Ainda não há balanço oficial das vendas de livros no país em 2013, mas grandes editoras preveem faturamento até 20% maior que o de 2012 e creditam boa parte da expansão aos títulos juvenis, segmento que mais cresceu no período, segundo a empresa de pesquisa GfK. No entanto, as casas veem com preocupação o cenário que se desenha para este ano, com Copa do Mundo e eleições, períodos de vendas potencialmente fracas, e o Carnaval só em março – normalmente, grandes lançamentos saem apenas depois dele. “Nossa equipe de vendas concluiu que, se o Brasil for finalista da Copa e tivermos segundo turno nas eleições, perderemos 40 dias de vendas. Isso é 10% do ano”, diz Bruno Lerner, superintendente da Melhoramentos.
Um resultado disso será a antecipação de apostas das editoras para antes do Carnaval e outra concentração de lançamentos no período entre o Carnaval e a Copa. Entre as apostas para as próximas semanas está A Estrela que Nunca Vai se Apagar (Intrínseca), de Esther Grace Earl, a garota que morreu com câncer em 2010 e inspirou John Green a criar a protagonista de seu maior sucesso, A Culpa É das Estrelas.
Também nos próximos dias sai um dos títulos mais importantes do ano da L&PM, o primeiro volume de O Idiota da Família, biografia de 3.000 páginas de Gustave Flaubert, assinada por Jean-Paul Sartre e inédita no país. Apesar da previsão de lançamentos sobre a Copa – caso da Benvirá, que terá textos de Nelson Motta sobre o evento; da Companhia das Letras, com crônicas futebolísticas de Drummond; e da Planeta, com uma biografia do Neymar –, ela deve mais atrapalhar que ajudar nas vendas. “Vai ser um ano duríssimo. Vamos tentar manter a constância na produção, mas concentrando os títulos fortes no começo do ano”, diz Otávio Marques da Costa, publisher da Companhia das Letras.
Será uma concorrência forte, já que nenhuma casa diz ter planos de reduzir o número de lançamentos em 2014.
Saldões
Uma tendência de 2013 que deve se manter neste ano é a de saldões de editoras nos sites de grandes livrarias. Comuns há anos nos Estados Unidos, como forma de queimar estoques num mercado aquecido em lançamentos, os descontos de até 50% em livros costumavam acontecer no Brasil apenas no site Submarino, mas expandiram-se no ano passado. A onda foi puxada pela Cosac Naify e pela Livraria Cultura em 2011. Em 2013, outras lojas virtuais, como as da Saraiva e da Martins Fontes, participaram de promoções de mais de dez editoras, incluindo Companhia das Letras, Objetiva e Record. “Quando a Cosac pôs 17 livros na lista de mais vendidos com sua promoção, em 2011, todos abriram os olhos. Todas as editoras têm nos estoques uma quantidade extraordinária de bons livros que não vendem mais, e o saldão dá ao consumidor acesso a eles”, diz Marcos Pereira, sócio da Sextante.
Mas mesmo livrarias que aderiram aos saldões veem esse cenário com cautela. “As pessoas param de comprar à espera das promoções. É uma espécie de anabolizante, prejudica o desempenho geral”, diz Sergio Herz, CEO da Livraria Cultura. Tanto pior para as independentes, que ficam de fora das negociações. “Para a gente, é mortal. Compramos o livro, deixamos em estoque e quando vemos, as grandes estão vendendo pela metade do preço”, diz Marcus Gasparian, dono da livraria carioca Argumento.
A disputa deve ficar ainda mais acirrada com a entrada da Amazon na venda de livros físicos, prevista para este semestre. Em 2013, a loja se firmou como a maior varejista de e-books no Brasil justamente com descontos em títulos do chamado “fundo de catálogo”, mais antigos.
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E-bookschegam a 3% das vendas de livros
Em 2013, as vendas de livros digitais nos mercados mais desenvolvidos do mundo tenderam à estagnação. Enquanto em países como França e Alemanha o segmento cresceu no mesmo ritmo acelerado dos EUA até 2011, com os digitais passando os 5% das vendas das editoras, os mercados onde os e-books já são superiores a 20% (EUA e Reino Unido) tiveram aumento quase nulo.
Ainda é cedo para tirar conclusões sobre a desaceleração, mas uma tendência paralela nos países de língua inglesa chamou a atenção. Trata-se da expansão de serviços de leitura via streaming, como Scribd e Oyster, com os usuários que pagam mensalidades para acessar milhares de títulos em vez de pagar por eles isoladamente. Ainda com poucas opções nessa área (o maior serviço, a Nuvem de Livros, é mais voltado ao público estudantil), o Brasil teve em 2013 seu primeiro ano com a presença das grandes lojas de livros e viveu crescimento similar ao dos EUA nos primórdios do Kindle, entre 2008 e 2009.
As maiores editoras do país fecharam 2012 com os e-books representando cerca de 1% de suas vendas totais. Agora, após um ano com Amazon, Apple, Google e Kobo oferecendo e-books nacionais, as casas informam que o digital chega a 3% de suas vendas. É ainda uma parcela pequena e que decepciona editores, mas um crescimento esperado para um país cujos leitores ainda tateiam as opções de leitura digital. A Objetiva, por exemplo, vendeu 15 mil e-books em 2012 e fecha 2013 com 95 mil livros digitais vendidos, um crescimento de 650% (eles agora representam 3% das vendas da editora). Marcos Pereira, editor da Sextante, diz que esperava mais que os 2% que os e-books representam hoje para a editora, mas ressalva que isso tem relação com o fato de apenas metade de seu catálogo de 600 títulos já ser vendido no formato.
A casa, no entanto, tem um dos casos mais expressivos de vendas digitais no país. Inferno, de Dan Brown, que já vendeu cerca de 500 mil cópias impressas, teve comercializados 24 mil e-books desde o meio do ano, quando foi lançado – ou seja, quase 5% das vendas foram digitais.
O que caiu foi o ritmo de expansão dos acervos digitais. Em geral, as editoras têm feito lançamentos simultâneos em papel e e-book, mas contratos feitos anos atrás inviabilizam a conversão de títulos mais antigos.
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Raquel Cozer é colunista da Folha de S.Paulo