Escuta telefônica ilegal, invasão de caixas de e-mail, suborno de policiais, chantagem e troca de favores com políticos – eis algumas das práticas do defunto News of the World, que já foi o jornal de língua inglesa mais vendido no mundo e ainda é foco de inquéritos feitos pelo governo britânico. A história da derrocada do jornal dominical que era a menina dos olhos do magnata da imprensa internacional Rupert Murdoch é contada com detalhamento em Dial M for Murdoch (Disque M para Murdoch), lançado em Londres no mês passado.
O livro é assinado por Tom Watson, deputado trabalhista que se dedicou a revelar o que chama de práticas criminosas do império de Murdoch, e pelo jornalista Martin Hickman, do Independent. Nem de longe é obra que se pretenda isenta. O título já revela isso: foi inspirado em Dial M for Murder (Disque M para Matar), filme de traição e morte dirigido por Alfred Hitchcock nos anos 1950. O próprio Watson afirma no prefácio que o livro espera provar que “primeiros-ministros, ministros, parlamentares, a polícia, o sistema judicial e a imprensa 'livre' falharam ao investigar as atividades da News Corp.”.
Para isso, segue os caminhos dos inquéritos feitos desde que, em 2005, a família real pediu que fossem identificadas as fontes de reportagem sobre um machucado no joelho do príncipe William publicada no News of the World. As investigações se arrastam por anos, com conclusões pífias. A falta de resultados, dizem os autores, é a demonstração mais cabal do poderio de Murdoch. O problema é que, nessa parte, o livro também se arrasta, claudicando no cipoal de nomes e crimes que se sucedem – uma linha de tempo facilitaria.
Uma lista das pessoas e instituições que falharam
Tudo muda quando o texto, enfim, chega à denúncia que virou o gatilho da execução do império de Rupert Murdoch no Reino Unido. Em julho de 2011, reportagem do Guardian afirma que o News of the World grampeou o telefone de uma adolescente morta em 2002. Pior: teria limpado parte da caixa postal para que eventuais novos recados fossem gravados. Isso deu à família, por alguns dias, a ilusão de que a jovem estivesse viva.
A partir daí, o livro, tal como os acontecimentos, ganha emoção. Mostra hora a hora, em alguns dias cruciais, as ações dos envolvidos. No olho do furacão, Murdoch acaba fechando o jornal de 168 anos.
Watson não se dá por satisfeito. No capítulo final, faz uma exemplar lista das pessoas e instituições que, segundo ele, falharam ao longo do processo – o primeiro-ministro, a polícia e executivos da imprensa estão no rol. E termina com uma advertência: o império da News Corp. está abalado, mas se mantém de pé e Murdoch continua no comando.
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[Rodolfo Lucena é colunista da Folha de S.Paulo]