O papel da mídia é levantar pistas, buscar testemunhos e descobrir evidências. Mas a mídia não pode prejulgar. Pode e deve extravasar a indignação e a revolta. Mas a mídia não pode presumir culpas.
O erro do governo na tragédia da Gol, ao longo de outubro passado, foi justamente o de permitir que o ministro da Defesa, Waldir Pires, lançasse suspeitas sobre os pilotos americanos para evitar que o governo fosse arranhado entre o primeiro e o segundo turno das eleições presidenciais.
Agora, nesta catástrofe, a mídia não pode cometer o mesmo pecado e embarcar em hipóteses delirantes sobre o comportamento dos pilotos da TAM. Eles não podem defender-se, estão mortos, e a caixa preta ainda não foi aberta. O que se espera da mídia é que seja veemente e perseverante para que o caso não seja triturado e esquecido em poucos meses, como costuma acontecer.
Há nesta tragédia da TAM ingredientes eminentemente políticos sobre os quais a mídia não pode calar-se. Estes sim devem ser questionados com rigor e denunciados. Quanto mais cedo melhor. Mesmo que o tersol do presidente Lula ainda não esteja completamente curado.
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O programa Observatório da Imprensa na TV não foi retransmitido pela TV Cultura na noite da terça-feira. Justifica-se: a emissora estava em Congonhas na hora do desastre e graças a isso conseguiu imagens exclusivas e as exibiu extensamente.
O presidente da Fundação Padre Anchieta pediu desculpas ao editor do OI. Mas poderia ter também oferecido a sua magnífica cobertura à TVE. Porém, a TVE, por sua vez, também não se lembrou de retransmitir a cobertura daquela que poderá ser uma de suas futuras parceiras. A verdade é que a Rede Pública de TV perdeu nova oportunidade para mostrar o seu potencial.