Este é um artigo que peca pela absoluta ausência de isenção. Primeiro, pelo tema: é uma história centrada em Carlos Lacerda, um jornalista e líder político como raramente se conheceu no Brasil: foi amado e odiado em iguais proporções. Ele é o narrador. E, como lhe devo ter aterrissado nesta maravilhosa e muito criticada profissão, ninguém espere objetividade nestas linhas. Pior ainda: tenho com ele laços de família – não exatamente formais, mas fortes e entenda quem quiser.
Com a autoridade, talvez discutível, de quem manda nesta modesta coluna, afirmo que está na praça um livro indispensável para quem se interessa pela história recente do país. Chama-se A república das abelhas – e, embora o autor (Rodrigo Lacerda, neto do seu narrador e escritor profissional de muito boa reputação na praça) não oculte o parentesco, posso garantir que não brinca com a verdade. Pelo que conheci de Carlos – naquele tempo, chamávamos os chefes e patrões, quase todos, de “você” – o retrato é fiel.
Além de Carlos Lacerda, o livro de Rodrigo tem mais. Não se trata de um tratado sobre uma época – e sim, declaradamente, de um romance histórico, o que certamente ajuda a leitura, sem deixar de ser um relato, tão fiel quanto possível, de alguns dos momentos mais dramáticos e, certamente, importantes da história de nossa República.
Romance histórico
Na República das abelhas, mistura-se, como deve ser, a verdade conhecida com a história política do Brasil vista por um de seus mais importantes personagens. Parece-me um livro admirável – o que talvez não seja uma visão isenta, mas desde quando existe isenção perfeita em quem comenta trabalhos alheios sobre dias e tempos que fizeram parte de suas vidas?
Seja como for e vier, Lacerda foi um dos políticos mais importantes de seu tempo. E histórias centradas nele e em sua família, escritas por quem o amava ou quem o detestava – ninguém que o conheceu tinha visão indiferente a seu respeito – serão contribuição que merece atenção.
O livro de Rodrigo – que é, ninguém vá esquecer, um romance histórico, com todas as liberdades que o gênero permite – tem, além do mérito puramente literário, a virtude de lembrar a muitos de nós, e a de informar a muitos mais, como acontecem as coisas nesta República tropical.
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Luiz Garcia é colunista doGlobo