Na Europa, como no Brasil, o fenômeno de concentração na edição se acentua a cada ano. No mês de junho, a editora Flammarion voltou à França, desta vez para integrar o influente e tradicional grupo editorial Gallimard, que detém desde 1933 a coleção La Pléiade. Essa coleção reúne as maiores obras do patrimônio literário e filosófico francês e estrangeiro, impressa em papel bíblia com capa de couro.
Por 185 milhões de euros, a Gallimard pôde repatriar a editora que havia sido comprada pelo grupo italiano RCS Mediagroup, proprietário da editora Rizzoli, do jornal Corriere della Sera, do jornal esportivo Gazzeta dello Sport e do jornal espanhol El Mundo. A edição francesa recuperou, assim, uma pérola comprada em 2000 pelo grupo italiano. Tudo porque RCS Mediagroup precisava de dinheiro líquido, depois de ter perdido 322 milhões de euros em 2011 e acumulado dívidas de 980 milhões de euros.
Com a compra, a editora Gallimard se torna o terceiro grupo editorial francês, atrás apenas de Hachette Livres (do grupo Lagardère, quinta editora no ranking mundial) e da editora Editis (do grupo Planeta). Isoladamente, a Gallimard ocupava o oitavo e a Flammarion o sétimo lugar no panorama editorial francês. A Flammarion foi fundada em 1875, teve um lucro de 220 milhões de euros em 2011 e tem cerca de 27 mil títulos em seu catálogo. Possui várias pequenas editoras especializadas, entre elas J’ai lu, Arthaud, Casterman, Aubier, Pygmalion e Climats. A Gallimard, que fez 100 anos em 2011, é a mais tradicional editora literária francesa e lança 1.500 novos títulos por ano. Ela já detém cerca de dez outras editoras, entre as quais Denoël, Mercure de France e P.O.L.
Independência na área da distribuição
O jornal Libération ressaltou a importância de ver a Flammarion voltar ao “ecossistema” francês. E, ao mesmo tempo, sublinhou a importância para Antoine Gallimard de poder contar com a competência e a experiência da editora Teresa Cremisi, a super-executiva que deixara a França para dirigir a Flammarion sob o domínio italiano. A gestão italiana trouxe racionalidade à administração da Flammarion, reforçando exigências de rentabilidade, e foi durante esse período que o prêmio Goncourt foi dado a Michel Houellebecq por seu livro La carte et le territoire. Além disso, foi durante os onze anos em que esteve como propriedade dos italianos que a Flammarion viu as vendas de Tintin (publicado por Casterman) explodirem, graças ao filme de Spielberg, lançado em 2011.
Gallimard e Flammarion são mais de duzentos anos da história da edição francesa que se unem num sólido casamento. As duas gigantes do mercado editorial têm uma grande complementaridade em seus catálogos e uma total independência na área da distribuição. A Flammarion dispõe de uma empresa, a Union Distribution, e a Gallimard conta com a eficiente Sodis.
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[Leneide Duarte-Plon é jornalista, em Paris]