Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

O passado e o futuro

Uma frase de Carlos Drummond de Andrade na sala de reuniões do Sindicato Nacional de Editores de Livros (Snel) resume bem o estudo que o Coppead, o instituto de pós-graduação em Administração da Universidade Federal do Rio, apresenta nesta terça, 20: “Autor, editor e livreiro formam uma trinca inseparável, pela identidade de interesses culturais e econômicos. Aquele que pense em se afastar dos outros vai se dar mal.”

É justamente a falta de comunicação entre os envolvidos na cadeia do livro um dos maiores desafios para que o mercado editorial continue crescendo. Não existe hoje no Brasil, por exemplo, um sistema único de informação para editores, distribuidores e livreiros, causando atrasos e falhas que podem se refletir na insatisfação dos leitores – para quem, afinal, todo o trabalho é feito.

A ideia do estudo surgiu há dois anos, quando Sônia Jardim, presidente do Snel, procurou o Coppead. Os editores queriam entender melhor o que estava acontecendo com o mercado e saber para onde estavam indo. Leonardo Bastos da Fonseca, aluno do mestrado da instituição, se interessou pelo assunto e tocou com Denise Fleck, sua orientadora, a pesquisa patrocinada com uma bolsa de estudos pelo sindicato.

O relatório abarca dois séculos de história – de 1808, ano da chegada da família real, a 2012. Foram ouvidos cerca de 40 editores, livreiros, autores, agentes literários, gráficos, etc. O Acervo Estado, com material publicado pelo jornal a partir de 1875, também foi fonte. O objetivo era fazer uma análise histórica do crescimento e identificar os desafios para que a evolução seja organizada e leve à longevidade do mercado, e não à sua autodestruição.

A ida a feiras internacionais, a realização de festivais literários no país, práticas como consignação para livrarias, marketing, treinamento de funcionários, criação de grupos editoriais e fragmentação dos catálogos em selos foram algumas das questões tratadas na pesquisa – ainda não se sabe se ela virará um livro, mas como são poucas as publicações sobre o mercado editorial brasileiro o lançamento seria bem-vindo.

Entraves já superados, como imposto sobre papel e impressão, falta de papel, censura, taxa de câmbio e inflação, entre outros, deram espaço a questões como desorganização, falta de comunicação, competição interna, funcionários de livrarias sem conhecimento do produto (porque mais livros são lançados hoje e porque a rotatividade na área é grande, já que salários são baixos) e falta de avaliação das iniciativas – especialmente as comerciais e de divulgação. O livro digital e as compras governamentais, duas grandes esperanças de crescimento, também podem ser vistos como obstáculos.

Feiras ainda são boas vitrines

Para Denise Fleck, há duas estratégias com relação ao e-book: continuar agindo como se nada estivesse acontecendo e ver o que vai acontecer ou identificar o que pode ser melhorado hoje, enquanto o mercado se prepara para o digital. O primeiro grupo prevalece, diz a professora, embora ela ressalte que este foi um primeiro estudo que não se prestou a aprofundar esta questão.

Sobre os programas de venda para o governo, que têm movimentado cerca de R$ 1 bilhão ao ano, ela informa que as editoras não estão preparadas para perder a boquinha. “Hoje em dia essas compras estão fazendo uma boa diferença. Respondem, às vezes, por 30%, 40% do faturamento. Se o governo mudar sua estratégia ou suprir suas necessidades fazendo apenas compras esporádicas, vai afetar.”

A proliferação de eventos literários nos anos 2000 ampliou os espaços de exposição do livro, aponta o relatório da Coppead. “As feiras são muito bem-vindas e uma das alavancas de divulgação”, diz Denise Flick. O estudo, no entanto, mostra queda nas vendas dentro de feiras na última década. Hoje, a Bienal Internacional do Livro de São Paulo anuncia sua programação. Entre os confirmados, o best-seller Ken Follett.

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Maria Fernanda Rodrigues, do Estado de S. Paulo