Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Não tem pão? Comam brioche!

Quem diria! A frase atribuída à rainha francesa Maria Antonieta, pouco antes da Revolução Francesa, sugerindo aos franceses sem pão para comerem brioche, surgiu com nova roupagem na Argentina.

Dois apresentadores da televisão La Nación, do jornal apoiador do candidato Javier Milei, agora presidente, mostraram aos argentinos como se alimentar em tempo de crise.

Eduardo Serenellini e sua colega Viviana Valles disseram mesmo “que as pessoas não devem ter vergonha de comerem só uma vez por dia”! Diante disso, as redes sociais argentinas mostraram as reações do povo enganado, já nos primeiros dias, pelo palhaço presidente, cujas promessas não passavam de bolha de sabão!

Valles fez mesmo uma comparação, sugerindo que se use menos o carro e se desligue a rede Netflix, e se faça uma só refeição reforçada, no jantar, para as crianças poderem dormir.

Evidentemente os nomes de Eduardo Serenellini e Viviana Valles não irão substituir o “pão por brioche” da rainha francesa, pelo portenho “está com fome, coma menos”, mas essa imbecilidade dita ao povo pela televisão, mostra a que ponto podem chegar os porta vozes dos regimes de extrema-direita.

Como estamos no fim do ano, outra frase pior que esta não deverá aparecer nestes próximos dias, Será, sem dúvida, a frase mais idiota do ano 2023.

O jornal suíço Le Temps publicou duas páginas com chamada na capa, sobre “Europa, terreno fértil para a extrema direita”, citando cinco países nos quais a extrema direita está bem implantada – a Holanda, Suécia, Finlândia, Itália e França. Diante desse quadro, um comentarista político na televisão suíça falava em clima parecido com o dos anos 30.

Ao mesmo tempo, as previsões eleitorais nos Estados Unidos, no próximo ano, não são das mais animadoras, com uma provável derrota de Joe Biden na tentativa de reeleição, em novembro, e um retorno de Donald Trump, criando ainda mais instabilidade no cenário mundial.

Por sua vez, a natureza agredida tem mostrado os primeiros sinais de sua impaciência, tornando ainda mais evidentes os resultados catastróficos das mudanças climáticas. Temporais, inundações em todo mundo, aumento da temperatura no verão brasileiro, são os sinais de uma ameaça à sobrevivência da humanidade que os países da OPEP não querem ver.

Entretanto, apesar desse quadro pessimista ao qual se juntou a guerra de Israel contra o Hamas, os últimos resultados da economia brasileira permitem desejar aos leitores um Feliz 2024.

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Rui Martins é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu “Dinheiro sujo da corrupção”, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, “A rebelião romântica da Jovem Guarda”, em 1966. Foi colaborador do Pasquim. Estudou no IRFED, l’Institut International de Recherche et de Formation Éducation et Développement, fez mestrado no Institut Français de Presse, em Paris, e Direito na USP. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.