Ora, me perguntas quem é Chico Buarque, o artista!? Direi de supetão, já que queres a resposta à vista: fantasista de truz é o que ele é. Homem que come luz, credo-em-cruz! O cara é bem mais que humanista, ele é estrategista a viver, simbolista, sua missão idealista.
Irrealista, tu fazes-me a pergunta e ainda de mim esperas resposta?! Pois eu digo e não desdigo: numa bolsa de aposta ele que, de um milhão a um segundo, já no segundo e seguinte segundo, vale mais de um quatrilhão. Sem afetação, longe de mim a bajulação.Pois é, Tamandaré, levastes um passa-pé e a maré deu marcha à ré.
E aí veio ele junto à banda. Feito em roda de ciranda que anda-que-anda e não desanda, agora vem ele ainda mais perfumoso de lavanda, o de Hollanda. Pede só que o deixem na varanda com a vianda, a sonhar com a moça se chacoalhando lá em Benguela, com o chocalho farfalhando na canela.
Feito um menino, lá vai ele de cantiga em cantiga, a torcer para que o siga só quem for mais forte que viga de pinho-de-riga que verga, verga e não fadiga. Vento que gira o mundo. Rosa-dos-ventos que orienta o iracundo. Roda que é viva no sonho fecundo. Rosa-de-bobo que fede feito o imundo que ergueu a construção num microssegundo, para ela tombar e revelar o submundo vagabundo desse furibundo mundo.
Rita, Carolina e Beatriz, e a quem mais Chico quis, transformou-as em lis e por um triz não viraram cada uma sua rainha, pondo-se com ele a sonhar na pracinha onde pousam as rolinhas e onde à noite caem centenas de mil estrelinhas. Todas mais que as primeiras e todas damas estreladas da sua Estação Primeira que é Mangueira. E se lembrem que foi pra lá que subiu o piano. Piano que era do beltrano, mas tocava nele o sicrano, aquele que acompanhava o soprano que achava profano meter-se a ufano com o escorpiano que morreu ao bater no gelo-baiano antes de correr no pan-americano, em pleno verano italiano.
Recorro neste momento a ti, nosso maestro Soberano. Tu que nunca me pareceste insano, nem mesmo ao nadar no profundo oceano machadiano onde nenhum ser humano cigano ou pós-diluviano ousou pisar ou teve para tal tutano, revele a nós quem é Chico, o tal artista buarquiano’. ‘Sois de todo louco, desista de tal intento, pois nem se fosses aqualouco mergulharias no âmago do mago, esse detento das presas do encantamento’.
E tu ainda vens e me perguntas quem é Chico Buarque, o artista!?
******
Músico e integrante do MPB4