As vaias na cerimônia de abertura dos XV Jogos Pan-Americanos foram a marca da falta de civilidade que os presentes ao Maracanã apresentaram, ao vivo, à América e ao mundo. Uma vergonha! Não era o momento. O esporte poderia ter sido poupado daqueles ‘momentos-Pan’ – vaias ao presidente do Brasil, em três momentos, e vaias aos atletas dos Estados Unidos. Os cerca de 70/80 mil presentes ao Maracanã, cariocas, paulistas, gaúchos, alagoanos, acreanos, enfim, brasileiros, em sua maioria, deveriam ter silenciado. A democracia conquistada nos dá o direito da divergência, mas não nos dá o direito de sermos mal-educados. Tenho dúvidas sobre a maturidade política desta manifestação no Maracanã. Entramos para a história: é a primeira vez que uma cerimônia de abertura dos Jogos Pan-Americanos não é aberta pelo chefe de Estado do país-sede.
A platéia que impediu, na vaia oficial, o presidente do Brasil de fazer oficialmente a abertura do Pan, e vaiou os atletas da delegação estadunidense, é a mesma que apóia, com seus dólares, o governo imperialista do senhor George Bush! Sim! Pois muitos desta platéia passam pelo humilhante processo (ritual) de pedido de visto para ir gastar seus dólares, abaixo dos R$ 2, nas cidades de Nova York, Orlando ou Miami, nos Estados Unidos.
Essa platéia é também a mesma que aplaudiu o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), o senhor Carlos Arthur Nuzman. O ‘Ali Babá do Pan’! Esse senhor contratou a senhora Mônica Conceição, sua cunhada, para ser a figurinista da equipe olímpica brasileira e criou a empresa CO-Rio, da qual é presidente, para organizar o Pan do Rio de Janeiro, que não é organizado pelo COB!
Salário mínimo
Essa platéia também foi e é complacente com o prefeito César Maia (DEM), e com o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), beneficiados politicamente com os quase R$ 4 bilhões que possibilitaram a realização do Pan – um evento orçado em R$ 375 milhões que custou ao contribuinte brasileiro 10 vezes mais. Sem falar no estado de sítio que vive o Rio de Janeiro, comandado pelos traficantes que têm seu poder realimentado com a venda de droga aos ‘meninos do Rio’, muitos deles filhos de boa parte dessa mesma platéia que pede a intervenção do governo federal para colocar fim na violência reinante no Rio. Qual o critério?
A América e o mundo viram o ‘jeitinho brasileiro de ser’, ou o ‘jeitinho de não ser brasileiro’. Confesso: desliguei a TV. Passei uns 10 minutos pensando naquela cena. Pensei em tudo que li, tanto na mídia ‘chapa-branca’ como na ‘chapa de aluguel’, sobre os esforços do governo federal para cobrir os gastos e não ser acusado pelo fracasso dos XV Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro; e não do Brasil, como disse o prefeito do Rio de Janeiro, o senhor César Maia (DEM). Pensei em todos os benefícios e beneficiados pelos jogos.
Estive no Rio de Janeiro no começo de julho e vi os muitos e modernos equipamentos urbanos que a cidade do Rio está ganhando. Se a maioria da platéia que estava no Maracanã era de cariocas, posso dizer que o carioca é, no mínimo, mal-agradecido. Até votam no Lula (PT) – que no 2º turno obteve 70% dos votos cariocas.
Mas o caso são as vaias, e não os votos. Então, pensei no preço do ingresso. Foi aí que entendi a vaia ao presidente e os aplausos ao Ali Babá: aquela platéia não ganha salário mínimo. Boa parte daquela platéia paga salário mínimo…
O Maracanã não é o Brasil. O Brasil não é o Haiti. O Pan é do Rio! Então: ‘Bem-vindo ao Congo!’ – frase, infeliz, do gerente de Imprensa do Comitê Olímpico dos EUA, o jornalista Kevin Neuendorf, que está assistindo à delegação (vaiada) dos EUA ganhar medalhas de ouro pela TV, pois foi afastado antes mesmo do início dos jogos por causa da receptiva frase que escreveu no quadro de avisos de uma sala no Riocentro. Bem-feito. Quem mandou não estudar geografia? O correto é: ‘Bem-vindo ao Iraque!’
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Vila Velha, ES