Com vários erros superficiais de informação e outros nem tanto, “Dirceu – A Biografia”, sobre o ex-ministro José Dirceu, virou sucesso editorial, com 37 mil exemplares vendidos, segundo a editora Record, a R$ 40 cada um.
Nos últimos dois meses, esteve no topo da lista das obras de não-ficção. O autor é o jornalista Otávio Cabral, um dos editores-executivos da revista “Veja”. Desde que o livro foi lançado, no entanto, surgiram questionamentos na internet.
Uma resenha na revista “piauí”, feita pelo jornalista Mario Sergio Conti, ex-diretor de Redação da “Veja”, listou mais de duas dezenas –em geral imprecisões, como grafia, endereços ou cálculos. Para esta reportagem, Conti enviou uma lista com pelo menos outros 30 erros.
Um dos principais é a narrativa de uma viagem de Dirceu ao Haiti, para acompanhar um jogo da seleção brasileira. A viagem é descrita em detalhes –o ex-ministro teria tirado fotos com os jogadores e chorado durante a execução do Hino Nacional.
Mas Dirceu não esteve no Haiti. O erro foi corrigido na terceira edição do livro, e o autor o atribui a um mal-entendido em entrevista com o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay.
Pessoa errada
Cabral disse que corrigirá os erros que reconhece, desde que não sejam “por picuinha ou ideologia”, para uma nova edição revisada que deve sair nos próximos dias.
Para ele, “erros no micro’ não comprometem o macro’“. “Não errei por má-fé ou falta de trabalho. O problema foram fontes de informações erradas ou documentos oficiais sem credibilidade 100%.”
“Dirceu – A Biografia” colheu resenhas favoráveis no lançamento, duas delas naFolha. Cabral, que já trabalhou no jornal, diz que levou seis meses para escrever o livro e afirma ter entrevistado 63 pessoas para produzi-lo.
O autor tentou entrevistar Dirceu, que recusou o convite. Procurado, o ex-ministro também não quis falar com a Folha sobre a biografia.
“Erros acontecem. Mario Sergio Conti sabe bem disso. Tanto que na última ‘piauí’ foi publicada uma carta de uma professora que ele havia dito, na edição anterior, que estava morta e contado detalhes de seu enterro. Mas ela está bem viva”, diz Cabral.
Conti de fato “matou” a pessoa errada. Mas Lúcia Carvalho, autora da carta, não é professora, e sim arquiteta.
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Morris Kachani é repórter da Folha de S.Paulo