Friday, 29 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

O Big Brother do Grande Irmão

O Super-Big Brother é a última folia idealizada por John de Mol, fundador da Endemol, a empresa que inventou o reality show. O programa chama-se A Gaiola de Ouro (De Gouden Kooi, era originalmente o nome do Grande Irmão). Está no ar desde outubro do ano passado na rede privada holandesa Tien, um canal idealizado pelo próprio Mol como espaço para servir a novos reality shows e que foi vendido há pouco tempo.

O mecanismo é simples. Trata-se de uma cópia do Grande Irmão: dez pessoas de condições sociais modestas (mas que tiveram que pagar 10 mil euros, algo mais que R$ 20 mil, para participar) são hospedadas numa mansão super-luxuosa, onde vivem como nababos (serviços, festas e até prostitutas), quase sem contatos com o exterior e disputam um prêmio de 6 milhões de euros. Tudo, obviamente, sob as câmeras de televisão 24 horas por dia e com transmissão diária por TV e internet.

A novidade do programa é que pode se arrastar por anos a fio. Para deixá-lo, ou os concorrentes o fazem de vontade própria (três já se foram: dois se machucaram e um não agüentou), ou são expulsos pela vontade unânime dos outros participantes, que são chamados a votar uma vez por mês. Quem resistir e ficar por último, fica também com a mansão. O público se limita a olhar. Ao que parece, a libido voyeurística com que os espectadores são ‘brindados’ deve ser o suficiente.

Violência, insultos e relações íntimas estão na ordem do dia – dizem que houve até estupro. Há algumas semanas, depois de uma rixa, uma mulher foi despida e jogada na piscina. Muitos espectadores chamaram a polícia para intervenção. Até os mecanismos que a produção adota para animar a já agitada situação, são metabolizados. O mais terrível dos protagonistas, apelidado de ‘O Terror’, confessou, chorando, ter sido guiado pelos autores a ações violentas para espetacularizar o show.

‘Evolução’ em bizarrices

Para sorte do programa, na Holanda as vozes que protestam contra o obsceno não são contabilizadas. Alguns parlamentares – de direita e esquerda – lançaram uma petição para que a rede seja boicotada e criaram um site contra o programa que, em quatro dias, recebeu 23 mil adesões. Mas nesse meio tempo apareceu também um site na web que se bate pela continuação do programa.

John Mol classifica seu programa como soap-reality e, referindo-se a essa nova fronteira, explica: ‘Pessoas normais que vivem numa gaiola dourada sob os olhos da telecâmera.’

O programa conta com 500 mil espectadores e 100 mil acessos diários à web. Nada de excepcional, mas permitiu a Mol vender seu programa ao canal estadunidense ABC por alguns milhões de dólares.

O que foi criado como reality show teve tal ‘evolução’ em bizarrices que na Holanda, seu país de origem, passou a ser chamado de reality shock.

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Jornalista