Da ingenuidade dos primeiros tempos, até a mordaz crítica surgida na década de 60, com a contracultura, os quadrinhos foram se modificando. Subvertendo a forma doce, pueril – repleta de seus nichos de heróis, vilões e bichinhos engraçados – trouxeram para seu universo pessoas comuns e fatos reais, tornando-os atores principais de histórias que são impressas no jornalismo em quadrinhos.
Houve tempos em que nos jornais predominava as palavras, dispostas graficamente de modo muitas vezes pouco atrativo para o leitor. Hoje, já não é possível imaginar as páginas dos impressos sem imagens. A idéia transmitida por uma seqüência de imagens em quadrinhos surgiu como uma nova linguagem jornalística.
Os quadrinhos, que na década de 1960 assumiram o papel de contracultura, atualmente garantem espaço em praticamente todos os jornais diários com as famosas ´tirinhas´, que por vezes apresentam ácidas críticas. Embora existam desde o século 19 no Brasil, as reportagens em quadrinhos não possuem espaço na mídia impressa, como aponta o trabalho de conclusão feito pela ex-aluna de jornalismo, da Unisinos, Michele Fatturi, diplomada no último sábado.
‘Reportagem em quadrinhos: análise e aplicação de uma nova possibilidade para o jornalismo’ é o trabalho de Michele que aborda essa tendência. Segundo ela, o jornalismo em quadrinhos surgiu como uma nova opção de narrativa jornalística. Apesar de ser uma forma mais leve de se narrar um evento, eles são tratados e feitos com bastante profundidade. ‘Nele você pode encontrar tanto ou mais informação do que numa reportagem convencional porque se tem mais o lado humano’, afirma.
Diferente do que acontecia no século retrasado, os veículos de comunicação não abrem mais espaço a esse segmento. As publicações ficam restritas a livros e a publicações literárias. Não há jornais ou revistas que tragam em suas páginas reportagens em forma de HQs. Para a estudante, as possíveis justificativas para isso referem-se ao alto custo que esse tipo de trabalho demanda às empresas e o processo que é um pouco demorado.
Em contrapartida, o jornal britânico The Guardian é um exemplo de que é possível para o jornalismo abrir espaço a essa nova narrativa. O periódico abre espaço em seu caderno de final de semana, para as reportagens em quadrinhos, como é o caso das matérias desenvolvidas por Joe Sacco – artista de quadrinhos e jornalista, e um dos maiores nomes do jornalismo em quadrinhos.
Michele acredita que se esse tipo de reportagem estivesse em outros veículos que não somente em livro, poderia atrair um publico maior de leitores. Segundo ela, tal abordagem contribuiria para diminuir a alienação, assim como contribuir para o interesse das pessoas por assuntos que estão inseridos fora de seu universo.
Da cultura pop à comunicação de massa
Usando uma linguagem um tanto quanto ‘ácida’, as histórias em quadrinhos deixam de lado o universo lúdico e começam a abordar temas vigentes da década de 60: como as drogas, revolução sexual r o questionamento sobre a eficácia da guerra. Os quadrinhos deixaram de ser apenas mero divertimento infanto-juvenil e para os adolescentes e passaram a ser base para a reconstrução da forma de se propagar a notícia.
No século 19, os jornais serviam como meio de se disseminar a cultura literária; nomes como Machado de Assis, Alexandre Dumas e outros mais, tinham suas obras transformadas em folhetins. Desse modo, sob a tutela dos folhetins, as histórias em quadrinhos passaram a ser contadas em tiras diárias e continuadas. No Brasil, o italiano Angelo Agostini, fazia diversas reportagens em HQs, assim como inúmeras charges e caricaturas de figuras políticas da época de Dom Pedro II.
Ainda hoje encontramos charges, tiras, caricaturas, livros e periódicos – que retratam não somente pessoas, mas situações delimitadas no tempo e espaço. Outras formas de se fazer jornalismo em quadrinhos foram surgindo ou se reinventando: como os fanzines (revistas em quadrinhos amadoras, feita de forma artesanal a partir de máquinas de xérox ou mimeógrafos), os graphic novel (revistas em quadrinhos que geralmente trazem enredos longos e complexos, frequentemente direcionados ao público adulto) e o webcomics (são histórias em quadrinhos publicadas na internet).
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Da Redação FNDC