Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Sensacionalismo na cobertura do acidente da TAM

Como profissional da área de Comunicação, sinto-me no direito e no dever de comentar a matéria sobre o acidente do avião da TAM, publicada na edição 479 da revista Época. Minha atenção se foca nas imagens apresentadas na página 33, mostrando uma vítima sendo resgatada e outra, totalmente carbonizada e deitada de bruços, preparada para remoção pelos bombeiros. Comento essas imagens porque fiquei chocado com o sensacionalismo adotado pela revista. Imagino eu – como porto-alegrense – o sentimentos dos familiares, parentes e amigos pensando: ‘Será este meu pai’, ‘Será minha mãe’, ‘Parece meu colega de trabalho’, ‘…meu primo, meu sobrinho, meu…’.

Mostrar corpos cobertos, enfileirados, bagagens espalhadas, como as imagens que tomaram conta da imprensa quando do acidente com o Fokker 100 da TAM e, mais recentemente, com o Boeing da Gol ilustra e dá uma dimensão à tragédia. Mas expor corpos carbonizados fere a dignidade humana das vítimas e dos familiares e mesmo dos leitores. Não creio que tais imagens acrescentem NADA à cobertura, além de criar um clima de sensacionalismo e pânico numa situação naturalmente grave e de grande comoção.

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Estou impressionado com a coletânea de bobagens que a imprensa trem produzido em diversos episódios tanto no recente acidente da TAM como em inocentes entrevistas com artistas ou celebridades. Fiz Jornalismo em 1995 e mesmo não tendo concluído a faculdade, sei que é necessário uma prévia informação da pauta ou assunto a ser tratado antes da entrevista. O que vejo hoje é que os jornalistas não se preparam. Quando o assunto é aviação, por exemplo, as informações tendem ao sensacionalismo e não à realidade. Agora, cada arremetida que um avião da TAM dá em Congonhas vai parar no Jornal Nacional. Imagine quantas arremetidas acontecem no aeroporto por dia! Onde vamos parar com essa imprensa que não informa e não SE informa? (Eduardo Araújo, especialista em computação gráfica, Taboão da Serra, SP)

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O descuido com a nossa língua chegou à parte mais nobre dos jornais. Na manchete principal da Folha de S.Paulo de terça-feira (24/7), conseguiram colocar um cacófato horrível e ao mesmo tempo de sentido estranho. A manchete diz ‘Empresas evitam Congonhas e caos piora’ (ou ‘caspiora’). Mas é possível ao caos ‘piorar’? Considerando que ele não pode ‘melhorar’, também não dá para piorar. Caos aumenta ou diminui. Foi de doer olhar isso na banca logo cedo. (Danilo Pretti Di Giorgi, jornalista, São Paulo, SP)

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Percebi que desde o começo dos Jogos Pan-Americanos a mídia parou de falar em viência no Rio de Janeiro. Parece até que nada está acontecendo ou que nada acontecia e a mídia exagerava. Será que em 15 dias não houve nenhum assalto, seqüestro ou tiro no Rio de Janeiro? (Neide Miranda Filha, pedagoga, Rio de Janeiro, RJ)

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Na enquete do Observatório sobre a cobertura da mídia no desastre da TAM, faltou uma opção que é a que eu marcaria: ‘Politizada’. Na minha leitura dessa cobertura, a mídia está oscilando entre o sensacionalismo (para vender mais e ocupar espaço contra a concorrência) e a ânsia de aproveitar a tragédia para demonizar o governo Lula, pendendo mais para a segunda opção. Em tempo: não sou petista, votei no Lula apenas no segundo turno (votei em branco no primeiro turno), acho esse governo sofrível e o considero responsável indireto por mais esse acidente, independentemente das reais causas da queda do avião da TAM. (Paulo Henrique de Noronha, jornalista, Rio de Janeiro, RJ)

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Para um observatório de imprensa sério, o fato de não haver artigos sobre este caso que muitos consideram uma das maiores não-notícias da história, é simplesmente inaceitável! ‘Mylton Severiano é um dos autores da reportagem da revista Caros Amigos sobre o filho do ex-presidente FHC com uma jornalista da TV Globo, divulgada em abril de 2000. Ontem, pela primeira vez um órgão da grande imprensa fez menção ao caso, ainda que sem confirmá-lo: a Folha de S. Paulo. Segundo o jornal, `a política da Folha tem sido a de considerar que tais situações devem permanecer na esfera particular enquanto não houver indícios de que interfiram na vida pública´. O argumento é muito adequado ao momento – afinal, FHC é ex-presidente da República. Mas se considerarmos que a criança nasceu ANTES da candidatura de FHC à presidência, à luz das circunstâncias da época acredito que o eleitor tinha o direito de saber do caso, especialmente se houve um esforço para manter a jornalista longe do Brasil. Mylton concorda com o que eu tenho escrito aqui: a mídia brasileira aplica dois pesos e duas medidas em suas coberturas. `Tenho 50 anos de carreira, desde criança leio jornal e voltando atrás na História eu acho que só o Getúlio foi vítima de um massacre como eles fizeram com o Lula´, afirma, referindo-se especificamente ao período que foi do segundo ano de governo até o período pré-eleitoral de 2006.’ (Cid Elias, hoteleiro, Fortaleza, CE)

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Sou jornalista e acho o trabalho de vocês uma porcaria. Confesso que lendo o Paulo Henrique Amorim, a Agência Carta Maior e a Carta Capital tenho uma visão mais contundente e apropriada do plano global da mídia brasileira. O OI, que sempre foi insosso e chato na TV, incorporou o engessamento na versão online. A pseudo-imparcialidade que o Observatório adotou dos manuais de redação é cada vez mais pseudo. É como não ter opinião nenhuma. Os textos que eu leio aqui são um subproduto dos editoriais dos jornalões, seguem a mesma temática, não acrescentam nada. Parece que se esforçam em não atingir ninguém que ‘mereça respeito’ e se baseiam apenas no que está escrito nas edições de domingo. Chutam os mesmos cachorros mortos, vomitam os mesmos chavões e não me servem, não servem aos estudantes de jornalismo, nem ao leigo. Aliás, depois que Dines elogiou a cobertura da Veja nas eleições de 2006, o OI está morto e enterrado. Não se atualiza e virou um órgão decorativo como os sindicatos de jornalistas. Uma fraude. (Franklin Carvalho, jornalista, Salvador, BA)

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As últimas semanas têm sido prolíferas em temas que exigiriam da sociedade (e da mídia) reflexões menos apressadas que, no entanto, pela premência dos fatos, acabam comprometidas, levando a conclusões açodadas ou considerações superficiais – que, por sua vez, revelam antagonismos partidaristas ou proselitismos mesquinhos.

A fratura social (visível) expõe não somente a fragilidade do cidadão diante de crises que se prolongam transformando-se em caos (aéreo, educacional, de saúde etc), bem como o despreparo, o ‘jeitinho’ governamental (seja federal, estadual ou municipal) em lidar com tais problemas. O custo é altíssimo e costuma ser pago com vidas, as dos que tenham que utilizar o transporte aéreo, estradas esburacadas ou o sistema de saúde pública.

Talvez não seja didaticamente correto misturar assuntos (caos) aparentemente diferentes, sob o risco de se cometer as mesmas considerações superficiais e açodadas – também este comentário não se propõe a uma reflexão definitiva.

De qualquer forma, a imprevidência, a falta de estratégias, a falta de planejamento de médio e longo prazos e a sanha (pressões) capitalista (em todos os setores), além do jogo de interesses políticos, demonstram que essas questões são relacionadas (ou estão, direta ou indiretamente, relacionadas), seja pela falta de uma visão global de planejamento, ou pelo tratamento (de remendos) dispensado quando os problemas se agravam, tornando-se caóticos.

A mídia, nesse contexto, tem o dever ou ‘compromisso público’ de avaliar tais questões (sejam as relacionadas ao apagão aéreo, ao transporte em geral ou ao sistema educacional e de saúde pública) com pertinência e profundidade para não se tornar simples arena de um jogo discursivo do poder, de uma sociedade cindida, apartada, portanto, dos interesses civis – entendam-se por ‘interesses’ as garantias dos direitos de cada cidadão, bem como o acesso a serviços de qualidade, ou seja, serviços públicos ou regulados pelo poder público. (Afonso Caramano, funcionário público, Jaú, SP)

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Lançar no ar e bater insistentemente no foco Nelson Jobim 2010 é muita irresponsabilidade para com o Brasil. Nossos problemas da malha aérea sequer foram resolvidos? De fato nossos problemas de infra-estrutura em geral também não. Até parece que não temos outros problemas. Estão mudando o foco e o Renan Calheiros está rindo para as paredes. Se Jobim resolver o problema e se candidatar à presidência da República, e daí? Que tal parto natural sem cesariana? No outro dia a mãe sai andando com bebê no braço sem precisar de convalescença. Deixem o ministro trabalhar! Ele está com o apoio, dinheiro, poder e a postura. Se resolver, melhor para todos nós. Senão, dançam ele e Lula continuamos na mesma. Torcida do contra leva à sabotagem. Se colocaram a vida das pessoas acima da segurança por interesses, lucro e corrupção, não custa quererem sabotar o novo ministro só para tirá-lo da linha de disputa presidencial. Aí o problema não se resolve – e quem perde? Desse jeito também estarão colocando a vida dos passageiros aéreos acima da corrida presidencial. A pergunta que se deveria fazer é como o Brasil estará em 2010? Desculpe, mas acho que estão errando no tom. Falta de notícia depois de quase um mês martelando sobre o acidente de Congonhas? (Ed Garcia, professor, Goiânia, GO)

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Publicitário e professor, Porto Alegre, RS