Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A aventura sofisticada da SAX

O desafio editorial e comercial é enorme, de tirar o sono de quem investe: lançar uma nova revista destinada a um público de alto poder aquisitivo, gente acostumada a consumir produtos e serviços de luxo, pouco interessada em questões culturais, sociopolíticas, religiosas, enfim, temas mais intelectualizados. Mas a publisher Camilla Schahin, advogada formada pela PUC de São Paulo, que há pouco colocou no mercado a revista SAX (style, arts, xtras), bimestral, 25 mil exemplares, 130 páginas, visual sofisticado e conteúdo de muito bom viver (carrões, perfumes, moda chique, arquitetura, turismo requintado, alta culinária, artes plásticas, literatura, safáris na África), não se mostra angustiada, apesar da concorrência respeitável na área (Caras, Quem, Vogue), do surgimento de publicações mensais densas, como Piauí e Brasileiros, e do crescimento da leitura instantânea da internet.

Em entrevista ao Observatório, Camilla, uma jovem mulher esguia e loira, gestos expansivos e fina elegância, fala de seus objetivos na empreitada.

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Você acha mesmo que há campo para a SAX, uma revista de luxo, crescer num segmento de mercado já saturado? E como misturar com equilíbrio matérias sobre os prazeres e mordomias de uma vida sonhada por muita gente neste país com reportagens sobre os perenes conflitos do Oriente Médio?

Camilla Schahin – Eu não definiria SAX como uma revista de luxo – se tomarmos ‘luxo’ do ponto de vista do supérfluo ou, na pior hipótese, frívolo, ou ainda na linha em que foram classificados tantos lançamentos recentes. O que fazemos é uma revista sofisticada para gente de gosto sofisticado – tanto cultural (e sobretudo) quanto para consumo. Embora visual e qualidade gráfica sejam valores fundamentais (pelos quais a revista foi indicada ao maior prêmio do setor na América Latina, o Fernando Pini de excelência gráfica), foi seu viés intelectual que nos permitiu convocar colaboradores do nível de Ferreira Gullar, Paloma Jorge Amado, Ignácio de Loyola Brandão, Tão Gomes Pinto e Eric Nepomuceno, só para citar alguns. Não acredito, portanto, que luxo e intelectualismo sejam universos excludentes; até pelo contrário. Riqueza não é só ter. É saber. A revista pretende fazer diferença para o leitor.

Mas sua formação básica, a de advogada, não a levaria naturalmente a fazer jornalismo, criar e dirigir uma revista como essa. Com quem você conta na retaguarda para administrar a cozinha da redação?

C. S – Conto com a larga experiência dos editores, o Edwaldo Pacote e o Alex Solnik. Eles entram com a bagagem jornalística, eu entro com a vontade de inventar. E com minha sensibilidade. Por isso ainda vejo a revista como obra de autor. Mas não de amador.

A julgar pelo cacife dos anunciantes, a resposta do mercado publicitário parece bastante promissora. Qual é sua política comercial para atrair grifes do nível de Calvin Klein, Givenchy, Cartier, Mercedes-Benz, Toyota, Guerlain e Fasano, entre outros?

C. S – De fato, pelo feedback que tenho tido do mercado, tanto de leitores, como do meio jornalístico, publicitário e dos anunciantes, vejo, com satisfação, que a revista já pegou. Ou seja, encontramos um caminho e uma cara própria. Quanto à política comercial, não está muito fora do que se pratica no mercado, com um diferencial: oferecemos pacotes de veiculação internacional, tirando partido de nossos acordos editoriais e comerciais pan-americanos.

Os colaboradores mencionados são gente de prestígio no ramo, não escrevem nem gratuitamente nem por baixas remunerações. Como você administra esse problema?

C. S. – Neste começo de estrada (acabamos de lançar o quinto número da revista), pagamos o que é possível. Nada mal, mas menos do que gostaríamos, tendo em vista o gabarito dos colaboradores. Todos têm reconhecido o esforço que desenvolvemos para alcançar parâmetros mais elevados.

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Jornalista e escritor