Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Uma brincadeira poética

Proesiaé o recém-lançado livro do sociólogo, historiador e professor da Universidade Estadual de Londrina Cesar Carvalho. Recusando o rótulo de escritor, poeta ou artista, o autor definiu-se como “letras afirmando palavras”. Suas brincadeiras literárias, autodenominadas “impropriedades poéticas”, apresentam-se como uma arte ligeira e zombeteira.

Cesar Carvalho, pesquisador da contracultura brasileira e autor de livros acadêmicos sobre o assunto, ao escrever e publicar seus versos, em que elabora suas vivências, não nega a influência da geração mimeógrafo. A autoconsciência irônica do autor remete ao desbunde, nome depreciativo que os militantes de esquerda usavam para definir a atitude contracultural daqueles que escutavam rock n’ roll, liam os poetas beat, faziam filmes em Super-8, não cortavam os cabelos e preferiam fumar maconha a pegar em armas ou se engajar em movimentos políticos.

Proesia, imbuído de desbunde, do espírito rebelde, lúdico e libertino da contracultura, insere-se em uma tradição literária anticonvencional, cujos traços recorrentes podemos delinear: coloquialismo, espontaneidade, brevidade, urbanidade, força crítica do humor, poetização do relato cotidiano, anotação do momento político, libertação das repressões políticas e morais. Na sequência das páginas, complementando o texto de Carvalho, encontramos ilustrações de Lílian Lago – um detetive cinematografa as pistas enquanto a poesia se faz fora da torre de marfim, porque lugar de poesia é na calçada. Eis aí, leitor, o livro, das calçadas de Londrina para o mundo.

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Vitor Cei é doutorando em Estudos Literários pela Universidade Federal de Minas Gerais e pesquisador visitante na Universidade Livre de Berlim