundo papel televisivo de destaque. No primeiro, como vilão da novela das sete ‘Da Cor do Pecado’ (2004), teve ‘reconhecimento de um público mais popular’.
‘Quando entrei na TV, a [atriz] Maria Padilha me deu um conselho ótimo: ‘Novela a gente não faz para os amigos, faz para o público’, diz Weber, que completa o raciocínio com sua teoria da senhora gorda:
‘Lembrei-me de um livro que adoro, ‘Franny and Zooey’, de J. D. Salinger, sobre dois radialistas que, ao entrar no estúdio, pensavam naquela senhora gorda do interior, com a perna cheia de varizes, escutando rádio. Imaginavam que aquele era um momento libertário para ela. Quando entro no estúdio para gravar, penso nessa representante do Brasil que está esperando para assistir à novela -que, nesse sentido, vira um trabalho humanista’.
Para Weber, 33, o sofá agora aconchega seu público do teatro. ‘Sempre tive um reconhecimento grande de um nicho bastante alternativo, que acompanha meu trabalho na companhia [de teatro Sutil]. Com o vilão de ‘Da Cor do Pecado’, me tornei popular para gente que nunca tinha me visto na vida. Agora, a minissérie equilibrou essas duas vertentes da minha carreira. Seria um nicho teatral dentro da televisão, o filé mignon da programação.’
A reflexão sobre o ‘momento libertário das senhoras gordas’, garante Weber, não tem a ver com a compulsão que alguns atores têm por se desculpar pelo ‘pecado’ de fazer TV.
‘Há uma tendência de querer justificar o trabalho na televisão, como se ele fosse menor. Mas isso nunca está na boca de atores que realmente têm carreira paralela em teatro, cinema. Está, sim, na mente fantasiosa do ator que acha que esse discurso vai intelectualizá-lo. Quem se intelectualiza por suas ações não precisa se intelectualizar pelo discurso.’
O trabalho na TV ‘não é menor, é menos pessoal’. ‘Projetos pessoais toco no teatro. Em novela, não dá para ter uma composição tão rígida do personagem porque são nove meses de situações imprevisíveis.’
Já Benny, de ‘Queridos Amigos’, é diferente. ‘A minissérie é uma obra fechada, recebemos todo o texto antes de gravar. E ele, como os outros personagens dessa obra, é mais humano, complexo como qualquer pessoa interessante. Não tem tintas tão carregadas como os de novela, que podem ser um pouco maniqueístas’, afirma.
Beijo gay
Benny é um dos mais interessantes personagens de ‘Queridos Amigos’, que retrata o reencontro, no final dos anos 80, de uma turma de intelectuais de esquerda militante à época da ditadura militar.
‘Ferino, provocador, amargo e, ao mesmo tempo, humano’, Benny, em um dos episódios da semana passada, foi empurrado pelo amigo Pedro (Bruno Garcia) ao tentar lhe roubar um beijo. Forte, a cena repercutiu em jornais populares, que apelaram ao tentar marcá-la como a do ‘primeiro beijo gay da teledramaturgia brasileira’.
Uma das características mais marcantes de Benny é o humor ácido. ‘A comunidade gay tem um humor elaborado, profundo e ferino, muito crítico e irônico, que vem de uma cultura de minoria. Soma-se a isso o fato de ele ser judeu, que tem o humor de autoparódia.’
Weber buscou referências em Caio Fernando Abreu, escritor perseguido pelos militares, morto em decorrência da Aids. É uma das personalidades que inspiraram Maria Adelaide Amaral na criação de Benny, além do poeta Roberto Piva e do editor Pedro Paulo de Sena Madureira. ‘Já o [artista pop] Andy Warhol me ajudou a conceituar Benny visualmente, com jaquetas de couro pretas, óculos escuros, cabelo grisalho escovado com franjão.’
Silvio de Abreu
Weber chegou à televisão em razão do sucesso da companhia de teatro Sutil, fundada em 1993 por ele e pelo amigo Felipe Hirsch, um dos principais diretores da nova geração.
Curitibanos, eles ganharam projeção nacional com a peça ‘A Vida É Cheia de Som e Fúria’, de 2000. Já em São Paulo, encenava ‘A Morte do Caixeiro Viajante’, com Marco Nanini, quando foi visto por Silvio de Abreu. O novelista o indicou para o papel de vilão de ‘Da Cor do Pecado’ (Globo). Foi no mesmo ano, 2004, que teve o primeiro papel de destaque em sua carreira, ao protagonizar o elogiado ‘Árido Movie’.
Apesar de ter se tornado ‘global’, com contrato de longo prazo, Weber acha ‘totalmente possível, até fácil’ não se contaminar pelo mundo de celebridades. ‘É o ator quem define isso. Ninguém é perseguido sem querer. Essa é uma cultura um pouco cafona. No Brasil, os atores passam muito rápido da marginalidade para a celebridade, e pouca gente pára no lugar que temos que ficar, a classe média. Nos anos 60, 70, éramos marginais, a escória, ninguém queria que o filho fosse ator. Agora, as mães levam os filhos para fazer testes de elenco.’
E se tivesse uma proposta de receber R$ 15 mil só para dançar com uma debutante? ‘Adoraria, ia achar engraçadíssimo.’
Pausa. ‘Estou brincando, claro. Porque, dependendo da debutante, pode ser um dinheiro difícil. E, se o bufê não for bom, eu ainda volto com uma salmonela.’ Aí está Benny.
ISTO É WEBER
TEATRO
Começou no teatro amador aos 13 anos; em 1993, fundou a companhia Sutil com o amigo Felipe Hirsch (que se tornou um dos principais diretores da nova geração) e recebeu diversos prêmios;
Em 2000, estreou o elogiado espetáculo ‘A Vida É Cheia de Som e Fúria’, que deu projeção nacional à companhia;
A peça ‘O Caixeiro Viajante’, com Marco Nanini, foi vista pelo novelista Silvio de Abreu, que o indicou para seu primeiro papel expressivo na TV, como o vilão de ‘Da Cor do Pecado’ (2004)
TELEVISÃO
Após ‘Da Cor do Pecado’, fez uma participação como o judeu Felipe Schneider na novela ‘Belíssima’ (2005/06) e agora encarna o homossexual Benny na minissérie oitentista ‘Queridos Amigos’
CINEMA
Depois de papéis menores nos filmes ‘Nina’ e ‘Olga’, protagonizou o elogiado ‘Árido Movie’ (todos de 2004)’
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ATOR ESCOLHE CAIO BLAT PARA FAZER FILME
‘Guilherme Weber está selecionando o elenco para ‘Insônia’, o primeiro filme do diretor de teatro Felipe Hirsch, que será rodado a partir do mês de setembro, em São Paulo e Brasília.
Caio Blat e Simone Spoladore já estão definidos, além da atriz Fernanda Farah, que atuou na peça ‘A Vida É Cheia de Som e Fúria’, da companhia de Weber e Hirsch. Após a minissérie ‘Queridos Amigos’, o ator volta aos teatros com ‘Educação Sentimental do Vampiro’.’
Cristina Fibe
Clima de pastelão e sátira a Bush dominam nova faixa de séries
‘Para as noites de terça-feira, o Sony propõe quatro novas comédias na faixa ‘PI, Politicamente Incorreto’. Duas delas debocham do presidente norte-americano, outras só se encaixam no título pelas coisas sem noção que saem das bocas dos personagens.
Pela ordem: às 20h30, ‘10 Items or Less’, que está na segunda temporada nos EUA, abre o ‘PI’ acompanhando Leslie Pool (John Lehr), um atrapalhado gerente de mercearia que luta contra um supermercado. Faz parte da ‘graça’, aqui, filmar em uma loja de verdade, com figurantes reais e o risco de interagir com eles.
A partir das 21h, entram, em seqüência, duas séries produzidas pelo Comedy Central (de ‘Daily Show’ e ‘South Park’) que se dedicam a zombar do presidente norte-americano.
Primeiro, ‘Lil’ Bush’ (2007), escrita por Donick Cary (‘Os Simpsons’), uma animação que trata George W. Bush como uma criança bizarra, que inventa brincadeiras desastrosas junto com sua ‘gangue’, que inclui Lil’ Cheney e Lil’ Condi.
Adultos, só Barbara e Bush-pai, então presidente -que, no primeiro episódio, leva o filho para a Casa Branca e tem como compromisso comer donuts. Na escola, o ‘pequeno Bush’ conhecerá ainda Lil’ Hillary, Lil’ Barack Obama etc.
Em ‘That’s My Bush’, às 21h30, um presidente já adulto também se comporta como criança -a comédia pastelão, de 2001, ‘entra’ na Casa Branca para debochar da relação de Laura Bush com o marido e das decisões políticas dele, com humor pouco sofisticado. A série é de Trey Parker e Matt Stone, criadores de ‘South Park’.
Por último, às 22h, ‘Sarah Silverman Program’ traz a chata personagem criando situações constrangedoras (e piadas mais ainda) no ‘retrato ficcional’ de sua própria rotina -Sarah Silverman é atriz e co-criadora da série.’
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Prisioneiras conduzem série mexicana
‘Aparentemente determinada a diferenciar séries latinas de norte-americanas, o HBO lança hoje, às 22h, a megaprodução mexicana ‘Capadócia’, sobre um presídio feminino (ao menos na ficção, as mulheres ficam em celas sem homens) privatizado, feito para o lucro.
Elementos comuns a diversas séries estão aqui: violência, mulheres sem blusa, sexo, traição, romance. Mas o presídio, com seus motins, líderes e injustiças, é carregado de peculiaridades latinas e traz histórias baseadas em fatos reais.
Roteiristas, produtores e diretores estudaram prisões e casos de encarceradas -como o da freira que recheava rosários de cocaína- nos três anos de preparação da série, que o HBO classifica como ‘o projeto mais ambicioso’ de seu braço latino -com quatro produções, o grupo faz sua estréia no México.
Entre os diretores envolvidos, destaca-se Carlos Carrera, de ‘O Crime do Padre Amaro’, que dividiu os 13 episódios com Pedro Pablo Ybarra e Javier Patrón. ‘Fizemos certos acordos, mas cada um conservou a sua linguagem e absoluta liberdade narrativa’, afirma Ybarra.
Combinaram, por exemplo, como retratar as locações mais comuns, caso do presídio Capadócia -construído sob uma arena de touros, 30 metros abaixo da terra- e da casa de Teresa Lagos (Dolores Heredia), líder humanitária das prisioneiras. De resto, as personagens nas quais a série é focada variam a cada episódio.
Quanto às inúmeras cenas de sexo e às belas prisioneiras, Ybarra nega tratar-se de apelo proposital à audiência masculina. ‘Capadócia’ não foi escrita nem filmada com esse objetivo. Há sexo porque na vida há sexo, nas prisões de mulheres há lesbianismo. Não é gratuito.’
CAPADÓCIA
Quando: estréia hoje, às 22h
Onde: HBO’
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