O “rei” continua odiando seus súditos. A nova violência de Roberto Carlos contra a liberdade de expressão tem como alvo o livro Jovem Guarda: Moda, Música e Juventude, de Maíra Zimmermann, editado pela Estação das Letras e Cores. Seus advogados entraram com uma notificação – por enquanto, extrajudicial – exigindo a interrupção da venda da obra. Oba! Vou correndo às livrarias para garantir meu exemplar, antes que a lei o proíba e mande recolhê-lo.
Segundo li, o livro nasceu como uma tese de mestrado. Deve ter sido escrito em pós-estruturalês profundo, com fartas citações de Foucault, Derrida e Deleuze e, como tal, de interesse restrito aos círculos acadêmicos. Não há grande possibilidade de que, como alegam os advogados, o texto contenha revelações sobre a “trajetória de vida e intimidade” de Roberto Carlos – a não ser que, um dia, o cantor de “O Calhambeque” tenha se envolvido semiótica e gnoseologicamente com a filósofa búlgara Julia Kristeva.
Roberto Carlos não gosta de livros a seu respeito. Está sempre processando escritores e jornalistas e, ao fazer isto, joga seu peso sobre a lei e ganha todas. A imprensa parece não se importar. Mas, se Roberto Carlos detesta se ver entre capas de livros, também não deveria gostar de se ver nos jornais – para os quais, aliás, não dá entrevistas. Far-lhe-íamos um favor se passássemos a ignorá-lo. E, como eu temia, a recente euforia pela livre produção de biografias não autorizadas era prematura. Um deputado evangélico de Roraima conseguiu que o projeto do deputado Alessandro Molon (PT-RJ), aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, tenha de ir primeiro ao plenário – e não direto ao Senado, como se esperava. Começa tudo de novo e, naquele, as perspectivas não são boas.
Ninguém segura o Brasil em sua disparada rumo ao século 15.
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Ruy Castro é jornalista e escritor