Leio no recém-lançado livro O papel do educador na era da interdependência, de Valdir Cimino (Clio Editora), esta afirmação: ‘O educador é uma mídia.’
É mídia, num primeiro momento, porque ‘usa’ palavras para comunicar-se. Um dos mais belos ‘defeitos’ do professor é a sua compulsão para falar. Mas palavras o vento leva, se não estiverem carregadas de sentido. E se não houver um voz que dê clareza e beleza à palavra. A voz ensinante será semelhante à do radialista, à do ator de novela ou teatro, à do apresentador, sem cair na empostação artificial.
Ritmo. A aula sem pique vai a pique. Boa parte dos problemas de indisciplina na sala de aula reside na frouxidão com que são conduzidas as atividades, o diálogo, o debate, a troca de experiências. Mais do que reclamar de alunos hiperativos, o educador-mídia precisa ser hiperativo, ativando sua inteligência e a dos alunos.
Postura física. Uma televisão não fica de costas para o telespectador. O professor está sendo ‘assistido’ pelos alunos. O distanciamento do professor é suficiente para que o estudante aperte os botões do controle remoto imaginário, e mude o canal. Em lugar de ouvir um professor distante, qualquer outro programa mental é melhor, qualquer conversa com o colega do lado é mais informativa.
Câmeras de vigilância
O professor é mídia, com ou sem tecnologia para ajudá-lo, ainda que ela seja bem-vinda… se bem utilizada. Uma aula em que possamos dispor de TV, imagens com projetor data show, lousa eletrônica (smart board) torna atraente, menos abstrato o contato com o conhecimento.
Mas tenhamos acesso ou não a avançados recursos, somos capazes de realizar em sala efeitos especiais, com a palavra e o corpo. Acredito na arte de ensinar como um gênero teatral, ao qual podemos incorporar os antigos ensinamentos da oratória e os condimentos de uma pedagogia dialógica… sem pieguices ou pedagogices.
Mas o professor não é ‘produto’ midiático – reclamará o meu leitor crítico, nem é o aluno mero usuário desse ‘novo’ professor! Transformar o professor em mídia é o fim da picada! É o fim da escola!
De fato, o fim da escola já está diante dos nossos olhos. A luta contra a violência dentro dos estabelecimentos de ensino, por exemplo, será realizada com uma idéia incrivelmente ‘revolucionária’: a instalação de câmeras de vigilância, como se se tratasse de presídios.
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Doutor em Educação pela USP e escritor; www.perisse.com.br