Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

O homem que fez o mundo morder sua maçã

Sempre que um líder mundial aparece no meu cérebro, vem a recordação de um ratinho animado. Não, não me refiro ao Mickey, personagem-símbolo da Disney. Falo do Cérebro, o rato de laboratório desejoso de dominar o mundo. Na companhia de Pinky, a metade apatetada da dupla, o ratinho cabeçudo estrelou uma série de animações produzida por Steven Spielberg para os estúdios Warner. O curioso é que os dois ratinhos me fazem lembrar de um fã ardoroso do desenho: um amigo que papagaiava a todo momento o bordão do ratinho-líder: “Agora não, Pinky!”

E eis que o destino me coloca nas mãos a biografia de um líder real, amado pelo mundo todo, ao menos o mundo da informática: Steve Jobs. Por coincidência, o comandante da Apple e criador do i-Pod no tempo em que esteve fora da corporação da maçã prateada, também revolucionou os desenhos animados com sua atuação na Pixar. Em pouco tempo, a empresa seria vendida para a Disney, companhia cuja marca é um rato.

E “rato” é o que muitos funcionários de Steve Jobs gostariam de chamá-lo, não fosse o medo da demissão instantânea. A biografia do criador do Macintosh, escrita pelo jornalista americano Leander Kahney, mostra que por muito menos que um xingamento os que trabalham para Jobs viviam aterrorizados pela chegada do bilhete azul.

Proeza nada desprezível

O livro de Kahney mapeia os passos do garoto abandonado pelos pais e adotado por outros, o começo da Apple na garagem de casa, o sucesso quase instantâneo dos primeiros Macs nos anos 80, a saída forçada do fundador da empresa, a ressurreição da Apple após o retorno de Jobs, a revolução dos i-Pods no século do entretenimento digital.

Em cada final de capítulo, o autor da biografia resume o capítulo em tópicos que funcionam como um manual de autoajuda: as “lições” de Steve Jobs. Em todos os capítulos, os tópicos destacam as virtudes do retratado, sem deixar de lado aspectos menos louváveis de sua personalidade e de seu estilo de liderança.

Depois de literalmente devorar o livro, não consegui achar o biografado um cidadão digno de nota. Mas louvo a devoção do meu amigo designer, que me emprestou a biografia, ao empreendedor que fez o mundo literalmente morder a sua maçã, proeza nada desprezível.

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[Érico San Juan é cartunista, radialista, designer gráfico e caricaturista]