Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Acabaram os jogos, começou o tiroteio

Chamada de primeira página de O Globo de terça-feira (31/7) mostra que nem bem terminou o Pan e já recomeçaram os confrontos entre PMs e traficantes, e com um morto.


O recomeço tão imediato do tiroteio deixou várias pulgas atrás da orelha. Os dados divulgados pela polícia sobre a segurança durante o período do Pan não mostram uma queda tão significativa assim dos índices, em comparação com o mesmo período do ano passado, quando não havia Pan nem todo o aparato de segurança que o acompanhou.


O índice de homicídios foi apenas 5% inferior. O de assaltos, 16%. O de roubo de carros, sim, 32% menor, o que mostra que a simples presença da polícia inibe esse tipo de delito.


Mas isso é muito pouco frente à tranqüilidade, à sensação de segurança que tomou conta da cidade. Apenas a diminuição desses índices justificaria essa sensação?


Não é crível que durante todo o período do Pan, imbuída pelo espírito saudável da competição dos Jogos, a galera tenha deixado de cheirar seus papelotes ou de fumar seus baseados. E, evidentemente, os traficantes estavam ali para atender à demanda.


O que teria havido então? Uma trégua da polícia, um liberou geral? Ou durante o Pan – e apenas durante ele – a polícia efetuou as prisões com o uso da inteligência, sem que fosse necessário disparar um único tiro, sem que houvesse um morto sequer? Ou, ainda, será que aconteceram confrontos, sim, e muitos morreram, sim, e isso apenas não foi divulgado para manter aceso o ‘espírito do Pan’?


Sensacionalismo


Todas as hipóteses merecem comentários.


1. Se a polícia usou a inteligência e assim conseguiu prender traficantes e coibir o tráfico, sem a perda de vidas, por que a volta dos confrontos agora?


2. Se a polícia deixou o tráfico correr solto e isso evitou os confrontos e as mortes, e ainda de quebra nos deu a sensação de vivermos em uma cidade segura, não seria a hora de discutir seriamente um assunto já levantado até pelo governador do estado, Sérgio Cabral, a descriminalização das drogas?


3. Mas, se, ao contrário, tudo estava acontecendo exatamente como dantes no quartel de Abrantes, os crimes, os confrontos e os mortos continuaram durante o Pan, isso nos leva a outras perguntas:


** Por que a imprensa ficou caladinha? Ela tem o direito de nos omitir informação em benefício da boa imagem da cidade durante os Jogos?


** Não será a divulgação sensacionalista dos crimes um fator decisivo para o aumento da sensação de insegurança?


** Nossa sensação de insegurança não alimenta ainda mais a violência?

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Escritor, publicitário, Rio; http://blogdomello.
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