Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

“Cláudio Abramo,
jornalista marceneiro”


Leia abaixo os textos de terça-feira da seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Terça-feira, 14 de agosto de 2007


MEMÓRIA / CLÁUDIO ABRAMO
Roberto Müller Filho


Cláudio Abramo, jornalista marceneiro


‘QUANDO RECEBI o convite para escrever sobre Cláudio Abramo, com quem trabalhei várias vezes nesta Folha e de quem fui amigo o tempo todo, tive uma espécie de medo e desejo irresistível de aceitar. Passados 20 anos de sua morte, ele ainda é o melhor de todos.


Herdei-lhe uma bengala, preciosa lembrança que guardo com grande carinho. Por via das dúvidas, ela está, enquanto escrevo, ao meu lado. Talvez para inspirar-me, quem sabe para tê-la ao alcance dos olhos, para evitar que Cláudio a utilize como reprimenda à ousadia de escrever sobre ele, seja pela pobreza do texto que estou produzindo, seja constrangido pelos elogios que certamente escorrerão do teclado enquanto tento conter a emoção que a lembrança de sua figura majestosa desperta.


Explico-me: o pouco que aprendi sobre jornalismo devo ao muito que ele sabia. Cláudio adotou-me assim que soube que eu estivera preso num navio-presídio, Raul Soares, onde descarregavam subversivos da Baixada Santista e de outros lugares.


Fez-me repórter, depois editor de economia, por duas vezes, quando implantava a reforma deste jornal, após ter feito, jovem ainda, a de ‘O Estado de S. Paulo’. Leu meus textos, corrigiu-os impiedosamente. Com ele aprendi também a editar.


Algum tempo depois de sua vinda para a Folha, Cláudio comandou a grande mudança para o método de composição a frio, que aposentou a linotipia. Na fase inicial da mudança, a luta contra o tempo era implacável, horários rígidos de fechamento.


Lembro-me dele retirando os diagramas das editorias mesmo que ainda incompletos. Nos espaços vazios, entravam calhaus. Mas ele ajudava com sua experiência e genialidade. Havia um título de alto de página, de uma coluna, acho que eram quatro linhas de sete toques, dificílimo de fazer, sobretudo quando pressionados pela urgência do fechamento. De sua enorme mesa ao centro da ampla redação que comandava, Cláudio anunciava que chegara a hora de entregar os diagramas. Não raro, quando pedíamos clemência, alegando que faltava apenas produzir o maldito título de uma coluna, ele pedia que disséssemos de que a matéria tratava e, de pronto, ditava-nos, lá de seu posto, com impressionante exatidão, as tais quatro linhas de sete toques.


Aos jornalistas que aprendemos com ele, e fomos tantos, de tantas gerações, ficaram lições de forma e de conteúdo. De ética e de caráter. Autodidata, Cláudio falava fluentemente cinco línguas e escrevia em português e inglês. Leu muito, tinha uma cultura humanista admirável. As reportagens e colunas que escreveu ao longo da vida são impecáveis. Mas gostava mesmo era de ser marceneiro. A propósito, Cláudio era bom nisso também. Fazia bons móveis e dizia que a ética do jornalista, assim como a do marceneiro, era a mesma, ou seja, só havia uma ética, a do cidadão.


Modesto, não se levava a sério. Mas levava muito a sério a profissão. Fazia o trabalho com paixão. Participou de todos os embates políticos de seu tempo. Sempre do lado dos oprimidos. Foi vítima da ditadura como profissional e cidadão. Preso com sua mulher Radhá, manteve a altivez e a irreverência com os poderosos.


No comando, Cláudio era exigente, transmitia-nos técnica e regras de conduta. Aprendi com ele que é possível, embora não seja fácil, combinar emoção e isenção ao reportar os episódios que cobríamos.


Mas Cláudio era, sobretudo, justo e combinava isso com generosidade. Gostava de recrutar jovens, aos quais ensinava pelo exemplo. Houve um dia em que, constrange-me revelar, aprendi com ele uma preciosa lição de integridade. Testemunhei conversa tensa entre ele e Octavio Frias de Oliveira, uma de tantas, fruto de uma curiosa relação de respeito e farpas.


Cláudio tentava convencer Frias de que a Folha, que já se tornara o jornal de maior tiragem no Estado, precisava agregar influência. Recomendava a criação de uma ou duas páginas de opinião, com a contribuição de jornalistas notórios e respeitáveis. Apresentou três nomes famosos. Ante a resistência inicial de Frias, saiu fechando abruptamente a porta.


Atônito, temendo pela reação que o gesto pudesse provocar, atrevi-me a sugerir paciência a Frias, argumentando que Cláudio era um tanto irascível, mas certamente um grande jornalista. Recebi mal-humorada resposta, mais ou menos nesses termos: ‘E você acha que, se eu não soubesse disso, toleraria tal temperamento?’.


Depois, fui ter com Cláudio e argumentei que os três nomes que ele sugerira eram competentes, mas nem sempre falavam bem dele. E foi aí que me veio a lição, inesquecível como um bofetão: ‘Eu sei, mas são grandes jornalistas e têm direito ao trabalho’.


É por tudo isso que ele faz tanta falta.


ROBERTO MÜLLER FILHO, 65, jornalista, é diretor da edição brasileira da ‘Harvard Business Review’ e da revista ‘Razão Contábil’. Foi diretor da ‘Gazeta Mercantil’ e editor de economia da Folha.’


MÍDIA & POLÍTICA
Humberto Medina


Governo decide recadastrar rádios e TVs


‘Uma semana depois de o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), ter sido acusado de usar laranjas para ser proprietário de uma rádio, o Ministério das Comunicações decidiu fazer um recadastramento no setor. Todas as empresas que operam rádio e TV terão que enviar, em 60 dias, informações sobre composição do capital, quadro de diretores, procuradores com poder de gerência, endereço e nome fantasia.


De acordo com o ministério, a medida não está diretamente relacionada às denúncias envolvendo Renan -faz parte de um esforço para diminuir o número de processos em tramitação e atualizar o cadastro, que, segundo o ministério, está defasado. O último recadastramento foi feito em 1973. Segundo a edição da revista ‘Veja’ da semana passada, a JR Comunicação, emissora FM no município de Joaquim Gomes (AL), pertence ao senador, o que ele nega. O caso é investigado na Corregedoria do Senado.


Na terça-feira da semana passada, o próprio senador assinou decreto legislativo aprovando nova concessão de rádio para a empresa JR Comunicação, pelo prazo de dez anos, renováveis. A concessão foi adquirida pela empresa em licitação pública do Ministério das Comunicações. A concorrência foi aberta em 2001, e a empresa venceu com a proposta de pagamento de R$ 222.121. Do contrato social da empresa que o ministério encaminhou ao Congresso consta que a JR Comunicação pertence a Carlos Ricardo Nascimento Santa Ritta e a José Carlos Pacheco Paes. A empresa tem sede em Maceió e capital social de R$ 100 mil. Santa Ritta ocupa cargo em comissão no gabinete de Renan no Senado, como assessor técnico, desde 2004.


O ministério diz que o Código Brasileiro de Telecomunicações não impede que pessoas com cargo eletivo participem de rádios ou emissoras de TV. A legislação (lei 4.117/ 1962, alterada pela lei 10.610/ 2002) impede apenas que os políticos exerçam cargos de diretor ou gerente das emissoras. Essa mesma legislação prevê que as rádios e TVs informem previamente ao governo alterações no quadro societário.


A participação de políticos em rádios é uma polêmica que já envolveu o próprio ministro das Comunicações, Hélio Costa (PMDB-MG). Até abril de 2006 o ministro era sócio de uma FM em Barbacena (MG), mas teve de se afastar da emissora, seguindo orientação da Comissão de Ética Pública, órgão ligado à Presidência da República.


A Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão) elogiou o recadastramento e disse que o setor está pronto a cumprir as exigências. ‘É uma boa iniciativa. A maioria das exigências as empresas já são obrigadas a enviar anualmente ao governo. Isso vai dar agilidade à futuras alterações’, afirmou Daniel Pimentel Slaviero, presidente da associação, da qual fazem parte 2.500 rádios e 320 emissoras de TV.


O recadastramento das emissoras de rádio já estava previsto no programa de governo de Luiz Inácio Lula da Silva que tratou da ‘democratização das comunicações’, em 2006. ‘Recadastramento de todas as concessões, para cancelar as concedidas a entidades que não estejam em conformidade com a lei e desenhar um mapa da concentração do setor’, dizia o documento. Também é defendido o recadastramento para as TVs.


O texto pede ainda a ‘participação popular’ na concessão, renovação e outorga de concessões, mas não detalha como isso seria feito. Críticos vêem inspiração ‘chavista’ na idéia.


Colaborou FÁBIO ZANINI, da Sucursal de Brasília’


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Jornalista diz que vai entregar comprovantes


‘A jornalista Mônica Veloso prometeu encaminhar hoje ao Conselho de Ética os comprovantes de depósitos de R$ 12 mil mensais que recebia de Renan Calheiros como pensão alimentícia informal. O dinheiro era entregue em espécie pelo lobista Cláudio Gontijo, da empreiteira Mendes Júnior.


A pedido da Polícia Federal, os relatores do processo contra Renan solicitaram à jornalista, no mês passado, as datas em que os pagamentos foram feitos, para cruzá-los com os saques na conta do presidente do Senado. Essa é uma das principais lacunas na investigação. O advogado da jornalista, Pedro Calmon, disse que demorou para colaborar com a investigações porque estava reunindo os papéis.


O Conselho de Ética investiga se Renan teve despesas pagas pelo lobista. O senador diz que ele era só portador do dinheiro. A PF deve concluir na quinta-feira a perícia nos documentos do peemedebista.


A PF recebeu ontem mais um lote de documentos relacionados às transações com gado feitas por Renan. A nova leva de papéis contém: declaração do Imposto de Renda ano-base 2001, guias de depósitos bancários, cópias de notas fiscais emitidas pelas empresas Stop Carnes, Carnal e GF, recibos e uma lista com a identificação de cheques recebidos por Renan como pagamento por bois comercializados.


À espera do laudo da PF, dois dos três relatores do processo contra Renan no Conselho de Ética, Renato Casagrande (PSB-ES) e Marisa Serrano (PSDB-MS), resistem em aceitar a incumbência de conduzir o caso Schincariol.


Esse novo processo visa apurar se Renan beneficiou a cervejaria em troca de vantagens. Caso eles recusem a nova missão, as alternativas do presidente do conselho, Leomar Quintanilha (PMDB-TO) são: deixar o caso somente nas mãos do terceiro relator, o aliado Almeida Lima (PMDB-SE), ou designar outro aliado de Renan.


A situação do presidente do Senado deve se complicar ainda mais hoje com o início da obstrução anunciada pela oposição. Há divergências no PSDB e o assunto deve ser discutido hoje pela bancada. ‘Vamos refletir com a pauta na mão’, disse Sérgio Guerra (PSDB-PE). O líder tucano Arthur Virgílio (AM) disse porém que PSDB e DEM já tomaram essa decisão.’


Leonardo Souza


Renan foi sócio em empresa, diz usineiro


‘O usineiro João Lyra, que deve ser convocado para depor no Senado, confirmou que manteve uma sociedade secreta com Renan Calheiros em um grupo de comunicação. Segundo a revista ‘Veja’, Renan usou Carlos Santa Ritta e Tito Uchôa como laranjas para manter-se oculto no negócio.


FOLHA – De quem foi a iniciativa de criar um grupo de comunicação, do senhor ou do senador Renan Calheiros?


JOÃO LYRA – De Renan Calheiros.


FOLHA – Qual a justificativa do senador para não querer aparecer na sociedade?


LYRA – Ele disse que não seria oportuno aparecer o nome dele. Certamente devia ter as razões dele. Eu nunca quis entrar em detalhes.


FOLHA – O senhor disse em outra ocasião que o senador pagou em dia o empréstimo tomado ao senhor e cumpriu todas as obrigações financeiras. Por que vocês brigaram?


LYRA – Nossa divergência é política, não é fruto de negócios. Pessoalmente, não tenho nada contra ele.


FOLHA – O senhor emprestou um jatinho ao senador de 2001 a 2005. Ele pagou pelo uso?


LYRA – Ele nunca pagou pelo uso das aeronaves.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Jonathan vs. Guido


‘O correspondente Jonathan Wheatley, em curto post no FT.com, abriu o dia perguntando ‘quão livre de risco é o Brasil?’ e criticando a ‘complacência’ do ministro Guido Mantega na crise. Argumentou com o blog de Nouriel Boubin, professor da NYU para quem a crise global não seria de ‘liqüidez’, mas de ‘crédito e solvência’. Não tardou e Bernard Appy, da Fazenda, dizia à Folha Online que ‘o Brasil não é invulnerável, mas a nossa atual situação nos faz mais sólidos’.


Para registro, o mesmo Boubin, em entrevista antes à Agência Estado, avaliou que o Brasil ‘não deve ser diretamente afetado’, pois ‘está bem mais protegido’ -ou ainda, ‘sou bem otimista em relação ao Brasil’.


O ‘FURO’ DE RUPERT


‘Rupert deve estar orgulhoso’, ironizou o ‘Guardian’. É que seu ‘Wall Street Journal’ deu o ‘furo’ da saída de Karl Rove, o estrategista de George W. Bush. E foi em um artigo do editor de editoriais, tão ou mais conservador do que o próprio Rupert Murdoch, Paul Gigot, e não de um jornalista. Foi num texto intitulado ‘A marca de Rove’, antes sobre seu legado pessoal -e a avaliação positiva do futuro eleitoral dos republicanos- do que sobre a queda de quem presidia de fato, segundo seus críticos, os EUA.


CONTROLE ATÉ O FIM


O site do próprio ‘WSJ’ deu a notícia com despacho da AP e link para a entrevista feita pelo ‘editor da página editorial’. Os sites de ‘New York Times’ e ‘Washington Post’, registre-se, também acrescentaram muito pouco sobre o ‘furo’ sob controle.


EXPLOSÃO BLOGUEIRA


Mas houve uma ‘explosão blogueira’, notou o ‘NYT’. O democrata Daily Kos cobrou os escândalos e avisou que Rove pode receber ‘perdão’. E Michelle Malkin, hoje a maior referência republicana, atacou sua ‘auto-ilusão’ até no ato final, na tal entrevista.


LULA E 10% DOS AMERICANOS


Saiu sexta no site da Zogby, a agência espanhola Efe deu sábado, mas as agências anglo-americanas só entraram ontem. É a pesquisa que mostrou, no destaque da Zogby, que ‘a maioria dos americanos entende pouco sobre seus vizinhos latino-americanos’. Para exemplificar, abrindo o texto, ‘apenas 10% disseram saber de Luiz Inácio Lula da Silva, presidente em segundo mandato do Brasil’. México e Brasil apareceram como os ‘maiores aliados’ dos EUA, mas a Colômbia, mais próxima, foi dada por ‘adversária’.


‘CAFÉ’


O radialista Lula levou a queda do desmatamento ao topo das buscas sobre Brasil em Yahoo e Google, via BBC News etc. O ‘Guardian’ destacou Marina Silva


CUBA E O MAGO


Com eco no blog de Lauro Jardim, Paulo Coelho fez no fim de semana, no ‘El Nuevo Herald’ de Miami, um pesado ataque a Cuba. Se dizendo ‘contrário ao bloqueio dos EUA e amigo de Cuba’, a quem cedeu seus direitos, cobrou pela primeira vez ‘eleições livres em Cuba’.


OUTRO MUNDO


Artigo do diretor do Nixon Center cobrou respeito do país à ONU, ontem no ‘WP’. Sublinhou que procurar só ‘democracias’, como se ouve no país, é um erro -e lembrou que ‘Índia e Brasil, grandes democracias sob qualquer avaliação’, não apóiam mais a ‘América intervencionista’.’


EUA / MÍDIA & POLÍTICA
Sérgio Dávila


Bush perde Rove, seu principal assessor


‘Karl Rove, principal assessor e estrategista político de George W. Bush, anunciou ontem que deixará a Casa Branca no fim deste mês. Ele é mais um na cada vez mais longa lista de assessores do presidente norte-americano que largaram os cargos a menos de um ano e meio do final do mandato. Rove, no entanto, é um dos mais importantes e um dos últimos que continuavam mesmo após a derrota do partido governista nas eleições legislativas do ano passado e da derrocada da Guerra do Iraque.


O anúncio oficial foi feito na manhã de ontem, nos jardins da sede do governo, em Washington. ‘Nós somos amigos há muito tempo e vamos continuar a ser amigos’, disse Bush, ao lado de um emocionado Rove, a quem conhece há 34 anos e com quem trabalhou desde que começou na política e, mais diretamente, nas campanhas para o governo do Texas e para os mandatos na Presidência.


‘Sou agradecido por ter sido testemunha da história’, disse a seguir Rove, com a voz trêmula. O anúncio oficial foi precedido por uma entrevista concedida ao ‘Wall Street Journal’ no sábado e publicada ontem, em que o assessor diz que pensava em sair havia um ano.


Só tomaria a decisão, no entanto, depois de ter sido avisado pelo chefe-de-gabinete, Joshua Bolten, que os altos funcionários que continuassem no governo após o próximo feriado do Dia do Trabalho, na primeira segunda-feira de setembro, teriam de ficar até a posse do sucessor de Bush, em janeiro de 2009. Foi quando pensou ‘que estava na hora’, disse o assessor ao diário econômico.


Eminência parda


Ele deixa seu cargo em meio a polêmicas. Apesar de não ter sido acusado oficialmente, teve seu envolvimento sugerido no episódio de vazamento da identidade de uma agente da CIA cujo marido diplomata se manifestou contra a Guerra do Iraque. Pelo episódio, foi condenado à prisão o ex-chefe-de-gabinete do vice-presidente Dick Cheney, Scott Libby, que teve sua sentença posteriormente comutada por Bush.


Rove é acusado ainda de ter atuado no episódio que levou à demissão de promotores públicos por razões políticas, de usar a máquina do governo em favor de campanhas de republicanos e de usar propositadamente seu e-mail do Partido Republicano, em vez do oficial, da Casa Branca, para tratar de assuntos do governo, evitando assim o registro oficial que a lei exige. Ele nega as acusações.


Dele discorda o Congresso norte-americano, desde janeiro dominado pela oposição democrata, que pretende continuar tentando levar o assessor presidencial a depor -o que ele tem se recusado a fazer. Faz isso amparado pelo uso de Bush de um instrumento chamado ‘privilégio executivo’, segundo o qual o presidente pode proteger a confidencialidade de assuntos delicados tratados com ele por membros do gabinete, sigam eles no cargo ou não.


Chamado de ‘garoto-prodígio’ e ‘o arquiteto’ pelo presidente, Rove é tido como peça-chave para as duas vitórias consecutivas de Bush à Presidência, assim como para o domínio do Congresso e a maioria dos governos estaduais que o partido da situação teve nos primeiros seis anos da era Bush.


Ele foi responsável pela estratégia que apoiou o Partido Republicano na extrema direita do espectro político -a direita religiosa, os falcões intervencionistas e os ultraliberais, opostos a quaisquer intervenções do governo na economia. Foi uma opção que polarizou o eleitorado e funcionou por algum tempo, anabolizada pelo 11 de Setembro, mas se esgotou no ano passado -quando os republicanos viram tanto a Câmara dos Representantes quanto o Senado e a liderança de Estados importantes irem para as mãos dos democratas.


Na entrevista coletiva em que Bush admitiu a derrota, em novembro de 2006, o presidente, ao lado de Rove, brincaria: ‘Obviamente eu estava trabalhando mais duro [pelas eleições] do que ele [Rove]’. Na mesma ocasião, o republicano anunciaria a saída do secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, a primeira vítima da derrota.


Na seqüência, deixariam a Casa Branca o conselheiro Dan Bartlett, Rob Portman, diretor do Orçamento, Sara Taylor, diretora política, J.D. Crouch e Meghan O’Sullivan, conselheiros de Segurança Nacional. O êxodo reforça a leitura de que Bush marca tabela para terminar o mandato e está isolado.


Ontem, Rove recusou a avaliação de que sua saída marcava o fim político de Bush. ‘Absolutamente não’, disse ele. ‘E como poderia ser? Ele é o presidente dos EUA.’’


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Cresce sombra do vice sobre o presidente


‘No curioso zoológico em que se transformou a Casa Branca de George W. Bush, o presidente ‘pato manco’ está cada vez mais isolado e sob a influência de seu vice-presidente, o ‘falcão’ Dick Cheney. Isso só se agrava com a saída de Karl Rove, apelidado ‘o cérebro de Bush’ por seus críticos, alcunha reforçada pelo título de um documentário sobre o assessor.


‘Falcões’ são como são chamados os entusiastas da solução bélica para os impasses da política externa norte-americana. ‘Pato manco’ é o termo usado para definir o ocupante da Casa Branca entre o dia da eleição de seu sucessor e o da transmissão do cargo, intervalo de dois meses e meio em que o presidente tem o poder de direito, mas não mais o de fato. Geralmente, o vice é o candidato natural a sucessão, o que vitamina a reta final.


Não é o caso aqui, com Cheney fora da disputa, por falta de saúde e interesse. O que não quer dizer que ele não mantenha em alta a influência sobre o ocupante da cadeira principal. Artífice tanto da guerra quanto do arcabouço jurídico antiterror que ampliou os poderes presidenciais de forma inédita, o vice dividia com Rove o posto de principal conselheiro de Bush.


Karl Christian Rove nasceu em Denver em 1954. Sua carreira política e a vida de Bush se cruzariam por acaso, quando o assessor trabalhava para Bush pai, já um cacique republicano, em 1973. Em novembro daquele ano, o hoje ex-presidente pediu a seu então auxiliar que levasse as chaves de um carro para seu filho, que visitava a família em uma folga em Harvard. Rove foi conquistado pelo que chamou de ‘enorme carisma’ do futuro presidente.


A partir de então e com o passar dos anos, Rove passaria por todos os estágios dos bastidores da política, até se consolidar, no fim dos anos 80, começo dos 90, como um dos principais estrategistas do país. Um ano depois de ajudar na fracassada campanha pela reeleição de Bush pai em 1992, passou a trabalhar com o atual presidente, em sua campanha vitoriosa ao governo do Texas.


Nunca mais se separaram. Com a ascensão de George W. Bush, Rove viu seu negócio como estrategista florescer. O auge se deu no discurso de vitória de 2004, quando o presidente o agradeceu chamando-o de ‘arquiteto’. Pouco antes, passara a participar também da formulação de políticas governamentais. Até a derrota de 2006. Otimista ao extremo, ganhou do presidente o apelido ‘Turd Blossom’, ou ‘flor do esterco’, por fazer de notícias ruins bons resultados. Com sua saída, Cheney amplia sua sombra. (SD)’


FANTÁSTICO
Marcos Nobre


Giannetti na Terra Prometida


‘MILHÕES DE PESSOAS assistiram no último domingo a uma encenação ideológica como havia muito não se via. O ‘filósofo e economista’ Eduardo Giannetti da Fonseca estreou no ‘Fantástico’ o seu programa ‘O valor do amanhã’. Giannetti da Fonseca montou uma equação em que Deus, o capitalismo e a natureza estão em perfeito acordo e harmonia. Para provar a sua equação, começou o programa com uma representação (pelo ator Matheus Nachtergaele) do ‘Gênesis’ em que o pecado original produziu ‘a maior conta de juros de que se tem registro na criação’.


Desde Adão e Eva, a vida humana não seria mais do que uma relação de custo e benefício. Mesclando depoimentos e comentários, pretendeu mostrar que o tempo é o resultado de uma escolha entre uma ‘posição credora’ e outra ‘devedora’: poupar agora e usufruir depois, ou o contrário.


Mas Giannetti da Fonseca não se contentou em se apoiar na autoridade da Bíblia. Apelou para cenas da vida animal e para depoimentos científicos para dizer que toda a natureza segue a mesma lógica. Todos os seres vivos fazem ‘trocas no tempo’, poupam ou consomem segundo posições ‘credoras’ ou ‘devedoras’.


Tudo muito bem produzido e editado. Com todo tipo de chavão capaz de se encaixar na lição de moral. É com fala mansa e jeito de bom moço que só quer ajudar que disse que tudo não passa de um balanço entre ‘sonhos e desejos’ e ‘possibilidades e limites’. Com direito a Caetano Veloso ao violão repetindo o refrão ‘tempo, tempo, tempo, tempo’.


É como se estivéssemos de volta ao século 18. Os conflitos são apenas resultado das escolhas individuais e da cultura que resulta dessas escolhas. Não há conflitos sociais, exploração, movimento operário, revoluções, guerras. Tudo o que se passou nos últimos dois séculos desaparece para dar lugar ao capitalismo como ordem natural (e divina) das coisas. Só o que resta é uma adaptação ‘credora’ ou ‘devedora’ a essa ordem.


Mas essa impressão também é enganosa. Porque Giannetti toma do século 19 o determinismo biológico e toma do capitalismo atual o vocabulário do mais desenvolvido mercado financeiro. E tudo isso com a técnica mais sofisticada do século 21.


Para quem acha que biologia e economia são apenas dois ramos de uma mesma árvore original, não é difícil concluir que o Brasil ainda esteja mesmo no século 18 e que seja preciso inocular na cultura brasileira o bacilo do capitalismo. A Terra Prometida de Giannetti da Fonseca é a da miséria e da doença da revolução industrial do século 19. Uma terra que o Brasil do século 21 conhece muito bem.


MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras nesta coluna.’


GAMES & MÍDIA
Marco Aurélio Canônico


Cultura game


‘Quinze anos depois do original, o diretor John Woo, mestre dos filmes de ação, está lançando, neste mês, uma seqüência para seu célebre ‘Hard Boiled’, retomando a parceria com o ator Chow Yun-Fat. A obra se chama ‘Stranglehold’ e desperta a atenção por um detalhe: não é filme, é um videogame.


A produção de Woo (que tem site, www.strangleholdgame.com, e trailer como qualquer filme) é apenas o exemplo mais atual da crescente mistura entre a indústria dos games e as do cinema, da música, da moda.


Esta interação não é casual: os videogames são um mercado bilionário e em expansão, que já ultrapassou há alguns anos o faturamento da indústria cinematográfica e, segundo analistas, pode passar já no próximo ano a fonográfica.


‘Um jogo de ponta hoje leva dois anos para ser desenvolvido, consome dezenas de milhões de dólares e ocupa um grupo de 70 pessoas que inclui produtores, programadores, músicos, atores, roteiristas. Em certo sentido, é a nova Hollywood’, afirma o jornalista britânico Steven Poole, em seu livro ‘Trigger Happy’.


Mas não é apenas o dinheiro que impulsiona a convergência: cada vez mais avançados tecnicamente, em visual, roteiro e trilha sonora, os games vêm sendo enquadrados por seus defensores como ‘arte’.


‘Sejam quais forem os critérios que se utilize para definir ‘arte’, eles podem ser encontrados nos videogames hoje em dia’, afirma o especialista Mark Wolf, autor de inúmeros livros teóricos sobre a mídia, em entrevista à Folha.


‘Os jogos mudaram as concepções padronizadas das demais artes. As pessoas querem coisas mais rápidas e com avanços constantes.’


Interação e liberdade


Inicialmente um subproduto do desenvolvimento tecnológico da Guerra Fria, os videogames passaram à ponta-de-lança da indústria cultural graças a duas características que se adaptam com perfeição aos tempos modernos: a interatividade e a liberdade que permitem ao usuário.


‘Permitir às pessoas criarem seu próprios filmes e jogos é o caminho do futuro’, defendeu Henry Jenkins, chefe do programa de estudos de mídia comparada do Massachusetts Institute of Technology (MIT), em um especial do canal Discovery sobre games.


‘A indústria dos games entendeu isso mais cedo do que as demais. Quando as gravadoras estavam processando seus consumidores [por baixarem músicas ou utilizarem samples], os fabricantes de jogos estavam dando ferramentas para que seus usuários criassem e dividissem com os outros.’


Com tal aval para criar, os jogadores não apenas desenvolveram novas fases e novos jogos, mas passaram a fazer seus próprios filmes com cenas dos games (chamados de machinima) e também suas músicas.


Uma pesquisa na internet identifica inúmeras bandas (brasileiras, inclusive) que fazem versões das trilhas de jogos clássicos como ‘Castelvania’ em diversos gêneros (heavy metal, folk, rap etc.).


Há ainda um projeto erudito, o Video Games Live, em que uma orquestra adapta canções (e cenas) de jogos como a série ‘Mario Bros.’ para o formato clássico. A idéia será novamente encenada no Brasil no próximo mês, e registrada em DVD.


Também recentemente os jogos, personagens e consoles clássicos deixaram de ser apenas estampas de camisetas e passaram a gerar moda própria.


A grife londrina Cassette Playa buscou nos jogos o design para as roupas da geração ‘new rave’. Em entrevista à Folha em dezembro, a estilista da marca, Carri Mundane, 26, disse que suas criações refletem ‘uma pessoa que passa muito tempo jogando (…) e acaba se tornando parte do game: adquire novas cores, modifica seu corpo, vira um personagem’.’


***


Documentário retrata disputa no jogo ‘Kong’


‘Adaptações de games para as telas de cinema tornaram-se tão comuns quanto ruins -de ‘Super Mario Bros.’ (1993) a ‘Silent Hill’ (2006)-, o que não impede a indústria de continuar tentando: há, por exemplo, versões planejadas para jogos de sucesso como ‘Wolfenstein 3D’ e ‘World of Warcraft’.


Um caminho alternativo nesta seara está sendo tentado por ‘The King of Kong’, documentário sobre um dos mais populares jogos de fliperama de todos os tempos, ‘Donkey Kong’.


O filme, que estréia nos EUA nesta semana, é centrado na disputa entre dois jogadores pelo título de reis daquele fliperama (daí o título).


Um dos personagens é o incrível Billy Mitchell, 42, um clássico nerd de jogos e uma daquelas figuras que falam sobre si mesmas na terceira pessoa. É também um dos melhores jogadores da história (recordista de Pac Man, entre outros) e dono de um recorde de 20 anos em ‘Donkey Kong’.


No filme, seu título é disputado pelo professor de ensino médio Steve Wiebe, uma figura em tudo oposta ao jeito espalhafatoso e autoconfiante de Mitchell.


Lançado pela Nintendo em 1981, ‘Donkey Kong’ deu novo fôlego à indústria dos games ao introduzir a narrativa nos jogos. Em vez de tiros a esmo ou rebatidas em bolinhas, o jogador, no papel de um gordinho de bigode (depois conhecido como Mario), precisava resgatar uma donzela presa por um gorilão que jogava barris.


‘Donkey Kong’ é indiscutivelmente um jogo difícil, a maior parte das pessoas não dura mais de um minuto na máquina, é uma brutalidade’, afirma Mitchell no trailer, que pode ser visto em www.billyvssteve.com.


Apesar de seu apelo obviamente direcionado aos fãs de jogos, ‘King of Kong’ tem um tom bem-humorado que deve agradar a platéias maiores.’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Telecine terá ‘Pompéia’ e novo Tarantino


‘Os canais Telecine anunciam nos próximos dias parcerias com duas importantes produtoras e distribuidoras internacionais de filmes independentes, a inglesa Summit e a americana The Weinstein Company, nova empresa dos irmãos Harvey e Bob Weinstein, fundadores da Miramax _em que foram sócios da Disney até 2005.


Os acordos devem desequilibrar, a favor dos Telecine, a disputa com a HBO pela exibição dos melhores e mais bem-sucedidos filmes na TV paga.


Da Weinstein, os Telecine terão ‘Prova de Morte’, de Quentin Tarantino (‘Cães de Aluguel’, ‘Kill Bill’), e ‘Planeta Terror’, de Robert Rodriguez (‘Pequenos Espiões’), ambos inéditos nos cinemas. ‘Bobby’ e ‘A Rainha’ também estão no pacote da Weinstein.


Da Summit, os Telecine já garantiram ‘Pompéia’, de Roman Polanski, que consumiu US$ 100 milhões de produção (sem contar os cachês), e ‘P.S., I Love You’, com Hillary Swank e Gerard Butler. A Summit foi produtora de ‘American Pie’ e distribuidora de ‘Babel’. O acordo será fechado a IDC, empresa que a representa a Summit na América Latina.


Os Telecines são joint venture da Globo com os estúdios Fox, Universal, MGM e Paramount/Dreamworks. A HBO é uma associação da Warner, Disney e Sony. Elas exibem os filmes produzidos por seus sócios e também disputam os títulos independentes.


DOR DE CABEÇA 1A Globo está pedindo a seus artistas que evitem fazer a ‘dança do siri’ para os humoristas do ‘Pânico na TV’. Alguns, que já dançaram, chegaram a ser repreendidos. Criação do programa da Rede TV!, a ‘dança do siri’ virou mania e coreografia de atletas no Pan.


DOR DE CABEÇA 2Essa vai dar trabalho para a Globo: o ‘Pânico na TV’ lançou campanha para que torcedores levem aos estádios faixas pedindo para Galvão Bueno fazer a ‘dança do siri’. O locutor teria se estressado com a própria mulher porque ela permitiu que o programa ‘invadisse’ um concurso do qual era jurado.


RAQUETE O mesa-tenista Hugo Hoyama grava hoje participação no ‘Casseta & Planeta’.


PERIGOO SBT, que perdeu a vice-liderança para a Record na Grande São Paulo, está sendo ameaçado pela Band. Na quinta e sexta, a rede de Silvio Santos foi derrotada pela Band entre as 16h e as 21h. A Band deu cinco pontos e o SBT, quatro.


SEM XISXuxa ficou chateada com a organização do Criança Esperança. Ela não conseguiu falar com seus fãs na entrada do ginásio do Ibirapuera, em São Paulo, como nos anos anteriores. Colocaram um tapume onde antes havia uma grade.


CROSSOVERDona do formato de ‘Ídolos’, a FremantleMedia trará o cantor pop-latino Jon Secada, que fez sucesso no início dos anos 90, para a final do programa, nesta quinta no SBT.’


Márvio Dos Anjos


Carros transformados ‘invadem’ a MTV


‘O brasileiro é apaixonado por automóvel, o que justifica a nacionalização do ‘Pimp My Ride’, programa da MTV americana que transforma latas velhas em possantes da hora.


Aliás, ‘Lata Velha’ é um quadro do ‘Caldeirão do Huck’, da Globo, que também faz a transformação automotiva. Que atende pelo nome de ‘tuning’, mas na MTV virou ‘pimpada’.


O nome é uma brincadeira com o inglês ‘pimp’ (cafetão), em referência aos carros envenenados próprios de rappers que gostam dessa pose.


O programa é bem apresentado por Jimmy London, vocalista da banda carioca Matanza, um homem que não se deixa abraçar. Ele reúne uma junta de mecânicos, lanterneiros e estofadores para ‘pimpar’ uma Parati 91 à beira do abismo.


O resultado do primeiro programa é linear, já que é óbvio que a charrete vai se transformar. O desafio dos próximos programas será fugir disso.


Debater o desejo do dono com ele ou com gente que o conheça (até para ironizá-lo) e contar histórias desses carros que não passam na vistoria do Detran seriam bons caminhos.


Além disso, é preciso decidir se é um reality show ou não. A cena produzida de meninas do rock dançando sobre o carro na r. Augusta pouco acrescenta, perdendo segundos preciosos na meia hora de programa.


PIMP MY RIDE BRASIL


Quando: amanhã, às 20h


Onde: MTV’


MEMÓRIA / MERV GRIFFIN
Folha de S. Paulo


MORRE O APRESENTADOR AMERICANO MERV GRIFFIN


‘O apresentador Merv Griffin morreu aos 82 anos, em Los Angeles (EUA), no último sábado. Ele estava internado havia um mês, com câncer de próstata. Espécie de Silvio Santos norte-americano, Griffin foi um dos pioneiros na criação e apresentação de programas de auditório na TV -inventou, por exemplo, o ‘Roda da Fortuna’. Ao vender sua produtora, em 1986, embolsou US$ 250 milhões. Na época, a revista ‘Forbes’ apontou-o como o homem mais rico da indústria do entretenimento.’


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O Estado de S. Paulo


Terça-feira, 14 de agosto de 2007


MÍDIA & POLÍTICA
Ana Paula Scinocca


Uso de laranjas em rádio leva Senado a pedir novo processo contra Renan


‘A entrevista do empresário João Lyra, confirmando que o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) usava laranjas para esconder a sociedade dos dois em empresas de comunicação, praticamente selou a decisão da Mesa do Senado de mandar para o Conselho de Ética o terceiro pedido de processo contra o presidente do Congresso. A representação contra Renan, nesse caso, foi apresentada pelo PSDB e pelo DEM e será votada em reunião da Mesa marcada para quinta-feira.


Em entrevista à revista Veja, o usineiro, que hoje é adversário de Renan, confirmou a sociedade com o peemedebista. Na parceria, entre 1999 e 2005, para a compra da JR Radiodifusão e de O Jornal, Renan teria investido R$ 1,3 milhão, segundo Lyra. Ele contou que, como o senador não podia aparecer, registrou a empresa em nome de Renan Calheiros Filho, o Renanzinho, e Tito Uchôa, seu primo.


O segundo vice-presidente do Senado, Álvaro Dias (PSDB-PR), adiou de hoje para quinta-feira a reunião da Mesa para analisar o provável encaminhamento do terceiro processo contra Renan ao Conselho de Ética. O tucano será o responsável por presidir a reunião, já que o primeiro vice-presidente, Tião Viana (PT-AC), estará fora, em compromisso no seu Estado.


Dias negou que o atraso seja ‘manobra protelatória’. ‘A reunião foi adiada pela necessidade de notificar o senador Renan, que só chega amanhã (hoje) à tarde em Brasília’, explicou. Ele deu como certo o envio da representação: ‘Não resta alternativa. A Mesa enviará. A decisão é de natureza formal.’


O senador tucano defendeu, ainda, o afastamento de Renan da presidência do Senado até que as denúncias sejam esclarecidas. ‘Ele deveria se afastar para evitar constrangimentos e para que a instituição não sofra mais desgaste’, anotou.


De Belo Horizonte, onde participou de um encontro com lideranças do PSDB, a senadora Marisa Serrano (MS) – que integra o trio de relatores do primeiro processo contra Renan, por acusação de ter usado recursos da empreiteira Mendes Júnior para pagar despesas pessoais – afirmou à rádio CBN que a oposição se sente ameaçada e coagida com a permanência do peemedebista na presidência.


DEFINIÇÃO


A Mesa já enviou ao conselho pedido de um segundo processo, pela suposta interferência de Renan para favorecimento da cervejaria Schincariol junto à Receita Federal e ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). O presidente do colegiado, Leomar Quintanilha (PMDB-TO), confirmou ter convidado os mesmos relatores – Renato Casagrande (PSB-ES), Marisa Serrano e Almeida Lima (PMDB-SE) – para que assumam a relatoria desse processo. Casagrande e Marisa resistem, mas prometeram uma resposta hoje para Quintanilha.


‘Vamos conversar, mas há o temor de que a relatoria de um possa atrasar o outro processo’, justificou Casagrande. ‘Vou esperar a resposta deles . Em caso de negativa, teremos alternativa’, disse Quintanilha.


Por meio de sua assessoria, o corregedor do Senado, Romeu Tuma (DEM-SP), afirmou esperar para hoje pela manhã uma resposta de Lyra sobre o convite para que esclareça no Senado como foi montada a sociedade secreta com Renan. De São Paulo, onde passou o final de semana e o dia de ontem, o senador avisou que pediu ajuda a um amigo, que é delegado da Polícia Federal em Alagoas, para que o usineiro fosse localizado com rapidez.


OBSTRUÇÃO


Enquanto isso, os partidos de oposição pretendem continuar a obstruir as sessões do Senado, tentando conseguir o afastamento de Renan. ‘A oposição pretende manter a obstrução e convoca o governo à responsabilidade. Se o governo tem interesse na votação de projetos no Senado, deve naturalmente agir para fazer com que esse impasse seja superado o mais rapidamente possível’, alegou Dias.


O líder do governo na Casa, Romero Jucá (PMDB-RR), afirmou que vai procurar o PSDB e o DEM para pedir que façam ‘uma obstrução seletiva’, para que projetos de interesse do País não sejam prejudicados ‘por uma guerra política interna’. O Palácio do Planalto tem pressa na aprovação da medida provisória das dívidas dos agricultores, no pacote de segurança pública e na prorrogação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) e da Desvinculação das Receitas da União (DRU).’


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‘João Lyra não será o meu Eriberto’, diz o peemedebista


‘Renan, segundo amigos, fez referência a motorista do caso Collor e insistiu em que é alvo de disputa regional


Em conversa com assessores e amigos, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), avaliou que as declarações do ex-deputado e usineiro João Lyra à revista Veja, confirmando a sociedade entre os dois, intermediada por laranjas, na compra de uma rádio e um jornal, não agravam sua situação política.


Para o peemedebista, ao contrário, a afirmação de Lyra só referenda sua defesa, de que está sendo ‘alvo de disputa política regional’. Na semana passada, em discurso na tribuna do Senado, Renan afirmou que é vítima de adversários políticos derrotados em Alagoas, e citou nominalmente Lyra e a presidente do PSOL, a ex-senadora Heloísa Helena.


No próprio sábado, quando a revista chegou às bancas, Renan disparou telefonemas antes de embarcar para São Paulo, onde passou o final de semana com a mulher, Verônica, em compromissos pessoais. ‘Ele não será o meu Eriberto’, disse Renan, segundo relato de amigos. Foi uma referência a Eriberto França, motorista da secretária particular do então presidente Fernando Collor, Ana Acioli. Eriberto contradisse Collor ao revelar detalhes do esquema de corrupção chefiado pelo tesoureiro do presidente, Paulo César Farias, e precipitou sua derrubada.


Prestes a enfrentar mais dois processos no Conselho de Ética – um do caso Schincariol (à espera, apenas, de relator) e o da suposta sociedade com laranjas em Alagoas (e que deve ser aprovado pela Mesa Diretora na quinta-feira) -, Renan tem tentado aparentar tranqüilidade. Vem insistindo que não pretende deixar o comando do Senado, apesar do aumento da pressão para que se afaste do cargo até a conclusão das investigações.


A primeira denúncia contra ele foi de que teria pago pensão à jornalista Mônica Veloso, com quem tem uma filha fora do casamento, com dinheiro da empreiteira Mendes Júnior, através do lobista Cláudio Gontijo.


Renan nega e diz apenas ser amigo pessoal do lobista da construtora. Afirma que lucrou R$ 1,9 milhão com a venda de gado e, assim, obteve recursos para pagar as despesas.


CONTRA-ATAQUE


Ontem, em artigo publicado pelo site blogdosblogs e intitulado Mentiras e verdades, Renan voltou a criticar a imprensa e o que chamou de ‘jornalismo irresponsável e ilegítimo’. ‘Críticas e cobranças fazem parte do jogo democrático, assim como a mais ampla liberdade de imprensa. Mentiras, difamações e acusações sem provas seguem na contramão da democracia e denunciam um jornalismo irresponsável e ilegítimo. É o que vem acontecendo há mais de dois meses, com o ataque impiedoso que parte da mídia vem fazendo contra mim e que já se transformou em campanha, movida por interesses escusos e alimentada por meus desafetos políticos regionais – o ex-governador João Lyra e a ex-senadora Heloísa Helena’, escreveu.


Ele afirmou que ‘não tem patrimônios clandestinos’ e disse que ‘nunca recorreu a recursos alheios’ para arcar com despesas pessoais. Por fim, disse que sua força ‘é proporcional à sua verdade’. ‘E a verdade – que ninguém duvide – é sempre mais poderosa que qualquer mentira.’’


Gerusa Marques e Ricardo Brandt


Rádios e TVs terão de se recadastrar


‘Na esteira da acusação de que o presidente do Senado, Renan Calheiros, teria usado laranjas para comprar duas rádios em Alagoas, o Ministério das Comunicações anunciou ontem a decisão de recadastrar todas as empresas do setor no País. Portaria publicada no Diário Oficial da União dá 60 dias para que elas informem dados da composição acionária e de seus diretores. A medida atinge cerca de 5 mil emissoras, entre geradoras de TV e rádios AM, FM, de ondas curtas e tropicais. A idéia é formar um banco de dados atualizado sobre a radiodifusão.


A assessoria do ministério negou que a medida tenha relação com a acusação a Renan. Afirmou que o recadastramento faz parte de processo de modernização que começou já há alguns meses. Estima-se que haja cerca de 70 mil processos nos arquivos do ministério, tanto de emissoras já autorizadas como de pedidos de novas outorgas.


O ministro das Comunicações, Hélio Costa, já manifestou a intenção de digitalizar o sistema, mas para isso precisa investir R$ 15 milhões, dinheiro que não está disponível. Há dois meses, a Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara levou-lhe sugestões para dar mais celeridade e transparência à análise de pedidos de concessão e renovação de rádios e TVs.


Para fazer o cadastro, além de informar a composição do capital social, cada emissora terá de apresentar documentos sobre seus sócios, com o número de cotas. Aquelas que não se recadastrarem no prazo estarão sujeitas a abertura de processo de infração, que pode resultar em punição, inclusive multa.


Ontem a Associação Brasileira de Emissores de Rádio e Televisão (Abert) informou que apóia a decisão do ministério. O presidente da Abert, Daniel Pimentel Slaviero, afirmou que o recadastramento servirá para informatizar o sistema de registros e maior agilidade no controle e nas consultas. ‘O setor vê com bons olhos a iniciativa do ministério e apóia a medida, pois ela tem como objetivo fazer um sistema online de cadastro das emissoras’, disse.’


EUA / MÍDIA & POLÍTICA
Patrícia Campos Mello


Rove, o guru político de Bush, pede demissão


‘Washington – Karl Rove, um dos mais poderosos assessores do presidente George W. Bush, anunciou ontem que deixará o governo até o final do mês. Vice-chefe de gabinete da Casa Branca, Rove foi o estrategista das duas vitórias eleitorais de Bush e era uma das figuras mais controvertidas do governo. Ele foi apelidado pelo presidente de ‘o arquiteto’, por ter planejado os passos políticos de Bush nos últimos 14 anos, desde seu governo no Texas, e também de ‘turd blossom’, expressão que identifica flores nascidas do esterco.


Conheça os principais escândalos envolvendo Karl Rove


‘Parece ser o momento certo para pensar no próximo capítulo da vida da minha família’, disse Rove em entrevista coletiva no gramado da Casa Branca, com a voz embargada. ‘Não foi uma decisão fácil’, disse, emocionado, ao lado do presidente.


Bush, por sua vez, qualificou Rove de ‘querido amigo’ e agradeceu seu ‘sacrifício’ pela nação. ‘Vamos continuar amigos, estarei na estrada, um pouco atrás de você’, disse Bush, que partiu acompanhado de Rove para suas duas semanas de férias na fazenda de Crawford, no Texas.


Dan Bartlett, outro conselheiro que veio do Texas com Bush, renunciou em julho. Sobraram o secretário de Justiça, Alberto Gonzales, em situação bastante frágil, e Karen Hughes, subsecretária do Departamento de Estado.


Em entrevista publicada ontem por The Wall Street Journal, Rove afirmou que já conversava com o presidente há um ano sobre sua saída. Mas, com a derrota nas eleições legislativas de novembro, resolveu ficar mais tempo. Ele aproveitou a entrevista para, mais uma vez, criticar a pré-candidata democrata Hillary Clinton. Segundo Rove, ela é ‘durona, persistente e tem falhas’. Ele previu vitória republicana em 2008, a melhora na situação do Iraque e a elevação da popularidade de Bush.


Rove disse que quer passar mais tempo com a família no Texas, escrever um livro sobre o governo Bush, com a bênção do presidente, e dar aulas numa universidade. Mas apesar de ter dito que não pretende envolver-se na campanha presidencial de 2008, muitos apostam que ele vai se oferecer para ajudar o indicado do Partido Republicano.


Para alguns , Rove é um gênio político que criou o conservadorismo compassivo e conquistou a direita cristã, garantindo vitórias republicanas. Para os críticos, ele personifica os vícios do governo Bush, como o excessivo partidarismo e a politicagem agressiva.


Rove teria parte da responsabilidade pela lavada que os republicanos levaram nas eleições legislativas e o fracasso das reformas da lei de imigração e previdência social. Também foi intimado a depor no caso das demissões dos procuradores por motivos políticos. Mas a Casa Branca alegou privilégio do Executivo para impedir que Rove depusesse.


Para analistas, sua saída vai enfraquecer ainda mais os 17 meses restantes do mandato ‘pato manco’ de Bush, mergulhado no atoleiro do Iraque e em índices de popularidade baixíssimos.


‘Rove era um fardo para o governo Bush porque havia se tornado muito impopular’, diz Costas Panagopoulos, professor de ciência política na Fordham University. ‘Mas sua saída é muito tardia para trazer algum dividendo político.’


Após o anúncio da saída de Rove, o senador democrata Patrick Leahy afirmou que a comissão não vai desistir de obter o depoimento de Rove, que ‘agiu como se estivesse acima da lei’. Para o pré-candidato democrata à presidência Barack Obama, ‘Rove criou uma estratégia política que deixou o país mais dividido e excluiu o povo americano do governo como nunca antes, favorecendo grupos específicos’.’


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Carreira é marcada por triunfos e escândalos


‘Washington – Karl Rove é o cérebro por trás do presidente George W. Bush e responsável pelas duas vitórias republicanas nas eleições presidenciais de 2000 e 2004. O afastamento do braço direito de Bush é mais um caso de uma série de assessores que se afastaram da Casa Branca antes do fim do mandato, em 2009.


Rove, de 56 anos, fez carreira como estrategista político no Texas e ajudou Bush a eleger-se governador, em 1994. O êxito e a proximidade com o presidente não evitaram o desgaste causado pelo envolvimento em escândalos como o do vazamento da identidade da ex-agente da CIA, Valerie Plame, e da demissão de procuradores federais por razões políticas.


Ultimamente, Rove apostava todas as fichas na lei de imigração, que poderia elevar a abalada popularidade de Bush entre o eleitorado latino, mas o projeto naufragou no Congresso. O fracasso tornou mais difícil uma vitória republicana nas eleições de 2008 e facilitou sua saída do governo.’


TELEVISÃO
Keila Jimenez


Carona no Pânico


‘RedeTV! quer alavancar ibope de série


A RedeTV! pretende apoiar no sucesso do Pânico na TV! o lançamento de sua nova empreitada, a série Donas de Casa Desesperadas. No domingo, a emissora já deu uma esticadinha em sua programação – iniciou o Pânico uma hora mais tarde – para exibir na seqüência um making of da série.


A idéia inicial era exibir a versão nacional com a versão original, Desperate Housewives. No entanto, a emissora achou melhor terminar de exibir a segunda temporada do original para estrear Donas de Casa Desesperadas. A rede temia as confusões, uma vez que os episódios são reproduzidos na íntegra.


Apesar do making of da série ter ido ao ar no domingo, Donas de Casa Desesperadas estréia mesmo é amanhã. Aos domingos vai ao ar a reprise da atração.


A RedeTV!, que gravou 23 episódios da primeira temporada, já pensa em uma segunda fornada, caso o produto dê certo em ibope.


Vale ressaltar que a versão argentina de Desperate – produzida no mesmo lugar em que a brasileira – se tornou líder de audiência no horário durante sua exibição. A RedeTV! agora trabalha a parte comercial da atração.


Laços de família


Eis aí um par histórico: em nome dos idos da TV Tupi, Lima Duarte conhece Cássio Gabus, filho de Cassiano Gabus Mendes, desde o berço. E aí estão os dois, compenetradíssimos no workshop sobre a próxima novela das 6 da Globo, Milagre do Amor, de Walther Negrão.


Entre- linhas


>A dupla Vesgo e Silvio promete ficar na cola de Galvão Bueno até que ele dance a divertida Dança do Siri. Até por isso, a direção da Globo teria sugerido que o narrador faça logo a tal coreografia, a fim de encurtar o marketing em torno dessa caça.


>Serra e Suplicy, sobrenomes quase sempre localizados em lados opostos, estarão hoje no mesmo palco – um de cada vez. Ione Borges recebe a primeira-dama Mônica Serra no Pra Você, da Gazeta, e, logo em seguida, o músico João Suplicy. Ela fala de trabalhos assistenciais e ele, do novo disco. Às 11h10.


>Ivete Sangalo, de novo ela, apresentará mais uma fornada de programas musicais na Globo, o Estação Globo. Vai ao ar aos domingos, no período de férias (dezembro e janeiro).


>Eduardo Moscovis e Walderez de Barros estão no elenco de Alice, título provisório da série de Karim Ainouz que a HBO produz com a Gullane Filmes.


>Por falar em HBO, a série Big Love, produzida por Tom Hanks, terá uma segunda temporada com Bill Paxton novamente no papel do mórmon que tem várias mulheres.


>Matt Damon, Teri Hatcher, Tom Hanks, Liza Minnelli e Al Pacino são alguns dos convidados da temporada 2007 do Actor’s Studio, em cartaz no Film&Arts, às terças, às 22 horas.


>Leandra Leal estréia na sexta, às 23h30, como apresentadora do programa Cine Conhecimento, do Futura.’


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