No dia 16 de agosto, O Estado de S. Paulo publicou notícia atípica, com título meio malicioso: ‘Churrasco de Tarso acaba com ministro mordido’. O ministro mordido foi Fernando Haddad. Que aparece numa caricatura encomendada ao ilustrador Baptistão.
O resultado do churrasco foi a mordida… Graças ao subtítulo – ‘Cocker ciumenta estranha Haddad’ – e ao restante da matéria (assinada por João Domingos, de Brasília), vemos que tudo não passou de um susto. O curioso é que a mordida ocorreu ‘há pouco mais de um mês’, possivelmente no início de julho. Por que tanto tempo para noticiar o acidente? E um acidente tão inexpressivo?
Era domingo, no fim de um churrasco na casa de Tarso. Haddad foi até a cadeira onde estava Sandra para se despedir e Faísca, no colo dela, não gostou da aproximação do desconhecido e reagiu com uma mordida. […] Tarso sugeriu que a ferida fosse lavada com água e sabão; depois, tratada com o velho mercúrio cromo. Depois ainda, lembrou de aconselhar Haddad a procurar um médico imediatamente. Mas o ministro da Educação apenas lavou o local com água e sabão. Alegou que fora um arranhão, apenas.
A verba e o verbo
Faísca, o nome da cadela, combina com o clima do churrasco… A mordida anunciada torna-se mero arranhão. O ministro Tarso naturalmente mantém em dia a carteirinha de vacinação da cadela. Mas, afinal, que sentido tem essa matéria?
No site da Revista Época
, Thomas Traumann, colunista de política e chefe da sucursal da revista no Rio de Janeiro, filtra a notícia e faz a sua piada, no próprio dia 16:‘O ministro da Justiça, Tarso Genro, tem se esforçado para ganhar musculatura política, mas dessa vez foi traído dentro de casa. A sua cadela cocker spaniel, Faísca, mordeu de raspão o rosto do ministro Fernando Haddad (Educação), informa O Estado. Acho que alguns amigos vão recusar os próximos convites para um churrasco na casa de Tarso.’
O que a mordida tem a ver com as reuniões realizadas nos bastidores de Brasília, mesmo em ritmo de churrasco domingueiro? Haverá algum significado arcano no fato de uma cadela morder, mesmo que levemente, o rosto de um político? E será esse político (ainda) desconhecido? ‘Faísca’ sugere algum tipo de simbolismo no contexto dos planos e acordos em busca de um candidato petista que dispute as próximas eleições para a Presidência da República?
Talvez mais adiante encontremos alguma pista… A matéria sobre a terrível mordida encontra-se na página A9. Vide verso. Na página A10, Lisandra Paraguassú refere-se a outra mordida, esta nas reservas do MEC: ‘Nove ONGs desviaram R$ 2,2 do governo’. Prometeram alfabetizar jovens e adultos e não o fizeram. Embolsaram a verba, mas não ensinaram o verbo.
Em julho, a mídia havia denunciado a existência de irregularidades no programa Brasil Alfabetizado. O MEC não disse que não viu. Foi ver. Fez auditoria. E devolve à mídia mais informações. As investigações continuam. Muita água e sabão para cuidar dessa mordida!
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Doutor em Educação pela USP e escritor; www.perisse.com.br