Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

40 anos de história

[do release da editora]

Com o título Av. Paulista, 900: a História da TV Gazeta, a Imprensa Oficial do Estado de São Paulo lançou no dia 25 de janeiro o novo livro da Coleção Apauso. Escrita pelo pesquisador Elmo Francfort, a obra marca os 40 anos da TV Gazeta, a primeira a realizar transmissão a cores e conhecida por revelar nomes importantes na telinha, como Joelmir Beting, Marcelo Tas, Faustão e o cineasta Fernando Meirelles. O lançamento aconteceu durante festa de comemoração do aniversário da emissora, no Teatro Gazeta, à Avenida Paulista, número 900, a partir das 20h30.

Embora o livro tenha como tema central a TV Gazeta, suas 450 páginas retratam a evolução da própria televisão brasileira, dos recursos tecnológicos às novidades na programação. Na apresentação do livro, Elmo Francfort, também autor de Rede Manchete – Aconteceu virou história, destaca a trajetória vanguardista da emissora que a imprensa muitas vezes chamou de nanica. ‘Vida Alves, por exemplo, fez o primeiro programa em cores na televisão brasileira – Vida em Movimento, justamente na TV Gazeta.’

A descoberta de novos talentos também é um legado da emissora. ‘Muitos profissionais que hoje fazem parte do primeiro time da comunicação brasileira, como Joelmir Beting, Heródoto Barbeiro, Galvão Bueno, Marcelo Tas, Fernando Meirelles, Sandra Annemberg, Cléber Machado e Mariana Godoy começaram, ou tiveram destaque, na TV Gazeta’, conta Francfort. Além disso, programas criados na Gazeta, como TV Mix, com Serginho Groisman e Astrid Fontenelle, Flash, de Amaury Jr., Perdidos na Noite, com Faustão, Dinheiro Vivo, de Luis Nassif, e Mesa Redonda, comandado por Roberto Avallone, ganharam novos espaços em outras emissoras e fizeram história na televisão brasileira.

Do jornal à TV

A história da TV Gazeta começa com Adolfo Campos de Araújo, mineiro da cidade de Serro, que criou, em 16 de maio de 1906, o jornal A Gazeta, cuja sede ficava na Rua XV de Novembro, região central de São Paulo. Com a morte de Adolfo Araújo, em 1915, o controle da Gazeta mudou de mãos várias vezes, até que, em 1918, foi oferecida por 60 contos de réis, a prazo, a um colaborador do jornal – Cásper Líbero.

Natural de Bragança Paulista e bacharel em Ciências Sociais e Jurídicas, Cásper Líbero, à época com 29 anos, tinha vocação para a escrita e sua inclinação para o jornalismo já havia aflorado – foi um dos fundadores do jornal Última Hora, em 1911, no Rio de Janeiro. Seu espírito, mais empreendedor do que idealista, foi determinante para aceitar o desafio de administrar A Gazeta. Ao assumir, Cásper foi atrás de mudanças para reerguer o jornal. Do exterior, trouxe novas tintas e papel da melhor qualidade, montou uma clicheria (oficina de fotogravura) que se tornou referência no meio jornalístico, e substituiu a velha rotativa por uma nova vinda da Alemanha: a Man.

Desde sua criação, o jornal alternou momentos de bonança e crises financeiras. Fatos históricos também prejudicaram seu crescimento, como a crise de 1929 na Bolsa de Nova York, e as Revoluções de 1930 e a Constitucionalista, de 9 de julho de 1932. Esta última marcou o exílio de Cásper Líbero e de vários líderes do movimento. Em 1934, Cásper Líbero foi anistiado e recebeu a indenização por todos os danos sofridos durante a fase revolucionária. A Gazeta ressurgiu e, em 1935, já era o jornal com maior tiragem diária do país, com 100 mil exemplares.

No dia 27 de agosto de 1943, um desastre aéreo na Baía de Guanabara pôs fim aos planos de Cásper Líbero, mas não à história da Gazeta. No seu testamento, ele determinou que seus bens fossem utilizados para a criação de uma fundação (a mesma que levaria seu nome), cuja finalidade era investir em novos veículos de comunicação. Sob o amparo da Fundação Cásper Líbero, surgiriam, na sequência, a TV Gazeta, a Rádio Gazeta FM, a FCL Net, a Gazeta Esportiva.Net e a TV Gazeta Digital.

Apesar de (na época) não existir televisão no Brasil, o sonho de Cásper Líbero era montar uma emissora. Em 1939, ele mesmo entrou com o pedido de concessão de um canal de TV. Com a sua morte e a criação da Fundação Cásper Líbero, a entidade ficou com a obrigação de dar continuidade ao projeto. A concessão do canal de televisão (canal 2) para a Fundação foi dada em 1950, sendo a primeira no Brasil. Apesar de pioneira, aos poucos a TV Gazeta viu a concorrência nascer, uma a uma. A TV Tupi, em 1950, a Paulista, em 1952, a Record, em 1953, a Excelsior e a Cultura (que ficou com o canal 2, ficando o 11 para a Gazeta), em 1960, e até a TV Bandeirantes, em 1967.

Depois de 20 anos

O edifício atual da TV Gazeta, no número 900 da Avenida Paulista, começou a ser desenhado em 1958, quando o Conselho Curador da Fundação decidiu construir uma nova sede. O projeto inicial, concebido pelo renomado engenheiro José Carlos de Figueiredo Ferraz, era arrojado, com 220 metros de altura, o equivalente a um edifício de 72 andares – sem contar os 30 metros da futura antena da TV Gazeta, planejada no decorrer da construção. As obras começaram em 1958 e o edifício começou a ser utilizado gradativamente no primeiro semestre de 1966.

Em 1968, a Fundação Cásper Líbero enfrentava uma grave crise financeira e salvar a entidade não era tarefa fácil. Veio a intervenção do governo do estado de São Paulo, apoiando a Fundação ao reunir uma série de empresários que pudessem recuperá-la. Foi assim que Octavio Frias de Oliveira, dono da Folha de S.Paulo, e Carlos Caldeira foram convidados a integrar a nova direção da Fundação. Em dois anos, a TV Gazeta se tornaria realidade.

A TV Gazeta nasceu numa fase de acontecimentos marcantes (bons e ruins) para a TV brasileira, como o fim da TV Excelsior e a criação da Rede Globo, em 1965. Desta época, só faltava a inauguração do Canal 11, o último canal paulistano. O dia 23 de junho de 1969 era o prazo final para instalação do sétimo e último canal VHF de São Paulo. Às 17h45 daquele dia 23, a torre de 116 m, no espigão da Paulista, transmitiu seus primeiros sinais e a TV Gazeta foi ao ar experimentalmente.

O primeiro programa Mingau Quente era apresentado por Eduardo Queiroga e Aurélio Belloti Jr. No estúdio, rapazes e moças dançavam ao som de um disc-jóquei nos estúdios da TV Gazeta. Nos intervalos comerciais era anunciado assim: ‘Alô, juventude de São Paulo! Venha participar conosco do Mingau Quente! Um programa `bidu´, a sua festinha de fim-de-semana.’ A estréia oficial só aconteceu no dia 25 de janeiro de 1970.

Nesses 40 anos, a TV Gazeta lançou programas que fizeram história na TV brasileira. Na década de 70, por exemplo, foram destaque Clarice Amaral em desfile, Força Jovem, Multiplicação do Dinheiro, com apresentação de Joelmir Beting, Show de Ensino, apresentado pelo então professor de História, Heródoto Barbeiro, e Futebol é com onze, que seria o embrião do popular Mesa Redonda. O ano de 1971 também ficou conhecido como o ano que a Gazeta liderou a audiência, batendo a Globo com a transmissão exclusiva do Campeonato Mundial de Basquete Feminino.

Nos anos 80, a programação se renovou. São dessa época TV Mix, apresentado por Serginho Groisman e Astrid Fontenelle, com direção de Fernando Meirelles, e Crig-Rá, também dirigido por Meirelles em parceria com Marcelo Tas, com apresentação de Sandra Annemberg. O 23a Hora também abriu espaço para vários apresentadores que hoje são medalhões na TV brasileira. Na grade de sábado, Faustão, hoje na Globo, ficou famoso com Perdidos na Noite. Já Amaury Jr. tornou-se um dos colunistas mais badalados do país com o programa Flash. Também nesse período surgiram Mesa Redonda: Futebol Debate, comandado por Roberto Avallone, Dinheiro Vivo, com Luis Nassif, e São Paulo na TV, que lançou vários apresentadores, entre eles Paulo Markun e Sílvia Poppovic.

Para Elmo Francfort, a TV Gazeta, aos 40 anos, ainda hoje é a única que mantém o mesmo propósito de quando foi inaugurada. ‘Uma emissora que visa a gerar novos talentos, que é voltada para o povo paulistano e que pensa ser uma TV alternativa às demais, comerciais ou educativas. Mas sabe qual é o seu maior segredo? Quem te faz. E quem te fez. A história seria outra se não fossem os funcionários. Como disse o locutor Honoré Rodrigues: ‘Éramos o exército Brancaleone.’